Versão Inglês

Ano:  1975  Vol. 41   Ed. 3  - Setembro - Dezembro - ()

Seção: Trabalhos Originais

Páginas: 272 a 276

 

GRANULOMA EOSINOFILICO ISOLADO DO OSSO TEMPORAL

Autor(es): Rudolf Lang*,
Moacyr Saffer**,
Adir Fachinello***,
Lizandro Leon Montalvo***,
Sebastião Cavalcante***,
Aram Sakzenian***
Fernando S. Praça****

Resumo:
A ocorrência de Granuloma Eosinofílico no osso temporal é bastante rara. Analisamos os aspectos clínicos, radiológicos e histológicos e conduta terapêutica, numa lesão isolada de osso temporal em uma criança de 4 anos.

Introdução

As Histiocitoses X são doenças de etiologia ainda desconhecida, sendo classificadas como não Neoplásicas. Existem três variedades: Hand-Schüllier-Christian, Letterer-Siwe e Granuloma Eosinofílico; a segunda é a mais malígna e rapidamente fatal e a terceira a mais benigna. A doença do Granuloma Eosinofílico se apresenta geralmente em crianças e adultos jovens, tendo preferência no sexo masculino, na proporção de 2 para 1. Se caracteriza por apresentar lesões múltiplas no sistema esquelético, na histologia existe grande proliferação histiocitária e eosinofílica, podem ser afetados qualquer osso do esqueleto, sendo mais freqüente no crânio, coluna vertebral e grandes ossos. O termo Granuloma Eosinofílico foi introduzido em 1940 por Lichtensein e Jaffe, descrevendo um granuloma solitário do Fêmur. Podem existir granulomas de localização múltipla nos ossos, podendo existir ademais nas vísceras e pele, assemelhando-se às outras Histiocitoses X, porém as mais freqüentes são de localização única, sendo descritos casos no osso temporal, fêmur, costelas e coluna vertebral em forma isolada.

O diagnóstico diferencial deve ser feito entre: osteomielite, tuberculose, lues, cisto solitário do osso, tumor de células gigantes, mieloma múltiplo, neuro-blastomas metastáticos, linfomas e osteites fibrosas císticas, schwanomas do osso temporal.

Caso Clínico

Paciente de 4 anos de idade, sexo masculino, data de consulta: 18-2-75.

Q. P. : Otorréia, massa polipóide pelo ouvido esquerdo. Há 8 meses apresentou forte otalgia, com posterior secreção serosa até tornar-se purulenta, aparecimento de massa tumoral no conduto. Aos 6 meses de idade tomou BCG oral.

Exame Clínico

OE: Secreção purulenta sem mau cheiro, massa polipóide avermelhada, de fácil sangramento, obstruindo todo o conduto. Foi impossível avaliar audição. Pares cranianos normais.

Laboratório

Hemograma: normal - Hemossedimentação: 44 mm/h - Reação de mantoux: - não reagente - Radiografia dos Pulmões: normal - Biópsia de massa polipóide de conduto E 24-3-75.

Dg. Inflamação supurativa crônica com necrose, eosinofilia e colesteatoma. Não foram encontrados BAAR.

Biópsia de massa polipóide de conduto E 20-4-75.

Dg. Granuloma Eosinofílico (Fig. 1).



FIG. 1 - Grande infiltração linfoplasmocitária. Presença de eosinófilos.



Estudo radiológico tomográfico de osso temporal E. Grande destruição de mastóides, conduto auditivo interno.

Dg. Lesão compatível com Granuloma Eosinofílico. (Figs. 2, 3, e 4). Tratamento: Irradiação com 2.000 RAD, 20 aplicações durante o lapso de 4 semanas.

Evolução: A evolução foi excelente. Diminuiu a purgação e desapareceu a massa polipóide, começou a alimentar-se bem e a ganhar peso. Controle trimestral. Última revisão em 10-10-1975 apresentava conduto auditivo e membrana timpânica absolutamente normais.

Discussão

Na literatura foram publicados entre 1952 e 1973, 16 casos de granuloma eosinofílico, dos quais 11 foram de localização unifocal e 5 multifocal, sendo a maioria estudados por Toohill, que estudou 13 destes casos. A sintomatologia comum foi otorréia, edema e dor retro auricular com presença de polipo na parede postero superior do conduto auditivo externo. A maioria dos pacientes apresentaram surdez neurosensorial, existindo 8 casos com erosão do canal de Falópio, mas só 2 com paralisia facial, também se descreve em 25% erosão dos ossículos e do labirinto. A radiografia clássica apresenta áreas de lises ósseas que às vezes é confundida com colesteatoma. O estudo histopatológico é característico: grande infiltração histiocitária e eosinofílica.



FIG. 2 - Destruição do teto do conduto auditivo interno.



FIG. 3 - Destruição da cadeia ossicular.



FIG. 4 - Destruição do teto do conduto auditivo interno, e mastóide; ponta do rochedo normal.



Nosso paciente apresentou a mesma sintomatologia descrita por todos os autores. A massa polipóide no conduto auditivo E, idade do paciente e a freqüência das infecções do ouvido médio via tuba auditiva nos casos de vacinação oral com BCG, nos levou a pensar em otite média tuberculosa primária. O RX e exame anátomo,patológico nos levou ao diagnóstico. O estudo radiológico mostrou grande destruição óssea que inclui labirinto, conduto auditivo interno e mastóide. Este paciente, como a maioria dos casos descritos, não apresentou paralisia facíal. O tratamento de eleição do granuloma eosinofilico com lesão unifocal é a radioterapia 400-4.000 R, juntamente com remoção cirúrgica do granuloma; também se têm visto casos de cura só com radioterapia, como até a presente data ocorreu com nosso paciente. O índice de sobrevivência sem recorrência é excelente.

Os autores acompanharam vários casos durante 5 anos, sem que houvesse sinais de recidiva. O tratamento dado para nosso paciente foi a radioterapia por 4 semanas.

Bibliografia

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ENDEREÇO DOS AUTORES:
Instituto de Otologia Andradas, 1711 - 3.° andar
Porto Alegre - RS.

* Professor Titular da Disciplina de ORL da PUC-RS.
** Professor Assistente de ORL - Faculdade Católica de Medicina.
*** Médicos Residentes do Instituto de Otologia e Hospital Ernesto Dornelles.
**** Médico residente do Instituto de Otologia e Hospital Ernesto Dornelles. Bolsista da C. A. P. E. S.

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