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Ano:  1975  Vol. 41   Ed. 3  - Setembro - Dezembro - ()

Seção: Trabalhos Originais

Páginas: 254 a 258

 

IODOCISTERNOGRAFIA NO DIAGNÓSTICO DA PATOLOGIA DO MEATO ACÚSTICO INTERNO

Autor(es): Osvaldo Gomes de Souza*,
Cassimiro Afonso Nunes*
Willon Garcia de Carvalho**

Resumo:
Os autores apresentam sua experiência em 123 iodocisternografias tecendo considerações à respeito da técnica empregada e salientando a relativa simplicidade e inocuidade do exame ao lado da sua alta eficiência diagnóstica na patologia do meato acústico interno.

1 - Introdução

A finalidade deste trabalho é salientar a importância: da Iodocisternografia no diagnóstico de lesões retrococleares, chamando a atenção de como é realizada em nosso serviço, assim como seus aspectos técnicos e o material de que dispomos.

O estudo específico do ângulo ponto-cerebelar com pantopaque foi iniciado em 1963 por Scanlan do grupo otológico de Los Angeles. Já em 1964, o referido autor assinalava que a eficácia no diagnóstico precoce dos tumores do meato acústico interno com o RX simples, mesmo com as modernas técnicas planigráficas, era ainda desapontadora nas melhores mãos devido às grandes variações anatômicas, apontadas por Camp e Cilley em 1939. Apenas tumores de crescimento rápido produzem desmineralização óssea, enquanto que os de crescimento lento podem mimetizar variações anatômicas. Tumores grandes podem ser encontrados não muito raramente com meatos estreitos, enquanto que meatos bastante amplos podem ser inteiramente normais. No passado, grande valor era dado às elevações das proteínas do líquor nos casos de neurinoma do acústico, porém sabe-se que índices normais não afastam a referida patologia.

Por essas razões, a iodocisternografia veio contribuir grandemente para a precisão no diagnóstico das pequenas tumorações do meato acústico interno. Em 1968 Britton e colaboradores publicaram 827 iodocisternografias e consideraram este exame o de maior valor, isoladamente, para o diagnóstico das lesões tumorais retrococleares. O contraste positivo (pantopaque) mostrou-se superior ao contraste negativo (ar), tanto pelo menor número de efeitos indesejáveis para o paciente, quanto pela maior eficiência diagnóstica, sobretudo nos tumores menores. Além disto, a iodocisternografia delimita melhor o tumor possibilitando-nos conseqüentemente, uma noção mais aproximada do seu tamanho e uma escolha de urna abordagem cirúrgica mais adequada.

2 - Material e Métodos

O nosso material consta de 123 iodocisternografias obtendo 26 exames positivos. Destes, já foram operados 24, encontrando 19 neuromas, 3 aracnoidites e 1 edema do nervo facial no segmento meatal.

A técnica de Scanlan descrita por Britton e colaboradores foi empregada em todos os casos. O contraste usado é o pantopaque (iofendilato) que é oleoso, contendo 30,5% de iodo. Devido a sua alta radiocapacidade, pequenas quantidades são suficientes para visualização e diferenciação das estruturas ósseas superpostas. O pantopaque tem peso específico de 1253, sendo o enchimento do meato acústico interno feito por gravidades. Usamos um equipamento radiológico composto de um gerador de 800 mA/125 KV, trifásico. Tubos de RX Bi 125/30/50, com foco de 1,2 e 2,0 mm. Mesa de exame Klinograph, com seriógrafo Explorator K. Intensificador de imagem duplex (6 e 9"). Circuito fechado de televisão, com tubo vidicon e monitor de 47 cm. Paciente em decúbito lateral, em posição para punção lombar. Após os cuidados recomendados para esta punção serem tomados, é introduzido no canal medular (espaço subaracnóide) 0,6 a 0,8 ml de pantopaque, sendo conveniente usar uma quantidade maior até 4 ml quando se suspeita de tumor grande. Pela fluoroscopia, é certificada a exata posição do contraste. O paciente permanece em decúbito lateral, sendo o lado examinado o que estiver em contraste com a mesa. Após usar um dispositivo de contenção do paciente, a mesa é colocada em movimento, para posição de Trendelemburg de 45°. Acompanhamos pela radioscopia, a caminhada do contraste até a região desejada. Deve-se pedir ao paciente para não mexer com a cabeça para não fragmentar o contraste. O paciente fica nesta posição em média 2 minutos. Pela fluoroscopia, certifica-se a correta posição do contraste, ao nível do meato acústico interno. A mesa então volta a uma posição de Trendelemburg de 15 a 20°. Com o tubo de estativa são feitas radiografias na incidência transorbitária (feixe de Raios-X horizontais e grade fixa cross-table). Se estas chapas evidenciarem com segurança a região estudada, colocamos a mesa na horizontal. Sem que o paciente movimente a cabeça, pedimos-lhe que se coloque em decúbito ventral. Posicionamos o crânio para fazer a incidência de Stenvers, com Raios-X verticais (tubo da estativa), e chassi no BUCKY da mesa de exame. Esta ¢ a situação intermediária, entre o mínimo - Aparelho RX de 200 a 300 mA, com mesa basculante sem fluoroscopia ou intensificador de imagem de TV e o máximo no momento - aparelho de RX de 800 a 1000 mA (trifásico), cadeira isocêntrica, intensificador de imagens, TV e tomografia. (DIAGNOST - N).

Nos casos normais, o meato enche-se quase totalmente ficando apenas uma imagem convexa no fundo do meato correspondendo à emergência do nervo coclear. Podese ver as imagens do facial e vestibulares (Fig. 1). Nos casos positivos o contraste contorna a patologia delimitando-a.

Nas figuras 2, 3 e 4 são mostrados tumores de diferentes tamanhos.

3 - Indicações

A iodocisternografia está indicada em todos os casos onde haja suspeita clínica e radiológica de patologia retrococlear:

a) Casos com alteração ao RX simples.

b) Casos com RX simples normal, porém com forte suspeita otoneurológica evidenciada pela bateria de testes.

c) Casos com RX simples normal onde haja comprometimento de outros pares cranianos, sobretudo V, IX e X. Tal indicação se apoia no fato de alguns tumores iniciarem seu crescimento mais próximo ao tronco cerebral evidenciando alterações neurológicas antes das otológicas.

4 - Contra Indicações e Complicações

As contra indicações absolutas à iodocisternografia são a hipersensibilidade ao iodo e pacientes em uso de anticoagulantes pelo risco de sérios sangramentos intraespinhais. A hipertensão intracraniana não é uma contra indicação ao exame sendo aconselhável nestes casos a presença do neurocirurgião na sala para uma eventual necessidade de punção ventricular de alívio. Chamamos a atenção para a relativa simplicidade e inocuidade do exame, sendo que não tivemos nenhuma complicação, exceto alguns casos de cefaléia. Para evitar sintoma, recomenda-se ao paciente um repouso de 24 horas.



FIG. 1 - Iodocisternografia normal, projeção de Stenver's. Boa penetração do contraste no canal.



FIG. 2 - Tumor pequeno, projeção de Stenver's.



FIG. 3 - Tumor médio bem delimitado pelo contraste na projeção de Stenver's.



FIG. 4 - Tumor grande, projeção de Stenver's.



Complicações tais como persistência de extravasamento liquórico para os tecidos subcutâneos e infecções no local da punção não ocorrem desde que se use agulha de fino calibre e se tome os cuidados de antissepsía prévios.

5 - Resumos e Conclusões

Os autores apresentam sua experiência em 123 iodocisternografias tecendo considerações à respeito da técnica empregada e salientando a relativa simplicidade e inocuidade do exame ao lado da sua alta eficiência diagnóstica na patologia do meato acústico interno.

Summary and Conclusions

The autoors present their experience in 123 lophendylate cisternographies, mabing comments on the technique used and emphasizing the relative simplicity and innocuity of the examination, together with its highly efficient diagnosis in the pathology of the internal auditory canal.

Bibliografia

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ENDEREÇO DO AUTOR:
Osvaldo G. de Souza
Rua Matipó, 485 - Ap. 301
30.000 - Belo Horizonte - MG.

* Da Clínica Otorrinolaringológica do Hospital Felício Rocho - Belo Horizonte - MG Brasil.
** Chefe do Departamento de Radiologia do Hospital Felício Rocho - Belo Horizonte - MG - Brasil.

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