Versão Inglês

Ano:  1956  Vol. 24   Ed. 1  - Janeiro - Abril - ()

Seção: Notas Clínicas

Páginas: 56 a 58

 

OSTEOMA DA MASTOIDE

Autor(es): ANTONIO CORREA (*) e MARCO ELISABETSKY (**)

OBSERVAÇÃO CLÍNICA

B. S., branca, com 34 anos, foi atendida em Outubro de 1954 no ambulatório de O.R.L. do Hospital das Clínicas (Serviço do Prof. Paula Santos) com a seguinte queixa: notara há 7 anos um pequeno tumor do tamanho de um caroço de laranja sôbre a região mastóidea esquerda; êste tumor estacionário nos primeiros 4 anos, a seguir começou a crescer paulatinamente até atingir o tamanho de uma pequena laranja, deslocando o pavilhão auricular para diante, sem produzir dor ou outros sintomas subjetivos.

O exame objetivo mostrou um tumor de forma ovóide com maior eixo vertical, medindo mais ou menos 6 cms., localizado e fixo na região mastóidea a E, provocando o deslocamento do pavilhão auricular para diante. A superfície do tumor era lisa, a péle livre do periósteo, percorrida por finos vasos; a consistência era dura, óssea e a base de inserção na mastóide era ampla.

No restante do exame O.R.L. devemos acentuar que a membrana timpánica esquerda não ponde ser visualizada, devido a estenose parcial do canal auditivo externo, cuja parede posterior estava abaulada pelo tumor retro-auricular.

A radiografia da região mostrou uma "néo-formação de textura ósteocartilaginea, de contornos regulares e cuja implantação se faz sem alterações dos contornos normais da mastóide". O Prof. Raphael de Barros, sugeriu em seu relatório, "tumoração de caráter benigno". (Figs. 2 e 3).

O hemograma revelou-se praticamente normal, sem qualquer dado específico; as Sôro-reações para lues foram negativas; a radiografia dos seios para-nasais nada revelou de patológico.

Foi feita então a exerese cirúrgica do tumor, com anestesia geral. A cirurgia consistiu em:

1 - incisão vertical, retro-auricular, da pele em tôda a extensão do tumor;
2 - descolamento dos tecidos moles sôbre o tumor até a sua inserção sobre o temporal, expondo-se parte da cortical mastóidea, além do tumor;
3 - delimitação periférica da base de inserção do tumor com escopro sendo o mesmo retirado em bloco, e deixando uma superfície óssea esponjosa;
4 - resecção da pele em excesso, sutura em dois planos.

O exame anátomo-patológico revelou "osteoma". O relatório do anátomo-patologista (Dr. R. Montenegro) diz: "o corte é constituido por massas de osso compactado, onde se observam numerosos sistemas haversianos de estrutura e organização normais. As massas de osso compacto são de forma arredondada e se apresentam contidas em um tecido conjuntivo denso com abundante deposição de tecido osteoide. O número de osteoblastos e osteocitos é pequeno".

O pós-operatório decorreu normalmente, apresentando o conduto auditivo, secreção sero-sanguínea que desapareceu com alguns curativos; não houve perfuração na membrana do tímpano, mas sómente abaulamento e congestão na membrana Schrapnell, por derrame sanguíneo.

COMENTÁRIOS

Existem dois processos pelos quais os ossos se desenvolvem: no primeiro, formam-se no mesenquima, pequenas áreas gelatinosas, hialinas, nas quais se acumulam depósitos calcáreos e em torno dêles as células mesenquimais jovens se multiplicam, e aumentam de tamanho, transformando-se em osteoblastos. No segundo processo, a ossificação realiza-se diretamente nas células mesenquimais, sem cartilagem intermediária: é desta última maneira que se formam os ossos da face e os ossos chatos do crânio.

No que se relaciona aos osteoma, as teorias explicando a sua patogenia são várias: metaplasia do tecido fibroso, infecção, disfunção glandular, trauma, etc., tôdas elas com fundamentos passíveis de crítica.

Numa revisão da literatura mundial sôbre o assunto, constatamos a publicação de 11 trabalhos sôbre osteoma da mastoide, dois dos quais, se justapõem perfeitamente ao caso ora referido, tanto pelo tamanho, como pela localização e resultado cirúrgico. Dos outros, ressalta pelo seu interêsse o caso publicado por M. D. Androsov (1949), pois tratavam-se de 4 pequenos nódulos aderentes à membrana do tímpano em paciente com otite crônica curada.

Entre nós, Fábio B. Matheus é Nelson A. Cruz (5) apresentaram trabalho sôbre o assunto (1951) no qual fazem revisão detalhada da histologia e patogenia dêsses tumores.

Ao publicarmos êste trabalho, o objetivo visou enriquecer a casuística sôbre casos raros da especialidade, e mostrar a facilidade da cirurgia em tais casos apesar do volume do tumor.

BIBLIOGRAFIA

1 - ANDROSOV, M. D. - "A case of multiple osteoma of the timpanic membrane" - Vjestnik O.R.L. - Moscou 5, 1949: 73-74.
2 - GASTON; A. - "Volumineux osteome de la mastoide" - Annales d'OtoLaryngologie, 13, 1946, 260.
4 - MARROCCO, VV. A. - "Multiple osteoma of the mastoid cavity" - Arch. of Otolaryngology, 47, 1948: 673-677.
5 - MATHEUS, F. B. e CRUZ, N. A. - "osteoma da mastoide" - Rev. Brasil. de O.R.L., 19, 1951: 161-164.
6 - LAZAREVITCH, L. P. - "Three cases of osteoma of the mastoid bone" - Vjestnik O.R.L., 3, 1952: 76-78.
7 - NEIL, J. F. - "Osteona of the mastoid process" - journal of Laryngology, 66, 1952: 519-521.
8 - SELTZER, A. P. - "Removal of a mastoid osteoma" - Alm. Otol. Rhinol. and Laryng., 63, 1954: 204-206.
9 - VASILYEFF, A. I. - "A case of recurrence of an osteoma of the mastoid process" - Vjestnik O.R.L., 1, 1952: 69-70.



(*) Assistente da Clínica O.R.L. (Serviço do Prof. Paula Santos) - S. Paulo.
(**) Médico Auxiliar da Clínica O.R.L. (Serviço do Prof. Paula Santos) - S. Paulo.

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