Versão Inglês

Ano:  1988  Vol. 54   Ed. 2  - Abril - Junho - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 37 a 41

 

ESTUDO DO PADRÃO DE NORMALIDADE DA AUDIOMETRIA DE TRONCO CEREBRAL (B.E.R.A.) NAS DIVERSAS FAIXAS ETÁRIAS*

Age efects in the normal bra in stem evoked desponses audiometry

Autor(es): Bento, R. F. **
Silveira, J.A.M.**
Ferreira, M.R.M.***
Fuess, V.L.R.***
Miniti, A.****

Resumo:
Os autores estudam o padrão de normalidade para a audiometria do tronco cerebral e sua variação em relação à faixa etária. Foram selecionados 40 indivíduos de 9 a 59 anos de idade sem história pregressa de patologia otológica e com exame físico e audiometria tonal normal. Além do estudo médio das latências, conclui-se que o limiar ao B.E.R.A. aumenta com a idade em todas as curvas, apesar da audiometria tonal normal, e que as curvas I III e V são as mais consistentes e com valor clínico, e que a amplitude tem pouco valor prático.

Introdução

Desde a publicação de Jewett e Willinston (1971), muitos investigadores têm estudado a audiometria de tronco cerebral (B.E.R.A.) em indivíduos com audição normal(2.3,4,5) e com alterações otológicas e neurológicas.

O B.E.R.A. é um método de utilização recente em nosso meio, cujas investigações têm como objetivo o estudo do mecanismo periférico da audição e da função neurológica e suas alterações(3). Os potenciais de tronco cerebral representam estímulos relacionados à atividade elétrica gerada em estruturas subcorticais. Estes potenciais são registrados como sete ondas que aparecem nos primeiros 10 milisegundos (ms) após o estímulo. Estudos propõem a seguinte correlação anatômica para as respostas neurogênicas típicas do tronco cerebra(9, 10) (Jewett 1970, Thorton, 1976):

Onda I - nervo acústico

Onda II - nervo coclear

Onda III - núcleo olivar superior

Onda IV - lemnisco lateral

Onda V - colículo inferior

Onda VI - corpo ganiculado lateral

Onda VII - radiações auditivas tálamo-corticais

A interpretação do exame baseia-se, principalmente, na latência absoluta das ondas e no intervalo de latência entre os picos, este último considerado representativo do tempo de condução neural entre os componentes de cada onda. Não se observou, ainda, nenhum valor prático, no sentido absoluto, relacionado à amplitude das ondas(2).

Devido à sua consistência e estabilidade, a quinta onda tem sido considerada básica para a interpretação da sensibilidade acústica, portanto, a presença ou a ausência de uma onda V reprodutível e com latência prédeterminada é o critério utilizado na determinação do limiar de audição(3).

Apesar de os parâmetros de normalidade obtidos em diferentes laboratórios serem relativamente uniformes, acredita-se que seja essencial estabelecer uma padronização relacionada à aparelhagem disponível, devido ao grande número de variáveis extrínsecas e intrínsecas a que está sujeito o exame(2). Duas variavéis que têm sido estudadas são a idade e o sexo do examinado(4, 6, 7, 8).

Assim sendo, nos propusemos a estudar a audiometria de tronco cerebral em indivíduos normais, de modo a estabelecer um padrão para nossa aparelhagem, bem como registrar os efeitos da idade no limiar auditivo, na latência e morfologia das ondas; e os efeitos do sexo na latência e no intervalo de latência das ondas I e V.

Material e Métodos

Foram selecionados 40 indivíduos sem história pregressa de patologia otológica, entre 9 e 59 anos, com audiometria tonal limiar acima de 20 dB nHL nas freqüências de 500 a 600 Hz, com exceção feita aos indivíduos com idade acima de 50 anos, quando aceitou-se limiar de 25 dB nHL nos extremos de freqüência.

Os indivíduos dividiam-se, segundo a idade e o sexo, da seguinte maneira:

09 a 19 anos: sexo feminino - 5, sexo masculino - 5

20 a 29 anos: sexo feminino - 5, sexo masculino, 5

30 a 39 anos: sexo feminino - 5, sexo masculino - 1

40 a 49 anos: sexo feminino - 4, sexo masculino - 0

50 a 59 anos: sexo feminino - 5, - sexo masculino - 5

Destes 40 pacientes foram estudados 79 ouvidos, já que não foi possível obtermos um traçado característico em um ouvido de uma mulher de 56 anos.

O aparelho utilizado foi um Life Tech 8101-AR, sendo registradas 1024 passagens de "clics" alternados, de 0,08 ms de duração, com banda de freqüência entre 100 e 3000 Hz, na velocidade de 20 "clics"por segundo. Registrou-se os primeiros 10 ms após o estímulo, com traçado a 1 MV por divisão.

O estudo era iniciado a uma intensidade de 100 dB HL, com registro ipsilateral. A intensidade do estímulo era progressivamente diminuída até não se observar registro de potenciais.

Foram estudadas as latências das ondas I, II, III, IV e V, o intervalo de latência entre as ondas I, III e V, o limiar ao exame, e a prevalência das ondas.

Por serem inconstantes e terem correlação anatômica incerta, as ondas VI e V1I não foram estudadas no presente trabalho.

Devido á dificuldade de mensuração das amplitudes, principalmente nas baixas intensidades de estímulo, e à ausência de valor prático, já referida, destas amplitudes, nós apenas relacionamos, qualitativamente, as amplitudes das ondas 1 e V.





Resultados

Para efeito de apresentação dos resultados, considerou-se alguns parâmetros de interesse clínico:

1. A presença das ondas nas diversas intensidades. (Tabela 1)

2. Limiares médios nas diversas faixas etárias: (Gráfico 1)

3. Estudo das latências:

A - Latências médias das ondas 1, H e V. (Gráfico 2)



Figura 1-Exemplo de B.E.RA. normal



Gráfico 1- Gráfico apresentando o limiar médio, em dBHL em cada faixa etária. Observa-se o aumento do limiar médio com o aumento da idade, mesmo observando o limiar audiométrico tonal dentro de parâmetros iguais nas diferentes faixas etárias.



Gráfico 2 - Gráfico apresentando as latências médias, em ms, após o estímulo das curvas I, III, V, em relação d intensidade, em dBHL. Observa-se o aumento proporcional das latências com a diminuição da intensidade do estimulo. Mantem-se, portanto, o intervalo de latência entre as curvas.



Gráficos 3 e 4 - Os gráficas mostram as latências médias da onda 1, em nu, em relação d intensidade de estímulo, em dB, Observa-se um discreto aumento de latência da onda 1 em todas as intensidades, com o aumento da idade.



Gráficos 5 e 6 - Os gráficos mostram as latências médias da onda V, em ms, em relação d intensidade de es~ em dB, nas faixas etárias citadas. Observa-se um discreto aumento da latência da onda V em todas as intensidades do estímulo, o que se acentua nas menores intensidades, com o aumento da faixa etária.



B - Latência média da onda I em relação à idade e à intensidade do estímulo. (Gráficos 3 e 4)
C - Latência média da onda V em relação à idade e à intensidade do estímulo. (Gráficos 5 e 6)
D - Latência média da onda V em relação à intensidade do estímulo e ao sexo. (Gráfico 7)

4. Estudo do intervalo de latência entre as ondas

A - Intervalo de latência médio entre as ondas I e V (Tabela 2)





B - Intervalo de latência médio entre as ondas I e V segundo a idade (Tabela 3)

C - Intervalo de latência médio entre as ondas III e V segundo a idade. (Tabela 4)

D - Intervalo de latência médio entre as ondas I e III segundo a idade (Tabela 5)

E - Intervalo de latência médio entre as ondas V e I segundo o sexo e a intensidade de estímulo (Gráfico 8)

5. Amplitude

Comparando-se qualitativamente as ondas V e I nos gráficos onde ambas se encontravam presentes, constatou-se que em 85% destes gráficos a onda V apresentava maior amplitude.



Gráfico 7 - O gráfico mostra a latência média da onda V em 100, 90 e 80 dB de estímulo sonoro em relação ao sexo, revelando urna latência constantemente menor no sexo feminino. As intensidades menores de 80 dB também apresentaram esta prevalência.












Gráfico 8 - O gráfico mostra o intervalo de latência médio entre as ondas V e I, nas intensidades citadas, em relação ao sexo. Observa-se um intervalo de latência constantemente menor no sexo feminino. As intensidades abaixo de 80 dB também revelaram esta prevalência.



Conclusões

A - O limiar ao B.E.R.A. aumenta com a idade, mesmo com níveis audiométricos dentro dos limites da normalidade.
B - As ondas I, III e V são as de maior prevalência, estando presentes mesmo em baixas intensidades de estímulo, sendo, portanto, as de maior utilidade no estudo dos potenciais evocados do tronco cerebral.
C - A latência da onda I é sempre menor que 4,5 ms no limiar ao B.E.R.A.
D - A latência da onda V é constantemente menor nas mulheres, assim como intervalo de latência V-I.
E - Os intervalos de latência entre as ondas V-I, III-I e V-III mantêm-se constantes nas diversas faixas etárias, nas diferentes intensidades de estímulo testadas.
F - A amplitude das ondas tem pouco valor prático, sendo observado, quantitativamente. A onda V tem amplitude maior que a onda I em 80% dos traçados obtidos.

Abstract

The authors studied the Brain-Stem evoked responses audiometry (B.E.R.A.) and variation according age.

They studied 40 individuals from 9 to 59 years old, without any past of otology disease with normal phisical examination and tonal audiometry.

They conclud, out of the rate of the latency that the B.E.R.A. treashold increases with the age in spite of normal tonal audiometry, the curves I, III and V are the most consistents with clinical value and the amplitude have few pratic value.

Bibliografia

1. JEWETT, D.L. et WILLISTONE, M.J.S. - Auditory evoked far fields averaged from the scalp of hummas BRAIN 94: 681-696, 1971.
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3. JACOBSON, J.T.; NOVOTNY, G.M.; ELLIOTS, S. - Clinical considerations in the interpretation of auditory brainstem response audiometry. J. Otolaryngol 9: 6 (493504),1980.
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10. THORNTON, A.R.D. - Electrophysiological studies of the auditory system. Audiology 15: 23,1976.




Endereço do autor:
Av. Dr. Enéas Carvalho Aguiar, 255 sala 6021
05403 - São Paulo - SP BRASIL

* Trabalho realizado na Clínica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e na Clínica Otorhinus-Centro de Diagnose em Otorrinolaringologia, São Paulo-SP.
** Médico Assistente da Clínica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Médico da Universidade de São Pauto e da Clínica Otorhinus.
*** Médica-Residente em Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo-SP.
**** Professor Adjunto da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

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