Versão Inglês

Ano:  1973  Vol. 39   Ed. 3  - Setembro - Dezembro - ()

Seção: Trabalhos Originais

Páginas: 166 a 169

 

Drogas Ototóxicas (Revisão)

Autor(es): -

I - Aminoglicosideos:

São tóxicos para o VIII par craneano. São ativos contra a tuberculose e produzem efeito curarizante em doses elevadas. A relação dose-idade, relatada na maioria das reações, aumentam em indivíduos idosos, assim como seus efeitos crescem quando previamente já tomaram estes medicamentos. Todas estas drogas são mal absorvidas por via oral. Relataremos em seguida os efeitos quantitativos dos aminoglicosídeos. A espira basal da cóclea é a mais suscetível a injúrias.





Estreptomiclna:

a) Mantém altos níveis nos líquidos cerebroespinhal e perilinfático.

b) 75% dos pacientes que tomam mais que 2 g/dia durante 60 dias, desenvolvem paresia vestibular. Os sintomas são vertigens e zumbidos. O núcleo vestibular é provavelmente destruído em primeiro lugar e a isto se segue lesão da cóclea. Com 1 g/dia durante 30 dias, dão-se lesões vestibulares em 25% dos pacientes.

c) Provavelmente seja seguro dar 1 g/dia de estreptomicina em período inferior a 30 dias.

d) Inicialmente aparecem os sintomas vestibulares, logo surgirá surdez para sons de alta freqüência. Histologicamente tanto as células ciliadas internas como as externas são atingidas.

e) A Dihidrostreptomicina é mais tóxica para a cóclea e a maioria das vezes leva a surdez, súbita ou não, após a interrupção do uso da droga. Trinta e um por cento dos pacientes, apresentaram sinais de toxidez quando tomaram a droga na dose de 2 ou mais g por dia durante 60 dias.

f) Precauções: Antes do uso destas drogas deve-se fazer audiograma e testes calóricos. Zumbidos devem ser cuidadosamente observados e uma perda vestibular deve lembrar que pode ser o sintoma inicial da toxidez.

Kanamicina:

a) Esta droga é tanto oto como nefro-tóxica. Concentrações elevadas e prolongadas ria perilinfa são provavelmente a causa de sua toxidez para o VIII par.

b) Essa droga é especialmente perigosa quando dada em presença de comprometimento da função renal.

c) Atinge tanto a parte vestibular como a coclear. (Dose segura é de 3 g/semana). Surdez ocorre quando é dada em concentrações acima de 15 mg/kg/dia em doses fracionadas, por um período superior a 20 dias. Uma pequena dose, tal como 100 mg dada de uma só vez em presença de disfunção renal, pode causar profunda surdez neurossensorial. Nunca deve ser excedido o total de 15 g.

d) Em pacientes oligúricos, apenas 1 g deve ser dado no 1.0 dia e menos de 1/2 g durante os 2 a 4 dias seguintes, para evitar ototoxidez. Os sintomas de toxidez são: zumbidos, sensação de ouvido cheio e ocasionalmente vertigens. Autores relatam casos de ototoxidez em pacientes com insuficiência renal, dos quais 1 havia recebido 14 g e o outro apenas 5 g. e) Aproximadamente 1/3 dos pacientes submetidos a dose terapêutica diária tiveram surdez após 60 g e 2/3 após 120 g.

f) Em animais experimentais, notadamente cobaias, ototoxidez ocorreu com doses de 800 mg/kg/dia dadas durante 5 dias. Os animais tornaramse clinicamente surdos e houve uma queda associada dos potenciais eletrococleares.

g) Foi apresentado um caso de surdez humana de uma mulher de 73 anos a qual tinha cistite oligúrica e tomou pequeno tratamento de Kanamicina resultando em profunda surdez neurossensorial bilateral.
Neomicina:

a) Nefrotoxidez ocorre em 40% dos pacientes com doses superiores a 2 g/dia durante 30 dias. Tal como a Kanamicina, esta droga não deve ser dada em presença de comprometimento de função renal. Uma pequena dose como 1 g/dia, em presença de insuficiência renal pode levar a surdez neurossensorial.

b) mg por mg a Neomicina é provavelmente a droga mais ototóxica.

c) É muito pouco absorvida pelo trato gastro-intestinal. Menos de 3% da dose é absorvida; contudo, deve-se ter em mente que altas doses de Neomicina oral podem ser ototóxicas.


Casos de surdez têm ocorrido com pequenas doses em casos de insuficiência renal, se a droga é dada por via IM. Muitos casos têm ocorrido quando a droga foi dada VO em pacientes com doenças gastrointestinais como colite ulcerativa, nas quais maiores quantidades da droga são absorvidas através da mucosa inflamada. Certos usos de Neomicina como preparados intestinais e lavagens peritoniais devem ser abolidos. Pode ocorrer surdez após suspensão da droga. Já foi apresentado um caso em que o paciente tomou 2 g IM, sendo que 16 dias depois morreu de doença renal.

d) Tem tendências para reverter a ação da acetílcolina nas junções neuromusculares.
Gentamicina:

a) 1 mg/kg/dia é a dose segura; contudo a dose recomendada é de 3-5 mg/kg/dia.

c) Surge ototoxidez em 2% dos pacientes. Além desse aspecto produz lesão renal.

c) Mais tóxica para a cóclea que a dMidrostreptomicina.

Ácido etacrinico:
a) Tem estrutura semelhante à da aspirina.
b) Diurético que inibe a reabsorção eletrolítica ao nível dos túbulos proximais. Na literatura inglesa foram relatados 26 casos de surdez permanente, 23 dos quais estavam associados com insuficiência renal.

c) As doses usadas são de 50 a 100 mg/dia. Dificilmente são usadas doses superiores. Há um caso de um paciente que ficou surdo após uma dose de 50 mg e outro caso de surdez após 2 doses de 50 mg cada uma. Em ambos os casos foi observada insuficiência renal.

d) Gatos tornaram-se surdos com uma pequena dose de 10 mg/kg. A droga foi ministrada por via venosa e a surdez apareceu depois de 15 minutos. Essa surdez é transitória, a recuperação inicia-se em 90 minutos e é total em cerca de 8 horas.
Aspirina:
a) Até o momento quase todos os casos relatados na literatura foram reversíveis. Geralmente ocorre quando a concentração sanguínea é de ordem de 20 a 30 mg%. Estas concentrações geralmente apenas são encontradas em indivíduos submetidos a terapêutica de artrite reumática,

b) Já foi descrita hemorragia coclear.

Furosemide: (Lasix)
Foram relatados efeitos ototóxicos em indivíduos que tomaram 1000 mg. A metade dos casos nestas situações apresentaram lesões cocleares. Em presença de doença renal os efeitos ototóxicos são mais acentuados.

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