Ano: 1973 Vol. 39 Ed. 3 - Setembro - Dezembro - (2º)
Seção: Trabalhos Originais
Páginas: 133 a 136
Colesteatoma de Glândula Parótida - Apresentação de um Caso
Autor(es):
Victório De Costa*,
Pedro Luiz Cóser**,
R. F. Cóser***
Resumo:
É descrito um caso de colesteatoma localizado no parênquima da glândula parótida de um homem, o qual relata uma evolução de 30 anos. Os autores comentam a histogénese da lesão.
0 colesteatoma da glândula parótida é achado extremamente raro. Esta lesão é assim chamada pela grande quantidade de cristais de colesterol que apresenta.
Deve-se ter o cuidado em fazer o diagnóstico diferencial das lesões encontradas na região parotídea tais como: lipoma, linfonodos aumentados, o próprio parênquima glandular, tuberculose, pneumatocele, divertículo de Stenon, tumores mistos e tumores malignos com degeneração cística 1, 7, 1. A finalidade deste trabalho é fazer uma revisão dos casos relatados de colesteatoma e acrescentar um observado pelos autores.
Apresentação de um caso
Paciente do sexo masculino com 79 anos de idade. Há 30 anos apresenta tumefação na região parótida; como o volume aumentasse, nos últimos meses, procurou tratamento.
Foi feito parotidectomia, usando a técnica convensional com dissecção do nervo facial sob microscópio.
Aspecto microscópico: Os cortes histopatológicos apresentam paredes fibrosas revestidas em algumas porções por epitélio pluriestratificado (fig. 1); outras áreas revelam tecido fibroso com imagens negativas de cristais de colesterol (fig. 2), pigmento de hemossiderina e células histiocitárias. Observa-se também atrofia do parênquima glandular e porção da glândula parótida ainda conservada (fig. 3).
FIG. 1 - Observa-se parede fibrosa revestida por epitélio (H&E - 25)
FIG. 2 - Notam-se imagens negativas de cristais de colesterol (H&E - 25)
FIG. 3 - Porção do parênquima glandular normal e atrófico (H&E - 25)
Comentários
Casos de cistos localizados na glândula parótida foram relatados 1, s, s, s, lo, mas nenhum com a presença de cristais de colesterol.
0 traumatismo parece ter papel fundamental na gênese dos cistos 4,7. 0 diagnóstico do cisto é difícil visto que sua sintomatologia não é bem definidalo, a não ser que se tenha uma sialografia características, que nos oriente na cirurgia e exclua lesões extra- parotidianas1.
A sialografia é dado de real valor no diagnóstico da lesão, embora, muitas vezes, tenhamos dificuldades em avaliá-la, porque a própria secreção da glândula, quando viscosa, não permite perfeito preenchimento da cavidade. Lesões císticas extra-canal icu lares ou situadas após estenose podem não serem contrastadas. A injeção do contraste deve ser feita lentamente, com duração de 3 a 4 minutos, e com pressão constante, levando em consideração que uma pressão muito grande pode alterar a imagem dos canalículos. Seria interessante fazer sempre uma sialografia da glândula contra-lateral, para efeito de comparação nos casos que há suspeita de atrofia glandular7.
0 colesteatoma da glândula parótida é um achado extremamente raro e está associado a processos inflamatórios crônicos.
Das tesões radiolúcidas periapicais, somente 1 % dos casos são considerados colesteatoma2.
Comentários
Casos de cistos localizados na glândula parótida foram relatados 1, s, s, s, lo, mas nenhum com a presença de cristais de colesterol.
0 traumatismo parece ter papel fundamental na gênese dos cistos 4,7. 0 diagnóstico do cisto é difícil visto que sua sintomatologia não é bem definidalo, a não ser que se tenha uma sialografia características, que nos oriente na cirurgia e exclua lesões extra- parotidianas1.
A sialografia é dado de real valor no diagnóstico da lesão, embora, muitas vezes, tenhamos dificuldades em avaliá-la, porque a própria secreção da glândula, quando viscosa, não permite perfeito preenchimento da cavidade. Lesões císticas extra-canal icu lares ou situadas após estenose podem não serem contrastadas. A injeção do contraste deve ser feita lentamente, com duração de 3 a 4 minutos, e com pressão constante, levando em consideração que uma pressão muito grande pode alterar a imagem dos canalículos. Seria interessante fazer sempre uma sialografia da glândula contra-lateral, para efeito de comparação nos casos que há suspeita de atrofia glandular7.
0 colesteatoma da glândula parótida é um achado extremamente raro e está associado a processos inflamatórios crônicos.
Das tesões radiolúcidas periapicais, somente 1 % dos casos são considerados colesteatoma2.
Esta lesão encontra-se freqüentemente no ouvido médio como seqüela de otite média e mastoidite crônica e, por isso, é bem estudada. I= encontrada também em outros locais, como pele, cérebro e órgãos genitais.
Parece que somente um caso de colesteatoma na região parotidiana foi descrito na forma de desenvolvimento externo.
Lamartine e Gumore cit. 3, descreveram um caso verificado na mastóide, simulando sarcoma e para o qual somente a intervenção explorativa permitiu afirmar o verdadeiro diagnóstico.
Quanto à patogênese, segundo Bouche e col.3, é incontestável que existam colesteatoma secundários que se desenvolvam com ajuda de uma supuração crônica embora a teoria do colesteatoma primitivo seja também plausível. Ela se baseia na hipótese de uma inclusão embrionária onde o colesteatoma precede a supuração. Esta teoria foi proposta pela primeira vez por Virchow (1855) cit. 3, confirmada recentemente por outros pesquisadores e repousa sobre a possibilidade de inclusão ectodérmica que se produz na fase embrionária mais particularmente sobre o trajeto da 1.a fenda branquial.
As lesões congênitas que resultam de uma fusão defeituosa do 1.º e 2.º arco branquial dão origem a cistos da fenda branquial de considerável variedade8.
Lima e col.5 acham que os cistos branquiais intra-parotidianos não são realmente de origem branquial, uma vez que a parótida inicia sua embriogênese aos quarenta e cinco dias da vida intra-uterina, quando normalmente já deve ter ocorrido a inovulação completa do aparelho branquial.
0 presente caso se torna interessante, porque parece que existem poucos casos de colesteatoma localizado na parênquima da glândula parótida.
Summary
A case of Cholesteatoma of parotid gland from a male patient with a clinical history of 30 years is described.
Considerations about the histogenesis of the lesion are made.
Referências Bibliográficas
1. Amatulli, G.; Leonardelli, G. B.; Parolari, P. - Cisti e pseudocisti della parotida. Arch. [tal. Otol., 74: 678-688, 1963. 453; 1963.
2. Bhaskar, S. N. - Synopsis of oral pathology, Second Edition, C. V. Mosby, 1965; pág. 157. 39: 320-325, 1960.
3. Bouche, J.; Freche, Ch.; Hannequin, M. - Cholestéatome de Ia loge parotidienne. Ann. Otolaryng., 83 : 451
4. Brabe, J. Von - Zur genese der parotìscysten. Z. Laryng. Rhinol. Oto.,
5. Lima, V. A.; Nisdermeier, H.; Ferrari, M. - Cisto intraparotidianos; suas complicações sobre a origem dos cistos ditos branquiais. J. Bras. Med., 14: 239-242, 1968.
6. Lynch, J. B.; Lewis, S. R.; Blocker, T. G. - Chronic parotitìs. Ann. Surg., 161 : 693-700, 1965.
7. Masing, H. Von - Zur differentiak- diagnostik von parotiscysten mitteles sialographie. Deutsche Z. Zeitshriff., 10: 1221-1224, 1965.
8. Prat, L. W. - Cystic lesions of the parotid Region. Journal M. Medical Ass., 56: 21-23, 1965.
9. Stell, P. M. - Parotid Cysts. J. Laryng., 81 : 931-934, 1967.
10. Tereshina, Z. L. - The diagnosis and tratment of cysts of parotid. Stomatologiia-Moskva, 47: 53-56, 1968.
End. Victório De Costa Rua Jorge Abelin, 258 Santa Maria - RS
* Professor Assistente do Departamento de Patologia (Secção Patologia Oral) UFSM
** Estagiário do Departamento de Patologia (Secção Patologia Oral) UFSM
*** Chefe do Departamento da Fala - UFSM