Versão Inglês

Ano:  1973  Vol. 39   Ed. 2  - Maio - Agosto - ()

Seção: Trabalhos Originais

Páginas: 97 a 99

 

Emprego de Enzimas Proteolíticas no Tratamento da Otite Média Crônica Exsudativa*

Autor(es): Francisco Pereira Vieira**

CONSIDERAÇÕES GERAIS

Entre os processos inflamatórios agudos ou crônicos do ouvido médio ainda que tratados convenientemente, há os que tornam-se rebeldes ao tratamento clínico. Diante do grande arsenal de antibióticos, existentes na atualidade, e em virtude do amplo uso dessas drogas as enfermidades inflamatórias do ouvido médio sofreram enormes modificações, de tal ordem que muitas destas enfermidades, que eram descritas nos textos clássicos já não são hoje observadas. Entretanto, o uso abusivo dos antibióticos nas doenças do ouvido médio tem trazido sérias dificuldades no processo de cura dessas afecções ao acarretarem profundas modificações na fisiopatologia do forro mucoso da caixa do tímpano. Sendo o ouvido médio um segmento intermediário, e portanto, com capital importância no mecanismo de transmissão sonora para o interior do ouvido interno, enorme é o interesse que deve despertar no especialista, frente a um processo inflamatório pelas graves repercussões que podem acarretar sobre o fenômeno da audição. Entre as sequelas decorrentes de inflamação crônica do ouvido médio assumem particular importância as hipoacusias de transmissão. Estas podem resultar de processos degenerativos hiperplásicos, ou por perda de substância do ouvido médio em conseqüência de necrose tissular, ou ainda em decorrência de fenômenos atróficos numa fase final em que há em geral, perda total de função das estruturas osteotimpânicas (otuloses). Via de regra os processos inflamatórios crônicos do ouvido médio requerem tratamento cirúrgico corretivo.

Embora diante do avanço atual da cirurgia otológica, medidas cautelosas devem ser observadas no pré-operatório dessas intervenções corretivas do ouvido médio. Somos da opinião de que não se deve intervir cirurgicamente num ouvido portador de otite média crônica supurada sem que haja uma avaliação cuidadosa das condições locais. Um ouvido tremendamente exsudativo não deve ser terreno propício para uma cirurgia reparadora. Nossa observação dedicou particular interesse para aqueles casos de indicação cirúrgica, passando a ser o objetivo primordial deste trabalho. O emprego de enzimas proteolíticas, tripsina e quimotripsina tem sido bastante estudado nos últimos anos e a cada dia são maiores as aplicações destas substâncias tanto na clínica como na cirurgia. Vários autores têm estudado e informado do emprego destas enzimas, isoladamente, ou associadas a antibióticos no curso de alguns processos inflamatórios experimentais e clinicamente em diversas condições patológicas (salpingites, anexites, pelviperitonites, broncopneumonia, atelectasia neonatorum, mastites, lacerações obstétricas, artrite infecciosa aguda, edema pós-operatório em cirurgia plástica facial e traumatismos), revelando me geral resultados alentadores. O mecanismo de ação das enzimas proteolíticas, que dá como resultado sua atividade antinflamatória, é dado pela despolimerização das moléculas proteicas de peso molecular elevado, aumento da fagocitose e melhor drenagem linfática e hemática dos exsudatos tissulares devido a diminuição da viscosidade destes. Atualmente não existe qualquer informação acerca do emprego destas enzimas em afecções do ouvido médio. O presente estudo refere-se a um desejo de valorização clínica da ação terapêutica que nas otites médias crônicas exsudativas, puderam ter a tripsina e a quimotripsina, administradas por via oral. Como medidas de apoio, submetemos todos os pacientes a uma dieta hiperproteica suplementar por período de 15 a 25 dias e limpesa local cuidadosa do exsudato auricular de 2 em 2 dias, até a remissão completa da secreção.

AMBOZIM ORAL RICHTER

COMPOSIÇÃO

Cada drágea contém: Tripsina, 20,20 mg; Quimotripsina, 6,45 mg; Ribonuclease, 0,50mg.

Material e Método

O grupo de estudo foi constituido exclusivamente por adultos e crianças maiores em número de 32 pacientes que foram controlados no Departamento de Otologia da Clínica Prof. José Kós. Foram observados 15 homens e 17 mulheres. Os pacientes eram portadores de otite média crônica exsudativa, com otorréia rebelde. Todos foram submetidos a tratamento cirúrgico otológico corretivo, uns com timpanoplastia e outros com timpanomastoidectomia. Variando apenas a técnica cirúrgica, na dependência da natureza da operação, todos receberam os mesmos cuidados pós-operatórios. A esses pacientes do grupo de experimentação, foram administradas as enzimas por via oral somente após o aparecimento da supuração auricular. Comparamos a evolução em relação ao comportamento da otorréia frente ao tratamento clínico e o resultado cirúrgico. Alguns pacientes já haviam sido tratados antes da operação por apresentarem exsudato abundante no ouvido médio. O esquema posológico estabelecido para todos os doentes, foi de 2 drágeas cada 8 horas por um período variável de 8 a 10 dias de tratamento clínico enzimático.

Resultados

Para valorizar os resultados nos orientamos por um critério objetivo e subjetivo, julgando a remissão das manifestações clínicas durante a evolução pós-operatória, como febre, dor espontânea, estado geral, aspecto da região operada, congestão, edema e secreções. Desta maneira, classificamos os resultados como excelentes, entre os casos por nós observados. Consideramos a qualificação desses resultados como da maior importância não somente em relação ao sucesso cirúrgico, como ao desaparecimento das manifestações surgidas no pós-operatório. A partir dos resultados obtidos nesta observação clínica, passamos a usar sistematicamente esta combinação enzimática desde o segundo dia do pós-operatório, com o que temos conseguido evitar o aparecimento de supuração auricular.

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Endereço do autor: Rua João Balbi, 674
66.000 - Belém/PA

* Trabalho realizado no Departamento de Otologia da Clinica Prof. José Kós: Rio de Janeiro, GB, 1972.
** Médico - Residente (R2).

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