Versão Inglês

Ano:  1973  Vol. 39   Ed. 2  - Maio - Agosto - ()

Seção: Trabalhos Originais

Páginas: 93 a 96

 

Imperfuração Coanal Bilateral em Adulto com Recuperação Respiratória e Olfatória Pós Cirurgia

Autor(es): Rudolf Lang*,
Nicanor Letti**,
Moacyr Saffer***,
Vaidomiro Zanette****,
Alcione Souto,
José Vieira Pinheiro
Alcides Kachava*****.

Resumo:
Estudamos uma paciente adulta com imperfuração coanal bilateral que sobreviveu e que foi restabelecido o fluxo aéreo por cirurgia transpalatina. Acompanhamos e discutimos a recuperação respiratória e olfatória da mesma e outros problemas como o desenvolvimento das cavidades paranasais.

Introdução

A presença de imperfuração coanal bilateral no recém nascido geralmente causa asfixia e morte quando não se realiza a abertura nasal posterior de urgência ou uma traqueotomia. A bibliografia, entretanto refere muitos casos de sobrevivência a esta situação. l,2,3,4,5 e 6. A ogivalização palatal está acentuada e os pacientes nunca tiveram sensação olfatória, como já foi relatado por Zilstorffl e a gustação tem discriminação deficiente. A finalidade deste trabalho é apresentar um caso de uma paciente adulta portadora desta patologia e que portanto, sobreviveu, a qual foi submetida a cirurgia com recuperação respiratória e olfatória.

Caso Clínico

I.B., 33 a. fem. cas., consultou em nossa clínica no dia 25/5/72 por problemas de cefaléias e dores cervicais com tonturas que surgiam em posições rotativas da cabeça. Contou que sabia ser portadora de imperfuração coanal bilateral cujo diagnóstico clínico e radiológico havia sido realizado 20 anos antes no Rio de Janeiro e Buenos Aires. Conhecia bem sua história clínica pois era filha e esposa de médicos. Diz que tem muito cansaço que atribue a respiração bucal. Tratada de uma discopatia cervical melhorou das cefaléias e propomos à mesma realizar a cirurgia da imperfuração coanal. Em Dezembro de 1972 nos procurou disposta a realizar a cirurgia. Fez um estudo radiológico contrastado do nariz que está na Fig. n.° 1, mostrando obstrução completa coanal bilateral, com estreitamento mais acentuado da lâmina óssea da coana D, com estilete a consistência da mesma era óssea e não apresentava complacência. Ao exame rinoscópico posterior visualizou-se bem as lâminas ósseas obstruindo as coanas. O exame audiométrico foi normal. Foi operada em 9 de janeiro de 1973 por via transpalatina com uso de broca para mastóide sob visualização microscópica com aparelho Zeiss. Fez-se a incisão arciforme descolou-se os retalhos palatinos e se dissecou com broqueamento realizando ampla abertura. Após foi introduzida uma sonda de plástico de 1 cm de diâmetro por uma fossa nasal contornando o septo posteriormente e tracionando-a pela outra fossa nasal. Junto a abertura coanal fizemos uma janela na sonda para passagem de ar. A sonda permaneceu no local durante 1 semana. Foi retirada sob anestesia geral. Desde então a paciente apresenta excelente respiração nasal e sente sensações que define como nunca antes as tinha sentido, isto é, respirar pelo nariz. A recuperação respiratória no 2.° mês já permitia dormir com boca fechada e o cansaço desapareceu. O que mais satisfação trouxe para a paciente foi a recuperação olfatória, no 1.° mês sentiu que o sabor dos alimentos modificou e no começo do 2.° mês da cirurgia começou a discriminar o olfato de uma série de substâncias. No 3.° mês já discriminava cheiro de queijo, e outros alimentos que não conhecia.



FOTO 1 - Vemos as fossas nasais repletas de contraste iodado que não ultrapassa as coanas, formando um rebordo arredondado de ambos os lados. Os seios maxilares, frontais e esfenoidais também podem ser visualizados com desenvolvimento normal. A coana D é um pouco maior que a E.



Discussão

A sobrevivência de um indivíduo, com a persistência da membrana buconasal após o nascimento é raríssima. Não encontramos na literatura referências sobre a recuperação olfativa e como a mesma se processa após a cirurgia do restabelecimento do fluxo aéreo nasal. Nas obstruções nasais por pólipos ou outras anomalias anatomias que obstruem a área olfatória, a sensação retorna imediatamente, após a correção do problema obstrutivo. A paciente em questão desde o nascimento não teve fluxo nasal aéreo, e o neuro epitélio olfativo, entretanto, não degenerou apesar de não ter sido utilizado durante muitos anos. Isto é comum nos epitélios neurosensoriais, que tem problemas condutivos impedindo sua atuação. Como exemplo típico temos a surdez de condução produzida por otoesclerose que não causa lesão no epitélio nervoso da cóclea pela pouca utilização. Von Dishoek7 já dividia as perturbações olfatórias em condutivas e perceptivas, sendo que estas últimas são irrecuperáveis. Ziistorff1 classifica as hiposmias em respiratórias, essenciais e intracrânicas, segundo a causa esteja situada antes, no epitélio olfatório ou depois do mesmo. A recuperação gustatória a primeira que surgiu após a cirurgia, pois embora não estivesse ausente melhorou apreciavelmente após o restabelecimento do fluxo aéreo pela cavidade nasal. No 1.0 mês após a cirurgia a degustação era excelente e diferente daquela que a paciente tinha na fase pré-operatória. A olfação também começou a ser apreciada durante os primeiros 30 dias da fase pós-cirúrgica pelo reconhecimento de uma série de iguarias, frutas e condimentos. Os perfumes, cremes e outros objetos de beleza foram discriminados olfatoriamente após o 2.° mês da evolução. O olfato recuperou-se completamente aos 6 meses da cirurgia mantendo-se inalterado até o momento. O estudo radiológico demonstrou desenvolvimento normal das cavidades paranasais, mostrando que a existência ou não de fluxo aéreo pelo nariz não interfere no desenvolvimento das mesmas. A membrana buco nasal também não envolveu os mecanismos de arejamento da orelha média, mostrando que a inexistência de fluxo nasal também não provocou alteração nos sistemas de regulação aérea da caixa timpânica. A audição era normal e permanece normal. O tamanho do rinofaringe também era compatível com a idade. Discute-se muito o aspecto de olfato e funções sexuais. único dado que dispomos sobre a paciente era que do casamento não tinha filhos, mas não investigamos por razões óbvias este problema. Outro aspecto interessante nesta paciente é que nunca havia espirrado, acontecendo este fenômeno após o restabelecimento do fluxo nasal.

Summary and Conclusions

We have studied an adult patient with bilateral choanal imperforation olho has survived. The serial flow was reestablished by a transpalatine surgery. We have followed and discussed the respiratory and olfactory recovery of the case and problems related with the paranasal cavities developpement.

Bibliografia

1. Zilstorft - Olfactory Disturbances: Diagnosís and Treatment. ORL Disgest - 37-43, December 1972.
2. Rabelo Neto, J. - A via transpalatina no tratamento da imperfuração congênita bilateral das coanas. Rev.
Bras. Oto-Rino-Laring. 10.431-441, 1942.
3. Stewart, J.P. - Congenital atresia of posterior nases. Arch. Otolaryng. 13: 570-583, 1931.
4. Baker, M.C. - Congenital atresia or obstruction of air passages. Ann. Otol. 40 :1021-1035, 1931.
5. Lopes F.0, Otacilio Carvalho; Granato, Lidio -Imperfuração coanal bilateral em paciente com 60 anos. Rev. Bras. Oto-Rino. Laring. 37: 176-181, 1971.
6. Carlyle. G. Flake and Charles F. Ferguson - Congenital choanal atresia in infants and children. Ann. Otol. Rhin. and Laryng. 73: 458-473, 1964.
7. Von Dishoeck - In Otolaryngology, Paparella and Shumrick - 1973




1 Médico otologista - Prof. Titular de Otorrinolaringologia da PUC - Porto Alegre
2 Médico - Prof. adjunto da disciplina de Otorrinolaringologia da Univ. Federal do Rio Grande do Sul
3 Prof. Assistente da Faculdade Católica de Medicina de Porto Alegre
4 Médico do Instituto de Otologia - Porto Alegre
5 Médicos Residentes do Instituto de Otologia - Porto Alegre/RS

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial