Ano: 1973 Vol. 39 Ed. 1 - Janeiro - Abril - (6º)
Seção: Trabalhos Originais
Páginas: 35 a 36
LIGADURA DA ARTÉRIA MAXILAR INTERNA EM UM CASO DE EPISTAXE INCONTROLÁVEL PELOS MÉTODOS HABITUAIS
Autor(es): Fernando A. G. Terroso*
Resumo:
O autor realizou a ligadura da artéria maxilar interna, na fossa ptérigomaxilar, via transmaxilar, em um caso de epistaxe posterior não controlada pelos métodos habituais.
Introdução
Não é nosso propósito abordar classificações de epistaxes e esquemas terapeuticos que são amplamente conhecidos. Queremos apenas reiterar que o tratamento das epistaxes, em sua maioria, é feito satisfatoriamente pelos métodos convencionais, reservando-se a ligadura arterial (etmoidais, maxilar interna, carótida externa) para casos extremamente raros.
Relato de um caso
M. A. M. - Fem. 77 a - Viva - doméstica - Res. S. José do Norte - RS.
Procurou-nos em 21-10-72 nas primeiras horas da tarde por ter apresentado, na manhã deste mesmo dia, hemorragia nasal (fossa nasal direita). Apresentava um tamponamento de gaze feito em um P. Socorro, mas o sangramento continuava. T.A.: 120x70. Retirada a gaze e aspirada a fossa nasal vimos que o sangramento era de região posterior. Fizemos um tamponamento anterior e não conseguimos parar a hemorragia. Levada ao hospital procedeu-se aos tamponamentos posterior e anterior e internou-se a paciente. Prescrevemos: sangue total (500 ml), antibiótico (profilaticamente) e hemostático i.v. Cerca de 24 horas após voltou a hemorragia. Solicitamos: PTT, cont. de plaquetas, retração coágulo, tempos de coagulação, protrombina e sangria. Como a perda de sangue fosse agora em pequena quantidade e não contínua, aguardamos o período de 48 horas de observação. Os exames de sangue apresentaram-se normais. Com pouco mais de 48 horas retiramos os tamponamentos e persistia a hemorragia. Fizemos novo tamponamento combinado e nas primeiras horas parecia haver cessado. Voltou entretanto, em pequena quantidade, descontinuamente, prolongando-se pelo segundo período de 48 horas em observação, sendo que ao findar este, já não sangrava mais. Aproximadamente 20 horas mais tarde apresentou novo sangramento em maior quantidade. Tensão arterial manteve-se dentro de medidas consideradas normais.
Diagnóstico
Tratava-se possivelmente de ruptura espontânea de vaso(s) da região posterior do septo nasal, que devido à arteriosclerose avançada alterou profundamente seu(s) mecanismo(s) de retração e constrição.
Conduta
Decidimo-nos pela ligadura da artéria maxilar interna na fossa ptérigo-maxilar.
Cirurgia (em 26-10-72)
1 - Sob anestesia geral, antrotomia maxilar direita (Caldwell-Luc) um pouco mais ampliada.
2 - Usando o otoscópio cirúrgico: incisão e descolamento da mucosa da parede posterior do seio maxilar, broqueamos esta parede nas porções média e superior e alcançamos a fossa ptérigo-maxilar,
3 - Orientados pelo batimento arterial, dissecamos e isolamos a artéria maxilar interna do tecido conjuntivo - adiposo da F.P.M.
4 - Passamos duas ligaduras na artéria, com fio inabsorvível.
Conclusão
Cessou a hemorragia. Por precaução, fizemos um tamponamento anterior que foi retirado 24 horas após. Não apresentou mais sangramento. Dois dias mais tarde foi dada alta à paciente.
Summary
The author has performed the ligation of the internal maxillary artery in the pterygoid maxillary fossa, through the maxillary sinus, in a case of posterior epistaxis not controlled by the usual methods.
Bibliografia
1. Seittert. - Ligadura de Ia arteria maxilar interna a través del seno maxilar. Kirschner, Tratado de Técnica Operatoria, pg. 220, Vol. V, 1962.
2. Pereira, C. - Otorrinolaringologia, 799-805, 1957.
3. Ballenger, J. J. - Diseases of the Nose, Throat and Ear, 74-77, 1969.
4. Butugan, O. - Epistaxe, Rev. Atualidades Médicas, 1-2, out. 1971.
* Professor da Disciplina de ORL, Faculdade de Medicina de Rio Grande - RS.