Versão Inglês

Ano:  1984  Vol. 50   Ed. 3  - Junho - Setembro - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 09 a 11

 

TECIDOS PARA IMPLANTES OTOLOGICOS - BANCO DE HOMOENXERTOS

Autor(es): Dr. ARNALDO LINDEM-1

Resumo:
Homoenxertos têm sido usados com sucesso na cirurgia da reconstituição anatômica e funcional do ouvido. Os bancos de homoenxertos possibilitam qualidade de tecidos e regularidade no fornecimento. Os aspectos mais importantes na criação de um banco de homoenxertos referem-se à obtenção, técnicas de dissecção, procedimentos de preservação e distribuição, bem como os cuidados na manutenção do material.

Em otologia, homoenxertos são usados nas reconstituições de cadeias ossiculares, de canais auditivos e nas reparações de defeitos timpânicos. Na impossibilidade de-lançar mão dos tecidos próprios do paciente, o cirurgião deve ter à disposição uma variedade de homoenxertos que possam ser usados na solução de um problema que vise restaurar a anatomia ou a fisiologia do órgão da audição.

Foi Marquet,em 1966, quem primeiro publicou os resultados cirúrgicos obtidos com homoenxertos de membranas timpânicas. Outros autores, entre os quais Perkins (1970, 1975) e Chiossone (1974, 1977), trouxeram sua valiosa contribuição à cirurgia otológica, através do implante de tecidos fornecidos por um Banco de Ouvidos.

Ambos criaram seu próprio Banco de Ouvidos com a finalidade de coletar, processar, armazenar e distribuir homoenxertos de membranas timpânicas e ossículos, em nível nacional e internacional.

Criação de um banco de homoenxertos

Será que a criação de um Banco de Homoenxertos é importante? Não poderia cada cirurgião ou cada serviço de otologia obter e estocar seu próprio material a ser implantado?

Nós estamos convictos de que existem razões suficientes para justificar a criação de um banco de tecidos para implantes otológicos.

Fonte de suprimento. Um banco é uma fonte segura de suprimento de material, possibilitando ao cirurgião facilidade e rapidez na obtenção. Eficiência técnica. O processo técnico para obter, dissecar e preservar homoenxertos requer pessoal treinado e dedicado.

Economia de tempo. As múltiplas atividades do cirurgião deixam-lhe pouca disponibilidade de tempo para a obtenção e o processamento dos seus próprios homoenxertos.

Controle de qualidade. É através de um banco, que dispõe de pessoal treinado, material e instalações adequadas, que se pode conseguir uma melhor qualidade de tecidos.

Controle da esterilização. O banco, pelas suas finalidades específicas e condições técnicas, pode assegurar a esterilização dos tecidos e fornecê-los sob ótimas condições para o implante cirúrgico.

Em 1981,a Área de Otologia do Serviço de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina e Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, iniciou paulatinamente um trabalho de processamento e armazenamento de diferentes tecidos para implantes otológicos.



Figura 1 - Laboratório de Dissecção e processamento dos homoenxertos.



Figura 2 - Homoenxertos para implantes otológicos prontos para serem usados.



O propósito inicial de suprir apenas o Serviço do Hospital foi posteriormente modificado, estando o banco, atualmente, em condições de fornecer os homoenxertos a outros serviços, dentro das limitações normais de instalações, pessoal e obtenção de material para o processamento dos tecidos a serem implantados.

Homoenxertos produzidos no Banco.

As próteses de reconstituição ossicular total ou parcial (TORPS e PORPS) são fabricadas pela firma Multiplast com material sintética e bioinerte, o polipropileno e o poliuretano.

Depois de fabricadas, as próteses são levadas ao Banco de Homoenxertos, onde é adicionado, com o uso de cola especial, o material orgânico-disco de cartilagem, corpo de bigorna, cabeça de martelo, fragmento ósseo compacto - na extremidade da haste sintética.

Depois de pronta, a prótese de constituição mista é conservada em solução de formaldeído tamponado dentro de frascos hermeticamente fechados.

O Banco de}Tecidos processa atualmente desde simples fragmentos de ossos ou cartilagens, utilizados na reconstituição de paredes e cavidades, até próteses com extremidades cartilaginosas ou ósseas para substituição total ou parcial (TORPS e PORPS) da cadeia ossicular. Além desses, o Banco está em condições de fornecer bigornas e martelos, utilizados nas reconstituições ossiculares, duramáter e cortes micrométricos de menisco (100 micras) utilizados nas reparações,de defeitos timpânicos e cavidades.

Após a coleta, esses tecidos são cuidadosamente dissecados por pessoal especialmente treinado e logo conservados em solução de formaldeído tamponado a 4%, pH7. O homoenxerto pode permanecer nesta solução na temperatura ambiente por um período de tempo indeterminado sem sofrer qualquer alteração. Estudos nesse sentido foram feitos pelo Dr. Francisco Péres Olivares, no House Ear Institute, demonstrando que o homoenxerto, mesmo armazenado a longo tempo, não sofre nenhuma alteração na sua micromorfologia, quando conservado na solução de formaldeído tamponado.

Distribuição dos homoenxelos

Á distribuição dos homoenxertos pode ser feita no próprio local de processamento, ou pode ser enviada pelo correio em soluções apropriadas para sua conservação e em recipientes especiais para evitar danos no transporte.

O Banco estabeleceu um critério de doação mínima para cada tipo de tecido, a ser feita pela entidade hospitalar, pelo paciente receptor ou por qualquer outro contribuinte interessado em participar e colaborar neste programa científico.

Os cirurgiões que desejem usar tecidos processados no Banco, recebem amplo material informativo a respeito.

O Banco de Homoenxertos para Implantes Otológicos da Faculdade de Medicina e Hospital de Clínicas de Porto Alegre está apenas iniciando suas atividades. Até o momento foi feita uma distribuição local de 36 tipos diferentes de tecidos para serem implantados.

Para expandir-se, o Banco depende basicamente da participação dos otologistas.



Figura 3 - Homoenxerto com embalagem apropriada para remessa.



Summary

Homografts have been successfully used in anatomic and functional reconstructive ear surgery. The homograft ear banks provide quality of tissue and regular supply to the otologic surgeon.

The most important aspects in establishing a homograft ear bank are the search for tissue, dissection techniques, preservation, distribution and maintenance procedures.

Agradecimentos

O material sintético é elaborado pelo Sr. Jorge A. Schlesinger, da firma Multiptast. Os tecidos são preparados no Laboratório de Dissecção de Ossos Temporais por Olga C. Ribeiro. As fotos são de Vanderlou Castilhos, do Serviço de Documentação Fotográfica. Este manuscrito foi revisado e datilografado por Valdir J. Roldão.

Nossos agradecimentos ao Prof. Raul Krebs pela assistência e orientação no trabalho de processamento dos homoenxertos.

Referências

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Endereço do autor: Faculdade de Medicina Hospital de Clínicas-Zona 18 Rua Ramiro Barcelos, 2350 90000 - Porto Alegre- RS

1 - Prof. Adjunto de ORL da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Master of Science in Otology, University of Southern California

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