Versão Inglês

Ano:  1984  Vol. 50   Ed. 2  - Abril - Junho - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 31 a 35

 

ALONGAMENTO DA ÚVULA

Autor(es): ANTÔNIO CYRILLO GOMES-1

Palavras-chave: Hipertrofia da úvula

Keywords:

Resumo:
Neste trabalho, fazem-se comentários acerca das principais deformidades da úvula palatina e mencionam-se meios de diagnóstico diferencial e tratamento dos alongamentos da úvula.

INTRODUÇÃO

A úvula, elemento anatómico localizado na parte posterior e mediana do palato mole é formada pela união dos músculos palatoestafilino esquerdo e direito, glândulas mucosas e tecido conjuntivo submucoso com intensa rede linfática envolvida por mucosa (Fig. 1). Juntamente com o palato mole, participa da função de deglutição e fonação. Suas deformidades podem ser congênitas ou adquiridas. As formas congénitas mais comuns, são úvula bífida unida ou separada (Figs. 2 e 3).

Essa pode apresentar-se associada a fenda palatiná. As fendas uvulares são transmitidas por autossomas dominantes e característicos, com penetração limitada (2). As deformidades adquiridas são observadas em casos de edema, ulcerações, neoplasias e alongamentos. Os edemas podem ser causados por traumatismos, distúrbios de circulação (vascular-linfática), alergia, etc. As ulcerações, por infecções específicas ou neoplasias malignas e os alongamentos ou hipertrofias por estiramento musculares, hiperplasia glandular e edema localizado na ponta (Fig. 4). As causas do alongamento de úvula (Au) por distensão muscular, são discutidas. Admite-se contudo, que a função intensificada e a predisposição individual, sejam fatores importantes na etiologia.

MECANISMO DE AÇÃO

Testut & Lataijet (4) mencionaram, há muito tempo, sintomas decorrentes do aumento do tamanho da úvula, o que comprova que este assunto não é fato de preocupação recente. Ultimamente a literatura médica tem apresentado com certa constância artigos relacionados com o edema generalizado da úvula. Ravindran (5) apresenta como causas deste edema o traumatismo provocado por intubação demorada (fato aliás esporádico nas anestesias endotraqueais) e alergia. Parece que nos traumatismos por intubação o edema está diretamente relacionado com o trauma da sonda sobre a úvula e o tempo de duração da anestesia. No edema generalizado (Fig. 5) há sensação de corpo estranho no mesofaringe e obstrução respiratória alta, enquanto que no alongamento da úvula (Au) prevalecem os efeitos decorrentes da irrítação da língua, do hipofaringe e, às vezes, do laringe.



Figura 1 - Ovula normal



Figura 2 - Úvula bífida junta



Figura 3 - Ovula. bífida separada (fenda palatina)



Figura 4 - Úvula alongada



Figura 5 - Úvula com edema generalizado



Figura 6 - (Ivula ligada



SINTOMAS

O Au determina sensação de irritação do terço posterior da língua. As náuseas e as crises de tosse são freqüentes, quando a úvula é muito longa e atinge a epiglote e glote. Nos pacientes com hipersensibilidade faríngea o sintoma se exacerba, deixando-os psiquicamente irritados.

MEIOS DE DIAGNÓSTICO

A suspeita de Au por hipertrofia ou estiramento do palato estafilino, músculo da úvula (3), hiperplasia gloandular etc. se dá após anamnese em que a tosse, irritação do terço posterior da língua e náuseas aparecem como sintomas rebeldes a tratamentos. No exame do orofaringe, observa-se que a úvula é comprida, que sua extremidade inferior encontra-se abaixo do plano horizontal paralelo ao dorso da língua (Fig. 4) e que, para se ter uma visão total de seu comprimento,. é necessário pressionar a língua para baixo em seu terço médio ou posterior com auxílio de abaixador.

Para verificar se o Au é responsável pelos sintomas, realiza-se a seguinte manobra: coloca-se o paciente sentado e, a seguir, nos decúbitos ventral, dorsal, lateral direito e lateral esquerdo. Após cada posição pergunta-se ao paciente se os sintomas persistem ou desaparecem. Em cada decúbito, a úvula se posiciona de um modo. Sentado, em pé e em decúbito ventral, devem persistir os sintomas; no decúbito dorsal, se ela se posicionar junto ao terço posterior da língua (o que não será comum) ou, por seu comprimento, atingir a glote e epiglote, os sintomas estarão presentes; caso contrário, não. Em decúbito lateral (esquerdo-direito) os sintomas reduzem ou desaparecem. Outro modo de pesquisar a ação irritativa do Au consiste em realizar-se anestesia tópica nos terços médio e posterior da língua, pedindo-se a seguir que o paciente permaneça alguns instantes de boca aberta sem deglutir, para evitar que durante a manobra o Au e o palato sejam anestesiados. Se após anestesia desaparecer a sensação anterior, provavelmente o Au será o responsável pelo sintoma.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Deve ser feito com edema generalizado de úvula
(Fig. 5), edema de ponta de úvula e irritações e processos inflamatórios da base da língua, epiglote e glote. O exame do orofaringe e a laringoscopia indireta facilitam e esclarecem dúvidas.

TRATAMENTO

Tratamento médico - Consiste na indicação de antiinflamatórios e pastilhas com ação anestésica na cavidade oral. Esta terapêutica é eficaz no Au por edema de ponta.



Figure 7 - Úvula pinçada



Figura 8 - Úvula seccionada.



Tratamento cirúrgico - Amputação parcial da úvula, que pode ser realizada sob anestesia local - infiltração na base com anestésico local (recomenda-se o uso de seringa do tipo carpule - odontológica). Procede-se, a seguir, do seguinte modo: 19) determina-se o local ideal para realizar a amputação parcial; 29) após infiltração anestésica na base, faz-se ligadura com categute cromado, exatamente no local indicado para amputar; 39) com uma pinça longa segura-se a extremidade inferior do Au e com tesoura secciona-se por baixo da ligadura. Aconselha-se, após a cirurgia, indicação de antiinflamatório, para reduzir o edema traumático pós-operatório. As figuras 6, 7 e 8 ilustram o que foi dito.

aparentemente não haja efeitos nocivos à fala e à deglutição após a remoção da úvula (1) devem-se evitar amputações parciais em crianças e em pacientes com fenda palatina completa ou incompleta ao nível do palato mole. A indicação de cirurgia mais oportuna é para adultos com sintomas crônicos.

CONCLUSÃO

A intensidade de sintomas devidos ao Au da úvula promove insatisfação, intranqüilidade, nervosismo e sofrimento em determinados pacientes, impondo terapêutica cirúrgica. Este tratamento, quando bem indicado, traz excelentes resultados.

DISCUSSÃO

Constantemente pode ser vista em exames de boca presença de Au. Porém nem todos os casos se acompanham de sintomas. Somente àqueles que padecem é que se indica terapêutica. Embora

SUMMARY

The author makes coments about the more common deformities of the uvula and its hiypertrophy with the symptoms, diagnostic procedures and therapy.

Referências bibliográficas

1. AZZAM, N. A. et KUEHN, D. P. - Morfology of Musculus Uvulae. Cleft Palate J. 14 (1): 78-87, 1977.
2. CHOSACK, A. et EIDELMAN, E. - Cleft uvula: prevalence and genetics. Qeft Palate J. 15 (1): 63-67, 1978. 3. JUNIOR, S.F.S. - Sinopses anatómicas. Atheneu S.A., p. 229, Rio de Janeiro, 1973.
4. TESTUT et LATARJET -Anatomia humana. vol. 4, p. 37, 8 ed. Barcelona, 1947.
5. RAVIDAN, E. et PRIDDY - Uvula edema a rare complication of endotracheal intubation. Anestesiology, 48: 374, 1978.




Endereço do autor: ANTONIO CYRILLO GOMES Rua Henrique Barbosa de Amorim, 158 Jardim Guanabara - Ilha do Governador Rio de Janeiro - CEP: 21931.

1 - Professor Adjunto da UFRJ. Docente-Livre de Otorrinolaringologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Do Hospital Universitário da UFRJ (Ilha do Fundão) - Serviço do Professor Hélio Hungria

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