Versão Inglês

Ano:  1984  Vol. 50   Ed. 2  - Abril - Junho - ()

Seção: Artigos Originais

Páginas: 17 a 20

 

UTILIZAÇÃO DO "PUNCH" EM BIÓPSIAS DA MUCOSA ORAL

Autor(es): EDMIR AMÉRICO LOURENÇO-1
CLEMENTE ISNARD RIBEIRO DE ALMEIDA-2
JOSÉ NELSON TUCORI-3
MAURO ARRUDA MENUZZI-4
LUIZ GABRIEL CEVELLI MARCONDES-5

Resumo:
Os autores apresentam uma nova técnica cirúrgica para realização de biópsias da mucosa oral com punch em 75 pacientes.

Introdução

A técnica de biópsia com utilização de punch vem sendo utilizada já há algum tempo com sucesso na clínica dermatológica. Os resultados obtidos com este procedimento atestaram a utilidade deste instrumento na realização de biópsias de pele para diagnósticos histopatológicos.

O punch é um instrumento cirúrgico de corte, especialmente projetado para a ralização de colheita de material das superfícies cutâneas para diagnóstico histopatológico. Consta de um cabo ou empunhadura e de um tubo cilíndrico que termina em superfície cortante. Dessa forma, a borda do punch é circular e seu diâmetro é fabricado com variações que vão de 2 a 10 milímetros.

Praticamente toda e qualquer área cutânea pode ser biopsiada. A única necessidade é que se anteponha ao local da lesão um anteparo sólido (ossos, articulações, músculos, mão do examinador, etc.), para que se ofereça resistência à superfície de corte.

Este trabalho reporta a utilização deste instrumento em biópsias da mucosa oral realizada0 na Clínica Otorrinolaringológica da Faculdade de Medicina de Jundiaí - SP, uma vez que não existem publicações a este respeito na literatura extensamente pesquisada. Com algumas diferenças, todo o processo é semelhante à utilização dos punchs em Dermatologia, como se descreve a seguir, e tem sido rotineiramente utilizado em nosso Serviço.

Material e métodos

No Serviço de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí foram examinados, biopsiados com punch e estudados anatomopatologicamente 75 pacientes com idade entre nove e 81 anos, 36 do sexo masculino e 39 do sexo feminino, no período de janeiro de 1980 a maio de 1982.

As lesões biopsiadas restringiram-se à cavidade oral, localizadas em diferentes regiões:
mucosa jugal - 23
palato duro - 13 (Fig. 1)
lábio inferior - 9
palato mole - 5
região retromolar - 5
língua - 4 (dorso), 1 (ventre), 1 (face lateral)
crista alveolar - 4
transição palatos duro e mole - 3
sulcos vestibulares - 2
gengiva - 2
faringe - 2
soalho da boca - 1



Figura 1



Nas biópsias de mucosa labial e jugal, a técnica de colheita foi realizada com a retroposição dos dedos do examinador para servir de anteparo.

Houve certa dificuldade quanto à colheita de material do palato mole. Esta dificuldade, no entanto, não representou um impedimento para à realização das biópsias, já que, ao aplicar-se uma maior pressão do punch no local da lesão, conseguiu-se colher uma quantidade satisfatória de material para a realização do exame anatomopatológico.

Os punchs utilizados veriaram de 2 a 10 milímetros de diâmetro, dependendo do tamanho e aspecto da lesão (Fig. 2).

A técnica de colheita do material consiste em se fazer movimentos de rotação e pressão com o punch por sobre a área a ser bíopsíada, aprofundando-se dessa forma o instrumento.



Figura 2



Figura 3



Escolhido o local a ser biopsiado e o punch a ser utilizado, deve-se proceder à anestesia local. Em nosso Serviço, as infiltrações anestésicas foram feitas com Xylocaína a 1% ou 2%, sem adrenalina. A adrenalina é muito útil, pois promove vasoconstrição e hemostasia, além de um efeito mais prolongado do anestésico. Pode, contudo, alterar os achados histopatológicos devido à vasoconstrição, segundo Arndt, e por isso não foi utilizada em associação à Xylocaína.

O anestésico foi injetado na submucosa, circunscrevendo a lesão. Com tal procedimento tentou-se evitar, tanto quanto possível, imagens falsas de edema, dissociação dos infiltrados celulares e vacuoiìzação citoplasmática. Seguiu-se ligeira tração da lesão e retirada com tesoura (Figs. 3 e 4). Os punchs de grande diâmetro foram também utilizados nas chamadas "biópsias curativas", onde certas lesões, de pequena dimensão, foram excisadas completamente.

Em biópsias colhidas com punch de diâmetro menor que 4 milímetros, não foi necessária nenhuma sutura. Nos casos em que foram utilizados punchs maiores, foi realizada sutura com categute 3-0 ou 40 simples. Não obstante, na grande maioria dos pacientes a hemostasia foi obtida por pressão digital ou pela própria pressão da língua do paciente no local biopsiado, com auxilio de gaze comum ou Gelfoam (Upjohn).

As amostras colhidas foram fixadas em formol a 10% e enviadas para exame anatopatológico, à exceção das mucoceles típicas, que dispensaram esse procedimento.



Figura 4



Apresentação e resultados

Às lesões foram biopsiadas nas diferentes regiões já descritas, mais freqüentemente localizadas na mucosa jugal e palato duro.

Em todos os casos, o material colhido apresentou boas condições para o exame anatomopatológico, sem esmagamentos ou outras alterações dos tecidos que pudessem dificultar o diagnóstico por outro modo de biópsia.

Conclusões e comentários

Na realidade, as vantagens do uso dos punchs em biópsias da mucosa oral sobrepujam, em muito, os procedimentos habituais, notadamente as biópsias em fuso. É de se supor que com o passar do tempo esses instrumentos tenham um lugar de destaque nas colheitas de material da cavidade oral, realizadas pelo otorrinolaringologista, cirurgião-dentista, estomatologista e profissionais afins.

A nosso ver, a única desvantagem da utilização dos punchs na clínica diária é a facilidade com que estes instrumentos perdem o corte, começando a apresentar irregularidades na borda cortante, problema facilmente solucionável. A prevenção disso requer extremo cuidado na esterilização e no manejo do punch, embora a mucosa seja bem mais macia do que a pele e portanto muito mais facilmente incisada.

Entre as vantagens na utilização dos punchs para biópsias da mucosa oral temos:

- Obtenção de amostras de excelente qualidade, já que a manipulação do material é mínima, o que geralmente não ocorre com o uso de bisturis ou pinças de biópsia;
- Menor tempo cirúrgico;
- Facilidade de manejo do instrumento numa cavidade como a boca;
- Facilidade de hemostasia, decorrente da simetria do corte e limite de aprofundamento do instrumento, condicionado por seu próprio formato;
- Obtenção de cortes cilíndricos;
- Com a simples compressão local do ponto de biópsia por alguns minutos, geralmente exercida pela própria língua do paciente, tomr.-se quase sempre desnecessária a realização de sutura;
- Maleabilidade de escolha do volume de material a ser colhido na biópsia, condicionado pelos diversos calibres dos punchs.

Summary

The authors introduced, a new suMical technique to perform an oral mucose biopsy with punch in seventyfiue patients.

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Endereço dos autores:

Faculdade de Medicina de Jundiaí Rua Francisco Telles, 250 - VL Aires 13200 - Jundiaí - SP

1 - Professor Assistente nível Ì da Faculdade de Medicina de Jundiai - ORL
2 - Professor Assistente nível III da Faculdade de Medicina de Jundiai - ORL
3 - Professor Assistente nível I da Faculdade de Medicina de Jundiai - ORL
4 - Residente de 2.º ano em ORL da Faculdade de Medicina de Jundiai
5 - Académico de 6.º ano da Faculdade de Medicina de Jundia

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