Ano: 1984 Vol. 50 Ed. 1 - Janeiro - Março - (5º)
Seção: Artigos Originais
Páginas: 30 a 32
PAPILOMATOSE DE LARINGE ESTUDO CLÍNICO COM FATOR DE TRANSFERÊNCIA
Autor(es):
JAIR CORTEZ MONTOVANI-1
JÚLIO CESAR BERSÉLLI-2
ZENSHI HESHIKI-3
Resumo:
O uso na prática clinica do fator de transferência no tratamento da papilomatose de laringe mostrou em três pacientes resultados encorajadores propiciando remissão temporária, havendo uma significante melhora clínica em tocos os pacientes.
INTRODUÇÃO
Papilomatose de laringe tem se constituído em um desafio à terapêutica médica. Vários métodos de tratamento foram empregados como: cauterização com aureomicina (6, 8); eletrocoagulação (6); diatermocautério (2); irradiação (3); vacina antivariólica (13) e autógena (16); ultra-som (1); criocirurgia (11); raio laser (7, 17), fator de transferência (14, 15); levamisole (4) e interferon (5).
O insucesso relativo destes métodos levou-nos a uma nova tentativa terapêutica com o fator de transferência, em três casos clínicos.
O conhecimento de que fator de transferência foi aplicado em outras afecções com resultados encorajadores (Wiskolt-Aldrich, Candidíase Muco-Cutânea, Coccidiodomicose, Melanoma e Sarcoma Osteogênico) levou-nos a aplicá-lo em nossos casos.
Lawrence (1955) (9) foi o primeiro a descrever fator de transferência em hipersensibilidade cutânea à tuberculina no homem, obtido de extrato solúvel de leucócitos.
Em 1975, Quick et alii (15) empregaram, pela primeira vez, fator de transferência em dois casos de papilomatose de laringe. Ortiz et alii (1980) (14) voltaram a empregá-lo em dois casos. Ambos obtiveram resultados clínicos imediatos encorajadores, observando-se histologicamente aumento do número de linfócitos e células plasmáticas.
MÉTODOS
Três pacientes com diagnóstico histopatológico de papilomatose de laringe e pesquisa de vírus negativa foram selecionados para terapia com fator de transferência (Figura 1). O primeiro paciente estava tomando corticoidoterapia prolongada (prednisona) por suspeita clínica de asma brônquica.
Cada paciente recebeu 10 doses de extrato solúvel de 109 linfócitos, em intervalos semanais. Cada dose era dividida em duas a três aplicações subcutâneas, conforme descrito por Levin et alii (1970) (10).
Os pacientes, após quatro meses da última aplicação, estavam sem sintomatologia clínica, persistindo apenas a rouquidão. Os resultados do perfil imunológico antes e após o tratamento com fator de transferência estão expostos nas Figuras 1 e 2.
DISCUSSÃO
O perfil imunológico inicial (Figura 1) mostrava-se alterado para a primeira paciente e apenas a lgA encontrava-se diminuída no segundo paciente.
O uso de corticóide em altas doses e por tempo prolongado no primeiro paciente poderia levar à depressão imunológica, explicando assim os valores inferiores encontrados. Após a aplicação do fator de transferência, a estimulação blástica aumentou (Figura 2), o que nos levou a acreditar em uma efetiva ação do fator de transferência, observando-se melhora clínica em todos os pacientes.TABELA 1
* MIL = Inibição da migração de leucócitos com fito-hemaglutinina,
TABELA 2
* IML = inibição da migração de leucócitos com fito-hemaglutinina.
** EBL - estimulação blástica de linfolitos com fito-hemaglu tinina.
Quick et alii (1975) (15), analisando os resultados dos exames histológicos, observaram diferenças acentuadas antes e após o uso de fator de transferência. Acentuado aumento do número de células plasmocitárias e linfócitos foi observado no estroma do tecido. Em nenhum dos nossos casos foram observados estes aspectos.
Mattews e Shirodaria (1973) (12) discutem estas observações histopatológicas observando pouca evidência quanto ao papel da imunidade e infiltração celular na regressão de lesões como verrugas. Tagami et alii (1974) (18) postularam que mudança na imunidade celular eram responsáveis por intensa infiltração linfocitária e subseqüente regressão de verrugas.
Evidências com outras lesões tipo verrugas e papilbmas levaram diferentes pesquisadores a concluir da etiologia viral, da papilomatose de laringe, grupo Papova Vírus, resultando em transformação e multiplicação de células, ou então, de novas células infectadas Quick et alii, (1975) (15). Entretanto, em nossos três casos a pesquisa de vírus foi negativa. Estes resultados concordam com as pesquisas realizadas por diversos autores Quick et alii, (1975) (15);
Haglund et alii, (1981) (5), necessitando de novas investigações.
CONCLUSÃO
O fator de transferência parece propiciar uma ação sinérgica entre imunidade humoral e celular. A imunidade humoral preveniria novas reinfecções e a celular suprimiria células tumorais. Estas duas evidências podem ser necessárias para erradicar completamente a papilomatose de laringe, mas antes novos trabalhos com fator de transferência precisam ser realizados, assegurando-nos informações mais completas.
SUMMARY
The use of the factor transference in the clinic practice on the treatment of laryngeal papillomatosis showed in three patients encouraging results propitiating temporáry remission with a significant clinic improvement in all of them.
REFERÊNCIAS
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Endereço dos Autores:
Disciplina de Otorrinolaringologia
Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP 18610 - Botucatu - Sio Paulo -Brasil
1 - Professor Assistente da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP
2 - Médico Residente de 34 ano da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP
3 - Professor Titular da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP