Versão Inglês

Ano:  1936  Vol. 4   Ed. 5  - Setembro - Outubro - ()

Seção: Trabalhos Originais

Páginas: 425 a 438

 

AGENESIA BILATERAL DO TRAJECTO CRANEANO DA ARTERIA CAROTIDA INTERNA

Autor(es): GEORGES DA SILVA (*)

TRABALHO DA CADEIRA DE ANATOMIA DA FAC. DE MEDICINA DO RIO DE JANEIRO
Catedratico: Prof. A. FRÕES DA FONSECA


Esta anomalia que. faz presumir a agenesia bilateral da arteria carotida interna, é de importancia tanto sob o ponto de vista anatomo-embriologico como oto-laringologico.

Este facto foi por mim verificado num craneo desarticulado. Após observação da piramide do temporal, verifiquei a ausencia do canal carotidiano ; despertada a curiosidade desta anomalia, articulei o craneo em questão para vêr por onde poderia ter passado a arteria carotida interna; a minha admiração foi grande ao verificar que nos dois espaços lacero-anteriores não havia vestigio, nem lugar possível de passagem de tão importante e calibroso vaso; mesmo que este estivesse consideravelmente atrofiado, isto tudo, verificado bilateralmente.

Neste craneo chama atenção uma goteira basilar bem acentuada, a qual faz presumir que a ausencia da carotida interna era suprida provavelmente ou melhor certamente por um volumoso tronco basilar, além de outros ramos arteriais anastomoticos fornecidos pela carotida externa.

Quanto a circulação da orbita, Poirier no seu tratado de anatomia humana Tomo 2 Fascículo 2.0 diz que a anastomose da arteria Oftalmica com a arteria Meningéa media pode ter um desenvolvimento consideravel e suprir em totalidade ou em parte a arteria Oftalmica.

De acôrdo com isso temos que, a face endocraniana da grande aza do esfenoide mostra que o sulco do ramo anterior da meningéa media se bifurca do lado direito dando um sulco volumoso que penetra na orbita pela fenda esfenoidal (sulco este bem profundo), e outro que penetra na orbita por um orificio proprio; e se bifurca do lado esquerdo dando dois sulcos profundos identicos ao do lado direito, e um ramo ou melhor um sulco que passa na sutura da grande aza do esfenoide com o frontal, o que explica, a vascularização da orbita, os canais fronto-etmoidais anteriores e posteriores apresentam-se normais.

Poirier diz ainda que não é raro verificar a arteria lacrimal nascer da arteria meningéa média; as anomalias das arterias supra orbitarias e nasais são de pouca, importancia e podem ser supridas por ramos da arteria facial ou da transversa da face.

Quain, já viu a maxilar interna dar dois troncos volumosos que entravam no cranio pelo buraco oval e pequena redondo e que supriam a arteria carotida interna ausente, em relação a isto a grande aza, do esfenoide apresenta do lado direito um buraco de Vesale com dois milimetros de diametro e um, buraco oval de oito nuns. no maior diametro, por quatro nuns. e o buraco pequeno redondo apresenta dois nuns. de diametro. Do lado esquerdo o - buraco de Vesale apresenta um diametro de um milimetro, o buraco oval oito nuns. por tres e o buraco pequeno redondo com dois mi'limetros de diametro.

Para concluir esta comunicação foi feita a identificação do craneo, isto é o estudo craniometrico, com a orientada colaboração ido Dr. José Bastos d'Avila da Secção de Antropometria Física do Museu Nacional, deste estudo resultou a seguinte:



Fig. 1



Fig. 2



Fig. 3



Fig. 4



Fig. 5



Diametro Antero Posterior Maximo - 19,3
Diametro Glabelo Iniaco - 17
Diâmetro Glabelo Lambdatico - 19,1
Diametro Basio nasional - 10,3
Diâmetro Basio Opistico - 3,3
Diametro Transversal Max (eu-eu) - 14,1
Diametro Frontal Min. (ft. ft) - 9,6
Diâmetro Frontal Max (co co) - 11,8
Diametro Bi-auricular (au-au) - 12,4
Diametro Occipital Maximo (ast-ast) - 10,7
Diametro Bi-Mastoideo (mas-mas) - 10,3
Altura. Basio-Bregmatica - 15
Altura. Auriculo-Bregmatica (po. b) - 13
Altura. Calota (nasion,inion, plano de Francfort) - 12,4
Altura. Calota (Glabelo,inion plano de Francfort) - 11,7
Peremitro Glabelo horizontal (opistrocranium) - 53
Arco transverso (po.po) (pelo breg.) - 32,3
Arco Mediano sagital (n.O ) - 40,2
Arco sagital frontal (n.b) - 14,2
Arco sagital parietal (b.l.) - 14
Arco sagital occipital (l.o.) - 12
Arco sagital mediano sagital supra-escamoso (1.i.) - 8,8
Corda mediana sagital frontal - 12,3
Corda mediana sagital parietal - 12,7
Corda mediana sagital occipítal - 10,1
Corda mediana sagital supra escamosa - 8
Angulo que a linha nasion bregtnatica forma com o p. Francfort - 52°5
Angulo de encurvamento frontal - 123°
Angulo Lambdo-iniaco com o plano de Francfort - 110°

CAPACIDADE CRANIANA

Método de Welcker.
C = Comprimento + altura + largura
19,3 + 12,3 + 14,1 - 45,7 é 1416 c.c.

O que fala a favor do sexo feminino.

Método de Z,ee-Pearsoir.
C = 812 + 0,000156 x larg. x D. ant.-post. x alt. basio-breg.
812 + 0.000156 x 141 x 19,3 x 15 = 1450 c.c.

O que fala ainda a favor do sexo feminino.

A capacidade craniana pelo método de Manouvrier nos dá um
resultado absurdo (1889).

Comprimento facial (basion-prostrion) - 10,1
Largura facial superior (fmt.fmt.) - 10.1
Largura bi-orbital (ek-ek) - 9,5
Largura bi-zigomatica (zy-zy) - 12,8
Largura facial média (zm-zm) - 8,5
Altura facial superior (n. prosth.) - 7,2
Altura facial orbital - 4
Largura inter-orbitaria posterior (la-la) - 2,3
Largura inter-orbitaria anterior (mf-nif) - 1,8
Largura inter-orbitaria orbital inferior (ek) - 4,2
Largura inter-orbitaria nazal - 2,5
Altura do nariz (n,ns) - 4,8
Largura minima nasal - 0,8
Largura maxima nasal 1,6
Diametro maximo alveolar (comprimento) - 5,4
Largura maxilo-alveolar - 6,2
Comprimento palatino (orale-staphilina) - 5,1
Largura palatina média - 3,8
Angulo perfil total (n.pr.) (Mesognata) - 81°5
Angulo perfil nasal (Virchow) (n.ns) (Mesognata) - 80°
Angulo perfil Alveolar (ns.pr.) (Mesognata) - 80°
Angulo perfil tecto nasal - 70°

IDADE PROVAVEL

Dado o facto de não apresentar a ossificação da articulação esfeno-occipital ; e de possuir o terceiro molar superior, a idade provavel do portador do cranio deve encontrar-se entre 18 e 22 anos.

SEXO PROVAVEL

A capacidade craneana pelo método de Welcker e pelo método de Lee-Pearson fala a favor do sexo feminino.


INDICE = Diametro nasion basional (10,2) x 100 / Arco nasion opisthion (40,2) = 25.3

Mulher entre 26,1 e 28,7; Homem entre 26,8 e 29,5.

O índice fala a favor do sexo feminino circunstancia que ainda é reforçada pelo facto das apófises mastoides da calvaria não repousarem sobre o plano horizontal.

De acórdo com o menor volume do bulbo no indivíduo de sexo feminino, está o foramen magno menor tanto em valor absoluta como relativo nos individuos desse sexo.

Basion-Opistico 3,3
Transversal maxima 2,6

Fala ainda a favor do sexo feminino a do cranio em questão a, fronte vertical que ele apresenta, isto é uma ortometopia típica, com persistencia do borrelete metopico (porção anterior da crista sagital, considerada como uma sinostose precoce da sutura metopica).

INDICE COMPRIMENTO LARGURA

Diametro transverso maximo x 100 / Diametro antero-posterior = 14,1 x 100 / 19,3 = 73 Dolicacrania

INDICE COMPRIMENTO ALTURA

Altura basio-bregmatica x 100 / Diametro antero-posterior Maximo = 77,7 = Hipsicranium

Pelos angulos faciais:

Angulo perfil total (n.pr.) 81°5 (Mesognata)
Angulo nasal (n.ns.) angulo de Virchow 80° (Mesognata)
Angulo alveolar (ns.pr.) 80° (Mesognata)

Parece tratar-se de um individuo de raça branca ou pelo menos com predominancia dos carateristicos desta raça.

Quanto a bibliografia que se segue, devo agradecer ao eminente prof. Bovero da Fac. de Medicina de S. Paulo.


BIBLIOGRAFIA

ARTÉRIA CAROTIDA INTERNA

G. ROMITI - Trattato di Anatomia dell'Uomo - Vol. 1.°, Parte IV.

A carotida interna - pag. 833 - Varietá principali - ". . , puó mancare (CASINI), ed essere sostituita: o da quella dell' altro lato (TODE) o dalla mascellare interna (QUAIN) ; puó essere sottilissi.ma (HYRTL).

W. KRAUSE in HZNLes Handbuch der system. Anatoinie d. Monschen. Bd.. III Gefãsslehre Braunschweig. 1867 - pag. 245.

id. in : C. Fr. Theod. KRAUSÉ'S Handbuch der menschlichen Anatmie. Bd. 3. - Hannover 1880. 163.

in HnNu; a pag. 245 - "Die dextra fehlt und wird durch Zweige der sinistra ersetzt (TODE, Med. chi.rurg. Bibl, 1787, X. 407, bei einem 10 Jãhrigen Knaben), oder sinistra fehlt und wird durch Aeste der Maxillaris interna ersetzt wãhrend die Arteria carotis dextra stãrker als gewohnlich ist (QUAIN's. Variet. der A. maxillaris interna).

Sie ist sehr eng, dreimal enger als die A. vertebralis (HYRTL, Oesterr. med. Jahrb. 1836. XI, 433, bei einem 5 jährigen Mädchen).

in C. T. KRAU5z a pag. 163 ... Sie ist selten Varietãten unterworfen, fehlt hochst selten auf enner Seite gänzlich...

A. RAUBER W. - Lehrbuch der Anatomie des Menschen - Bd. II. erste Abteil. Gefässlehre - Leipzig. 1893 - pag. 79. ... ebenso sind nur wenig Fälle bekannt, in welchen das Gefäss vollständig fehlte.

POIRIER P. et NICOLAS A. - in "POIRIER-CHARPY, Traité d'Anatomie humaine 3.e Edition Tome 2.e fasc. II 1912 pag. 255.

Varieté de Ia c. i. - L'absence de Ia carotide interna a eté notée par TODD (1787). Sans disparaitre entierement, cette artère peut être plus petite mème que Ia vertébrale correspondante. .


R. WERSARI . In BALLI, BunI,I,I, BRUNI etc. - Trattato di Anatomia Um~ - 2 Ediz. Vol. II 1932 pag. 424.

"Variazioni - Puó mancare od essere multo esile ; . . . "

TESTUT-LATARJET - Traite d'Anatomie humaine - Tome 2e. pag. 259 - Angeologie.
"on a rapporté quelques case d'absence dela carotide interne".

A. F. LEDOUBLO - Traité des hariations des os du Crane de 1'Homme - Paris 1903
Pag. 344 - "Canal carotidien". - Son êtroitesse considerable, allant même jusqu'à l'ábliteration, a eté mentionnée par OTTO. D'une façon générale ses variations de calibre dêpendent de celles de l'artère carotide externe, voire de son existence.. .

BUNTARO ADACHI - Das Arteriensystem. der Japaner - Bd. 1. Kyoto 1928.

A. CAROTIS INTERNA

pag. 97 - Das "Fehlen der A. carotis interna" ist an Furopãern von einingen Autoren (in nota no rodapé) : QUAIN, TODE (cit. bei KRAUSE in HENLE), FLEMING, WYETH cit. bei FLEMING, P,EUGNET ibid., FISCHER, LfVREY, beobachtet worden. Am Japanern habe ich sie unter 500 Kõpfen noch niemals fehlen gefunden, weder 1907-1910 unter 149 notierten Kõpfen (298 Halshãlften), noch 19111920 unter etwas 400 Kõpfen, bei weleh letzteren jedoch das Fehlen oder Vorhandensein der Arterie nicht aufgezeichnet worden ist. Auch kann ich mich nicht erinnern je an Japanern eine "auffallend schwache" Arteria carotis interna (rodapé: HYRTL cit. bei KRAUSE berichtet eine sehr schwache A. carotis interna) gesehen zu haben.

"Schãdels" ist bekannt (rodapé: OTTO cit bei LEDOUBLE, Traité des Variations des Os du Crâne de PHomme, pag. 344, 1903. - KOBERWEIN cit. bei FLEMING). Ich selbst aber konnte bis jetzt an keinem Japanerschãdel diese Tatsache nachvweisen. Auch sehr engen Canalis caroticus fand ich in unseren osteologischen Sammlung unter mehr ais 500 Japanerschãdeln niemals. Bei meiner Untersuchung von Philippinerschãdeln in Leiden fand ich eiu Suãdel, der mit einem sehr engen -Canalis caroticus versehen war (rod. Das wãre aber schon KOEZE aufgefallen; "Crania ebhnica philippinica 1901, s. 147 u. 237).

Die A. carotis interna ist bei allen "Sãugetieren" schwacher ais die A. carotis externa entwickelt. Bei manchen Sãu;etieren fehlt oder ist sie volkomen obliteriert. Nur bei hdheren Primaten und beim Menschen ist sie stãrker ais die Carotis externa (TNDLER, LIVINI u. A.).

Das Kaliber der Arteria carotis interna fand ich unter 124 Fãllen etc etc etc.

A. G. TIMBRELL FISCHER- A case of complete absence of both internai carotid arteries, with a preliminary note on the developmental history of the stapedial artery. - Journal of Anatomy and Physiology Vol. 48. pag. 37, 1914.

E. E. FumING - A'bsence of the left internal carotid - Journal o f Anat. a. Physiol. Vol. 29 pag. XXIII, 1895.

DISCUSSÃO

Dr. Alfonso Bovero - Estou completamente de acôrdo com o A. quanto á extrema raridade do achado apresentado. Trata-se sem duvida de uma agenesia do período embrionario, porque falta, completamente o canal carotidiano nos dois rochedos: e falta tambem qualquer impressão ossea, que possa falar a favor de uma substituição por intermedio de uma a. stapedia. Por isso, mesmo. A carotida externa tinha certamente, no caso em questão, um papel vicariante secundario, talvez com ramos acompanhando nervos através da base craneana; sem duvida alguma, a circulação cerebral dependia, no presente caso, exclusivamente das aa. vertebrais.


Posso afirmar que, em milhares de craneos de diferentes coleções, nunca tive a oportunidade de encontrar uma falta completa, mesmo unilateral, do canal carotidiano da piramide temporal.




(*) Monitor da cadeira de Anatomia, interno do serviço de Oto-rino-laringologia da Policlínica de Botafogo.

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial