Versão Inglês

Ano:  1947  Vol. 15   Ed. 4  - Julho - Agosto - (21º)

Seção: Associações Científicas

Páginas: 151 a 166

 

SECÇÃO DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA PLÁSTICA DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA

Autor(es): -

REUNIÃO DE 18 DE SETEMBRO DE 1945

Presidida pelo Dr. José Freire de Matos Barreto e secretariada pelos Drs. José Rezende Barboza e Fábio Barreto Mateus, realizou-se no dia 18 de setembro de 1945, uma reunião da Secção de Otorrinolaringologia e Cirurgia Plástica da Associação Paulista de Medicina.

Nada havendo que tratar no expediente, passou-se à ordem do dia da qual constaram os seguintes trabalhos:

SURDEZ NA INFÂNCIA ESCOLAR. ESTATÍSTICA E PROFILAXIA

Dr. J. E. Paula Assis

(Publicado na Revista Brasil. de O.R.L. XIV - Julho-Agosto 1946, pag. 321.)

COMENTÁRIOS - Dr. Francisco de Paula Pinto Hartung: Cumprimentado o Dr. Paula Assis pela bela preleção a nós proporcionada também desejava dizer algumas palavras. o Dr. Assis falou em profilaxia da surdez. Eis um dos capítulos que mais interessa a atologia moderna. Não sob o aspecto de uma profilaxia individual, mas como uma profilaxia social da surdez. É um problema momentoso e interessantíssimo, pelo qual já há muito me venho interessando. É sabido que já existe nas Estados Unidos uma entidade cujo fim é realizar a profilaxia social da cegueira. É delegado dela entre nós o Dr. Moacir Alvaro, ilustre e conhecido oftalmologista. Também já existe uma entidade congênere, embora muito mais atrazada que aquela de combate à cegueira, cuja atividade é orientada na profilaxia da surdez.

O Dr. Theodolindo Castiglione, um advogado de nomeada e grande cultura escreveu um livro sôbre "Eugenia no Direito de Família". Neste livro êle aborda uma multiplicidade de capítulos de patologia humana diretamente ligados àqueles de patologia social. O Dr. Castiglione fêz a fineza de presentear-me com o seu livro, sabendo que o assunto me interessa, e verifiquei com que conhecimento o autor se apresentou em público. Na parte referente à profilaxia de surdez, entretanto, ponderei que, todos os esfôrços de ordem médica e científica terão de ser articulados com uma legislação adequada, uma vez que a surdo-mudez é sujeita a hereditariedade e ao mendelismo. Como entretanto, essa legislação, fugindo a hereditariedade e lei de Mendel, muitas vezes se choca com preconceitos religiosos ou morais como é o caso dos exames prenupciais objetei que não parecia assim tão facil realizar esta profilaxia. Não acredito que leis compulsórias unicamente ditadas pelo materialismo, tão a gôsto da filosofia nazista, possa de modo algum beneficiar a humanidade. A nosso vêr, só o progresso, a civilização e a evolução da mentalidade humana dentro do espiritualismo poderá frutificar.

São estas as palavras que nos ocorrem, muito mais como uma homenagem ao autor de que com pretensões a comentar o seu trabalho.

Dr. J. Matos Barreto: Não alongaremos mais a sessão repetindo os elogios, aliás merecidissimos à magnífica exposição do Dr. Paula Assis. Foi comentada à mesma altura, por autoridades no assunto.

O interêsse despertado me faz feliz por ter sugerido êsse tema, que alcança, além da medicina individual, problemas de ordem social, como acabamos de ouvir.

O Dr. Assis trouxe-nos como complemento interessantes quadros comparativos de significativas estatísticas, até das mais recentemente chegadas como as de Russel.

Lembramos a propósito que, embora pesquisando em meio tão diferente e sobretudo com recursos tão outros, chega o Dr. Assis quasi aos mesmos algarismos percentuais, e assim também aconteceu ao Dr. C. Catro Sá. Quanto à grande proporção de crianças duras de ouvido, em contraste, que o Dr. Otacilio Lopes encontrou no interior da Bahia, acho que, além das condições patológicas do anel de Waldeyer, que êle referiu, deve-se ter em consideração o fator psicogênico, bem diversos ao de uma escola dos grandes centros, com outra perspicácia e habituado a frequentes provas.

A avaliação da surdez é por vezes complexa. Os próprios modernos aparelhos, como os audiômetros, nem sempre revelam a verdadeira capacidade de audição verbal. Vimos, pois, com que dificuldade teria lutado o Dr. Paula Assis, e por isso renovamos-lhe os cumprimentos e o nosso particular agradecimento.

Nada mais havendo a tratar, foi encerrada a reunião.

REUNIAO DE 17 DE OUTUBRO DE 1945 .

Presidida pelo Dr. José Freire de Matos Barreto e secretariada pelos Drs. José Rezende Barbosa e Fábio Barreto Mateus, realizou-se no dia 17 de outubro de 1945, uma reunião da Secção de Otorrinolaringologia e Cirurgia Plástica da Associação Paulista de Medicina. Nada constando do expediente, passou-se à ordem do dia, da qual constou o seguinte trabalho:

SURDEZ NO ADULTO. ESTATISTICA E PROFILAXIA

Dr. J. E. Rezende Barbosa

(Publicado na Revista Brasil. de O.R.L. - XIV - Julho-Agosto 1946 - pag. 331.)

COMENTÁRIOS - J. Mattos Barretto: A manifestação excepcional, que há pouco presenciamos, já patenteou de cada um sua impressão sobre a magistral conferência do Dr. Rezende Barbosa. É necessário uma competência como a do Dr. Rezende Barbosa para que pudesse ser ventilado com peculiar clareza cada um dos capitulos que se enquadram em tão vasto tema; e o interêsse é tal que todo ponto tocado daria margem a prolongados comentários. Assim, a observação do Dr. A. Corrêa sôbre o esquema das vias nervosas auditivas, faz-nos lembrar a interessante questão neuro-acústica, ponto ainda obscuro e não explicado, - o chamado fenômeno de Fowler. É a surdez verbal total monoaural, mas não para as frequéncias correspondentes à palavra. Surgem questões anatômicas, do cruzamento total ou não das vias auditivas, ou degeneração de núcleos primários, que só a autopsia de tais casos poderia esclarecer.

Os próprios audiômetros ainda evoluem e não satisfazem por completo; são frequentes as desproporções entre o número perdido de decibels e o verdadeiro "deficit" para a voz humana. Dito isso sena pretender desfazer a valia de um audiograma, como os que o Dr. Rezende Barbosa acabou de projetar, do seu magnífico acervo de observações.

Em seguida, nada mais havendo a tratar, o sr. Presidente agradece aos presentes e dá por encerrada a sessão.

REUNIÃO DE 17 DE NOVEMBRO DE 1945

Presidida pelo Dr. José Freire Matos Barreto e secretariada pelos Drs. José Rezende Barbosa e Fábio Barreto Mateus, realizou-se, no dia 17 de novembro de 1945, uma reunião da Secção de Otorrinolaringologia e Cirurgia Plástica da Associação Paulista de medicina. Passando-se à ordem do dia, foram apresentados os seguintes trabalhos:

CONSIDERAÇÕES SOBRE AFECÇÕES DA LARINGE, TRAQUÉIA E BRONQUIOS

Dr. Plínio Matos Barreto

(Publicado na Revista Brasil. de O.R.L. - XIV - Julho-Agosto 1945 - Pag. 344.)

O EMPREGO DE UM NOVO DERIVADO DO 2 (P. AMINOFENIL-SULFAMIDO) TIAZOL NO TRATAMENTO DAS SUPURAÇÕES BRONCO-PULMONARES

Dr. Plínio Matos Barreto

COMENTÁRIOS - Dr. Cássio Montenegro: Desejo justificar uma, pequena ausência. Não assisti a parte final e não sei si o A. se referiu à parte do carcinoma. Na questão da biopsia o A. lamentou que aqui no nosso meio não fosse feita a biopsia pelo método de congelação. Não temos uma impressão muito boa dessa biopsia. Já foi feita e abandonada, porque não se tem demonstrado prática, e raramente fornece indicações seguras.

Acho que melhor seria a biopsia por punção.

J. de Mattos Barretto: Coube ao Dr. Plínio Barretto tema tão vasto que só condensá-lo, como o fêz, representa um esfôrço digno dos elogios que acabamos de ouvir.

Um dos capítulos vitais - o dos neoplasmas laríngeos - foi magnificamente comentado em seus vários aspectos; disso ressaltando quão estreita deve ser a cooperação entre as diferentes especialidades, para o aproveitamento mútuo de seus contínuos aperfeiçoamentos técnicos. Assim, não fugindo destas. mesmas considerações, desejamos referir também ao interessante capítulo das laringe- traqueo-bronquites agudas. O seu diagnóstico e o seu tratamento são soluções fáceis às mãos do endoscopista, - aliviando ao pediatra e ao otorrinolaringologista da aflitica conjectura a que expõe um caso de fôrma grave asfixiante. Deve ser imediato o diagnóstico diferencial entre o referido síndrome, um simples edema sub-glótico, um corpo extranho e a difteria. Só com a visão direta, a aspiração do conteúdo brônquico (viscoso, constituindo às vezes verdadeiros moldes fibrinosos), e a seguir a permanência em tenda de oxigênio com umedecimento, pode a criança, em poucos minutos; estar no caminho seguro da cura.

Procurando ser breve, em vista da adiantada hora, não tenho mais senão renovar os meus cumprimentos ao relator da sessão de hoje e aos. que a abrilhantaram com seus comentários; agradecendo particularmente ao Prof. Paulo Brandão a sua amável presença e valiosa cooperação.

Nada mais havendo que tratar, foi encerrada a reunião.

REUNIÃO DE 17 DE JANEIRO DE 1946

Presidida inicialmente pelo Dr. J. F. Mattos Barreto e secretariada pelos Drs. Rezende Barbosa e Fábio Mateus, realizou, no dia 17 de janeiro de 1946, ume, reunião da Secção de Otorrinolaringologia e Cirurgia Plástica da Associação Paulista de Medicina.

No expediente o Sr. Presidente lê o relatório das atividades científicas da Secção durante o ano findo, agradecendo a todos que colaboraram com seus trabalhos.

Convida depois o presidente eleito para 1946, Dr. J. E. de Rezende Barbosa, a assumir a direção dos trabalhos, tendo êste proferido o seguinte discurso:

"Meus amigos

Ao tomar posse na direção dos trabalhos da Secção de Otorrinolaringologia e Cirúrgia Plástica da Associação Paulista de Medicina, durante o correr de 1946, desejo agradecer em nome dos distintos colegas e amigos, Drs. Fairbanks e Corrêa, bem como em meu próprio, G gesto de confiança a nós proporcionado pelos membros desta Secção, a qual vem mantendo e engrandecendo a cultura especialisada em nosso meio e no Brasil.

Podeis ficar seguros que, sem prometer nada além de minhas possibilidades, com tais companheiros, dignos e competentes, procurarei manter o padrão da continuidade moral e científica desta Sociedade, iniciado por Mário Ottoni em 1933 e tão zelosamente mantido por Sarmento, Oliva, Cordeiro, Paula Santos, Mangabeira-Albernaz, Hartung, Porto, Sáes, Moreira, Nova, Paula Assis e Mattos Barroto secundados sempre pela fôrça propulsora de seus membros.

Desejo agradecer as delicadas referências do Dr. Mattos Barreto. Já conhecia e admirava Mattos Barreto pela sua competência e capacidade, dotes aos quais faço questão de reverenciar, publicamente, e reconhecer, mais do que tudo, selado pelo convício de Diretoria, a fidalguia de sua personalidade. Cavalheiro acima de tudo, Mattos Barreto dedicou vontade e carinho à esta Secção. Planejou e executou religiosamente um programa revolucionário cujos resultados nossas atas registram inapelavelmente: um acrescimo de interêsse ás nossas sessões em cêrca de 30%. Orientou e tomou parte com competência e elevação em tôdas discussões. A nossa tribuna canalizou valores extranhos ao nosso ambiente. É todos nós aproveitamos. O seu sistema constitue, sem dúvida, um alto padrão que deve ser imitado. As nossas homenagens ao ilustre colega.

Não elaborei um verdadeiro programa. Nada mais do que arregimentar e coordenar, dentro de nossas sessões mensais, a atividade científica dos colegas. Si possível, o que parece bastante provável, em algumas sessões coordenarei assunto único ou correlatos, com casuística livre, dentro de uma mesma programação. Fazendo valer a amizade, apelarei para outros colegas brasileiros para aqui gozarem da hospitalidade de nossa Sociedade. Talvez alguns entraves de última hora nos prive dêsse prazer, mas, tentarei sempre.

A idéia esposada pela Diretoria anterior, da criação de uma Federação Brasileira das Sociedades de O.R.L. será mantida e propugnada. Espero vencer uma certa e extranha inércia até agora observada entre as pessôas e sociedades consultadas.

Finalmente, meus caros amigos, quero deixar aqui consignado meu sentimento público de que a posição atual em que me encontro, muito distante da realidade que mereço, traduz a simples vontade dos membros desta Secção em homenager a operosidade do Corpo Clínico de Otorrinolaringologia da Sta. Casa de Misericórdia de S. Paulo.

Levados mais pela amizade, que sempre conduz os corações nobres apontaram-me dentre aquela vintena de colegas que até hoje se orgulha de constituir uma comunidade fraterna.

Sómente essa amizade de cada um de vós, a qual prezo e cultivo, seria a responsavel pelo sucedido.

Confesso-me sinceramente agradecido, a todos quantos me guiaram, com mãos amigas, desde 1934.

A Deus rogo não desapontá-los.

Mas antes de terminar, convido a todos para batalharem pela concretização rápida da idéia de que nesta Casa se institua um Prêmio cuja disputa represente um estímulo, um veículo de incentivo á pesquiza científica no território da otorrinolaringologia. Concito todos à luta pela realização de um numerário que sirva de base para êste galardão que, não pelo volume da espécie em disputa, mas pela conquista sirva de exemplo e indique o trabalho por se fazer.

A tarefa que para mim hoje se inicia, árdua pela minha inexperiência, será amenizada com a vossa cooperação, inteligente e amiga."

Dr. Mário Otoni de Rezende: Peço a palavra para pedir que se faça constar em áta, um voto de louvor pela brilhante missão de que se desincumbiu a diretoria que acaba de transmitir à nova mesa eleita.

Dr. Roberto Oliva: No seu programa, Sr. Presidente, consta a idéia da instituição de um prêmio para o melhor trabalho de Otorrinolaringologia. Penso que a esse prêmio deve-se dar um nome e, êsse nome eu sugeria que fôsse o do Dr. Mário Otoni de Rezende.

Sr. Presidente: Propõe à Casa que as palavras do Dr. Roberto Oliva sejam aprovadas com sugestiva salva de palmas, o que foi feito de imediato.

Dr. Hartung: Mário Otoni sabe que eu sou seu amigo. Não seria de minha parte que partiria qualquer objeção de boicotar qualquer iniciativa, se não estivessemos numa situação embaraçosa. É sabido que aquela festa no Automóvel Club testemunhou a quanta simpatia ele desfruta no seio de seus colegas. Mas, partindo mesmo daquela festa, tenho coragem para criar um impasse, que consiste no seguinte: Vai para alguns anos se instituiu nesta Casa, um prêmio denominado Henrique Lindemberg e, até hoje êsse prêmio não foi concretizado. Conhecendo perfeitamente o espírito de Mário Otoni, ficamos nêste impasse, de modo que submeteria à palavra de Mário Otoni a sua opinião nessa emergência..

Dr. Roberto Oliva: O prêmio Henrique Lindemberg ficou de pé, de maneira que não é cabível que se insista no nome do Prof. Lindemberg. Não vejo discordância por causa dêsse nome, pois que êste prêmio que estamos discutindo poderia ser um outro. Aquele não foi preenchido; fazemos votas seja.

Dr. Hartung: Continuo com a impressão de que Otoni estará de acôrdo comigo e, como uma solução conciliatória quem sabe se a mesa que toma posse hoje, assumirá uma atitude conciliadora para o prêmio de Lindemberg, para depois podermos bater palmas pelo prêmio de Mário Otoni.

Dr. Mário Otoni de Rezende: Quem está em impasse sou eu. O prêmio que deve transmitir o meu nome à posteridade nesta Casa, é muito interessante, mas eu acho que o prêmio Henrique Lindemberg, que já existe, depende apenas de uma formalidade. Proporia que o prêmio Lindemberg fôsse instituido para qualquer trabalho de otorrino e, o prêmio que se instituiria em meu nome, sómente para os trabalhos de otologia e, assim, sairíamos dêsse impasse. Henrique Lindemberg, fundador da otorrinolaringologia é um homem que tem por força de ser homenageado pelos paulistas, porque além de ser um homem fantàsticamente bom era de uma modéstia invulgar.

Sr. Presidente: Diz que a Mesa agradece a aprovação da idéia recém-lançada para a criação de um incentivo de aplicação á pesquisa sistemática. Diz que com a sua idéia não quis menosprezar o nome imortal de Henrique Lindemberg. Quando, há dias, pensou em propugnar pela criação de um prêmio, lembrou-se da existência de Prêmio Lindemberg, e, com tal fim, procurou por diversas vézes o Prof. Paula Santos afim de conversarem a respeito, mas, infelizmente não o encontrou. Por tudo isto e pela discussão havida pede à Casa que lhe conceda poderes para tratar do assunto, especialmente de entrar em entendimentos com o Prof. Paula Santos, senda que nas sessões vindouras exporá em plenário todo o sucedido.

A seguir o Dr. Hartung pede um minuto de silêncio pelo falecimento do Prof. Rubião Meira.

Dr. Ernesto Moreira faz o necrológio do Prof. Eduardo Monteiro, pedindo que a Mesa oficie à Exma. Família.

NOVOS PORMENORES TÉCNICOS PARA O TRATAMENTO DAS ESTENOSES CICATRICIAIS TOTAIS DO ESÔFAGO, PELA INTERVENÇÃO COMBINADA TRANSTÓRACO - ABDOMINAL E ENDOSCÓPICA

Prof. José Maria de Freitas e Plínio de Mattos Barreto (Do Hospital das Clínicas da Univ. de São Paulo)

O dr. Plínio de Mattos Barretto, o primeiro a usar a palavra, depois de estudar em conjunto os múltiplos problemas de tratamento dos indivíduos que ingerem substâncias cáusticas, mostrou qual a orientação, que vinha seguindo, para tratar os casos com estenoses totais.

A experiência com um grande número de pacientes portadores de estenoses cicatriciais totais ensinou-lhe que, no segmento obstruido, existe, quase sempre, um ponto de menor resistência, cheio o mais das vêzes por um tecido de granulação, que pôde ser atravessado com um fino estilete ou sonda dilatadora. Êle tem conseguido vencer a zona obstruida de um maior número de casos, forçando a passagem de baixo para cima, isto é, operando com o auxílio da esofagoscopia retrógrada, executada através de um gastrostoma.

Estiletes abotoados, finos tubos aspiradores e sondas ureterais, são os instrumentos necessários, destas manobras endoscópicas, que são sempre muito delicadas e requerem muita prudência e paciência do operador.

O dr. Barretto disse ter resolvido vários dos seus casos sómente após a terceira ou quarta tentativa.

Uma vez que se consegue atravessar a zona obstruida com a sonda ureteral, amarra-se a esta um fio de linha que é passado da bôca ao gastrostoma. Este fio é substituído por outro mais grosso, que servirá para conduzir as sondas dilatadoras que serão aplicadas posteriormente.

Em alguns casos, porém, o segmento obstruído é maior e o tecido cicatricial tão espêsso que êle não poderia ser franqueado apenas com estas manobras. Seria preciso atravessá-lo com uma agulha, mas esta manobra, mesmo sendo executada com o auxílio da fluoroscopia biplana, será sempre muito arriscada.

Acompanhando os esplêndidos progressos da cirurgia toráxica e vendo a possibilidade de abordar o esôfago em qualquer dos seus segmentos, um dos AA. (Barretto), há alguns anos, idealizou uma técnica e pacientemente teve que esperar fossem resolvidos muitos problemas de ordem cirúrgica, até que pudesse executá-la em um dos seus pacientes.

Neste meio tempo começaram a ser publicados na literatura norte-americana as primeiras tentativas de outros autores, que procuravam resolver o problema pela mesma via.

Mas Barreto e Freitas não tiveram conhecimento de nenhum outro caso igual ao que resolveram e um grande número de particularidades da intervenção fôram por êles préviamente idealizados.

Barreto fez construir uma longa agulha de aço com um tubo protetor especial, que muito facilitou a intervenção e diminuiu de muito o pêrigo das perfurações do esófago. Um cabo de espelho laríngeano, fixado à agulha, pode ser usado como um cursor especial, para regular a porção da ponta da agulha que desejamos forçar através da zona obstruida.

Os AA. fizeram uma minuciosa descrição da intervenção cirúrgica, com a qual resolveram o caso de O. P., de 22. anos de idade. masculino, branco, brasileiro, que com a idade de 11 anos havia ingerido soda cáustica acidentalmente. ele havia sido operado de gastrostomia três mêses depois do acidente e sómente três anos mais tarde é que foi examinado por um dos AA. (Barretto). Constatada a obstrução total no têrço médio do esôfago, e a falta de um ponto de menor resistência, na zona obstruida, a família do pequeno recebeu instruções para esperar até que o problema dêle pudesse ser resolvido com maior segurança.

Quando o Hospital das Clínicas estava com a sua Secção de Endoscopia Peroral bem equipada e já contava com uma excelente Secção de Anestésia é que o paciente foi chamado para submeter-se a intervenção que há anos êle aguardava.

A operação consistiu numa toracolaparotomia e abertura da pleura mediastinal para o isolamento completo dos 2/3 inferiores do esôfago, para que o cirurgião, segurando os segmentos obstruidos pudesse facilitar as manobras endoscópicas. Um endoscopista operando por via retrógrada (através do gastrostoma) e guiado pelo cirurgião abriu passagem na zona obstruída, com a agulha especial, que foi depois apanhada por outro endoscopista que operava por via peroral.

A parte cirúrgica foi executada pelo prof. José Maria de Freitas, auxiliado pelo dr. Cássio Montenegro e a parte endoscópica pelo dr. Plínio de Mattos Barretto, auxiliado pelo dr. Jorge Barretto do Prado.

A operação realizada no dia 5-12-945 pode ser assim descrita: Incisão ampla, sôbre o trajéto da 9.ª costela interessando pele, tecido sub-cutâneo e músculos da região. Hemostasia. Incisão a bisturí do perióstio. Deslocamento com rugina das bordas e deslocador de Doyen, na face interna. Ressecção da 9.ª costela, junto aos ângulos tosto-vertebral e tosto-condral.

Abertura da pleura parietal. Secção da 8.ª costela junto ao ângulo tosto-vertebral, após deslocamento da massa muscular es.pino vertebral.

Houve colápso imediato do pulmão, que se apresentava de aspecto normal. Afastado o pulmão para cima e protegido com compressa, após deslocamento e secção do ligamento triangular, abriuse a pleura mediastinal.

Afim de facilitar o isolamento dos dois têrços inferiores do esôfago e permitir ao cirurgião auxiliar o endoseopista na localização e introdução do esofagoscópio, passado através do gastrostoma,foi feita a incisão do hemidiafragma esquerdo. O esôfago torácico foi descolado a dedo revestido de gaze.

Fàcilmente orientado pelo cirurgião, que podia perceber o esofagoscópio dentro do estômago, pela iluminação do aparelho e pela palpação, o esofagoscópio foi introduzido na cárdia e com alguma pressão pôde ser empurrado cêrca de 2 cms. na direção cefálica.

Uma vez no esôfago a iluminação do aparelho permitiu a observação cuidadosa das paredes do órgão e com éste "contrôle" o cirurgião pôde acompanhar a progressão de um tubo especial, que introduzido no esofagoscópio, pôde pouco a pouco progredir na direção cefálica.

Várias vêzes o cirurgião teve que corrigir a direção do tubo, que tendia, transfixar a parede esofageana e segurando o esôfago com uma das mãos podia o cirurgião, com segurança, orientar as manobras do endoscopista, que conseguiu finalmente atingir um nível situado a cêrca de 12 cms. acima da tardia, onde foi encontrada uma zona infraqueável.

Foi então passado um segundo esofagoscópio por via oral e o cirurgião observou que êste tubo podia descer até 2 cms. abaixo da Grossa da aorta, quando era feita uma bôa pressão e corrigida a tendência do tubo para se aproximar da coluna.

Mesmo forçando a aproximação do tubo introduzido pelo gastrostoma com aquêle ora introduzido pela bôca, uma extensão de cêrca de 2 cms. separava os instrumentos.

Neste momento uma agulha especial foi passada pelo tubo inferior e guiada pelo cirurgião através da estenose até que o esofagoscopista que operava por via oral pôde perceber, com nitidez, que ela fazia pressão na parede que estava em contato com a extremidade do esofagoscópio.

O cirurgião fixou tão bem quanto possível o condutor da agulha e o esofagoscópio, e a agulha foi forçada através de uma zona de intensa fibrose até que a sua ponta fôsse vista no esofagoscópio.

A agulha foi apanhada no interior deste tubo, passada por êle, trazendo já um fio grosso de algodão.

Retirados os instrumentos usados pelos endoscopistas, foi feita a revisão da cavidade torácica. Sutura da pleura mediastinal. Fechamento do diafragma com pontos separados. Reespansão do pulmão e fechamento da parede por planos, com ponto separados sem drenagem. Todos os fios de sutura e de ligadura, foram de algodão prêto encerado.

O paciente teve uma rápida convalescença e dia 5-1-946 iniciou as dilatações com as sondas de Tucker. Hoje, dia 17-1-946, pôde ser apresentado a esta Associação em ótimas condições, alimentando-se com substâncias líquidas, que êle há 11 anos não mais conseguiu ingerir pela bôca.

COMENTÁRIOS - Dr. Mário Otoni de Rezende: A exposição feita pelos AA. é de fato interessante, porque resolve problemas difíceis. É o que já há anos foi praticado e, que hoje poucos atuam nêsse sentido. Salzem aconselhava que, logo após tomar um caústico, se fizesse imediatamente a dilatação e que todos os casos fossem acompanhados com cuidado.

Sr. Presidente: A mesa: agradece aos AA. por essa nota prévia. Aliás, devemos ao Dr. Plínio Matos Barreto, uma série de inovações com que êle vem enriquecendo a endoscopia nacional.

Dr. Plínio Mattos Barretto: Esta é uma nota prévia que não quero antecipar à exposição de um trabalho que pretendo apresentar antes do fim do ano. Hoje, no Hospital das Clínicas recebemos todos os casos de acidentes caústicos. Estamos fazendo com grande sucesso o método preventivo dos casos de estenoses que antes eram completamente perdidos.

LARINGECTOMIA TOTAL EXECUTADA COM ANESTESIA PELO BLOQUEIO PARAVERTEBRAL

Plínio de Mattos Barreto (Do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e do Instituto Arnaldo Vieira de Carvalho)

O A. fez uma recapitulação das principais indicações de anestesia local para as operações do pescoço, tendo, depois de breves considerações anatômicas, feito projetar esquemas de trabalhos de Meeker e Hundling, para demonstrar a distribuição dos ramos superficiais do plexo cervical; a anestesia cutânea, resultante de anestesia paravertebral do plexo cervical; as diferentes vias de anestesia e finalmente as vantagens da via oblíqua lateral.

Disse ser a laringectomia total uma operação que podia ser executada com grandes vantagens com a anestesia paravertebral, combinada com a anestesia terminal de alguns ramos superficiais e o bloqueio dos laríngeos superiores.

Projetou dois esquemas desenhados sob sua orientação, esquemas êstes, que demonstravam de maneira simples o método de anestesia local que, em 1943, êle assistiu fazer na Clínica Mayo.

Em linhas gerais esta técnica pode ser assim descrita: com o paciente em decubito dorsal, sem travesseiro, e com a cabeça voltada para o lado oposto, a ponta da mastóide é colocada na direção do eixo do corpo (fig. I) e o operador procura sentir com as pontas dos dedos as apófises transversas das vertebras cervicais.

Na borda posterior do m. esternocleido-mastoídeo êle marca três pontos: 1-a, distante um dedo transverso para cima do ponto em que a veia jugular cruza a borda do músculo; 1-b - um pouco para baixo da ponta da mastóide e 1-c - intermediário entre 1-a e 1-b. Três agulhas introduzidas nestes pontos e dirigidas na direção do eixo do corpo, são aprofundadas até encontrarem a resistência das apófises transversas.

Verificado que a ponta de nenhuma das agulhas penetrou em algum vaso, 5 cc. da solução de metycaina a 1% mais epinefrina, são injectados junto a cada um dos cervicais (C2, C3, C4). Os nervos do lado oposto são injetados com igual técnica.

A seguir são anestesiados os cervicais superficiais, os intercostais e os laringeos superiores, na ordem representada no esquema da. figura II, usando-se para esta anestesia uma solução menos concentrada (metycaina a 1/2%).

O bloqueio dos laríngeos inferiores (ponto 7, fig. II) é feito durante a operação, a menos que já exista uma traqueotomia. A mucosa da laringe e da traquéia pode ser anestesiada com a anestesia em superfície pela aplicação direta de uns dois centímetros cúbicos de neotutocaina a 2%, instilados através da membrana cricotiroidea, também no curso da operação.

Terminou fazendo referências a algumas intervenções do pescoço que havia praticado com a anestesia paravertebral e mostrou um paciente operado de laringectomia total ha 8 dias atrás.

Êste paciente, que tinha sido submetido a um tratamento radioterápico, dois mêses antes, suportou perfeitamente a operação, que foi feita pela técnica de laringectomia que o A. apresentou nesta mesma Casa em 18-10-943.

A anestesia foi a paravertebral e no oitavo dia de pós-operatório o paciente já estava em condições de deixar o hospital; tinha a pele e o traqueostoma em bôas condições, e já estava comendo pela bôca.

O trabalho foi comentado pelo Dr. José Rezende Barbosa e pelo Dr. Oscar Barretto este último depois de elogiar a exposição do A., falou sôbre a oportunidade da apresentação desta importante técnica de anestesia, que devia ser considerada como ideal para a maioria das grandes intervenções do pescoço.

Fez também algumas considerações sôbre as suas contra-indicações, especialmente em casos com grandes alterações dos tecidos, consequentes a aplicações radioterápicas. Nestes últimos a anestesia local poderia diminuir ainda mais a resistência dos tecidos.

COMENTÁRIOS - Dr. Máro Otoni: Peço a palavra somente para lembrar um fato que se passou há muitos anos, em 1921, em ,Viena. Num curso dado pelo Prof. Hirsch, sôbre cirurgia na laringe, êle fez uma anestesia paravertebral para as intervenções sôbre a laringe. O Prof. Hirsch nos afirmou naquela época que a anestesia era admirável e que êle só a empregava nas operações da laringe.

Dr. J. E. Rezende Barbosa: Queremos aqui assinalar a segurança com que o Dr. Plínio afirmava que, dentro de seis dias, traria este paciente operado de laringectomia à esta Secção, quando a êsse respeito com êle conversei dias atrás e, voltamos a agradecer mais êste trabalho.

Dr. Plínio Matos Barreto: Agradeço as palavras de colaboração dos colegas e do ilustre Presidente.

DOIS CASOS DE TUBERCULOSE DA LÍNGUA

Drs. João Otávio Nébias, Décio Fleury da Silveira e Mauro Cândido de Souza Dias

Os AA. após uma ampla revisão do assunto, acentuando a raridade da complicação e a estatística nacional constante de sete casos, apresentam mais duas observações clínicas realizadas em doentes hospitalizados no Hospital S. Luís de Gonzaga. Uma cura clinica e outra com êxito letal. Peça anatômica oriunda da autópsia do último caso é apresentada juntamente com microfotografias ilustrando o exame histopatológico.

Sr. Presidente: Agradeço a presença de todos a esta sessão e todos que quiserem abrilhantá-la apresentando aqui para discusões clínicas casos dos mais interessantes e, convido-os para a próxima sessão.

Nada mais havendo a tratar, foi encerrada a reunião.

REUNIÃO DE 18 DE FEVEREIRO DE 1946

Presidida pelo Dr. J. E. Rezende Barbosa e secretariada pelo Dr. Antonio Corrêa, realizou-se, no dia 18 de fevereiro de 1946, uma reunião da Secção de Otorrinolaringologia e Cirurgia Plástica da Associação Paulista de Medicina.

EXPEDIENTE - O Sr. Secretário leu uma carta de agradecimento da família do Sr. Sílvio Marone, pelas homenagens prestadas à memória do Prof. Eduardo Monteiro pela Secção de Otorrinolaringologia e Cirurgia Plástica.

ASPÉCTOS ATUAIS DA EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICA DA BLASTOMICOSE BRASILEIRA

Dr. Carlos da Silva Lacaz

O A. aborda sómente problemas modernos da blastomicose, citando pesquizas próprias e de outros autores no que se refere à epidemiologia, diagnóstico e terapêutica. Estuda detalhadamente a acção terapêutica, "in vitro", de certas substâncias sôbre a blastomicose brasileira. Termina lembrando os métodos que devem ser usados para contrôle da cura de um doente tratado e o valor dos mesmos, tais como o exame clínica, a hemossedimentação, exame histopatológico e as reações cutâneas e sorológicas.

Discutiram o trabalho os seguintes colegas: Drs. Hartung, Plínio Barreto, Corrêa, Ognibene e Rezende Barbosa.

GLOMERULONEFRITE OTOGÉNICA

Dr. Francisco de Paula Pinto Hartung

O trabalho foi publicado :ia íntegra. Veja Rev. Brasi. de O.R.L. - XIV - Jan.-Fev. 1946, pag. 59.

TRATAMENTO DAS ESTOMATITES GANGRENOSAS

Dr. Antonio Corrêa

(Publicado na Rev. Brasil. de O.R.L. - XIV - Jan.-Fev. 1946, pag. 371.)

O A. apresenta 6 casos de estomatite gangrenosa em que utilizou como processo terapêutico a vitaminoterapia e a melhora dos quadros sanguíneos deficientes (anemia). A penicilina, a cirurgia local e a roentgenterapia fôram também utilizados. Todos os casos curaram-se.

Discutiram o trabalho os seguintes colegas: Drs. Ernesto Moreira, Plínio Barretto e Rezende Barbosa.

Em seguida, nada mais havendo que tratar, foi encerrada a reunião.

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