Versão Inglês

Ano:  1947  Vol. 15   Ed. 2  - Março - Abril - (12º)

Seção: Notas Clínicas

Páginas: 92 a 96

 

CISTO AMIGDALIANO (*)

Autor(es): Dr. FABIO BARRETO MATHEUS (**)

Achei interessante trazer esta observação ao conhecimento dos colegas por se tratar de um cisto de tamanho pouco encontrado na clinica. A parte mais interessante do trabalho que seria o exame anatomo patologico, não nos foi possivel realizar, visto como a peça foi perdida pelo fotografo.

OBSERVAÇÃO:

J. S., branco, brasileiro, 23 anos, solteiro, operario. Ha alguns anos sofre de inflamações repetidas da garganta acompanhadas de febre e disfagia dolorosa. Ha 2 meses mais ou menos observou que a garganta está inchando (sic) e sente dificuldade mecanica à deglutição. Não tem tido dores nem febre.

Exame:

Estado geral bom.

Rinoscopia anterior: crista longitudinal de septo para a esquerda. Conchas inferiores palidas e brilhantes.

Rinoscopia posterior: s/s.

Ouvidos: s/s.

Oro faringe: 1.° e 2.° pré molares superiores direitos com caries do III.° grau. Mucosa do faringe congesta. Pilares em reação. Amigdala direita criptica, com caseum à expressão. Ao nivel da loja amigdaliana esquerda notamos grande tumoração lisa, flutuante, que se estendia até quasi a linha mediana.





Puncionamos o tumor que nos revelou um liquido citrino pegajoso. Pelo pertuito feito pela agulha ainda saiu certa quantidade Do referido liquido, que diminuiu consideravelmente o volume do cisto. Marcamos a intervenção para 8 dias após.

Hemograma: Leucocitos a eritrocites normaes em numero e forma.

Reação de Wassermann: Negativa.

Tempo de sangramento: 2 mnts. e 30 sgds. Tempo de coagulação: 6 mnts.

Por ocasião da operação o cisto tinha readiquirido o seu volume anterior.

Fizemos então a dissecção cuidadosa da peça que apresentava uma capsula espessa, e cujas dimensões eram as seguintes: Comprimento: 35 mm. - Largura: 30 mm. - Espessura: 25 mm. - Peso: 8 grs.

O descolamento se processou com facilidade a não ser no ponto em que a capsula cistica apresentava formações fibrosas inseridas na parede lateral da loja. O tecido amigdaliano distribuia-se em toda a loja forrando-a de cima a abaixo, reduzida a uma fina camada, e isto naturalmente em virtude da compressão exercida pelo cisto sobre a amigdala.

Revendo a literatura sobre o assunto encontrei muito poucos casos de cistos com este volume.

Riquebourg encontrou um numa mulher de 55 anos e o exame revelou cisto dermoide.

Jourdan encontrou um no palato e Henrot cita um caso observado no véo do paladar.

Botey tambem achou um grande cisto na fosseta supra, tonsilar de uma menina de 14 anos e o exame mostrou que era. um cisto hidatico. Nada apresentava para o lado do figado e intestinos. Naturalmente deglutiu, ovos de equinococus e um ficou retido numa cripta amigdaliana.

Etiologia:

Segundo Tourneaux o tecido linfoide de distancia a distancia forma acumulos liquidos mais consideraveis que elevam o epitelio. O tecido linfoide desdobra o epitelio devido a uma inclusão endodermica da 2.ª fenda branquial (futura região amigdaliana).

Para Tornwald os cistos da amigdala faringeana derivam da bolsa faringeana, enquanto que para Brindell eles seriam devidos a uma adénoidite lacunar latente encistada.

Hynitsch os denomina de cistos de retenção se desenvolvendo graças á obliteração da porção superficial das criptas, havendo então ectasia da sua porção profunda, que se dilata a medida que o mucus se acumula.

Gorke admite 2 tipos: 1.°) cistos intra foliculares que seriam o resultado da proliferação do epitelio dos condutos excretores das gla.ndulas mucosas; 2.°) cistos intra epiteliais, dc revestimento epitelial da amígdala, e seriam consequentes à inflamações do orgão.

A hipergenese epitelial aumentaria o revestimento da, mucosa e multiplicaria as criptas amigdalianas. Haveria então uma inundação linfatica, donde ressaltaria a dissociação das camadas epiteliais e a formação de lacunas inter epiteliais cheias de leucocitos vasculares.

Para Leliévre a hipergenese epitelial precede o desenvolvimento dos cistos intra epiteliais e determina a hipertrofia das criptas amigdalianas.

Alguns autores determinam a formação de cistos artificiais da seguinte maneira: 1.°) provocam hiperplasia e hipertrofia do epitelio descolando mecanicamente a camada superficial do-corion; 2.°) alimentam o animal durante alguns dias de maneira insuficiente, determinando assim degeneração das. celulas epiteliais.

Estrutra:

O comum é o revestimento desses cistos por elementos prismaticos ciliados, podendo no entanto tomar tipos muito diversos: poliedrico, estratificado, prismatico, pavimentoso estratificado, mixto, etc.

A caracteristica dó cisto não será pela camada epitelial que pode variar, mas sim pela camada, linfoide que é constante e apresenta sempre a mesma disposição.

A obliteração do conduto secretor das glandulas mucosas traz a retro dilatação que é habitualmente seguida de atrofia do epitelio que atapeta o fundo do saco.

De um modo geral, os diversos autores concluem que: as paredes dós cistos variam de acordo com o estado evolutivo, mas qualquer que seja a sua estrutra, a ectasia da cripta representa no começo um cisto por proliferação, para acabar sol a forma de um cisto de retenção.

RESUMO

O A. apresenta uma observação de um cisto amigdaliano de tamanho pouco comum (comprimento: 35 mm. - largura: 30 mm. - espessura: 25 min. - peso: 8 grs.) em um paciente do sexo masculino de 23 anos.

Faz a seguir considerações em torno da etiologia e estrutura dos cistos amigdalianos segundo os diversos autores consultados.

As paredes dos cistos variam de acordo com o estado evolutivo, mas qualquer que seja a sua estrutura, a ectasia da cripta representa no começo um cisto por proliferação para acabar sob a forma de um cisto de retenção.

SUMMARY

The A. reporte a case of cyst of the tonsils of unusual size (length - 35 mm., width - 30 mm., thickness - 25 mm., weight - 8 grams.) which was removed from a 23 years old male.

Next he studies the etiology and structure of the cysts of the tonsils according to the views of different authors.

The structure of the walls of the cysts varies with the deve lopment of the cyst, but no matter what type of structure that is, the ectasis of the crypt represents at first a proliferative cyst and a retention cyst at the end.

BIBLIOGRAFIA

1 - BOTEY, R. - Un caso de quisto hidatico de la amigdala derecha. Semana Medica. B. A. 10:481 - 1903.
2 - LELIÉVRE, A. e RETTERER, E. - Des Kystes de l'amydale pharyngienne hipertrophieé. C. R. Soe. Biol. 70:229-232. 1911.
3 - LERICHE, R. - Kyste amygdaloide retromaxillaire. Lyon chir. 35:574-575. 1939.
4 - RIQUEBOUR.G, A. - Localisacion rara de un quiste. Rev. Assoe. Méd. Argent. 46:1483 -1484. Nov. 1932.
5 - TOURNEAUX, J. P. e FEFEBVRE, C. - Kyste amydaloide y epithelium prismatique cilié. Bull. et Mem. Soc. Anat. de Paris. 93:337-340. 1923.




(*) Trabalho apresentado na sessão de 17-12-46 na Secção de O. R. L. da As. P. Medicina.
(**) Assistente do Serviço de O. R. L. do Hosp. N. S. Aparecida e Policlinica de S. Paulo.

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial