Versão Inglês

Ano:  1947  Vol. 15   Ed. 1  - Janeiro - Fevereiro - ()

Seção: Notas Clínicas

Páginas: 20 a 22

 

APOPLEXIA DA UVULA - (A proposito de um caso)

Autor(es): ARMANDO PASSOS

Propriá - Sergipe

É objeto de nossa observação um caso de "apoplexia da uvula", como mais abaixo se vê, são poucas as observações divulgadas, dai o nosso intuito de apresentando mas um caso, enriquecer a literatura nacional - ha quem afirme que em vista da benignidade da doença levando paciente não procurar medico, encontre a razão em se conhecer tão poucos casos, - não somos dos que pensam desta maneira, todos nós sabemos e preocupação que traz ao doente "o fato de ter escarrado um pouco de sangue", ao paciente que isto acontece não se tranquiliza enquanto não ouve a opinião de um medico; passemos a descrever nosso caso:

Francisco Resende - 20 anos - moreno - solteiro - comerciante residente em Canhoba - Sergipe.

Procurou-nos informando que após, ter tomado café palestrava com uns amigos quando sentiu como se estivesse engasgado, procurou escarrar sem resultado, a respiração tornou-se um tanto dificil e havia dificuldade em pronunciar as palavras, a impressão era que tinha um corpo estranho localisado na garganta, daí seu esforço em expelir, em dado momento, surgiu-lhe vontade de tossir, sentindo imediatamente gosto de sangue (sic) obteve uma grande melhora, embora o fato lhe tivesse trazido grande preocupação, foi olhar no espelho imediatamente, notando uma bolsa preta presa na campainha (sic) depois de mais alguns esforços eis que se arrebenta a bolsa enchendo-lhe um pouco de sangue a boca.

Antecendentes sem importancia para o caso; apresenta-se um tanto nervoso com o ocorrido; ao exame o que nos chama logo atenção é o estado em que se encontra a uvula, bastante edemaciada e um tanto arroxeada na sua metade inferior - a historia do paciente e o que era dado a observar-nos não tinhamos duvida, tratava-se de um caso de "apoplexia da uvula" - fizemos uma pequena limpeza com agua oxigenada e aplicamos uma injeção hemostatica prescrevendo ainda cloreto de calcio.

A raridade do caso aqui registrado foi que nos animou apresentar à "Rev. Bras. de O. R. L." Conhecia casos de apoplexia da uvula e do véu atravez da literatura, que por sinal por demais escassa, não encontrando em nenhum tratado de oto-rino-laringologia dos consultados estudo ou referencia, o numero conhecido entre nós ou melhor os divulgados não vão além de 10 - são eles: Otacilio Lopes (2) - Edgar Falcão - Mangabeira Albernaz, Orlando Castro Lima - Pessôa Aguiar - Aristides Monteiro (3) e Paulo Saes; a Bibliografia mundial contando com cerca de vinte e poucos casos segundo Otacilio Lopes, traz-nos a segurança de afirmar a raridade do caso. Verificamos apenas variações da séde do derrame - uvula, véu extendendo-se até os pilares, uvula véu e região amigdaliana e a observação de Predescu em que o derrame interessou a metade esquerda da uvula bordo livre do véu, metade do pilar anterior esquerdo a epliglote e os ligamentos ariepigloticos - no meu caso apenas a uvula na sua metade inferior era séde do processo. Não obstante a afirmativa de Yoel de que a molestia ataca de preferencia no sono, não se enquadra a nossa observação; a idade não tem nenhuma influencia sobre o processo, havendo até uma observação de Rosenlocher 15 minutos após o nascimento de uma criança. A sintomatologia é a mesma em todos os casos inicio brusco, sensação de corpo estranho na garganta, disfagia dispnea, modificação da voz escarros sanguineos; a patogenia varia com os autores, assim é que Predescu acredita que o frio influencie, por excitação de um ganglio simpatico, na nossa observação, o nosso paciente minutos antes tinha tomado café, o calor poderia tambem ter sido a causa do hematoma por sutura submucosa duma ventila; segundo Escat, citado por Aristides Monteiro, a "apoplexia da uvula" tenha origem na rutura Submucosa dum vaso por "contração violenta dos musculos stafilinos dando em resultado uma tensão forçada de véu do paladar".

Bosviel acredita numa inflamação, do véu de causa mecanica, a observação de Pessoa Aguiar diz ser origem trauma tica, pois o seu paciente sentira durante o almoço um osso de galinha ferir o céo da boca.

Segundo Aristides Monteiro a grande riqueza de vasos sanguineos explique o edema subito da uvula "por efeito da dilatação dos mesmos e consequente derrame nos espaços intersticiaes circunvizinhos"; acreditamos que o calor tenha ação direta na causa dos derrames e consequente hematoma da região.

Molestia de prognostico benigno curando-se em poucos dias sem deixar vestigio; a conduta será de abrir o hematoma com o bisturi ou como preconiza Mayersohn - esmagando-o entre os dedos. - Curativo local com argua oxigenada ou gargarejo adstringente, completam a ação do especialista; no nosso caso fizemos uma injeção hemostatica pois o nosso paciente, residia distante havendo por conseguinte sem esta precaução possibilidade de novamente sangrar, entretanto no momento da rutura do hematoma é vatajoso a aplicação de uma injeção hemostatica. A aplicação local de Adrenalina, com o fim de reduzir o edema da região, varios autores tem observado com sucesso, inclusive Otacilio Lopes.

RESUMÉ

L'auteur presente un cas d'apoplexie de l'uvule et il parle de la rareté du cas; il fait un resume de la pathogenie et il juge que c'est la chaleur qui a surtout une action directe dans la cause des epanchements et par consequent - hematome de la region. Le diagnostic est facile, presentant la même symptomatologie, c'est à dire: commencement brusque, sensation de cores etranger, dysphagie, dyspnée, modification de la voix et des crachats sanguinolents. Pronostic benin, étant la conduite therapeutique - ouverture de l'hematome avec le bistouri, nettoyage de la region et gargarisme adstringent.

BIBLIOGRAFIA

- Monteiro Aristides - Apoplexia de véu do paladar, contribuição clinica e histo-patologica - Rev. Bras. Do Oto-Rino-Laringologia - Vol. IX pag. 465.
- Lopes Octacilio - Apoplexia da uvula - Laringologia - Vol. IV, pag. 1269.
- Pessôa de Aguiar - Apoplexia de véu do paladar -Rev. Oto-Rino-Laringologia - Vol. X, pag. 344.

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