Versão Inglês

Ano:  1955  Vol. 23   Ed. 1  - Janeiro - Fevereiro - ()

Seção: -

Páginas: 24 a 26

 

TUMOR DO SOALHO DA BOCA (*)

Autor(es): Dr. E. VELLOSO VIANNA (**)

Ao trazermos este trabalho ao nosso Congresso, temos em mira, focalizar um assunto interessante, e, ao mesmo tempo apresentar um caso bastante raro. Dizemos raro, pois com o número bem elevado de casos por nós atendidos, e pela literatura que nos foi possível consultar, nada encontramos de semelhante.

Os tumores do soalho da boca, como é do conhecimento de todos, são devido a constituição anatomica, formados por perturbações das glandulas salivares e de seu conduto escretor, (ranulas), e mais raramente cistos, lipomas e ainda epiteliomas.

O diagnóstico destes tumores, não oferece dificuldade, principalmente se atentarmos para a anamnese e praticamos um exame cuidadoso.

Feitas estas rapidíssimas considerações, pois o tempo não nos permite delongas, passaremos para o nosso caso.

D. B. O., Ficha n.º 13,635 - 19-VII-50, brasileiro, branco, com 28 anos de idade, solteiro, residente em Paracatu.

ANAMNESE: Veio à consulta, enviado por um dos ilustres colegas desta região, queixando-se que há cerca de 8 anos, apareceu um tumor na boca, debaixo da língua, que ultimamente o tem molestado bastante, para comer e falar. Sente a boca seca, porém nunca teve dor alguma.

EXAMES - BOCA: Grande tumor de consistência mole, ocupando toda a parte anterior da mesma, implantação no soalho e recalcando a lingua para traz e para a esquerda. (A fotografia mostra claramente) Dificuldade no falar e no ingerir alimentos. Nada mais digno de menção.

DIAGNÓSTICO: Ranula Sub-lingual.

TRATAMENTO: O único tratamento aconselhado para os casos de ranula é o cirúrgico. Assim sendo, preparado o paciente para o ato operatório, aplicamos penicilina, e após fazermos a anestesia local com novocaina, íamos fazer a transfixação da capsula, com um ponto de fio grosso de algodão, a fim de provocar a fistulização e consequente cura, fomos surpreendidos com a falta de escoamento natural nestes casos, da saliva acumulada. Julgamos que a nossa apreensão não tinha sido boa e fizemos outra mais profunda, igualmente sem resultado. Resolvemos neste ponto sondar o tumor por meio de punção, o que foi feito, sem resultado, pois todas elas foram negativas. Conhecedor das reações que provocam tais manobras, resolvemos adiar o ato cirúrgico para o dia imediato. Estudando melhor o caso, firmamos então o diagnóstico do cisto do soalho da boca.


A saliência que vemos na fotografia, é o tumor, estando a lingua recalcada para traz.


No dia aprasado, praticamos a intervenção, que constou de larga abertura do soalho da boca, com cuidado de não ferir o cisto, apreensão do mesmo com nula pinça de língua e deslocamento completo do mesmo com o dedo auxiliado por compressas, tudo feito sem o menor acidente, complicação ou dificuldade. Solto o tumor, apresentou-se então uma dificuldade bastante interessante. Devido ao tamanho, mais ou menos o de uma tangerina, não passava pelo orifício bucal. Ao fazermos leve tração, a capsula rompeu-se e aproveitando este acidente fizemos sair uma quantidade de materia sebácea, pois o mesmo era desta natureza, até que pudesse sair pela boca. Toalete da ferida operatória, sulfa e fechamos com quatro pontos separados, dando espaço para drenagem. Penicilina.

A reação no dia imediatamente após a intervenção foi bastante, regular, cedendo do segundo dia em diante, podendo o paciente ter alta completamente curado no sétimo dia de operado.

COMENTÁRIOS: O presente caso, como dissemos no início, foi nos enviado por um dos mais ilustres e competentes cirurgiões de nossa zona, que como nós próprios firmou o diagnóstico de ranula, e como tal contencioso de suas responsabilidade encaminhou a especialista que está naturalmente mais habilitado a fazer tal intervenção, uma vez que sabia que não raro é necessario intervenção milindrosa e principalmente delicada.

Erramos no diagnóstico, porém ganhamos a experiência que, mesmo os casos mais simples e banais, devem ser olhados com carinho e minucia. Ao mesmo tempo tivemos a feliz oportunidade de poder apresentar, aos caros colegas congressistas, e chamar-lhes a atenção - Único mérito deste trabalho - para esta belíssima frase de William Feather: O HOMEM SABIO ESTUDA OS OUTROS, DE MANEIRA QUE POSSA APRENDER COM OS SEUS ERROS E AS SUAS EXPENSAS.

(1) Trabalho apresentado ao VI Congresso Medico do Triangulo Mineiro e IV do Brasil Central.

(2) Diretor da Clinica Dr. Venoso e Chefe da Clínica Santa Casa de Uberlândia.

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