Versão Inglês

Ano:  1934  Vol. 2   Ed. 4  - Julho - Agosto - ()

Seção: Revista das Revistas

Páginas: 342 a 362

 

REVISTA DAS REVISTAS - parte 2

Autor(es): Zeitschrift f. Hals-Nasen und Ohrenheilkunde
Vol. 33 - Abril de 1933.

W. UFFENORDE - Septicemia em consequencia de inflamações agúdas dos seios anexos da face. - Pag. 1.

O A. menciona um caso típico de septicemia de que a explicação não pôde ser feita pelo exame interno o mais minucioso. Uma radiografia deixou ver uma opacidade acentuada ao nivel do seio maxilar direito, com grande espessamento de sua mucosa. Pela punção saiu uma secreção muco-purulenta. Após a operação radical do seio maxilar, etmoide e esfenoide direitos, foi encontrada uma outra cavidade, separada do seio maxilar, numa grande extensão, por um septo osseo. Esta cavidade foi limpa assim como o etmoide, o seio esfenoidal foi encontrado livre e o frontal foi aberto. Já no segundo dia, depois da intervenção, a temperatura caiu e a cura completa teve lugar. O desaparecimento rapido da septicemia após a operação nos seios, na ausencia de outra cousa que a explicasse, indica bem sua origem sinusal.

D. M. RUTENBERG - Patogenia do abcesso para-faringeo de origem otogenica - Pag. 25.

Uma das vias em que uma infecção póde ser transmitida do ouvido para o espaço para-faringeo é a linfatica. Outra via será constituída pela penetração direta através da fossa digastrica e ao longo do musculo digastrico até á fossa retro-maxilar onde se sitúa a glandula parotida. Daí a infecção poderá caminhar pelo espaço para-faringeo, á loja amigdaliana. Outra via direta será á das celulas da mastoide, envolventes do labirinto ou pelo soalho da cavidade timpanica que algumas vezes, extende-se ao seio petreo inferior sob a cocléa ou pelo canal carotidiano até o apite da piramide. Celulas pneumaticas na parede anterior da cavidade timpanica pódem, tambem, desenvolver-se na direção da ponta da piramide. O pús que enche estas cavidades póde irromper para fóra e passar, ao longo da trompa de Eustaquio aos espaços para e retro-faringeos. Um processo de carie da primeira vertebra cervical e daí ao espaço para-faringeo, constitue uma quarta via, si bem que rara, deste processo patogenico.

O A. relata um caso em que a infecção seguiu a via das colulas da mastoide e trompa de Eustaquio, e causou um abcesso parafaringeo. Daqui o processo alcançou a parte posterior da glândula parotida e da incisura de Santorini, abrindo-se na porção postero-inferior do conduto auditivo externo. Este mesmo processo produziu nevralgia do trigemeo e sindrome de Gradenigo. Uma injeção de 10% de bismuto em suspensão na fistula fez cessar a supuração, seguindo-se temperatura normal e cura.

DR. L. RIEGELE - Osteomielite do maxilar superior nos recém nascidos e criacinhas com especiais considerações sobre os nucleos de medula ossea - Pag. 32.

O A. procura demonstrar os fundamentos morfologicos das oteomielites até hoje aceitos no quadro da molestia.

Em cortes em serie de maxilares superiores de fetos de 7 meses, de recem-nascidos, assim como de criancinhas de 14 dias e 4 meses, ficou evidente a existencia da medula ossea neo-formada em diferentes lugares do maxilar superior; e ainda que os diversos depositos de medula ossea, que, por vezes, são ligados entre si, existem no feto, de 7 meses, no néo-nato e nas criancinhas mais novas colocados nas mesmas situações, nos maxilares superiores. Estes depositos, ou nucleos, de medula ossea distribuem-se do seguinte modo: o infra septal colocado debaixo da parte anterior e média do septo cartilaginoso de um dos lados; o nucleo supra e interalveolar que varia em tamanho com as diferentes idades. Finalmente o principal nucleo na parte posterior do corpo do maxilar superior e os infra orbitarios situados em ambos os lados do nervo infra-orbitario e constituindo os depositos: postero-supero-medial e lateral. Ha a acrescentar, ainda, o nucleo da parede interna da orbita situado no processo frontal do maxilar superior (prelacrimal) e o situado no processo zigomatico. Os nucleos maiores em desenvolvimento e mais dilatados são os colocados posteriormente. O seio maxilar ocupa, nos individuos mais idosos, em sua parte anterior, um espaço relativamente estreito na parede lateral do nariz e não toma sua parte dorsal, que esta situada na parte orbital do processo frontal, nenhuma cooparticipação na formação do relevo interno do antro maxilar. Ela não tem, tambem, relação alguma com a medula ossea vizinha de que é separada, assim como da esponjosa, por uma larga massa de tecido conjuntivo.

As relações dos nucleos de medula ossea, como unidade topografica das osteomielites, temos nas localizações das fistulas que concordam, sempre, com os pontos em que existem estes nucleos, assim como por uma serie de observações clinicas e patologicas.

Etiologicamente é notavel, que não tenha sido observado uma molestia primaria dos germens dentarios ou dos seios maxilares. Por uma afecção primaria dos depositos de medula ossea falam,
no entanto, uma serie de fatos. A via de infecção só póde ser esclarecida por um processo de osteomielite puramente traumatico. Tambem um progresso do processo inflamatorio, favorecido por um germen dentario, não ficou demonstrado. Não se póde negar que o seio maxilar deve poder participar do quadro da molestia e isto devido mesmo á sua pequenez nesta época da vida. O fato, no entanto, ainda não póde ser claramente demonstrado.

O caráter tempestuoso da evolução da molestia nesta idade, ao contrario do que sóe acontecer em épocas mais avançadas da idade infantil, deve ser atribuido á falta de amadurecimento do endotelio reticular da medula ossea. Uma intervenção terapeutica cirurgica deve ser empregada o mais cedo possivel.

Ela estará indicada já nos primeiros indices de abcesso subperiostal. Como meio de drenagem, de melhores resultados, dos nucleos supurados da medula ossea, deverá ser empregado o que melhor facilite o escoamento do pús dos seios profundos para o nariz, como o aconselhado por BERTHÉMES e FLEMING, mesmo nos casos de fistulas já existentes.

DR. L. ZARITZKI (KIEW) - Grupos sanguineos nos doentes de escleroma e de seus proximos parentes. - Pag. 83.

São as seguintes as conclusões do A.:

1) - O escleroma das vias aéreas superiores foi encontrado em doentes dos 4 grupos sanguíneos.

2) -No grupo A (II) a molestia é muito comum, no grupo O (I) é mais rara.

3) -Nas famílias dos portadores de escleroma, adoecem de escleroma crianças e parentes que pertencem a grupos diversos.

4) -Os doentes com escleroma do laringe parecem ser mais acessiveis á terapeutica.

5) - O index biologico da raça de povos ucranianos de Polessje é de 1,6, de outro lado o index dos polacos, japonezes e ucranianos é identico ao passo que o dos russos sobrepuja-os.

6) -Seria de grande utilidade a determinação dos grupos sanguineos da população de Polessje.

S. J. WULFSON, A. L. KAPLAN e E. I. JAROSLAWSKY - Radiografia do osso temporal e sua significação clinica nas afecções do ouvido no período infantil - Pag. 88.

WUI.FSON e seus associados pensam que o metodo de Sonnenbalb é o melhor para as radiografias do osso temporal nas criancinhas. A cabeça da criança é colocada na caixa e fixadá, o tronco será seguro, no lugar, por um assistente. Uma exposição de 1/3 a 3/4 de segundo é a suficiente. Os A. A. examinaram, por este metodo, 110 temporais (55 pacientes) inclusive ossos normais e ossos com processos agúdos, sub-agúdos e cronicos. No exame de crianças acima de 4 anos de idade, em casos normais, os periodos de pneumatisação de Wittmaack puderam ser seguidos. Uma condição patologica, em não importa que porção do temporal, torna-se manifesta na radiografia. Ao passo que no lado são a estrutura em favos de mel, do antro e da região peri-antral, póde ser facilmente reconhecida; do lado doente estas áreas apresentam-se pobremente diferenciadas ou obscuras.

Zonas de menor densidade aparecem quando o osso estiver atacado. Quando da doença em ambos os lados e quando as imagens forem semelhantes, o diagnostico não será tão facil e uma comparação cuidadosa com o que apresentar o exame clinico, é de importancia.

M. O. R.

Revue d'oto-neuro-ophtalmologie
Tomo XI - N.º 9, Novembro, 1933

P. WINTER, F. RAPPORT e H. BORDET - Sobre tres casos aracnoidite da fossa posterior.
Pag. 650.

Os tumores do nervo acustico são frequentemente acompanhados de reação aracnoidéia de visinhança que determina formação de aderencias, tractus fibrosos e quistos. Entretanto, muitas vezes, o exame histologico mostrou não existir tumor. No serviço de nervo-círurgia da Pitié já tem sido observado um grande numero de casos deste genero.

A sintomatologia destes pacientes apresentava dois grupos de fatos clinicos. E num primeiro grupo notavam-se perturbações mentais, crises de epilepsia generalizada ou localizada e perturbações motoras com ou sem estase papilar. Ventrículos laterais e o 3º ventriculo dilatados. Na intervenção ou na autopsia encontra-se uma aracnoidite consideravel da grande cisterna.

Em um segundo grupo encontram-se perturbações funcionais dos orgãos da fossa posterior, titubeação, nistagmo, latero-pulsão vertigens e neuralgia no dominio do trigêmeo. Dilatação média dos ventriculos laterais. Na operação vêem-se somente lesões de aracnoidite do recesso ponto-cerebelar.

Os autores relatam em seguida tres minuciosas observações pertencentes a este 2.º grupo acompanhadas de criteriosos comentarios em que são estudadas a fundo o diagnostico diferencial entre as aracnoidites e os tumores do acustico.

ANDRE'-THOMAS e LOUIS GIRARD - Paralisia facial e labirintite. Exame anatomico do nervo facial. - Pag. 665.

Observação muito minuciosa: primeiro surto de labirintite em 1930 repetido em Setembro de 1932 surgindo perturbação da audição. Dois meses após paralisia facial periférica rapida e dores na esféra do trigêmeo. Um mês depois, supuração auricular. Meningite estafilococócica evoluindo mortalmente. Trepanação labiríntica. Necrose na região do aquedúto de Fallope ao nível do ganglio geniculado e dos canais semi-circulares. Vasto abcésso sub-dural. Os autores analisam em seguida curiosas hipóteses patogenicas baseadas nos resultados do exame histologico do nervo facial.

G. A. WÉILL - Efeitos da compressão da jugular sobre o ouvido. -Pag. 673.

Ha alguns anos Weil mostrou que a pressão exercida entre a borda anterior da mastoide e a borda posterior da mandibula produzia em muitos otorréicos a saída de uma certa quantidade de secreção através a perfuração timpanica (prova da pressão pre-apexial). A compressão dos vasos do pescoço produz o mesmo efeito. No ouvido são, pela compressão de uma só jugular observam-se certas modificações vasculares: veem-se desenhar finos vasos no cabo do martelo, na membrana de Schrapnell, no muro da lojeta. Este sinal é mais nítido na infancia que no adulto.

Com a compressão bilateral das jugulares observa-se com maior nitidez os casos de hipervascularisação timpanica. Por este motivo o A. acredita que não se trata de um refléxo originario do simpatico.

Weil propõe este sinal como "test" de permeabilidade do seio lateral. A compressão do lado são pouco eficaz si o seio oposto está permeavel deve acarretar si existir obstrução uma congestão, muito nítida do hilo timpanico do ouvido são. Este sinal está sujeito as mesmas falhas que a prova de Queckenstedt. A observação do autor é comparavel ao que já verificaram os oftalmologistas: a congestão dos vasos retinianos da conjuntiva e em geral da face durante a compressão da jugular.

O que é menos banal é a influencia da compressão da jugular sobre o ouvido interno e sobre o encéfalo; tal assunto constituiu o motivo principal deste artigo. Weil descreve em seguida seis observações interessantes estudando a ação da compressão da jugular sobre o labirinto e chegando a conclusões provisorias: Existindo uma espinha irritativa vestibular, a pressão jugular póde fazer aparecer um nistagmo ou vertigem verdadeira. Havendo alterações em uma região qualquer do encéfalo principalmente na região bulbar, a pressão jugular póde determinar crises vertiginosas ou pseudocomissíais. Talvês no futuro seja um meio para discernir a origem periférica ou central das perturbações de ponto de partida muitas vezes ignorado.

E. R. CASTELNAU (de Cannes) - Crise de epilepsia devido a um fóco de infecção juxtameníngeo em um antigo operado de abcesso cerebral otogenico. - Pag. 680.

Observação interessante de uma senhorita de 40 anos operada de abcesso cerebral em 1930 e apresentando em 1931 uma crise epileptiforme. O A. admitiu a hipótese de pequeno foco de infecção persistente juxtameníngeo e reoperou a paciente. Dois anos mais tarde o estado da doente era excelente. A literatura referente a estes casos é bastante escassa.

O aparecimento da epilepsia no decurso de uma infecção mastoideia faz pensar em complicação cerebral.

Dr. Gabriel Porto.

Revue d'Oto-neuro-ophtalmologie
Tomo XI. N.º 10. Dezembro 1933.

PROF. N. NETZIANI, AGREG. N. JONESCO-SISESTI, DR. TZETZU e DR. D. BOIS. - Hipertensão intra-craniâna e nervo acustico. (Com exclusão dos tumores cerebrais). - Pag. 721.

Trata-se dum relatorio feito com apreciavel clareza e apresentado aos 3.º congresso da Societas Oto-Rino-laringologica- Latina. O estudo vem dividido em varios capitulos: a)esboço anatomohistologico; b) etiologia; c) estudo clinico subdividido em: 1)Hípertensão intra-craniâna de origem meningitica; 2) hipertensão por aracnoidíte; 3) hipertensão intra-craniâna por quisto parasitario; 4) hipertensão intra-craniâna de origem traumatica; 5) hipertensão intra-craniâna de causa mal definida.

Em um capitulo seguinte abordam os autores a patogenia destas perturbações coc1eo-vestibulares admitindo tres causas: compressão direta do nervo, compressão do fundo de saco endolinfatico e a compressão dos neuronios vestibulo cocleares centrais. Seguem-se
algumas linhas sobre o tratamento que deve ser etiologico quando possivel.

EGAS MUNIZ - Aneurisma intra-cranidno da carotida interna direita que se tornou visivel pela arteriografia cerebral. -Pag. 746.

Trata-se de um aneurisma intra-craniâno cujo diagnostico só foi possivel com a arteriografia. O artigo é ilustrado por interessante «cliché» radiográfico em que se verifica a localização exata do aneurisma na entrada da carotida no crânio. O canal carotidianto apresenta-se destruido. A arteria carotida passa pela base do crânio como si existisse um orificio bastante largo. Como tratamento o A. pensa que a ligadura da carotida interna se impõe logo que o aneurisma traga graves perturbações ao doente.

MM. RAMADIER, LEVY-DECKR e CHAUSSE' - Duas observações de paralisia dos dilatadores do laringe. - Pag. 749.

Os autores mostram que a paralisia dos dilatadores da glote constitue uma entidade clinica bem definida e ocupa um lugar especial no grupo das laringoplegias diferenciando-se nitidamente da paralisia recurrencial, forma banal da paralisia laringéa. Analisam em seguida o quadro clinico da paralisia recurrencial denominada paralisia em abertura ou da fonação. Descrevem o quadro clinico das paralisias dos dilatadores: sempre bilateral, ao passo que na paralísia recurrencial é unilateral na maioria dos casos. A motricidade laringéa só parcialmente é lesada, passando-se tudo como si os musculos dilatadores da glote estivessem paralisados e os musculos constrictores estivessem em acéssos de hipertonia. Não se observa atrofia das cordas - o musculo tiro-aritenoideu conserva-se integro. A voz é conservada e só a respiração sofre. A paralisia dos dilatadores é a paralisia em fechamento ou paralisia respira- toria do laringe.

Apresentam depois 2 observações dignas de interesse pela etiologia e pelos sinais neurologicos concomitantes.

Na primeira observação, a paralisia dos dilatadores foi o primeiro sinal que se manifestou de sifile nervosa. Os AA. referem-se a memoria que apresentaram em 1922 com a colaboração de Marcel Lermoyez em que afirmaram que toda paralisia dos dilatadores da glote de origem obscura deve ser considerada de origem luetica. A paralisia dos dilatadores do laringe vale como um estigmata de neurosifile do mesmo modo que a abolição do reflexo pupilar a luz, o que levou Lermoyez a denomina-la de Argyll do laringe.

A segunda observação refére-se a um caso de seringo-mielia com paralisia dos dilatadores da glote. A seringobulbia só excepcionalmente determina paralisia dos dilatadores. A febre tifóide, a difteria, o saturnísmo, o câncer do esofago e do corpo da tireóide podem determinar a sindrome da paralisia respiratoria do laringe. A sifile não é a unica causa da paralisia dos dilatadores porem é das mais frequentes. Deve-se adaptar como regra pratica a noção que "toda paralisia dos dilatadores da glote de origem obscura deve ser considerada luetica e como corolario terapeutico deve-se aplicar a esta laringoplegia criptogenica o tratamento da sifile nervosa pois é esta a unica "chance de cura."

Dr. Gabriel Porto.

Revue de Laryngologie, Otologie, Rhinologie
Vol. 54. N.º 8. Setembro-Outubro 1933

L. de REYNIER (Leysin) - A propósito de alguns casos de tuberculose da faringe - Pag. 951.

As tuberculoses da faringe são o espelho fiel da evolução das baciloses pulmonares ou cirúrgicas concomitantes. Seu aparecimento torna muito severo o prognóstico, porquanto traduz uma intoxicação profunda e uma falta de resistência total (ás vezes momentânea) do organismo á invasão bacilar. A localização das lesões, sua disseminação e evolução, modo de reagir á terapêutica, etc. oferecem elementos para o prognóstico, o que, em tisiologia, é de grande importância.

De Reynier, baseado em seu longo tirocínio, estuda nesse trabalho as tuberculoses do entroncamento aéro-digestivo, suas relações com as baciloses dos outros órgãos e o valor prognóstico de cada caso. Divide-as, clinicamente, em quatro categorias: fórmas agudas, crônicas, tórpidas e latentes.

A tuberculose primária da faringe é excepcional. Os raros casos que se apontam devem ser considerados sob muita reserva, pois a experiência mostrou ao A. que as lesões pulmonares podem ceder sem deixar vestígios, não só ao exame clínico como tambem ao radiológico.
Na grande maioria dos casos é por via linfática ou sanguínea (mol. de Isambert) que se produz a infecção. A contaminação direta dos tecido pelo B. K. pode verificar-se como o provam os casos frequentes de tuberculose localizada, ocorridos após o ato de circunsição, habitual em certas populações. A infecção direta da mucosa da boca e da faringe, entretanto, não tem sido assinalada, só podendo ser admitida como uma excepção.

A terapêutica deve visar l.º: o estado geral; 2.º: a localização tuberculosa dominante, a qual deve ser combatida com toda a energia (pneumotorax, frenicectomia, nefrectomia, op. sobre o intestino, etc.); 3.º: as lesões faríngeas.

Nas formas miliares de Isambert, em que se cogita apenas de aliviar, discorda de Reynier da gastrostomia, porquanto essa intervenção não evita as dores intoleráveis causadas pela deglutição de saliva. Prefere, em tais casos, o acido lático ou o paramonoclorofenol em aplicações sobre as ulcerações.

Nas tuberculoses ulcerosas crônicas, em que se pode contar não só com a melhoria, mas até com a cura das lesões faríngeas, deve-se logo instituir um tratamento local enérgico. O galvano-
cautério é então a grande arma, de que o A. é entusiasta graças aos resultados interessantes que obteve.

A helioterapia intra-bucal e os R. U. V. são tambem aconselháveis. Os sais de ouro não deram resultado no tratamento das lesões faríngeas. O seu emprego, aliás, é restrito aos casos em que não ha localizações intestinais ou renais.

Apresentação de 9 observações, seguidas de minuciosos comentários.

MAX BERGER (Bordeaux) - Formas pseudo-neoplásicas da sífile das fossas nasais - Pag. 973.

A sífile pode determinar a formação de pseudo-tumores nas fossas nasais, cuja distinção clínica com os neoplasmas malignos é ás vezes impossível. A esse respeito alguns erros graves têm sido assinalados na literatura.

O A. faz um bom estudo clínico do assunto, entremeiando-o de uma dezena de observações interessantes.

A sorologia, a bacteriologia e a biopsia devem completar o diagnóstico, embora os resultados das primeiras sejam inconstantes. O exame histo-patológico permite, em geral, afirmar que o tumor nasal é um pseudo-câncer. A sífile, entretanto, pode, histologicamente, confundir-se com a tuberculose e com o sarcoma ou epitelioma. No lº caso, as provas da tuberculina e da inoculação no cobáio, esclarecem a natureza do pseudo-tumor. No 2º caso, o diagnóstico exato seria difícil, segundo a escola de Lyon (Nicolas e Favre). Berger pensa que essas verificações histológicas reclamam novos estudos. Em muitos casos, o tratamento anti-sifilítico será o meio mais seguro para estabelecer o diagnóstico. Sem esquecer a possibilidade do neoplasma malígno, pensar sempre na sífile: é melhor vê-la por toda a parte, do que desconhece-la uma só vez.
Bôa bibliografia.

E. DARABAN - Diagnóstico e tratamento do câncer do laringe. - Pag. 1008.

Estudo clínico, com algumas considerações sobre anátomo-patologiae histórico do câncer do laringe.

Para os tumores cavitários, a cura pelos agentes físicos é excepcional, ao passo que, pela cirurgia é a regra. A terapeutica do câncer do laringe é essencialmente cirúrgica, quando incipiente ou bem limitado o tumor. Sómente as estatisticas operatórias têm dado até hoje resultados apreciáveis.

DAVID-GALATZ - Tratamento do câncer pela clorofila. - Pag. 1027.

A clorofila estimula as sínteses complexas das plantas, regula seu crescimento e, consequentemente, sua divisão celular. Essa ação é realizada num sentido frenador, devido ás radiações que a clorofila absorve do espectro solar. Sabe-se, aliás, que as plantas verdes, expostas á obscuridade, crescem desmedidamente.

A crorifila não é tóxica, nem cáustica e é muito bem suportada em injeções. Baseado na ação freno-reguladora que ela exerce sobre a divisão das células, D. G. empregou-a no tratamento do câncer sob tres formas: pasta, solução e clorofila rádio-ativada. As injeções foram aplicadas por via venosa, combinadas com irradiações dos ossos longos e do baço, ou, então, em torno do tumor, o qual contemporaneamente recebia forte dose de R. X. A iradiação forneceria, segundo o A., a energia actinica indispensavel á atividade frenadora da clorofila. As primeiras experiências (câncer cutâneo ulcerado) deram excelentes resultados. O tratamento foi, em seguida, dirigido contra os tumores inoperáveis e os recidivantes, obtendo D. G. acentuadas melhoras subjetivas - desaparecimento das dores, cessação da caquexia, volta do apetite, etc. O A. apresenta seis observações e promete voltar ao assunto, as suas próximas experiências devendo se extender ás neoplasias viscerais.

Dr. Guedes de Mélo F.º

Les Annales d'Oto-Laryngologie
N.º 11. Novembro. 1933

MOULONGUET e LEROUX-ROBERT - Epitelioma atípico do laringe, de celulas fusiformes. Pag. 1257.

Apresentam uma observação de um homem de 68 anos, com rouquidão progressiva e depois dispnéa. No bordo livre do ventriculo, uma massa dando a impressão de epitelioma. A lesão logo se modifica, tomando um aspecto inflamatorio, que toma depois de dias o aspecto necrotico, recoberta por uma falsa membrana difteroide. Por agravação subita, deu-se o exito. Fez-se a autopsia e o exame anatomo-patologico mostra um tumor evocando ao espirito a idéa de sarcoma fuso-celular. Os AA. fazem descrições minuciosas das microfotografias e discutem os seguintes pontos: Como interpretar os resultados do exame histologico, si existem caracteres clínicos proprios a este genero de tumores, e si certos tumores
descritos sob o nome de sarcomas do laringe, não serão epitelio mas fuso-celulares?

GARCIN e AUBRY - Sobre alguns pontos relativos a inervação do espinal. - Pag. 1265.

Apresentam interessante observação: um fibroglioma intradural da medula cervical, que dava um quadro clinico de uma esclerose lateral amniotofica quasi perfeita. A existencia de um sindroma tipico de bloqueio sub-aracnoidêo é afirmado pelas provas de Queckenstedt. O ponto que o A. chama a atenção reside na aparição e evolução de uma paralisia recurrencial isolada por compressão medular cervical bem limitada, que diz respeito a um certo numero de problemas fisio-patologicos quanto a inervação do espinal.

Um primeiro exame revelou: lº) Imobilidade da corda vocal direita, completa. 2º) Posição da corda em posição intermediaria 3º) Atrofia dessa corda, cujo bordo interno é concavo. 4º) Conservação parcial dos movimentos da aritenoide direita. Outros territorios do espinal intactos. O doente foi operado e semanas após, quasi curado todas as anomalias neurologicas foram se atenuando pouco a pouco. Meses depois, a motilidade era normal, as cordas se unem bem a fonação e toda atrofía muscular desapareceu.

Ao A. interessam os problemas fisiologicos e patogénicos que a observação fornece. A observação deixaria pensar, dada a compressão dos filetes medulares do espinal, que em certos casos, a motricdaide do laringe poderia depender só do espinal medular.

BARATOUX - Tumores malignos primitivos da traquéa. - Pag. 1272.

Os tumores da traquéa são raros, principalmente os tumores malignos primitivos. O A. dá duas observações e estuda depois minuciosamente a questão em todas as suas faces. Depois do historico, dá as razões da sua raridade: situação profunda da traquéa, que a põe ao abrigo dos traumatismos e o reflexo tussigeno que a protege contra os corpos estranhos; a constituição simples e rigida do orgão, impedindo contacto das paredes uma contra as outras; sua função passiva, dando passagem ao ar.

Admite-se um tumor da traquéa para 100 do laringe. Os homens são mais atingidos que as mulheres. Quanto a idade, é a mesma dos canceres: de 35 a 65 anos em média.

Estuda com detalhes a anatomia patologica e a etio-patogenía relacionada ao caso. Nos sintomas, mostra a indolencia absoluta do cancer em inicio e ausencia de todos os sinais que o façam suspeitar. Entre os sinais funcionais, um é o principal: a dispnéa progressiva e que se inicia 6 meses a 1 ano antes da sua intensidade obrigar a consultar. A tosse e expectoração acompanham as vezes a dispnéa. As modificações da vóz são menos freqüentes. A disfagía é mais rara. Mostra o que é possivel vêr pelo exame do doente, pelo exame radiologico, pela traqueoscopía e a biopsia.

Classifica a afecção entre as seguintes formas clinicas: a dispneica, a hemoptoica, a disfonica, a disfagica, a tumoral e a silenciosa. Estuda o diagnostico diferencial e o diagnostico endoscopico. O prognostico é muito sombrio, terminando os casos pela morte. Os epiteliomas evoluem em 3 ou 4 anos em média, os sarcomas mais lentamente.

O tratamento póde ser o cirurgico ou pelas radiações. Estas, de radium ou pela radioterapia profunda. Duas razões tornam inaplicavel a cirurgia: a situação do tumôr fóra da zona cirurgica
e o tempo de latencia longo, durante o qual o neoplasma se desenvolve sem chamar a atenção. A cirurgia póde agir de urgencia ou como curativa: ablação simples do cancer ou resecção parcial ou total da traquéa.

PROBY - A otite sifilitica do craneo e do osso frontal.-Pag.1290.

Faz o A. um estudo detalhado desta variedade de osteosifilóse. Graças a Jacques, conhecem-se hoje sinusites recidivantes frontais e maxilares, que se curam por um tratamento anti-sifilitico, a-pêsar-de que são raramente assinaladas em O. R. L. O A. faz um historico da questão e cita o que tem sido publicado sobre a sifilis do craneo. Estudando as lesões, descreve a osteo-periostite simples, e o osteo-sifilôma, dando-lhes os caracteres.

Descreve os processos de osteite rarefaciente, que nos ossos do craneo se manifestam por duas lesões: as ulcerações e as perfuracões. A forma de osteite exuberante classifica o A. em 2 tipos: a eburnação e a hiperostóse.

Seguem-se detalhes de seu mecanismo, em seu inicio, o modo de sua propagação e a sua evolução. Para estudar os sintomas da sifilis adquirida, cita primeiro a periostóse secundaria e depois as lesões terciarias, que são sempre complicações tardias. O sifilôma póde ser limitado ou difuso. Classifica as formas clinicas em: forma frontal isolada e em forma naso-frontal. Toda a forma de complicação é possivel, desde a simples cefaléa até a meningite mortal por infecção secundaria. Estudando as afecções que ela simula, difére o problema quando endocraneano ou exteriorisado. Quando o osso frontal é ulcerado deve-se fazer o diagnostico diferencial com: osteotuberculôma ou quisto hidatico, o fungus da dura-mater e a osteo mielite aguda do osso do craneo. Quando o processo está extinto, ha presença de exostóse. A sifilis congenita é depois estudada com minucias, em suas duas formas: precóce e tardia.

Entra o A. em detalhes sobre sintomas e diagnostico diferencial com: tumores benignos, com tumores malignos (clorôma, mielôma, sarcôma perfurante e tumores malignos secundarios), e com as osteites (Osteite tuberculosa, molestia de Paget, osteite fibrosa, quistica, osteomalácia, osteopsatiróse, o craneo-tabes-raquitico, a molestia de Schiller ou sindroma de Christian.

VASSAL - Tórax e timpano. Acidentes mecanicos. Acidentes inflamatorios. - Pag. 1309.

Pareceu interessante ao A. a repercussão ao nivel do timpano de acidentes toracicos. Apresenta uma observação de creança comprimida entre 2 bondes. O timpano esquerdo está vermelho, congestionado sobretudo no quadrante antero-superior e antero-inferior. Verifica a evolução em varios dias, voltando logo ao normal. Estudando sistematicamente a membrana em doentes com febre, chegou a conclusão de que as afecções descendentes deixam um traço ou cicatrizes sobre o timpano. As afecções de origem sanguinea não repercutem no nivel do timpano. Termina com estas conclusões: "O timpano poderá traduzir uma afecção toraxica: l.º) mecanica, a compressão, no caso de mascara equimótica pelo refluxo jugular. 2.º) inflamatoria, com a condição de que a etapa rino-faringéa seja o termo de ligação entre a afecção bronquica ou pulmonar, e a inflamação timpanica. 3.º) As afecções sanguineas do pulmão não têm tradução no nivel do timpano : tuberculóse, pneumonia, cancer, gangrena pulmonar, pleurizías séro-fibrinosas ou purulentas quando são devidas a uma afecção do pulmão, vascular ou tissular.

GEORGE GOUFAS - Asma bronquica e etmoidite bilateral cronica. Sinusite fronto-maxilar bilateral cronica latente e desapercebida. Cura radical da polisinusite. Cura definitiva da asma. Pag. 1311.

E' muito prematuro querer hoje atribuir todas as formas da asma a uma causa endonasal. E' facil o diagnostico etiologico da asma, que começa por uma crise tipica de rinite espasmodica. Si
a colaboração do medico e do rinologista fosse estreita, poder-se ia descobrir ao nivel do nariz e cavidades acessorias, causas que insignificantes que pareçam, sejam capazes, sob ação de causa minima, de constituir verdadeiros fócos reflexogenos agindo evidentemente sobre um terreno cujo equilibrio vago-simpatico esteja seriamente perturbado. Apresenta uma longa e documentada observação, com comentarios de ordem diagnostica, de ordem patogenica, de ordem cirurgica e de ordem terapeutica, tirando as seguintes conclusões:

Em presença de um caso de asma antigo ou recente, deve-se interpelar o rinologista, unico competente para pesquisar a existencia de uma espinha nasal irritativa aparente ou dissimulada, ou uma sinusite latente e desconhecida. Uma vez a causa da asma atribuida ao nariz, a terapeutica pertence a cirurgia naso-sinusiana, e talvez tambem a endocrinologia, que trataria de restabelecer o equilibrio nervo-vegetativo.

A aspiração eletrica constitue, no tratamento post-operatorio das sinusites, um meio terapêutico de alto valor. A Stock-vacinoterapia pelo "Propidon" oferece perante acidentes orbitarios operatorios uma arma preventiva das mais eficazes.

Dr. Paulo Sáes.

Diversos

MARY HARDY - Observations on the innervation of the «macula sacculi» in Man. (Anat. Record, vol. 59, n.º 4 -25-VII-1934).

Em ossos temporais de individuos adultos, seccionados em serie e sendo os cortes tratados com metodos de coloração apropriados, a A. descreve finos feixes de fibras nervosas que, do ganglio coclear, da região proxima de sua extremidade basal, vão á extremidade posterior da «macula sacculi». O percurso de tais feixes se faz atravez um canaliculo osseo de cerca de 1 mm. de comprimento. A direcção geral, do ganglio á macula é para cima e medialmente e mais ou menos no plano das secções verticais. Estes feixes de fibras nervosas constituem o "nervo cocleo-sacular", o qual representaria um verdadeiro ramo do nervo coclear destinado ao saculo e não somente um ramo anastomotico aberrante procedente do nervo vestibular.

O n. sacular que deriva do ramo de divisão superior do. n. vestibular, descrito por VOIT em outros Mamiferos, constituiria uma disposição constante no Homem adulto. Tambem a anastomose vestibulo-coclear descrita por OORT, foi identificada pela A. em quasi todas as series examinadas. Destes dois nervos, como do ramo cocleo-sacular, são descritos aqui o percurso e as relações quanto ao labirinto considerado em conjunto.

Por isso pois, a "macula sacculi" seria inervada por todas as tres divisões do nervo VIII.º; o ramo sacular da divisão inferior do nervo vestibular é muito mais volumoso, seja que o nervo de VOIT, seja que o nervo cocleo-sacular: este ultimo é o menor dos tres. O esquema de DE BURLET (1924) e POLIAK (1927), segundo os estudos de HARDY, deve ser pois, modificado com o accrescimo do pequeno nervo cocleo-sacular.

A. Bovero.

V. E. WESSELY - Cura de um carcinonoma endolaringêo pelos raios Röntgen (Monatsft. f. Ohr. u. Laryng-Rhin. Maio 1933. Pag. 627).

J. M. 33 anos. Infiltração tumoral da falsa corda direita. Sem ganglios regionais palpaveis. Biopsia: Carcinoma plano celular. Pulmões não atingidos. Irradiação pelo metodo de Coutard feita por Borak. A superfície exterior cutania apresenta uma Epidermiotise típica de alto gráu.

A mucosa do laringe, durante algum tempo sofre uma reação de aspecto gravissimo, com congestão inflamatoria e atinge a destruição superficial no laringe e faringe. A mucosa da parede posterior em vias de desintegração determina uma estenose acentuada. Mucosa recoberta em grande parte por uma camada brancopardacenta de fibrina.

Sintomas durante o tratamento: sensação de corpo estranho e ressecamento local.

A fase grave da reação durou 14 dias aproximadamente. Debaixo da camada de fibrina reapareceu gradativamente a mucosá normal, o edema regrediu.

Permanece o quadro de uma laringite cronica. A mobilidade das cordas locais voltou com desaparecimento do tumor.

O lugar do tumor ainda se reconhece por uma diferença de coloração.

Biopsia depois da irradiação: tecido sem reação especifíca. O aspecto do laringe ha cerca de 9 meses não apresenta alteração. Nota-se um defeito na falsa corda direita e espessamento da extremidade da esquerda.

Cordas vocais ligeiramente espessadas de boa mobilidade. Dobras ariepiglotica ligeiramente demaciadas.

Até hoje não se manifestou reação ganglionar.

Estado geral do paciente notavelmente melhorado, aumento de 13 kilos.

Permanecendo durante um tempo prolongado as condições em que o paciente se apresenta, teremos um dos primeiros casos em que se podera falar da cura clinica de um carcinoma do laringe, por tratamento pelo raio X, metodo de Coutard.

L. FORSCHNER - Quadro laringoscopico da epiteliolise (epitelite) na Röentgenterapia pelo metodo de Coutard nos carcinomas de laringe. (Monatsft. f. Ohren. u. Laryng-Rhinol. maio 1933. Pag. 628).

Paciente de 76 anos; pelo tratamento apresenta epiteliolise que é a reação da mucosa nos tratamentos pelo Coutard demonstrando irradiação correta e integral por este metodo.

Edema inflamatorio da mucosa com massas membranosas que são descamações epiteliais da mucosa, analogas as do pênfigo. Esta reação deve-se apresentar alcançando em alguns dias seu ponto culminante e depois regredir gradativamente.

DISCUSSÃO: - BORAK: Já foram apresentados ha um ano dois casos de carcinomas amigdalianos e agora dois do laringe que irradiei pelo metodo de Goutard e se mostram até hoje livres de sintomas. Nos tumores amigdalianos e do laringe encontramos os testes do metodo onde Coutard estabeleceu a eficiencia de suas irradiações.

Norma de tratamento: Aplicações diarias de dóses relativamente pequenas durante algumas semanas resultando aplicação de muitos mil "r".

Norma de evolução: Regaud estabeleceu que os carcinomas epiteliais chatos da péle só são destruidos por dóses que destrótem tambem o epitelio normal.

Coutard extendeu o criterio tambem aos epitelios chatos de mucosas que, precisam sofrer no tratamento dos carcinomas, distruição sem necrose do tecido conjuntivo.

As dóses capazes desta destruição foram tomadas como base para irradiação dos carcinomas, dos epitelios chatos, das mucosas da boca e vias aeriferas superiores.

Praticamente trata-se de aplicar dóses capazes de determinarem a destruição de uma certa categoria de celulas que são as celulas originarias do tumor.

Nós damos a este fenómeno o nome de "epiteliolise", embora autores franceses adotem a expressão "epitelite" porque a reação representa destuição e quéda do epitelio provocada.

O epitelio cutaneo para ser destruido precisa ser atingido por dóses de raio X que se alcançam ao fim da quarta semana de aplicações, ao passo que no epitelio da mucosa a reação já se observa ria terceira semana.

Estamos de pleno acordo com Coutard em tudo o que deduzimos de nossa observação propria. O aparecimento da epiteliolise é condição indispensavel para o desaparecimento de um carcinoma de epitelio chato. Sem epiteliolise a irradiação não atingiu a dóse eficiente. Nota-se que esta reação da mucosa não representa um acidente que devesse ser evitado mas sim uma condição de cura do carcinoma. Esta é a norma e a base em que se funda o metodo de Coutard. Estabelecido que esta dóse descrita é a dóse mínima, temos que reconhecer que os limites de aplicação só podem ser indicados pela pratica que ensina a extensão de epiteliolise necessaria a cada caso particular, não se póde pois, suspender as aplicações com a aparição dos primeiros sinais de epiteliolise, não se podendo todavia levar a destruição a limites por de mais extensos, dependendo a dóse da extensão do tumor. Nos carcinomas do laringe temos feito dóses entre 7.000 e 10.000 "r" por duas entradas.

Quanto mais extensa a epiteliolise mais intensos os sintomas: dôr a deglutição, rouquidão, tósse e formação de mucosidade, além de notavel baixa do estado geral do paciente com perda de peso.

Terminada a irradiação em pouco tempo, inícia-se a epitelisação a partir dos bórdos e de ilhótas que permaneceram integras, durando a reconstituição um tempo proporcional a destruição atingida; nos casos bons duas semanas. Só depois da reconstituição póde-se julgar das alterações do tumor.

Nas reações extensas da mucosa não se póde proseguir com as aplicações, mesmo que o tumor não tenha regredido inteiramente.

A reabsorção do tumor dar-se-á com a reconstituição do epitelio, obtendo-se finalmente desaparição do tumor e "restitutio ad integrum" da superfície lisada.

K. Kofler: chama a atenção sobre a faringite seca que observou nos casos irradiados e especialmente em um caso de actinomicose irradiado com bons resultados.

Wessely afirma que esta faringite seca é combatida vantajosamente pelo Néo-Cesol.

Dr. M. Roso Nobre.

J. L. FORAN, H. M. SCHEAFF e R. W. TRIMMER - (Chicago). -Nota previa sobre o tratamento da angina-agranulocitica, pelo emprego peroral e parenteral do extrato de figado. (J. Amer. Med. Ass. 1933, 100, 24, pag. 1917).

Uma regressão da granulopenia teve lugar em todos os 5 casos descritos e tratados com extrato de figado (injeção muscular ou intravenosa, cada 8 a 12 horas, de equivalente a 100 gramos de figado).A via intravenosa foi a preferida para os casos agúdos, o extrato foi diluído até 20 cms. com agua distilada e injetado, muito lentamente (nunca menos de 5 minutos); nos casos mais benignos fizeram ou injeção intra-muscular ou aplicaram per os. Um doente teve uma recindiva e morreu em consequencia de uma pneumonia, os 4 restantes foram curados clinica e hematologicamente. Nos 4 casos aumento dos leucocitos foi surpreendente, a semelhança do aumento dos reticulocitos na anemia perniciosa, somente em um deles que se apresentou particularmente intoxicado, o aumento processou-se aos poucos.

M. O. R.

PROF. RIETSCHEL - Tratamento da difteria na pratica. -
(Münch. Med. Wochft. Pag. 1927. N.o 49. 1933).

O autor, depois de inumeras considerações, já de conhecimento geral, em torno da difteria e seu tratamento na atualidade interroga:

Quanto sôro, ou quantas unidades anti-toxicas deve dar o medico ?

Depois de discutir a diversidade de opiniões que, pode-se dizer, varia com cada paiz, conclue, de acordo com sua extensa pratica, a dose deve variar com a gravidade de cada caso, indo até 10 á 20.000 unidades antitoxicas, que não deve ser passada. Nos casos benignos, ainda no primeiro e segundo dia de molestia, 5.000 unidades serão suficientes. Os casos chegados já no terceiro dia da molestia receberão 8-10.000 unidades. Quando mais graves se apresentarem tanto maior a dóse empregada. As pequenas dóses 1-2.000 unidades, tão comumente empregadas pelos medicos, em geral, são, absolutamente insuficientes, sobretudo nos casos graves.

Outra questão de suma importancia que o autor estuda, e e: deve o medico renovar a injeção nos dias seguintes?

O diagnostico está certo e uma injeção em dóse suficiente (8-10-20 v. a.) foi feita, então não haverá fundamento algum para renova-la nos dias seguintes. A repetição só deverá ter lugar quando, de inicio, tiver sido aplicada dose pequena, e passadas 24, 42 horas o paciente não apresente melhora alguma no estado geral. Aqui poderemos dar calmamente outras dóses que não sejam exageradas. O perigo da anafilaxia não existe dentre os primeiros 4 a 5 dias, pois que a formação de anti-corpos, produzidos pela molestia do sôro, só se dará no minimo dentro de 8 á 9 dias.

O autor, em seguida, põe em fóco a questão da concentração do sôro, e depois de varias considerações, conclue que o sôro de concentração elevada é de dificil reabsorção e, por conseguinte, que o melhor será o de concentração entre 400-500 v. a. por ccm. cuja injeção total variará de 20 á 40 ccm.

Fala, depois, sobre a vacinação previa para as pessôas que já tenham tomado injeções de sôro de cavalo, afim de que sejam evitados os fenomenos anafilaticos.

M. O. R.

RUBALTELLI, E. - Contributo alla conoscenza dell'innernazione della laringe nell'uomo. - (Arch. ital. Otol., Rinol. e Laringologia, vol. XLV (em homenagem ao Prof. Calamida), 556-660, 1933.)

O A. utilisou para o seu estudo tres embriões de 2 a 3 meses e tres fetos de 4 a 9 meses, tratando-os com o metodo de CAJAL, na sua formula original ou modificada por DE CASTRO, tendo para isto fixado os primeiros "in toto" e somente a parte necessaria dos ultimos.

O substancioso trabalho, que pode mesmo ser considerado fundamental, é dividido em tres partes que tratam respectivamente da "Distribuição geral dos nervos no laringe do Homem", da "Inervação motora dos musculos intrinsecos do laringe" e da "Contribuição simpatica para a inervação do laringe".

Na primeira parte, antes dos seus resultados pessoais, expõe os dados classicos sobre a anatomia dos nervos laringeos; a seguir, baseado já nas suas preparações, faz uma breve descrição da topografia e da histologia dos ganglios nodoso do vago e simpatico cervical superior, assinalando, na porção cranial daquele, a origem dos primeiros feixes de fibras do nervo laringeo superior. Ocupando-se mais detalhadamente dos nn. laringeos, trata primeiramente do superior apontando a sua origem aparente na face ventro-medial do ganglio nodoso; descreve as suas anastomoses e a sua divisão terminal em dois ramos, interno e externo. O ramo interno, com a mesma topografia e mesmo decurso que no adulto divide-se em 4 ramusculos: dois ventrais e dois dorsais; os ventrais vão á mucosa das dobras ari-epigloticas, faringo-epigloticas, ás duas faces da epiglote e passando pela face interna das pregas glosso-epigloticas, vão á base da lingua. Os ramusculos dorsais, acompanhando a porção posterior das dobras ari-epigloticas, atingem a parte postero-superior da glote onde formam rica rêde nervosa que ultrapassa, nesta região, a linha mediana; os filetes dorsais que não terminaram na mucosa, com trajeto descendente vão aos musculos aritenoideos transverso e obliquo e talvez ao cricoaritenoídeo posterior. Esta observação é certamente um dado a mais em oposição ao que classicamente se admite, isto é, a funccão sensitiva exclusiva do ramo interno do laringeo superior.

O ramo externo deste nervo tem tambem, pelas observações do A., uma distribuição mais extensa do que geralmente se descreve; assim, alem de um filete para os mm. constrictores medio e inferior do faringe, e dos ramusculos (considerados até agora terminais) para o m. crico-tiroidêo, o ramo ext. do laringêo sup. vae tambem aos musculos tiro-aritenoideo e crico-aritenoideo lateral.

Sobre o laringeo inferior, trata da sua origem macroscopica, das suas relações, do seu trajeto. Descreve a sua divisão em dois ramos: um ventral (para o m. crico-aritenoideo lateral), dorsal outro, subdividido por sua vez em dois outros, uma lateral, que entra na constituição da alça de Galeno e outro medial; alem disso menciona os colaterais para o esofago, traquéa, corpo tiroide, arteria e veias tíroideas, assim como as anastomoses com o simpatico.

Ocupa-se depois o A. da exístencia no Homem, de um nervo homologo do n. laringeo medio, descrito por EXNER no Coelho e por LEMERE no Cão; o A. admite a existencia desse nervo e diz que, embora nascido aparentemente do laringeo inf. tem sua origem real no plexo laringo-esofageo. Com trajeto ventral, ele vai terminar nos feixes dorsais do m. crico-tiroideo.

Tratando da invervação motora do laringe, faz uma sintese dos dados fisiopatologicos experimentais desde LONGET (1842) até LEMERE (1932), concluindo que em face da contradição existente entre os AA., esses dados são de dificil aplicação pratica. Assinala então a distribuição muscular dos nn. laringeos, segundo suas observações. Assim, o ramo externo do laringeo superior, abandonando ramusculos ao m. crico-aritenoideo vae terminar na porção anterior dos mm. crico-aritenoideo lateral e tiro-aritenoideo. O r. homologo do 1. medio do Coelho, assinalado pelo A. nó Hómem, perde-se somente no m. crico-tiroideo. O I. inferior, pelo seu ramo posterior subdividido cede ramusculos aos mm. crico-aritenoideo posterior, entra na formação da alça de Galeno de situação, existencia e constituição discutidas, e atravessando a linha mediana vae ao m. aritenoideo; pelo ramo anterior inerva os mm. crico-ari-, tenoideo, exclusivamente homolaterais.

Sobre a participação do r. int. do laringeo sup. na inervação motora, já foi dito acima que êle vae aos mm. aritenoideos transverso e obliquo e talvez mesmo ao crico-aritenoideo posterior.

A inervação muscular é estrictamente unilateral para os mm. crico-tiroideo, tiro-aritenoideo, crico-aritenoideo lateral; mas é tambem contro-lateral para os mm. crico-aritenoideo posterior e aritenoideos; alem disso, alguns mm. têm dupla inervação, como o cricotiroideo, crico-aritenoideo lateral, tiro-aritenoideo, o crico-arítenoideo posterior e os aritenoideos.

Quanto á contribuição simpatica, expõe antes sucintamente a anatomia do simpatico cervical e os factos fisiopatologicos dependentes deste; trata de discutida questão da inervação simpatica dos mm. estriados, admitida pelos histologistas e tida como secundaria pelos fisiologistas na regulação do tonus. Quanto aos mm. laringeos esta participação é aceita pelos anatomistas e clinicos e negada pelos fisiologistas.

O componente simpático do laringe sup. vem pelas suas anastomoses com o ganglio cervical superior; o do laringeo inf. pelas suas anastomoses com a cadeia latero-vertebral, ao nivel da alça subclavia e tambem ao nivel do eventual ganglio cervical medio. Alem disso os plexos perivasais especialmente das arterias laringeas sup. e media enviam filetes aos mm. laringeos.

Como apendice ocupa-se da participação dos mm. laringeos na formação do plexo laringo-faringo-esofagéo, de importancia na interpretação de sindromos associados (laringo-faringeos).

O trabalho é muito bem documentado com microfotografias de preparados pessoais e contem completa lista bibliografica.

O. Machado de Sousa.

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