Versão Inglês

Ano:  1934  Vol. 2   Ed. 3  - Maio - Junho - ()

Seção: Associações Científicas

Páginas: 228 a 232

 

ASSOCIAÇÕES CIENTIFICAS

Autor(es): -

ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA
Secção de Oto-rino-laringologia

Sessão de 17 de Abril de 1934

Presidida pelo Dr. Homero Cordeiro e secretariada pelos Drs. Horacio de Paula Santos e Rubens V. de Brito, realizou-se a 17 de Abril ultima, a quarta sessão ordinaria do presente ano, da Secção de Oto-rino-laringología da Associação Paulista de Medicina.

ORDEM DO DIA:

1.º - DR. REBELO NETO (S. Paulo) - «Enxertos e inclusões na cirurgia plastica do nariz».

Resumo: Refere-se o A. sobre as substancias empregadas no trabalho de reconstrucção do nariz, que são as mais variadas. Téce comentarios apenas sobre as que possue experiencia pessoal.

Dentre os enxertos cita a pele, o tecido adiposo, a cartilagem; dentre as inclusões, o marfim, a cortiça e a parafina. A pele, quer em retalhos pediculados ou completamente livres, quer em sua totalidade, quer desdobrada em suas camadas componentes - epiderme e derma - oferece um recurso de grande valôr. Os enxertos de gordura constituem ótimos niveladores de depressões. A cartilagem pode provir do septo, da orelha ou das costelas. E' bem aceita quando transplantada, mas pode reduzir-se de volume, com o decorrer do tempo. O marfim é bem tolerado. A cortiça não oferece grandes vantagens e sofre alterações de forma, post-operatorias. Refere-se sobre a parafina, sob a qual pésa a condenação da grande maioria dos autôres, não aconselhando o seu uso. Diz o A. que a cirurgia plastica nasal impõe um criterioso ecletismo na escolha do material reconstrutivo, devendo-se ter em mira a perfeição da operação estetica e a perenidade do seu efeito.

Sobre todas as modelidades estudadas, o A. cita casos de sua clinica particular, ilustrando a comunicação com a projecção de fotografias e apresentando ainda varios doentes operados.

DISCUSSÃO:

Dr. Schmidt Sarmento: Ouviu com atenção o trabalho do Dr. Rebelo e quanto a sua recriminação ao emprego da parafina nas plasticas nasais, diz que foi aluno do Prof. Eckstein ha 22 anos e lembra-se que esse grande cirurgião aconselhava o emprego da parafina dura (ponto de fusão á 60º). Para confirmar o êxito de emprego, refere o seu proprio caso: tinha um nariz em séla, traumatico, no qual foi feita pelo referido professor a correcção plastica com parafina, e o resultado, como se observa até hoje, foi brilhante.

Dr. Mattos Barreto: Diz que teve oportunidade de visitar nos Estados Unidos, clinicas especialisadas, onde os cirurgiões chegaram ás mesmas conclusões que as do Dr. Rebelo. Quér no entretanto referir-se a parafina e cita um caso da clinica de Halle em que este especialista fez em seu assistente Engelmann uma correcção nasal, empregando aquela substancia; o resultado foi o mais desastroso possivel, tendo Engelmann que sofrer nova intervenção, dois meses depois.

Dr. Paulo de Faria: Declara que em 1923, de volta da Europa, se propuzera fazer cirurgia plastica, mas que logo abandonou por se convencer que esta deveria ser praticada por especialistas, isto é, por cirurgiões plasticos.

Nos casos varios que operou, observou uma ligeira deformação naqueles em que empregára cartilagem, cousa que não se deu nas que empregou o marfim. Focalisa a questão do marfim sintético e do natural.

Dr. Mario Ottoni de Rezende: Fala sobre a tendencia de mais uma nova especialisação dentro da especialidade. Dá o seu apoio ao Dr. Rebelo Neto, para que forme a nova escola, que requer qualidades especiais de tecnica e de bom senso estetico. Acha que a cirurgia plastica deve ser feita por cirurgião especialisado e não por especialista em oto-rino-laringología.

Dr. Rebelo Neto (encerrando a discussão): Respondendo ao Dr. Schmidt Sarmento, diz que ao lado dos sucessos alcançados por Eckstein com o emprego da parafina, junta-se uma lista enorme de outros cirurgiões, destacando-se entre eles Pollock, que condenam formalmente o emprego desse material, devido os pessimas resultados obtidos. Discorda do que afirmou o Dr. Mario Ottoni: acha que aos oto-rino-laringologistas cabe fazer cirurgia plastica, pois já estão habituados a trabalhar por via endonasal, que demanda tanta habilidade; paciencia e apuro de tecnica.

2.º - DR. PAULO MANGABEIRA ALBERNAZ (Campinas) - "Algumas indicações da radioterapia em rino-laringologia". (Este trabalho está publicado na integra em outra secção desta revista).

DISCUSSÃO:

Dr. Schmidt Sarmento: Diz que corrobora com o seu testemunho, as verdades que o A. acaba de dizer, citando igualmente um caso de purpura hemorragica, com manifestações na boca, no faringe e no laringe, em que todos os meios usuais falharam e somente com a irradiação do baço obteve resultado benefico.

Dr. Mario Ottoni de Rezende: Diz que na sessão de Janeiro ultimo, teve ocasião de apresentar dois casos de papiloma do laringe em creanças. No primeiro, mandou fazer a irradiação 3 a 4 vezes, sem resultado, recorrendo então a ablação das massas papilomatosas pela laringoscopía diréta, tendo em dois anos praticado 30 intervenções, com o que obteve a cura do doente. Em outro caso, devido a indocilidade da creança, conseguiu a cura com uso diario de doses altas (3 a 6 grs.) de magnesia calcinada, durante três meses. Processos que dão resultados brilhantes em alguns casos, podem falhar lamentavelmente em outros. Apesar de toda terapeutica ser falivel, acredita, entretanto, que a radioterapia poderá ser eficaz quando empregada com tecnica rigorosa.

Prof. Rafael de Barros: Cita um caso de papiloma do laringe curado pelo emprego da radioterapia. Em seguida refere-se ao insucesso da radioterapia profunda no laringe, que atribue a pouca profundidade desse orgão. Focalisa a questão das pessôas radiosensiveis e faz considerações sobre a ação dos raios X, cujo modo de agir sobre os tecidos, é muito controvertido. Fala sobre a debatida questão da dóse, sobre a qual ainda não se chegou a um acôrdo, não somente pela diversidade de opiniões, como tambem por factores outros, por ex.: clima, estado higrometrico do ar, intensidade de corrente variavel etc.

Dr. Mangabeira Albernaz (encerrando a discussão): Diz que está de acôrdo com o Dr. Mario Ottoni, quando ele declara que toda terapeutica é falivel. Friza que no seu caso indicou a radioterapía, porque, segundo a idéas modernas, é o modo de tratamento mais indicado e que felizmente obteve bom resultado. Responde ao Prof. Rafael de Barros sobre a questão de tecnica de irradiações, dizendo que as citações que fez, são baseadas na experiencia alheia.

3.º - DR. GUEDES DE MÈLO F.o e PENA DE AZEVEDO (Campinas) - "Melanomas primitivo do nariz".

Resumo: Dizem os AA. que os melanomas se observam geralmente nas regiões pigmentadas. A localisação primaria nas fossas nasais é muito rara, orçando em uma vintena as obserações publicadas na literatura mundial.

Sua histogenese é assunto muito controverso. Depois de algumas referencias historicas, os AA. fazem um estudo clinico, e apresentam a observação de um doente de 42 anos, portador de um melanoma que ocupava parte da fossa nasal e todo o antro maxilar, cujas paredes anterior e interna já estavam palcialmente destruidas. Morte, com sinais de metástase, dois meses após a radioterapia. O prognostico é muito severo, em vista de precariedade dos meios terapeuticos. Os casos incipientes e circunscritos devem ser largamente operados, na expectativa de impedir as metástases causadoras da morte, em prazo geralmente pequeno.

Admitem os AA. para o caso apresentado, uma origem nervosa (celula da bainha de Schwann), de acordo com a concepção de Masson. Um dos cortes histologicos mostra claramente a disposição arboriforme dos elementos tumorais em torno de um pequeno tronco nervoso.

4.º - DR. GUEDES MÊLO F.º (Campinas) - "Gôma da orelha externa".

Resumo: A gôma sifilitica tão a miúde encontrada na garganta e nas fossas nasais, é entretanto bem rara ao nivel da orelha externa.

O A. apresenta um caso em que a ulceração gômosa havia destruido o tragus, a concha e a raiz da helix. Cura rápida pelo tratamento especifico. E' esta a unica observação entre 21.000 doentes da clínica O. R. L. do Instituto Penido Burnier.

DISCUSSÃO:

Dr. Mangabeira Albernaz: Fala sobre a raridade das gômas do aparelho auditivo externo. Só viu um unico caso de gôma do conduto auditivo externo.

Dr. Homero Cordeiro: Reputa raro os casos de gôma do conduto auditivo externo. Na clínica O.R.L. do Hospital Humberto 1º, onde ha perto de 18.000 doentes fichados, não conhece caso algum.

Dr. Guedes de Mélo F.o (encerrando a discussão): Agradece referencias dos colegas.

5.º - DR. GABRIEL PORTO (Campinas) - « Osteoma esponjoso do maxilar superior».
(Este trabalho está publicado na integra em outra secção desta revista).

DISCUSSÃO:

Dr. Roberto Oliva: Fala sobre a gênese desses tumores, citando uma serie de teorias de vários autores.

6.º - DR. ROBERTO OLIVA (S. Paulo) - «Sinusite frontal fistulisada. Cura.»

Resumo: A observação refere-se a um doente acometido de sinusite frontal, no qual a indicação operatoria era categorica, pois havia edema da palpebra, abaulamento do antro, pús e fistula. Por obstinação do doente; o tratamento resumiu-se em diatermia e banhos de luz e a cura se deu, perdurando já ha cêrca de 18 meses.

DISCUSSÃO:

Dr. Matos Barreto: Acentua que o caso é de bastante interesse. Lembra a questão da drenagem; que existia, no caso em apreço, por causa da fistula, como aconselha Hajek nos casos sub-agudos.

Lembra um caso do serviço do Prof. Paula Santos, de fistulisação da parede anterior do seio frontal. Não se tratava de uma anomalia anatomica estructural das paredes, pois a parede anterior era bastante espessa, mas sim de uma trombóse de algum vaso da dita parede. O tratamento seguido foi a cura radical pelo processo operatorio de Jansen-Ritter.

Dr. Homero Cordeiro: Acha interessante a cura, sem a cirurgia radical. Lembra um caso do Dr. Mario Ottoni, em que tambem havia fistulisação, e apesar do doente já ter sido operado 4 vezes, em periodo relativamente curto, a fistula tem reaparecido algum tempo após as intervenções! Acha que o doente do Dr. Oliva foi de uma rara felicidade!

Dr. Roberto Oliva (encerrando a discussão): Agradece aos colegas o interesse tomado pelo seu caso.

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