Versão Inglês

Ano:  1934  Vol. 2   Ed. 3  - Maio - Junho - ()

Seção: Trabalhos Originais

Páginas: 211 a 214

 

OSTEOMA ESPONJOSO DO MAXILAR SUPERIOR (1)

Autor(es): DR. GABRIEL PORTO (2)

O osteoma constitue uma variedade neoplásica pouco frequente. Eckert Möbius, em 1929, em artigo didático sobre o osteoma do nariz e cavidades para-nasais, registrava na literatura 276 casos, que, conforme sua sede e origem se dividiam:

Osteomas externos .............. ................................................................ 20 casos
Duvidosos si internos ou externos ......................................................... 35 casos
Observações em que não foi mencionada a origem sinusal primária.............. 34 casos
Osteoma do seio frontal ................................................................................ 113 casos
Osteomas do etmóide .....................................................................................55 casos
Osteomas do seio maxilar ............................................................................. 13 casos
Osteomas do seio esfenoidal .......................................................................... 7 casos

De 1929 para cá encontramos na literatura oto-laringológica mais 21 casos de osteomas, sendo 6 do seio frontal, 3 do seio maxilar, 4 do etmóide, 2 da órbita, 1 da língua, 1 do maxilar inferior, 1 da mastóide, 1 do conduto auditivo externo e 2 da fossa nasal.

Eckert Möbius julga os osteomas externos, isto é, não originários dos seios ou fossas nasais, bem raros e acredita que a frequência com que ha alguns anos eram registados é devida a exames incompletos. Com a vulgarização dos raios de Roentgen no exame das cavidades para-nasais tal localização tornou-se menos frequente. Do estudo radiográfico de nosso caso conclue-se que se tratava de um osteoma recalcando a parede ,anterior do antro de Higmore. As idades dos pacientes em que foram verificados osteomas oscilam entre 14 e 82 anos. Kaemmerer operou uma menina de 11 anos. Nosso doente era dos mais jovens possuindo apenas 14 anos. Como se, vê pela pouca frequência destas neoplasias, pela sua sede e pela idade do paciente, nossa observação apresenta alguns aspectos dignos de interesse.

Observação

C. M., 14 anos, branco, brasileiro, masculino e residente em Santa Barbara. Ficha n.º 21.060. - 7 de Março de 1934.

Anamnése - Gozou sempre boa saude e possue sete irmãos fortes. Ha cinco meses verificou uma tumefacção ao nivel do seio maxilar que lentamente se vem desenvolvendo.

Exame - Menino bem desenvolvido; de aspecto sadio apresentando deformidade na face.
Tumefação de consistência rígida ao nível da fossa canina; pela boca verifica-se que a massa neoplásica envolve grande parte do maxilar superior direito quasi atingindo as raizes dentárias. Dentes em bom estado. Rinoscopia nada de anormal revela.

Radiografia - (Costa Pinto): (fig. 1) Espessamento ósseo bastante assentuado ao nível do maxilar superior com modificação da estrutura óssea. Tumor ósseo tendendo para invasão do seio maxilar.

Operação - Anestésia local com soluto de escurocaina a 1 %. Incisão no sulco gengivo-jugal, descolamento da mucosa e logo é encontrado um tumor ósseo revestido de periósteo normal. A golpes de goiva procuramos retirar toda massa tumoral que se confundia com o osso normal, ficando o lugar onde estava o neoplasma transformado em cavidade de dimensões regulares. A parede anterior do seio maxilar não foi perfurada apesar de termos retirado quantidade apreciável de osso nesta direção.

Sequencias bôas. Edema da face regredindo rapidamente. 14 dias depois da intervenção o paciente é examinado encontrando-se em bôas condições: resultado estético excelente, ferida operatória quase cicatrizada.

Os fragmentos retirados no ato cirurgico foram enviados para exame histopatológico ao
Dr. Monteiro Salles que nos apresentou o seguinte resultado: «O material enviado consta de numerosos fragmentos de tecido de consistência firme e resistente ao bisturi semelhante a argilose, medindo cada um em média 1 cm. de comprimento por 5 mil. de largura e 3 cm. de altura; superfície irregular de côr branco-acinzentada, havendo em alguns fragmentos zonas mais ou menos escuras côr de chocolate. Fixação em formol a 10 %. Depois de prévia descalcificação, inclusão de 4 dos fragmentos em parafina. Cortes corados pela hematoxilina-eosina. O exame microscopico revela tecido ósseo de neoformação, com traves bem constituídas, orientadas em varios sentidos, com tendencia a formação de canais e cavidades. Entre as traves ósseas, ha tecido conjuntivo adultos, sem caracteres de malignidade. Diagnóstico: Osteoma esponjoso.

Tratando-se de um neoplasma essencialmente benigno e removido em sua quasi totalidade, esperamos que sejam duradouros os bons resultados obtidos com a intervenção cirurgica.

RESUME'

DR. GABRIEL PORTO - «Ostéome spongeux du maxillaire supérieur».

Après une révision dans la litterature oto-rhino-laringologique, L'Auteur fait voir que les ostéomes sont des neoplasmes peu fréquents. Il décrit ensuite L'observation d'un enfant de 14 ans présentant un ostéome spongeux du maxillaire supérieur qui fût operé ayant obtenu des bons résultats.

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

1 - A. ECKERT MOBIUS - Gutartigue Geschwülste der inneren Nase. Handbuch der Hals-Nasen-Ohrenheilkunde herausgegeben von A. Denker und O. Kahler. Fünfter Band. Seite 117.
2 - HENRY M. GOODYEAR, M. D. - Osteoma of the nasal septum. Archives of Otolaryngology, 1931. Vol. 14, Pg. 23.
3 - PERROT et MAGNIEN - Un cas d'ostéome dans la langue. Les annales d'Oto-laryngologie, 1933. 1.º sem. Pg. 725.
4 - WILLIAM COLSON - Frontal osteoma; moulding misplaced frontal septum; case report. The Laryngoscope, 1933, Pg. 677.
5 - RUIZ - Zorilla (Santander) Ostéome du sinus maxillaire. Les annales d'Oto-laryngologie, 1932. Pg. 599.
6 - J. VICHOT (Lyon) - Sur un cas d'ostéome du maxillaire inférieure. L'Odontologie, 1932. Pg. 642.
7 - LOUIS A. PARSELL, M. D., SPOKANE, WASH. - Osteoma of the frontal sinus. Archives of Otolaryngology, Vol. 16, 1932, Pg. 863.
8 - THOMAS E. CARMODY - Presentation of instruments and specimens. Archives of Otolargngology, Vol. 16, Pg.290. 1932.
9 - H. BURGER - Internal osteoma of mastoid. Resumido nos Archives of Otolargngology, vol. 15, 1932.
10 - P. BAILLIART et L. BALDENWCEK - Ostéome de l'éthmoide a developpement orbitaire. Les annales d'Oto-laryngológie, 1931, pg. 537.
11 - N. PATTERSON e H. CAIRUS - Observations on lhe treatment of orbital osteoma with report of a case. Archives of Otolaryngology, 1931, vol. 14, Pg. 836.
13 - ROBERT E. BUCKLEY - Osteoma involving Orbit, Ethmoids, Frontal and sphenoidal sinus; operation. The Laryngoscope, pg. 511, Vol. LXI.
14 - BRUZZONE - Ostéome de l'éthmoide. Annales des maladies du l'oreille, du larnyx et du pharnyx, 1930, Pg. 79.
15 - M. DAVIS - Ostéome de l'orbite et du maxillaire. Revue de largyngologie, d'otologie et de rhinologie, 1930, Pg. 418.
16 - R. O. LEAVENWORTH - Osteoma of the frontal sinus. The Laryngoscope, 1930. Vol. LX. Pg. 885.
17 - JOSEPH C. BECK - Some uncommon types of neoplasms about the head. The Laryngoscope, 1930. Vol. LX. Pg. 885.
18 - SOUKUP - Ostéome du conduit auditif externe. Archives Internationale de laryngologie, 1930. Pg. 598.
19 - LEMAITRE et AUBIN - Ostéome du sinus frontal. Annales des maladies de 1'oreille, du larynx et du pharynx, 1929, Pg. 1038.
20 - H. BOURGEOIS - Osteoma nasal. Archives International de Laryngologie, 1929. Pg. 454.




(1) Comunicação á Secção de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina em 17 de Abril de 1934.
(2) Oto-laringologista do Instituto Penido Burnier

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