Versão Inglês

Ano:  1936  Vol. 4   Ed. 2  - Março - Abril - ()

Seção: Associações Científicas

Páginas: 98 a 101

 

ASSOCIAÇÕES CIENTIFICAS

Autor(es): -

SECÇÃO DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA

Sessão de 17 de Fevereiro de 1936

Presidida pelo Prof. Paula Santos e secretariada pelos Drs. Jaime de Campos e Othoniel Bueno Galvão, realizou-se no dia 1 7 de fevereiro de 1936 a segunda sessão ordinaria da Secção de Oto-rino-laringologia, da Associação Paulista de Medicina.

Após a leitura e aprovação da áta da sessão anterior, no expediente, o Prof. Paula Santos propõe á Casa e a proposta é aceita, para que se nomeie uma commissão composta dos Drs. Raphael da Nova, Paulo Sáes e Mario Ottoni de Rezende para estudar a regulamentação do premio "Henrique Lindenberg".

ORDEM DO DIA:

I.° - PROF. PAULA SANTOS E DR. HUGO RIBEIRO DE ALMEIDA (S. Paulo) - Sobre um caso de osteite de origem dentaria.

Resumo: Menina de 11 anos após uma inflamação facial de origem dentaria, por ocasião da queda do 1.° molar temporario, teve uma fistula juxta-piramidal á esquerda e um abcesso da fossa canina aberto pela boca. Três meses depois do inicio do processo, apresentou-se á consulta, na clinica do Prof. Paula Santos. O exame da doente mostrou uma fistula supurando abundantemente, corrimento purulento pelo nariz e signais radiologicos de uma pansinusite á esquerda. Os dentes definitivos, perfeitos. Feito um tratamento antiluetico de prova por dez dias e executada uma intervenção cirurgica pelo Prof. Paula Santos. A incisão feita sobre a fistula como para sinusite frontal, mostrou uma destruição da parte da parede da piramide do nariz, com sequestros osseos. Foi feito o esvasiamento do etmoide anterior e posterior, e curetagem do seio frontal, cujo soalho estava destruido parcialmente; pela fossa canina aberto o sinus maxillar, e curetado. A doente teve alta curada após 8 dias da intervenção. Os AA. mostraram como este caso vem afirmar a opinião de Dechaume quando julga que as osteites de origem dentaria são, na maior parte das vezes, consequencia de um processo da mucosa ou do periosteo e muito raramente osseo. O nascimento de dentes perfeitos depois do processo inflamatorio confirma esta opinião.

Fizeram tambem o diagnóstico diferencial com os processos sifiliticos e terminaram aventando que á intervenção radical atribuiam a rapidez da cura.

DISCUSSÃO:

Dr. Paulino Guimarães: Acha que o trabalho é muito interessante e que foi claramente exposto não havendo nele nada a se discutir.

Dr. Nicolino Raimo: Diz que ás vezes a reabsorção dos molares temporarios se dá de tal forma, que eles se tornam delgados laminas como verdadeiras navalhas, de modo que ao serem extraidos podem traumatisar a gengiva que se infecciona e esta infecção pode se generalizar como se deu neste caso.

Dr. Raphael da Nova: Diz que observou um caso que tem muitos pontos de contacto com o apresentado. Tratava-se de uma osteite do maxilar, de origem dentaria, em uma creança de 3 anos de idade, de modo que quando retirou todo o osso necrosado, teve de sacrificar os germes dentarios da hemi-arcada correspondente. Havia essa indicação operatoria, porque a quantidade de pús era muito grande. Foi tambem instituido o tratamento especifico que apressou a cura.

Prof. Paula Santos: Agradece ao Dr. Hugo Ribeiro de Almeida pelo facto de ter associado seu nome ao trabalho, pois que tudo que foi feito foi da autoria do Dr. Ribeiro de Almeida, que como seu assistente não quiz figurar sozinho como autor do trabalho. Diz que esses casos não são raros mas todas circunstancias faziam com que este se prestasse a um registro como foi feito. O facto que mais se sobreleva nesta operação, foi o de se poder operar pela fossa canina, porque, todos os germes dentarios já se haviam manifestado, em caso contrario seria preciso operar por via externa, o que sempre deixa uma cicatriz antiestetica. Quasi sempre é necessario que se faça nestes casos, um tratamento especifico juntamente ao operatorio, porque a osteite quasi sempre é de origem especifica.

II.° - DR. FRIEDRICH MÜLLER (S. Paulo) - Sobre um caso de forte cefalalgia cronica intermitente oriunda de etenoidite esteoplastica. Exenteração do osso etmoide, cura.

Resumo: O A. fala sobre um caso de inflamação cronica do osso etmoide esquerdo, caracterisado principalmente por dores intermitentes e da intensidade progressivamente maior.
Não surtindo efeito os tratamentos efectuados, resolveu o A. realizar a exenteração do etmoide esquerdo com exito completo. A' intermitencia das dores o A. procura explicar por influencias toxicas sobre a funcção das anastomoses arterio-venosas precapilares de Harlicek.

DISCUSSÃO:

Prof. Paula Santos: Agradece ao A. a apresentação do trabalho e o felicita pelo exito que teve com o tratamento empregado.

II.° DR. J. RIBEIRO DOS SANTOS (S. Paulo) - Caso de paralisia facial tratado pela stelectomia (Nota prévia).
Resumo: O A. praticou, num caso de paralisia facial clinicamente incuravel por outros meios, ensaiando a stelectomia cuja tecnica descrita por Lerich, ele resume. Relata os bons resultados imediatos.

DISCUSSÃO:

Dr. Mario Ottobrini: Felicita o A. pelo trabalho apresentado e diz que como tem 2 casos operados de stelectomia, deseja trazer uma contribuição a esse trabalho. Esta questão do simpatico tem sido estudada ha varios anos, mas só agora é que ele se tem dado a importancia que merece. Lerich e outros já interviam sobre o simpatico superior, mas não sobre o gânglio estrelado. Está provado que o gânglio estrelado é a chave do simpatico cervical, chegando a ele as fibras pre-gânglionares, de modo que se não se intervem sôbre ele, não se tem os resultados desejados. Este caso é muito interessante, porque ha muitas intervenções sôbre os nervos da face e outras operações para o tratamento da paralisia facial, que não dão o resultado esperado, ao passo que a stelectomia deu bons resultados. Esta operação é indicada em grande numero de casos: Paralisia facial, na causalgia do mediano, na tromboangeite obliterante, etc. Tem 2 casos de stelectomia: um operado em 21 de Janeiro de 1936 e outro em 16 fevereiro do mesmo ano, estando satisfeito com os resultados obtidos.

Dr. Rebello Netto: Felicita o A. por essa comunicação que acha interessantissima. Dado as melhoras dos sintomas já observados, é de crer que com o tempo elas se acentuem. Acha que não se pode falar de paralisia facial sem que lembre dos trabalhos de Balance Dewar, trabalhos que, segundo consenso unanime, são uns dos mais notaveis da medicina do nosso tempo. Deseja tambem frizar o auxilio enorme que o tratamento plastico pode trazer para os casos de paralisia facial, quer nos casos em que a stelectomia não pode ser praticada, quer como adjuvante dessa operação, mesmo nos casos em que ha uma degeneração completa dos musculos. A seguir projecta algumas fotografias de um doente, com paralisia facil, por ele operado, tendo sido feita uma operação plastica com ótimos resultados.

Dr. Mattos Barreto: A paralisia facil, com tantos processos tem levado muitos especialistas a desanimar quasi por completo de qualquer intervenção no facial e a recomendar que se espere, pelo menos 10 anos, para se julgar os resultados de uma intervenção para a sua correcção. Felicita o A. pelos resultados obtidos com a stelectomia; as estatisticas desta operação ainda não são grandes, mas todos os resultados tem sido felizes e parece que esta operação de agora por diante vae ser empregada com maior frequencia nos casos de paralisia facial.

Dr. Paula Santos: Felicita o A. por esse trabalho de cirurgia na paralisia facial; esse trabalho representa indubitavelmente um altissimo esforço. Lembra aos colegas que praticarem essa operação, que observem os efeitos possiveis que a mesma exerça sobre o nariz, porque talvez tenha alguma ação benefica sobre á ozena: tudo o que se possa fazer para o tratamento dessa molestia deve ser tentado.

IV.º - DR. J. RIBEIRO DOS SANTOS (S. Paulo) - Caso de câncer da base da lingua.

Resumo: Apresenta um caso de epitelioma intersticial da base da lingua com metastase cervical.

Praticou o esvasiamento cefalo-gânglionar, processo de R. Bernard.

Discute numa serie de questões relativas á observação clinica. Formula uma hipotese para explicar como a sifilis, doença geral, pode predispor o organismo para o câncer, justificando ao mesmo tempo essa hipotese.

DISCUSSÃO:

Dr. Mario Ottobrini: Diz que o trabalho é interessante e foi muito bem apresentado, mostrando que o A. tem grande conhecimento do assunto. Quando trabalhava na l.ª Cirurgia de Homens, na Santa Casa, observou um grande numero de casos desta natureza, que eram rotulados como adeno-carcinoma do pescoço e que eram tratados fazendo-se o esvasiamento do pescoço. Era de opinião que nesses casos havia um foco originario, que era preciso ser pesquizado; no caso apresentado hoje, esse foco era na base da lingua e de tal modo, que, se não fosse o exame cuidadoso, o do Dr. Ribeiro dos Santos, passaria desapercebido. Acha que nesses casos o tratamento pela tecnica de Bernard oferece grande vantagem, porque, com ela se consegue o esvasiamento bilateral, o que dá melhores resultados.

Dr. Raphael da Nova: Diz que seguiu o decurso post-operatorio desse doente e deseja salientar a importancia do áto cirurgico nesses casos; outro ponto interessante a salientar é o cuidado que é preciso ter para classificar como metastase, um aumento de gânglios nesses casos, pois ás vezes o que se supõe um metastase, não é mais do que uma reação inflamatoria.

Dr. Paula Santos: Felicita o A. pelo brilhantismo dessa observação, reveladora da excelente escola de cirurgia geral que teve; lembra que nesses casos, é sempre necessario que se faça o esvasiamento dos gânglios do pescoço para ter bons resultados, sem o que a operação é inutil.

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