Ano: 1936 Vol. 4 Ed. 1 - Janeiro - Fevereiro - (2º)
Seção: Trabalhos Originais
Páginas: 13 a 15
CONTRIBUIÇÃO A TÉCNICA DA LOCOVACINOTERAPIA DAS RINITES ATROFICAS
Autor(es): DR. SYLVIO CALDAS (1)
O trabalho que ora apresentamos não abrange, de certo, a questão controverssissima da curabilidade da ozena, e adstrínge seus limites ao estudo de um dos sectores da terapêutica das rinites atroficas - a técnica da locovacinoterapía.
A extrema discordancia de opinão entre os autores, acêrca da eficiencia deste tratamento, decórre da multiplicidade das técnicas empregadas. Os detalhes de execução da locovacinoterapia nasal ainda não estão padronizados, e, o que é mais importante, infringem por todos os modos os preceitos fundamentais da doutrina de Besredka tão solidamente preestabelecidos em repetidas verificações experimentais - contacto intimo e permanencia prolongada entre o filtrado e o fóco da infecção.
A razão desta infração decorre, ao nosso vêr, da propria condição morfologica do terreno que nossa especialidade abrange - orgãos cavitarios escusos e anfratuosos, cujos reconditos só se deixam alcançar pelo proprio especialista - o que vale dizer inaccessiveis ás mãos do doente, privados, assim, da passibilidade vantajosa de curativos frequentes e triviais.
O emprego de filtrados no nariz pode ser realizado pelo proprio doente, mediante instilação e pulverização da vacina em naturêza ou pela aplicação de pomadas ou crême-vacinas; são, no entretanto, processos de resultado precário, uma vez que nenhum deles satisfaz suficientemente aos preceitos de uma bôa vacinoterapia. Na instilação e na pulverisação o filtrado banha, por um momento apenas, a mucosa doente, e escórre logo depois para o naso-faringe.
As pomadas, sejam ou não gordurosas, ao lado de realizar uma aderencia demorada, teem no entretanto a desvantagem de não permitir os fenomenos de osmóse tão interessantes e necessarios na terapêutica das mucosas, e não produzem, na rinite atrofica, o resultado que era de esperar.
Embora menos simples, são incomparavelmente mais eficazes os processos que exigem a intervenção do especialista, cumprindo destacar dentre eles o tampão de demora; esta, é, sem duvida, a melhor maneira de aplicar proveitosamente os filtrados, uma vez que, além de permitir contacto intimo e longa permanencia, oferece ainda a vantagem de realizar fenomenos osmoticos entre o remedio e a mucosa doente, assegurando assim uma maior penetração.
O problema do tampão de demora é a questão de sua permanencia; a aplicação e a retirada do curativo pelo proprio especialista redunda em uma serie de dificuldades de ordem prática, a ponto de restringir o emprego deste metodo. De facto, si o doente, depois de aplicado o tampão, permanece no consultorio á espera que decorra o tempo necessario á uma boa permanencia, perderá algumas horas de sua provavel atividade; por outro lado, si preferir retirar-se e voltar depois para que o especialista retire o curativo, terá uma solução igualmente incomoda. Como quer que sêja, será um tratamento embaraçôso e pouco prático a que só se submete um doente extremamente paciente ou excecionalmente desocupado.
Para remover tais obstáculos, costumamos empregar o tampão de demora sob a forma de tampão cativo, á moda dos ginecologistas - amarrado a um fio de linha de modo a ser facilmente retirado pelo proprio doente.
Com um pouco de algodão hidrófilo de bôa qualidade, confeccionamos uma mécha achatada, fixamo-la á extremidade de uma linha, impregnando-a em seguida com o filtrado; com o auxilio de uma pinça de curativos aplicamos a mecha assim preparada sobre a porção da parede lateral do nariz, acima do corneto inferior. Um tampão esférico será menos conveniente porquê oferece menor superficie de contacto, tornando-se assim menos aderente; o curativo não deve alcançar a porção inferior da fossa nasal, não só porquê esta região é pouco atingida pela rinite atrofica, como tambem por ser aí a zona respiratoria do nariz. Um tampão colocado neste ponto, além de obstar a respiração está sujeito a ser acidentalmente expulso durante um acesso de espirros, ou mesmo por uma expiração mais intensa. Uma linha grossa ou excessivamente longa é, do mesmo modo, um obstaculo inutil; é suficiente um fragmento de cêrca de 12 centímetros de linha de costura N.° 40, devendo sua extremidade ser colocada de preferencia na fosseta da narina onde o doente irá procurá-la no momento de retirar o curativo.
Quando o paciente não está habituado ao tratamento, e receia não encontrar a extremidade da linha, é conveniente aí fixar, á guiza de reparo, uma bolinha de algodão comprimido, do tamanho de um grão de arroz (Fig. 1 ).
Aplicado deste modo o curativo, pode o paciente entregarse ás suas ocupações habituais, sem o minimo incomodo, não fica proibido de assôar-se moderadamente, e não necessita voltar ao consultorio para que o especialista retire o curativo; o proprio doente o fará, findo o prazo de uma bôa permanencia, puxando delicadamente a extremidade da linha. O tempo de permanencia varia conforme os casos, sendo no entanto suficiente na maioria das vezes o prazo de 3 a 4 horas.
Tal metodo de vacinoterapia local nos tem dado, em uma meia centena de casos, resultados animadores; empregamos habitualmente o Loco-Rinovacin em series de 20 tratamentos conyecutivos, intervalando uma semana entre uma serie e a seguinte. As vezes, no começo do tratamento, verificam-se fenomenos reacionais discretos, tais como recrudescencia das secreções e ligeira cefalalgía, seguindo-se em breve as melhoras.
Descrente, como todos os rinologistas, da curabilidade da ozena verdadeira, julgamos, porém, o tampão cativo um tratamento interessante, sendo ele, sem duvida, a melhor maneira de praticar a lòcovacinoterapia nasal.
RESUME
DR. SYLVIO CALDAS - Contribution à Ia technique de Ia locovaccinothérapie dez rhinites atrophiques.
L'auteur signale que les techniques de locovaccinothérapie nasale d'usage courante (instillations, pulverisations, attouchements et pommades) ne correspondent pas aux conseils que les recherches experimentales ont etabli, c'est a dire, le contact intime et une longue permanente.
11 propose, comme méthode de choix, 1'application de 1'ouate captive, c'est a dire, 1'usage d'une mèche de coton impregnée du filtrat et fixée à 1'extremité d'un fil, comme il eat d'usage dana Ia pratique gynecologique. Avec une pinte à curatif, on applique Ia mèche sur Ia paroi latéral de Ia fosse nasale en laissant 1'extremité du fil à Ia concavité anterieur de Ia narine.
Arès deux ou trois heures, le malade lui même, se debarrasse du curatif, en tirant doucement 1'extremité du fil.
L'auteur, qui n'est pas optimiste sur Ia guérison radicale de 1'ozene, estime d'ailleurs cette technique comme le meilleur procédé pour pratiquer Ia locovaccinothérapie nasale.
(1) Assistente da Clinica O. R. Laringologica da Faculdade de Medicina de Recife.