Versão Inglês

Ano:  1939  Vol. 7   Ed. 3  - Maio - Junho - ()

Seção: Notas Clínicas

Páginas: 287 a 288

 

SOBRE ALGUNS CORPOS ESTRANHOS MAIS RAROS DO NARIZ

Autor(es): FRIEDRICH MOLLER

S. PAULO

Permito-me mostrar aos colegas alguns corpos estranhos mais raros do nariz, que removi nos ultimos anos. Trata-se de um percevejo metalico, um pequeno fragmento de madeira, um fragmento de borracha encrustada, alguns finos ramos de cipreste e, finalmente, um caso de miíase nasal com propagação á mucosa faringéa. Alem destes, permito-me mencionar um caso de larvas em que o doente libertou-se de seus grandes sofrimentos por meio do suicidio.

1.º CASO: - um percevejo penetrou na mucosa do septo nasal pela ponta, ficando a sua cabeça presa á mucosa do corneto inferior. A parada do corpo estranho nessa zona foi favorecida por um desvio do septo, ocasionando um estreitamento, não deixando o percevejo progredir para a retro-fossa.

Depois de limpar e anestesiar a fossa nasal, foi o percevejo retirado com facilidade. Esse corpo estranho vinha provocando hemorragias nasais repetidas, obrigando o paciente a procurar o medico.

2.º CASO: - um fragmento de pau, talvez se tratasse de uma fruta, permaneceu na fossa nasal de uma senhora pelo espaço de 35 anos e que o introduzira, nas narinas, provavelmente na infancia, pois a mesma não se lembrava de nada, notando, sómente, certa dificuldade á respiração desse lado, com secreção e máu cheiro a que já estava acostumada. Suspeitando de uma supuração do seio maxilar procedi para punção, descobrindo no tecido inchado uma resistencia especial, de côr escura, marron, que removi por meio de cureta curva. A cavidade maxilar, a-pesar-do longo espaço de tempo que o corpo estranho permaneceu na fossa nasal, não se infectou.

3.° CASO: - removi, da fossa nasal de um menino com 14 anos de idade, um fragmento de borracha encrustada que dificultava a respiração nasal pela fossa esquerda e por onde fluía pús amarelado e exala máu cheiro. O exame revelou a presença de enorme corpo estranho que, após anestesia local foi pinçado e retirado. O interessante é que esse paciente nunca sofreu de dóres de cabeça.

4.° CASO: - é muito curioso. Trata-se de um viajante, com 40 anos de idade, que, em uma de suas viajens pelo interior do Estado, gripou-se, com dôres de cabeça intensas. Na falta de recurso medico, o proprio paciente resolveu praticar um tratamento derivativo, introduzindo no nariz, do lado direto, alguns ramos de cipreste, esperando, dessa maneira, curar a inflamação dos seios. Dentro de alguns dias as dôres desapareceram, mas, aos poucos, desenvolveu-se uma secreção purulenta fétida acompanhada de dôres de cabeça mais ou menos intensas e continuas, suspeitando, então, o paciente, de que alguns ramos de cipreste tivessem ficado nó nariz. Examinando o paciente, cujo nariz se encontrava inchado e repleto de secreção purulenta, após adrenalina e néotutocaina, retiramos, em algumas sessões. diversos ramos de cipreste escondidos nos meatos médio e superior. Exames posteriores demonstraram a cura completa do paciente, não sobrevindo a infecção secundaria dos seios da face.

5.º CASO: - trata-se de um caso de miíase nasal em uma senhora com 60 anos de idade e da qual removi, mais ou menos, 240 larvas de uma mosca. Tres dias antes, quando conversava na rua com uma vizinha, uma mosca penetrou em seu nariz, mas, após forte espirro, a mosca saíu; entretanto, instantes após, uma segunda mosca volta a penetrar em seu nariz e aí se estabelecer por pequeno espaço de tempo, segundos apenas, mas que bastaram para depositar, mais ou menos, 240 ovulos, dos quais dentro de 24 horas desenvolveram-se as larvas que erosaram a mucosa provocando fortes dôres e máu cheiro. As larvas ganharam, tambem, as paredes laterais do faringe donde foram retiradas em grande quantidade. Alta da paciente em algumas semanas, sendo que a mucosa das fossas nasais foi inteiramente destruida.

Desejo ainda lembrar o caso muito triste de um colega que, no interior do Brasil, foi repentinamente atacado de fortes dôres de cabeça na região nasal. A respiração tornou-se rapidamente insuficiente, desenvolvendo-se um edema na superfície externa do nariz e glabelas. Na ausencia de um medico e estando o paciente convencido de que se tratasse de um processo infeccioso e, procurando aliviar o seu estado, pediu a um empregado que, com uma fina faca, executasse uma abertura na zona inflamada. Mais tarde, contou-me esse senhor que por essa abertura saíram bichos brancos. De acôrdo com a descrição, trata-se, evidentemente, de larvas. Somatica e moralmente castigado o colega resolveu consultar outro colega que, de acôrdo com o que mais tarde ouvi, usou da palavra carcinoma. O colega voltou para sua residencia e, perdendo a esperança de cura, suicidou-se.

Este drama desenvolveu-se dentro de duas semanas. As informações são escassas, mas apesar disto não acredito que se tratasse de um carcinoma; de outro lado é difícil acreditar que um medico foi incapaz de estabelecer o diagnostica certo e não se compreende, tambem, que o mesmo não se esforçasse por encontrar outro colega competente, o que era possivel. Entretanto, um medico doente e abandonado, privado do auxilio comum, pode perder o juizo critico, o que é possivel mesmo em condições menos desfavoráveis.

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