Versão Inglês

Ano:  1939  Vol. 7   Ed. 4  - Julho - Agosto - ()

Seção: Notas Clínicas

Páginas: 361 a 362

 

TRAUMATISMO RARO DA MEMBRANA TIMPANICA

Autor(es): FRANCISCO HARTUNG

S. PAULO

O presente comunicado tem por fim unico assinalar um acidente extremamente raro: rutura do timpano causado por um traumatismo transmitido em meio liquido. Pelo menos é o que se depreende da anamnese. A literatura está repleta de ruturas traumaticas causadas pelas grandes variações de pressão atmosferica, por explosões, tiros de artilharia pesada, agressões, etc. Rutura porém causada por água, obedecendo ao principio de Pascal, não conhecia. Daí a razão de ser do comunicado.

O interesse, sob o ponto de vista otologico, praticamente é quasi nulo; o fato é porém curioso pela sua raridade e porque eventualmente poderá ter seu aspecto medico legal, na época em que as picinas estão na moda.

A. T., branco, brasileiro, 20 anos, residente nesta Capital, moço forte, dado a esportes. Afirma que jámais sofreu dos seus ouvidos, apresentando também ótimo aspeto da garganta e nariz. Refere que, na vespera, estando em exercício de natação em uma picina, um seu companheiro saltara da margem, em mergulho sôbre o seu corpo. Sentiu neste instante uma forte pancada sôbre o ouvido direito, produzida pelo pé do outro nadador. Subindo para a margem da picina, notara que escorria um pouco de sangue e que estava um pouco surdo. No decorrer do resto da tarde e à noite, além da surdez que se acentuara, apareceram-lhe algumas dóres. Esta foi a razão de submeter-se ao exame.

A otoscopia revela um líquido seroso no conduto, que retirado mostra um tímpano congesto em quasi toda a sua extensão; quasi não se percebem os detalhes; apenas uma ou outra pequena parte escapa à hiperemia. Adivinha-se pela sua maior congestão o ponto onde está situado a perfuração, mas não se chega a percebe-la com nitidez. Limitei-me pois a recomendar todo o rigor na asepsia e à prescrição de gotas analgesicas.

Dois dias depois, já se tornou possível perceber os contornos da perfuração. Não tinha mais, nem era possível, o aspeto classico triangular, com os vasos injetados em irradiação, que só se observa nas primeiras horas post-acidente. Com a descongestão operada, percebia-se um orificio um tanto irregular de bordos já bem definidos, sendo que a parte superior da periferia estava aderente à parede interna da caixa. Em consequencia deste fáto, realisei a ducha de Politzer, não sem provocar um pouco de dôr ao paciente. A insuflação foi repetida ainda por mais três ou quatro vezes; suspendi, quando tive a impressão que não mais havia perigo de aderencias.

O paciente foi visto de novo ha dias; a perfuração persiste, mas a audição, praticamente é normal.

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