Versão Inglês

Ano:  1939  Vol. 7   Ed. 5  - Setembro - Outubro - ()

Seção: Notas Clínicas

Páginas: 421 a 423

 

PARALISIA FACIAL OTOGÉNICA; RADICAL; FLEGMÃO CERVICAL; CURA (*)

Autor(es): DR. ROBERTO OLIVA (1)

As paralisias faciais não são muito frequentemente observadas nas otites médias supuradas crônicas. Mais proprias são elas de processo agudo, que atinge o nervo, levando-lhe germes virulentos recem-introduzidos na caixa. E' a nevrite que, via de regra, sara com a regressão dos fenómenos flegmásicos do ouvido médio.

Nas otites crônicas, o nervo, que se manteve integro, durante grande lapso de tempo, só em casos muito especiais, se tornará séde de processo paralitico. Dentre esses, merece particular atenção a exacerbação de processo crônico e a retenção de pus na caixa. No primeiro caso, isto é, na exacerbação, teriamos a mesma situação que a das otites agudas: uma sobre-infecção, em que novos germes reacendem infecção antiga. A retenção de pus na caixa do timpano, é outro motivo incriminavel de paralisia facial. Esse fato se dá, seja pela presença de granulações gigantes, que obliteram o conduto, seja por processo inflamatorio nele assestado, impedindo também o escoamento da secreção da caixa. Aqui, a secreção purulenta, aumentada em sua virulencia, acometeria o nervo, ou por via linfática, ou por uma deiscencia.

O colesteatoma provocando necrose do canal de Fallopio e consecutivo descobrimento do nervo, favorece, em ambos os casos, a lesão do tronco nervoso.


As deiscencias do canal de Fallopio, em sua passagem pela parede postero-interna da caixa, são frequentemente observadas. Dan Mackenzie cita a elevada cifra de quase 50 % nos ossos por êle examinados, em individuos maiores de 13 anos.

Fremel não considera muito perigosas as deiscencias, visto como, diz êle, sendo elas tão frequentes, as paralisias deveriam ser mais observadas. Além disso é regra quasi geral observar-se uma deiscencia á altura da janela oval, proxima ao ganglio geniculado.

Francisco Hartung teve oportunidade de observar um caso de paralisia facial, consecutiva a exacerbação de otite crônica e em um outro, no qual um enorme polipo fechava o conduto, impedindo o livre escoamento da secreção. Ambos sararam com a operação radical e constituiram objeto de uma comunicação à Sociedade de Medicina e Cirurgia de S. Paulo, em maio de 1926.

Caso analogo a um desses é o que passo a relatar a seguir:

X. X., com cerca de 20 anos de idade, espanhol, é portador, desde a sua infância, de otite média crônica bilateral. Sente desde cerca de um mês, repuxamento de sua face para a direita. O exame denotou: paralisia facial esquerda, mais acentuada nos ramos inferiores do nervo; o olho correspondente à paralisia fechava-se preguiçosamente. O conduto esquerdo achava-se com suas paredes acoladas, impedindo o exame da caixa. O doente diz mesmo notar que pelo ouvido esquerdo não escorre mais pús, desde que sentiu seu rosto repuxado. Não havia reação alguma para o lado da mastoide. Resolvida a radical, foi ela realizada no dia 17-9-938.

A mastoide era do tipo diploético e nenhuma lesão apresentava. Na caixa do timpano existia um grande colesteatoma que foi retirado com facilidade; plástica habitual. O decurso post-operatorio, foi normal até o 5.° dia, em que os pontos foram retirados; cicatrização per primam. No dia seguinte, porém, o doente comparece à consulta com febre alta (39°) e com processo inflamatorio cervical de pequena extenção. A parte inferior à mastoide achava-se infartada e dolorosa, mas nenhuma flutuação foi notada. Na noite desse mesmo dia, já o flegmão havia progredido muito para baixo e a flutuação era então patente, exigindo um debridamento abaixo da fúrcula do esterno. Saiu grande quantidade de pus extremamente fétido. Nos dias seguintes, era ainda enorme a quantidade de pus, dotado de fetidez insuportavel, que se escoava aos borbotões. A cicatriz retroauricular foi aberta e por aí faziam-se lavagens repetidas vezes por dia. Passados cerca de 10 dias, esse corrimento purulento foi diminuindo e a cicatrização da ferida operatoria se fez de novo com relativa rapidez. Logo no dia seguinte à operação, começou o doente a sentir a volta dos movimentos de sua face, tendo tido alta, completamente curado de sua paralisia. O exame microscópico do pus revelou: bacilo piocianico.

Os flegmões cervicais otogênicos podem classificar-se em 3 tipos diferentes: adeno-flegmões; flegmões que acompanham a bainha do esterno-cleido-mastoidêu; flegmões difusos.

Os do primeiro grupo, adeno-flegmões, têm ponto de partida ganglionar. Nota-se neles, antes da formação de pus, infartamento ganglionar, perceptivel à vista e à palpação. Após esse primeiro periodo, é que os tecidos vizinhos são tomados pelo processo infectuoso e supuram. Os flegmões da bainha do esternocleido são facilmente reconheciveis: apresentam-se com sua localização adstrita à bainha do musculo, descendo como uma corda em direção à sua localização no esterno. Os flegmões do terceiro tipo, isto é, difusos, ganham logo em seu inicio o tecido celular cervical, onde o pus se coleta.

O caso, que acabo de apresentar, os flegmões difusos, visto como não se notou inicialmente a presença de ganglios, nem sua progressão do esterno-cleido.




(*) Trabalho apresentado à Secção de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina em 17 de Novembro de 1938.
(1) Adjunto da Santa Casa, Assistente do Instituto de Higiene

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