Versão Inglês

Ano:  1939  Vol. 7   Ed. 5  - Setembro - Outubro - ()

Seção: Trabalhos Originais

Páginas: 389 a 394

 

O SINAL NA TRANSILUMINAÇÃO DO SEIO MAXILAR (*)

Autor(es): DR. PAULO SÁES (S. PAULO)

Um dos meios de diagnostico da sinusite maxilar é obtido pelo já antigo metodo da transiluminação. Si em local completamente escuro, uma lampada é introduzida na boca do paciente, que a mantem hermeticamente fechada, vemos ao passar a corrente uma transiluminação da região infra-orbitaria e notadamente da palpebra inferior do lado são, ao passo que no lado doente a região permanece completamente obscura ou com diminuição na sua luminosidade. E' o que se chama sinal de Heryng (de Varsovia).

Todos nós sabemos que si para os seios frontaes, etmoidaes e esfenoidaes a radiografia nos dá mais nítida noção da conformação e das alterações inflamatorias das mucosas dessas cavidades, para o seio maxilar a transiluminação continúa com seu grande valor, principalmente pela facilidade com que é praticada. Nos hospitaes gratuitos podemos ter facilmente ás mãos uma chapa radiografica, a que reconhecemos todo o seu real valor. Na clinica privada, porem, o cliente muitas vezes de parcos recursos já fez o sacrifício.maximo para uma consulta, não podendo dispender mais para uma radiografia, como seria de desejar para uma documentação científica. E' nesses casos que a transiluminação presta reaes serviços.

Da tecnica de Heryng surgiram outros processos, amplificando-a. Assim, vemos:

1) O sinal de VOHSEN-DAVIDSON, que mostra a pupila do lado são iluminada durante a incandecencia da lampa, ao passo que a oposta permanece obscura;

O SINAL DE DELOBEL NA TRANSILUMINAÇAO DO SEIO MAXILAR

2) O sinal de GAREL-BURGER, em que o paciente percebe com os olhos fechados durante a iluminação infra-bucal, uma maior sensação luminosa no olho do lado são;

3) O sinal de ROBERTSON, baseado no exame rinoscopico durante a iluminação infra-bucal, mostra mais clara a fossa nasal do lado são do que do lado doente.

O valor diagnostico destes diversos sinaes não é absoluto. Luc, em suas "Lições sobre as supurações das cavidades da face", já diz que "basta a espessura dos ossos da face ser um pouco anormal para impedir a transiluminação do olho ou da região infraorbitaria, fóra de toda a supuração do antro. Na pratica, a transiluminação maxilar nos dá resultados preciosos nos esqueletos femininos e frageis, não se dando o mesmo em relação a certos homens vigorosos, de ossatura compacta, de dentes curtos, largos e solidamente implantados". Nesses casos a iluminação nada mostra e si tentarmos aumentar a voltagem da lampada, arriscamos a queima-la, sem nada concluir.

Na transiluminação, os raios luminosos chegam ao seio parte atravez da aboboda palatina, parte atravez das fossas nasaes; ha casos entretanto, nos seios estreitos notadamente em que os raios não chegam ao antro senão atravez das fossas nasaes e podem portanto ser detidos na travessia daquelas por uma causa acessoria (polipos ou espessamento da mucosa).

Na pesquiza do sinal de Heryng deve se ter um interruptor e variar tambem a intensidade da luz, as diferenças aparecendo, ás vezes, melhor com uma iluminação menor.

Em 1929, no numero 8, Agosto, dos Annales de Maladies de L'Oreille, du Larynx, Delobel publicou um trabalho chamando a atenção para o que denominou de sinal do fundo de saco conjuntival inferior. Ele pensou instintivamente ver si a face conjuntival da palpebra inferior, menos espessa, iluminava melhor que a face cutanea mais espessa e teve a satisfação de constatar que esta simples tração para baixo sobre a pele fazia aparecer de maneira mais nitida o fundo de saco conjuntival inferior, sob a forma de um crescente luminoso, limitado em baixo pela franja negra dos cilios. O paciente segura ele proprio o cabo do iluminador colocado na boca enquanto que o medico puxa para baixo com seus polegares ou sucessivamente, os dois fundos de saco conjuntivaes. O exame não dura mais que alguns segundos.

Delobel achou sempre mais fiel este sinal que todos os outros derivados da tecnica de Heryng. Fica sempre mais escuro o fundo de saco correspondente ao lado doente, coincidindo assim quasi sempre com as conclusões da tecnica de Heryng.

Pela nossa parte, temos praticado a tecnnica de Delobel desde a leitura de seu trabalho, a principio despreocupadamente, depois anotando os seus resultados comparativos aos outros exames. Dessa nossa experiencia, vimos agora trazer o nosso testemunho e a nossa opinião, desvaliosa talvez, mas que terá utilidade de chamar um pouco a atenção para uma tecnica que nos poderá dar algumas vantagens na vida pratica. Frizemos desde já que o diagnostico de sinusite não deve ser feito por um unico sinal, mas por um conjunto ou pelo menos alguns deles. Assim, o auxilio que a transiluminação traz é grande, mas deve ser aliado a outros meios de diagnostico.

Ha, porem, pessoas pusilamines, que não deixam praticar uma punção e que não possuem recursos para uma radiografia. E o caso em que faremos o diagnostico quasi exclusivamente pela transiluminação. Na nossa experiencia, ternos sempre praticado a manobra de Delobel, controlando os resultados da tecnica de Heryng e quando nos foi possivel foi feita a radiografia comparativa, para estudo, e em alguns casos a punção. Correndo os nossos arquivos, retiramos algumas observações que vamos dar em quadro esquematico fazendo referencia apenas ao seio maxilar, por quanto o sinal de Delobel só dá auxilio para esses casos.

Para evitar repetições fastidiosas, damos apenas uma ligeira observação de cada caso mais frequente, pois temos acima de 100 casos já devidamente anotados. E bem de ver que nem em todos os casos foi feita punção ou radiografia que dispensavamos quando suficientemente comprovados, não utilisando em muitos casos essas duas provas o que constitue uma das grandes vantagens da transiluminação.

Quadro

Podemos concluir resumidamente:

1 ) A transiluminação é ainda um dos bons meios para diagnostico de afecções do seio maxilar.

2) Ela é sobretudo pratica, pois nos dá uma noção imediata do estado do sinus, sem maior dispendio para o paciente, embora cientificamente tenhamos de empregar em muitos casos a radiografia e a punção.

3) O sinal de Delobel dá quasi sempre uma noção mais nitida que a tecnica de Heryng, concordando quasi sempre com esta.

4) Em alguns casos em que a tecnica de Heryng não dá uma informação positiva, como nos casos de ossos espessos em homens vigorosos, o sinal de Delobel pôde esclarecer melhor a transiluminação.

5) Em outros casos, a tecnica de Delobel tem dado informes valiosos, pelo que julgamos que ela não deve ser esquecida ao se praticar a transiluminação do seio maxilar.

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