Ano: 1939 Vol. 7 Ed. 2 - Março - Abril - (4º)
Seção: Associações Científicas
Páginas: 173 a 178
ASSOCIAÇÕES CIENTIFICAS
Autor(es): -
ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA SECÇÃO DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA
Reunião de 17 de novembro de 1938
Presidida pelo dr. Mangabeira Albernaz, secretariada pelos drs. Camargo Penteado e Ângelo Mazza, realizou-se, no dia 17 de novembro de 1938, uma reunião da Secção de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina.
Expediente: - O sr. presidente fez o negrologio do dr. Paulo de Faria, recentemente falecido num desastre aviatório. O sr. presidente, com o consenso da Casa suspendeu a reunião em homenagem ao ilustre falecido e pediu ao sr. secretario que, em nome da Secção, oficiasse á familia do extinto, comunicando a homenagem prestada. Ainda com o consenso da Casa, o sr. presidente convocou para logo depois uma reunião extraordinária.
Aberta a reunião, o dr. Homero Cordeiro, sugeriu que a Secção oficiasse á Sociedade de Oto-rino-laringologia do Rio de Janeiro, congratulando-se pelo brilhantismo do l.° Congresso Brasileiro de Oto-rino-laringologia, assim como um agradecimento em nome da delegação paulista pelas atenções recebidas durante a sua estadia no Rio de Janeiro.
A sugestão foi aprovada.
Ordem do dia:
PARALISIA FACIL OTOGENICA. OPERAÇÃO RADICAL. FLEGMÃO CERVICAL. CURA. - Dr. Roberto Oliva.
O A. fez considerações sobre a patogenia das paralisias faciais das otites medias cronicas. Estudou o papel do colesteatoma nessa patogenia. Apresentou o caso de um individuo portador, desde a infancia, de otite media bilateral e que se apresentou com paralisia facial esquerda. Operado de radical, a paralisia regrediu. Teve como intercorrencia um enorme flegmão do pescoço do qual tambem sarou. Teceu finalmente considerações a respeito dos flegmões cervicais.
Comentarios:
Dr. Rubens Brito: Referiu que recentemente pela l.a vez observou paralisia facial em um caso de otite media colesteatomatosa. Operado o paciente, foi extraído um grande colesteatoma e durante a intervenção observou que o facial parecia uma corda, muito espessada. O interesse do caso está na anamnése, pelo fato do doente, antes de apresentar a otite já tinha a paralisia facial, o que se deve atribuir ao contáto que o colesteatoma tinha com esse nervo.
Prof. Mangabeira Albernaz: . Referiu que em três casos operados por colesteatomas, num deles formou-se um abcesso da região cervical em pleno tecido muscular. Aberto não passava de um colesteatoma dessa região. Não tem observado os flegmões abertos em pleno tórax, mas com certa frequencia tem observado os abcessos profundos da região estiliana, e abertos não raramente o processo cede imediatamente. Podem mesmo os abcessos atingir o digastrico ou então se localizarem entre o digastrico e o esterno-cleico-mastoideu, com posterior abertura para o mediastino.
Dr. Roberto Oliva: Agradeceu as interessantes contribuições trazidas pelo sr. presidente e pelo dr. Rubens Brito.
Nada mais havendo a tratar, foi encerrada a reunião.
Reunião de 16 de dezembro de 1938
Presidida pelo dr. Mangabeira Albernaz, secretariada pelos drs. Camargo Penteado e Ângelo Mazza, realizou-se, no dia 16 de dezembro de 1938, uma reunião da Secção de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina.
Expediente: - Foi lida e aprovada a ata da reunião anterior.
O dr. Mario Ottoni de Rezende comunicou á Casa que a Revista Oto-laringologica de S. Paulo, com a colaboração dos especialistas do Rio de Janeiro e de outros Estados Brasileiros, passaria a se denominar "Revista Brasileira de Oto-rino-laringologia, congregando assim todos os professores catedráticos e livre docentes do Paíz, assim como os demais colaboradores nacionais e estrangeiros. Propoz á mesa que consultando a diretoria da Associação Paulista, estudasse a possibilidade de tornar a nova Revista o orgão oficial da Secção de Oto-rino-laringologia da Associação. Embora a criação da Revista ainda esteja em estudos, pede á mesa que submeta á Casa a apreciação da proposta. A mesma foi aprovada por unanimidade.
Ainda no expediente o dr. Mario Ottoni de Rezende comunicou e convidou a Casa para assistir á inauguração, no dia 15 de janeiro do ano vindouro, do Ambulatorio de Otolaringologia da Santa Casa de S. Paulo.
Ainda no expediente foi indicado o nome do dr. Francisco Hartung para representar a Secção na Reunião da Sociedade rio-platense de Oto-rino-laringologia, em B. Aires. O dr. Francisco Hartung agradecendo a distinção conferida, pediu que na ata fosse consignado o seu agradecimento, esperando não desmerecer da confiança depositada em si por parte dos colegas.
Procedeu-se em seguida á eleição da mesa da Secção para 1939, cujo resultado foi o seguinte:
Para Presidente:
Dr. Ernesto Moreira ...............14 votos
Dr. J. J. da Nova .................... 1 voto
Para 1.° Secretario:
Dr. José Eugenio Rezende Barbosa.........14 votos
Dr. Hugo Ribeiro de Almeida..................1 voto
Para 2.° Secretario:
Dr. Gentil Miranda .............................10 votos
Dr. Hugo Ribeiro de Almeida.............4 votos
Ordem do dia:
Antes do dr. Francisco Hartung expor o seu trabalho, externou o seu contentamento por vêr eleito o dr. Ernesto Moreira, seu companheiro de internato na Santa Casa, ha 22 anos, companheiro de qualidades excepcionais e de uma tenacidade incomparável. Em seguida entrou no assunto de sua comunicação:
GLOMERULONEFRITE. AMIDALECTOMIA. CURA. - Dr. Francisco Hartung.
O A. abordou o problema de amigdalectomia; fez ver a necessidade de um rigor da indicação cirurgica, como defesa da reputação que goza na cirurgia amigdaliana. O caso concreto diz bem dessa necessidade. Tratava-se de. um menino de 6 anos, atacado de uma glomerulonefrite em seguida a uma angina, com mais de 8 grs. de albumina, hematuria intensissima, muitos cilindros, puz na urina, 0,5 gr. de uréa no sangue. Não obstante a piora progressiva do paciente só foi operado 15 dias depois do inicio da molestia devido á resistencia do clinico da familia. Não obstante as precavias condições do paciente, que suportou mal o choque operatorio, a cura foi radical, comprovando bem a causa amigdaliana e o rigor da indicação operatoria.
Comentarios:
Dr. Mario Ottoni de Rezende: Tem trabalhado contra a idéia dos pediatras e clinicos que mandando repousar os doentes de glomerulo-nefrite aguda só posteriormente recomendam a amigdalectomia; devemos operar e só depois efetuar o regime e repousar. Devemos convencer os clinicos e pediatras da necessidade dessa operação antes que seja lesado o rim. A operação do dr. Hartung foi feliz, mas devemos convir que para uma criança, 50 grs. de uréa no sangue, constitue uma taxa elevada. Quanto á extirpação em doentes tuberculosos só se as amigdalas causam perturbação á nutrição do paciente e, se ha uma resistencia menor das defesas orgânicas, devemos fazer a extirpação. Os casos em numero de 8 do A., casos fatais, constituem uma serie infeliz, contudo, o numero ilimitado de doentes tuberculosos operados sem outras perturbações, vem nos aconselhar a conduta operatoria nesses casos em apreço.
Dr. Mangabeira Albernaz: Referiu a publicação de um trabalho de autor italiano, em relação á amigdala, onde chega á conclusão de que a extirpação da amigdala é perigosa não só para o organismo do homem como para a mulher, tendo verificado a perda de potencia no homem e o apressamento da menopausa na mulher, e suas conclusões impressionaram tanto o meio cientifico italiano, que o governo italiano nomeou uma comissão para averiguar se havia esse perigo `para a raça". Essa comissão ainda está efetuando averiguações. Quanto á questão da glomerulo-nefrite, referiu que na Inglaterra e nos Estados Unidos, num inquérito verificou-se que o numero de pediatras que ligam as lesões da glomerulo-nefrite á amigdala é superior ao numero de oto-rino-laringologistas. A questão do dr. Hartung com relação á tuberculose é aquela de não se operarem doentes que estejam em estado de tuberculose latente e não a da operação em doentes com tuberculose declarada. Ha casos em que o clinico pode suster a operação em estados de latencia onde lha perigo pelo fáto de poder haver rutura da imunidade e o doente vir a morrer de uma septicemia.
Dr. Francisco Hartung: Encarou a questão pelo seu aspéto social e filosófico. Doentes com mais de 15 anos, com febre, radiografia e sinais de ausculta positivos, não opera peremptoriamente e continua recusando-se a operar. Deve ainda informar que da sua serie de 8 casos estudados, num apenas foi o operador.
RADIOGRAFIA DA MASTOIDE - Dr. Paulo de Almeida Toledo.
Frisou que a sintomatologia das mastóides nas radiografias se baseia no estudo das celulas e na disposição da trabeculatura. Abordou em seguida a posição de Schüller como a melhor para se efe tuar a radiografia que permite um diagnostico de quasi absoluta segurança.
CIRURGIA DA MASTOIDITE AGUDA - Dr. Homero Cordeiro.
Abordou a questão da anestesia, referindo que nos adultos, dá preferencia á anestesia local, apontando as vantagens desse tipo de anestesia. Teceu em seguida considerações sobre o ato cirurgico, considerando a desnecessidade de uma raspagem muito exagerada, como se querendo esculpir a mastoide; crê que o meio termo na raspagem deva ser a conduta mais razoável. Abordou em seguida a questão da abertura ou fechamento da mastoide após a intervenção. Fecha sempre, com agraves, dois terços da ferida operatoria e deixa aberto apenas o terço inferior. Assim o post-operatório é mais rapido e evita depressões antiestéticas. A gaze iodoformada da cavidade mastoidéa é substituida 3 dias depois por um dreno de borracha, que em cada curativo, é substituido por outro mais fino. Geralmente no 10 ou 12 dia retira o dreno. Alta com 15 dias. E' essa a orientação que segue ha 17 anos, sempre com bons resultados.
ETIOLOGIA E EVOLUÇAO DAS MASTOIDITES - Dr. Rubens de Britto.
Referiu o interesse despertado em todo o mundo pelo estudo da etiologia das mastoidites, referindo os diversos agentes, natureza e virulencia. Abordou os fatores da resistencia local e geral do paciente e o fator morbigeno do agente etiologico. Abordou a frequencia dos germens, considerando que em nosso meio as mastoidites apresentam com maior frequencia o Streptococo mucosus. Referiu em seguida o post-operatório que em geral é benigno e em seus 46 casos estudados, apenas 3 tiveram complicações graves.
INDICAÇÕES OPERATORIAS - Dr. Ernesto Moreira.
Classificou as mastoidites em periostites primitivas e secundarias, em agudas e cronicas. Referiu a incidencia das agudas e cronicas e as respectivas distribuições. Considerou as indicações em: agudas que apresentam: fenomenos locais abundantes, com os sinais mais aberrantes e em aquelas que não têm uma sintomatologia tão evidente. Estudou por ultimo as contra-indicações.
Comentarios:
Dr. Francisco Hartung: Devemos aplaudir o dr. Paulo de Toledo pelo metodo como vem praticando a radiografia da mastoide, mas pessoalmente continua dando valor muito relativo á radiografia comparativa das mastóides. Continua cético na questão de se poder firmar um diagnostico pela disposição trabecular, embora continue dando um grande valor á radiografia da mastoide. Quanto ao dr. Homero Cordeiro tem ele muita razão, quando diz que não devemos procurar curetar celulas hipoteticamente lesadas.
Dr. Roberto Oliva: Ao trabalho do dr. Paulo de Toledo deve acrescentar que dos dois doentes por si observados, em ambos foram praticadas as radiografias e num deles como a trabeculatura se apresentasse com a disposição normal, não foi indicada a intervenção operatoria e o paciente veiu a curar-se:
Dr. Gabriel Porto: Embora os professores tenham estabelecido as suas máximas e conceitos, quando a gente acompanha um doente, decidir pela operação é um momento difícil, uma das coisas mais difíceis em clinica e a tendencia hoje é esperar e não operar precocemente, parecendo que essa prudencia tem trazido- reais vantagens.
Dr. Mangabeira Albernaz: Em 1928, em Campinas, foi o primeiro a praticar a radiografia da mastoide; sempre usou a posição comparativa e usa até hoje a posição de W. Breton e não pode conceber que essa técnica da comparação seja combatida pelo dr. Paulo de Toledo, quando as controversias e discussões sobre o assunto ainda não estão terminadas. Considera a posição de W. Breton para a primeira impressão para o 1.° diagnostico como a melhor, embora não deixe de recorrer a outras posições quando o caso requer.
Dr. Paulo de Toledo: A radiografia é um elemento de analise e mais vale a localização do processo inflamatorio de que a determinação da sua propria intensidade. Em um caso do dr. Nova, apenas leve, observou-se na radiografia, feita a operação, uma mastoidite grave, com sinais já de meningismo. Quanto á questão de simetria absoluta, procuramos, pela comparação, um termo comparativo para a transparência celular. Estamos habituados a empregar a posição de Schüller. E contudo, a opinião do dr. Mangabeira Albernaz é muito respeitável e prometemos mesmo para o futuro afastar a possivel prevenção que em nós exista para outras posições e principalmente para a de W. Breton, tão considerada pelo dr. Mangabeira.
Nada mais havendo a tratar, foi encerrada a reunião.