Versão Inglês

Ano:  1939  Vol. 7   Ed. 2  - Março - Abril - ()

Seção: Trabalhos Originais

Páginas: 121 a 141

 

ESTADO ATUAL DA BISMUTOTERAPIA NAS ANGINAS AGUDAS - parte 1

Autor(es): DR. ARISTIDES MONTEIRO (1)

A terapêutica das anginas agudas pelas injeções de bismuto, por nós ensaiadas em 1933 e somente dada a publicidade ampla no ano seguinte, pode ser considerada hoje como parte intirante do arsenal terapêutico diário de todos os clínicos. Desapareceram dos nossos consultórios as anginas triviais, de todos os dias; hoje vemos as suas complicações, pois o clinico com a bismutoterapia, na maioria das vezes, resolve a situação de momento. Na creança, é onde o novo tratamento tem o seu mais surpreendente emprego; os resultados mais brilhantes são conseguidos apenas com horas de aplicação de um bismuto solúvel, qualquer que seja, ás vezes deante de um quadro dramático, de temperatura elevada, mal estar, e perturbações a distancia no aparelho gastro intestinal. O emprego do Bi nas anginas agudas é hoje consagrado nas grandes clinicas especializadas do paíz e fora dele nas Américas e Europa.

Nesse trabalho, que mais vale por uma "mise au point" de tufo que se tem escrito sobre a bismutoterapia nas anginas agudas, daremos em resumos curtos o que de mais importante foi relatado e As conclusões dos autores, desde os nacionais, sem exceção de um só, até aos estrangeiros, com as nacionalidades e títulos originais dás comunicações. Pequeno comentário será feito por Gyando se fizer necessário, para esclarecer algum ponto indispensável. Fazemos isto para atender a inúmeros pedidos de colegas que desejando estar ao par da questão, não o podem fazer por se acharem esgotados quasi todos os artigos sobre o assunto, inclusive nosso livro. "Esses e outros escritos, de ética, ciência "e arte profissional, andam perdidos em publicações esparsas, "umas esgotadas, muitas difíceis de encontrar, outras lembradas"em ressaibo amargo de bate-boca, tanto o público, enfastiado "dêles, acaba confundindo em um só fartum de farinha azeda "de polêmica, legítima defeza e agressões incomputáveis. Tudo "ressurge em ordem cronológica, sem digressões além das encontradas onde se foram buscar para o traslado". Com estas palavras ao prefaciar o nosso citado livro, entre outros trechos candentes de estilo, o nosso mestre, o ilustre Professor JOÃO MARINHO punha em linha de apresentação o que agora vamos resumir.

Em Outubro de 1933, publicávamos no "O Hospital" nossa "Nota previa" em que dávamos conta dos primeiros casos observados e do tratamento que há seis meses vínhamos fazendo. Neste primeiro trabalho dizíamos de mais importante: "nas primeiras 24 horas desapareciam os fenômenos dolorosos da angina e o estado geral melhorava. Em dois e três dias, no máximo, os doentes achavam-se inteiramente curados".

Em Fevereiro de 1934, nesta mesma revista, apresentávamos em primeira mão, o resultado dos nossos estudos anteriores, baseados em cinqüenta casos, com estudos bacteriológicos e bacterioscópicos.

Nesta meia centena de casos, observámos a ação do bismuto sobre a sintomatologia da angina aguda. Assim verificamos que sobre a dôr, se fazia notar, de pronto, a ação rápida do preparado. Seis, oito, dez horas no Maximo e os doentes estavam aliviados. Sobre o estado geral e o local o mesmo se observava; o quebrantamento do corpo, as algias, a temperatura elevada principalmente nas creanças, eram influenciados pelo processo curativo do bismuto. Sobre os gânglios maxilares a mesma ação benéfica. No estado local mostra-se tambem rápida a ação do bismuto, a limpeza do enduto e a diminuição de volume da amígdala inflamada é visivel. Terminávamos o artigo chegando às seguintes conclusões. 1) o tratamento ideal das anginas agudas é realisado pelo bismuto. 2) A ação curativa imediata do bismuto nessa angina, principalmente nas formas pultacea, fá-lo preferir a qualquer outro agente terapêutico. 3) Sua ação sobre a dôr é pronta, eficaz e rápida, desaparecendo os fenômenos dolorosos dentro de seis, oito e dez horas, em seguida á 1.a injeção. 4) A grande importância prática dessa nova terapêutica é torná-la extensiva a todos os médicos, independente de especialidades.

Com este trabalho e com a quarta conclusão dávamos aos nossos colegas clínicos uma grande arma terapêutica. Esperamos os resultados que se seguiram.

O professor JOÃO MARINHO, do Rio de Janeiro, em Junho do mesmo ano, 1934, publicou um trabalho intitulado "Angina de soro e anginas de bismuto", em que ressalta a importância clínica e urgente de distinção da angina pelo médico em presença duma inflamação de garganta. Descreve a classificação anátomo-patológica dos alemães, a dos franceses com suas quarenta e nove formas, acentuando, com elegância, "a hesitação que todos experimentamos em reconhecer a espécie de angina observada ao "primeiro exame. "A vista da descoberta de Aristides Monteiro, "torna-se a classificação das anginas agudas ainda mais simples "e clara, compreendidas em duas classes de distinção perfeita - "ANGINA DE SORO E ANGINAS DE BISMUTO, a de VINCENT pertencendo, bem adequada, ao segundo grupo. Para separá-las, basta procurar a diftérica. Na exclusão entram as ou"trás". Dando esta classificação de urgência clinica ao internista, na frase de BERARDINELLI, o Prof. Marinho forneceu "uma chave formidável a todos os clínicos em face de uma angina", e segundo VAZ DE MELO "acabando com hesitações de diagnósticos e receituário". O Professor E. SEGURA, de Buenos-Aires, escreveu-nos a respeito desta classificação e do método de tratamento: "debo comezar por felicitar a usted, y en conjunto a la escuela de mi eminente amigo el Professor Marinho, por el verdadeiro progresso que significa, bajo el punto de vista clinico e terapêutico, la classificacion tam simple como pratica de las Anginas, en Angina de Suero e Anginas de bismuto". Consagrando a classificação do Prof. Marinho, os professores SEGURA e ERRECART, de Buenos Aires, concorrem com testemunho valioso para situar o método no bom arsenal terapêutico da especialidade.

No mesmo ano de 1934, em Agosto, na "Folha Médica" aparece um artigo de crítica, e somente de crítica, em que o professor KÓS, do Rio, de parceria com outro companheiro, subscrevem opiniões contrárias ao novo tratamento. Publicam 19 observações, nas quais não encontraram nunca o menor beneficio curativo do bismuto; ao contrário, lá anotamos, lendo com atenção a história dos doentes, conceitos dignos de reparo, pois que um número apreciável das observações do Prof. Kós confirmam, grande parte das conclusões a que tínhamos chegado. Vamos analisá-las

Preliminarmente, eliminem-se três observações, porque em nenhuma se fez uma só aplicação de bismuto, (Observ. 1, 2, 3). Depois, também não se conte uma, em que a cura veio 48 horas depois da injeção, dentro do prazo descrito por nós, (Obs. 4, do Dr. David Sanson). Também não se podem tomar em consideração quatro (5, 6, 8, 11 ) , de puros abcessos peri-amigdalianos.

Das 11 restantes, em sete o bismuto não deu resultado. Estes sete casos negativos, longe de infirmarem, confirmam os nossos estudos. Nunca dissemos que o bismuto é "panacéia'. Em 23 observações, só de nossa clinica particular, na publicação de Outubro adiante referida, relatamos cinco casos negativos, três de abscesso,, dois, que um nosso companheiro de estudo procurou interpretar como de anginas estafilocócicas.

Dás mesmas restantes 11 J. Kós, em quatro, os injetados do bismuto pioraram "muito": Em uma, (Observ. 10) foi feita uma única injeção de Bismanion; em outra, a pior de todas, com "Oliguria" (grifo do Prof. KÓS) fizeram-se três injeções de Bismógenol infantil (grifo deste comentário) ; na terceira, uma, de Erithroluol: "Piorou muito: odinofagia e temperatura. No 3.° dia após a injeção veio ao Hospital já melhor, para ficar curado dois dias depois"; o quarto tomou bismuto é atofanil na veia, em quinze minutos depois desta injeção, a "odinofagia intensa e o estado muita "inquieto" do paciente desapareceram. Notavel a rapidez de cura, contudo mandam-no continuar com gargarejos. Outra passagem do artigo-crítica é a que se refere aos "sifilíticos bismuto-resistentes", que sé podem tornar resistentes, dizem eles, por efeito de uma ou duas injeções de Bi; escreveu-se isto, leuse, e os sifilógrafos continuam a injetar o Bi para reativar o Wassermann, sem medo nenhum de criarem e mais tarde tratarem de "bismuto-resistentes". Quanto à "espicaçar uma sifilis em latencia", si tal acontece, é mais um benefício do Bi, porque esclarecendo uma situação falsa do doente, ignorante do seu estado, torna possivel um rigoroso tratamento médico. O referido professor hanemaniano apresenta uma conclusão, dizendo que a terapêutica bismutica "é perigosa para o aparelho. renal". E nada mais facil de corroborar essa asserção de oto-rino-laringologista, pedindo por carta a opinião dos sifilógrafos com muito maior autoridade a esse respeito. Não lhe teriam passado da idéia esse alvitre, si fosse possivel obter respostas no sentido desejado; ou sinão, leiam nós "Annaes da Sociedade de Medicina e Cirurgia", Janeiro-Fevereiro, 1935, pg. 315, lição memorável do PROF. LUIZ CAPRIGLIONI na sessão consagrada ao bismuto nas anginas, onde aquele emérito professor ensina a ação do bismuto sobre o rim. Finalmente insurge-se contra a classificação do PROF. MARINHO, dizendo que "é falha; longe de trazer beneficio, vem prejudicar os estudos esclarecedores que ainda podem ser feitos a respeito das anginas". Estamos esperando até hoje estes estudos esclarecedores.

Em Outubro deste mesmo ano de 1934, o PROF. MARINHO baseado nos estudos experimentais que acabávamos de obter com a preciosa colaboração de VITAL BRASIL F.° e GASTÃO SAMPAIO. do Rio de Janeiro, leva à Academia de Medicina os resultados daquelas observações, concluindo com idéias inteiramente novas sobre a especificidades das anginas até então rotuladas de polimicrobismo. Neste trabalho, o catedrático da Universidade do Rio de janeiro, péla verificação éxperitnental "em vitro c em vivo"; deduz que, o estreptococo é mais do que o agente "habitual" da angina pultácea, na sua opinião, é o unico.-E que o estafilococo, por não ter, o bismuto ação nenhuma sobre ele, deve ser o das anginas flegmonosas; explicando por este modo a ineficácia do bismuto nas anginas flegmonosas. profundas, as abce-. dadas, que presume serem, por ele, provocadas.

Este raciocínio foi baseado nas conclusões do Dr. Vital Brasil F.°, onde ressaltamos a mais importante delas. "A bismutoterapia "produz diminuição sensível da flora bacteriana da ar amídala portadora de angina aguda, diminuição que parece riais pronunciada sobre o estreptococus". Foi atentando para esta conclusão, que o espírito indutivo do PROF. MARINHO tirou a sua teoria da mono-especificidade das anginas agudas, até então chamadas não específicas, por se lhe atribuírem mais de um germe na etiologia. Mais tarde esta comunicação do Prof. Marinho é alargada a tema de relação ao Congresso de Montevidéu, onde suas idéias de especificidades das anginas são expostas com maior desenvolvimento.

Nessa mesma sessão, o livre-docente DR. DAVID SANSON, refuta o que assevera o PROF: MARINHO, tornando suas, as conclusões negativas de seus companheiros de trabalho. Às mil e vinte e uma observações que o PROF. MARINHO leva à Academia, - de quasi todas as cátedras do Brasil, de todas as cátedras de Buenos Aires, de muitos e muitos médicos e especialistas do nosso país e da Argentina, - responde aquele docente, mais com palavras que com fatos, citando autores estrangeiros que jamais escreveram sobre o bismuto nas anginas; não acrescenta quasi nada de observações às primeiras do trabalho dos seus companheiros de serviço, publicadas em agosto. Vê-se de um lado, à mais de um milhar de casos (cujo efeito benéfico foi de 977 ou 95,4%) se contrapor somente os resumidos 20 casos do Sr. David e seus assistentes, contrários à nova terapêutica. Mais do que isso tivemos nós, um total de 44 negativos nos 1.021 acima referidos. Até outubro de 1934, temos, a favor do bismuto, no Brasil e Argentina, 977 contra os 20 de David de Sanson, e os seus. A lógica dos números é imutável, serena e não admite dúvidas,

Em. Outubro dó ;mesmo ano, n" `O Hospital" apresentamos nosso trabalho maior, sobre a bismutoterapia nas anginas agudas, com farta documentação e interessantes estudos in vivo, isto é, a farmacodinâmica do bismuto, feita por VITAL BRASIL FILHO. Publicamos cartas de vários professores, especialistas e médicos de todos os estados do Brasil e da Argentina. Nomes de maior projeção aí estão representados: Professores SEGURA, ERRECART, ZAMBRINI, BECCO; ARAUZ, CASTERAN, MERCAN DINO, de Buenos Aires, REGOLES, de Montevidéu, BARROILHET, de Valparaiso. Todas as cátedras oficiais especializadas do Brasil com seus respectivos titulares desde Recife até Porto Alegre e mais especialistas de grande nota, estão representados em atestados que nos enviaram na ocasião ou pouco depois. O nosso arquivo de correspondência sobre bismuto nas anginas, abrange até hoje-229 documentos de todas as partes do mundo.

Naquele trabalho reafirmávamos a ação curativa do bismuto nas anginas agudas e demonstrávamos que nas flegmonosas profundas ele era negativo, observação igual a dos autores argentinos; contribuição que nos trouxe tambem o Dr. David Sanson na Academia, para confirmar o que dizíamos a esse respeito, citando o caso de nossa enfermeira D. Maria, que teve uma angina, tomou bismuto e não curou porque o caso evolveu para a forma celulífera, isto é, o abcesso periamigdahano; este caso levado por um dos tres unicos negativistas como argumento decisivo da ineficácia do bismuto, constitue ao contrário uma contribuição valiosa para as nossas conclusões.

Neste ponto o DR. DAVID SANSON achou melhor levar a discussão do valor da bismutoterapia nas anginas, para os jornais leigos, o que grandemente nos decepcionou, pois que pensávamos, que o assunto, interessando exclusivamente aos meios científicos, devera ficar adstrito ás sociedades médicas e jornais científicos. Nestas publicações, repete o que dissera dias antes na Academia de Medicina e termina levantando em publico a questão da prioridade do novo tratamento, avocando-o para o seu constituinte, o Dr. Godoy Tavares. Por não se basear na comparação serena de assuntos e datas indiscutíveis, foi fácil destruirmos a aleivosia apregoada em letra de fôrma.

A resposta, como natural, lhe demos em sessão da Sociedade de Medicina e Cirurgia, de 16 de Outubro de 1934, dois dias depois do assoalhado na imprensa leiga, fazendo uma pequena sinopse do bismuto nas anginas, desde o seu emprego inicial, e provamos irrefutavelmente, com citações e datas de trabalhos, a falsidade do asseverado na imprensa leiga, terminando com as seguintes conclusões: "Primeiro: Creio ter deixado bem claro; que o Dr. Godoy Tavares em Setembro de 1933, empregou como expectorante o bismuto, o arsênico, o cobre e o mercúrio no combate a varios estados morbidos da mucosa laringo-traqueo-brônquica. Nesse ponto é inconteste a sua prioridade, como também é inconteste que não disse palavra sobre angina. 2.°) em Novembro de 1933 saiu a minha "Nota Prévia' sobre o emprego do bismuto nas anginas agudas. 3.°) oito meses depois, o Dr. Godoy Tavares refere-se pela primeira vez a anginas e onze meses após salienta que o bismuto não pode dar resultado nas anginas agudas e sim nas crônicas, onde o aconselha. Esse ponto das anginas crônicas, esse sim é original. Mas um ano depois da minha "Nota Prévia", será antes contribuição que prioridade. 4.°) o que não pudemos encontrar, foi onde o Dr. Godoy Tavares "fez a primeira aplicação do bismuto num caso de angina aguda em sua própria pessoa "conforme assevera o livre docente Dr. Raul David de Sanson, no seu artigo publicado na imprensa diária ("Correio da Manhã", e "O Jornal" e "A Batalha", de 14 de Outubro corrente). Que alegou é fato. Resta provar. Certo, porém, é não estar registrada esta auto-bismutada angina na publicação de 26 de Setembro de 1933, única data em que se pode fundamentar o Dr. Sanson para reclamar prioridade a favor de seu constituinte e companheiro no repúdio do bismuto no tratamento das anginas agudas não especificadas".
Em Janeiro de 1935, MARIO VAZ DE MELLO, do Rio de Janeiro, publica no "O Hospital", trabalho completo sobre a ação do bismuto nas anginas infantis. Traz um acervo de 130 casos curados pela nova terapêutica, sórnente um negativo. Depois de descrever os casos e de estabelecer a dosagem para as diferentes idades, estudando a ação do bismuto sobre o rim, remata com as seguintes conclusões:

1 ) "As anginas agudas na criança são fatores predisponentes e responsaveis por infecções gerais, graves, principalmente na primeira infância;

Os transtornos nutritivos ex-infetione e dependentes das anginas agudas, podem evitar-se com a bismutoterapia;

O novo emprego do bismuto em pediatria, dividiu a história das anginas agudas em duas épocas bem distintas: o período de antes e de depois do bismuto ou período pré e post-bismutico

4) Contrastando com o segundo, de eficácia imediata, surpreendente, sobre o processo da amigdalite infantil, temos o primeiro período, , prebismutico, lento na evolução da angina por impotente em evitar distúrbios de nutrição decorrentes da afecção.

5) Reunindo, sob o critério de urgência clínica, as anginas em duas classes apenas, fornece o Prof. Marinho ao pediatra facilidade de indicação terapêutica pronta. Classificação clara, especificidade do soro diftérico em um grupo, de bismuto de Aristides Monteiro em outro, acabaram com hesitações de diagnóstico e receituário".

Nesse mesmo ano, em Junho, no "O Hospital", juntamente com VITAL BRASIL FILHO, nos propúnhamos, continuando nossos estudos, a verificar experimentalmente in vitro a ação decisiva do bismuto sobre os germes. da amígdala infectada. Já agora depois dos primitivos estudos de Vital Brasil F.° reduzidos à dois somente: o estreptococos e o estafilococo. O primeiro, tespolisavel pela angina pultacea, trivial, de todos os dias, a' angina do clínico; o segundo, pela sua complicação, a angina flegmonósa; o abscesso periamigdaliano; a angina do especialista; Com estes estudos pretendíamos demonstrar a monoespecífícidade das anginas, hipótese abraçada pelo Prof. Marinho. "O ponto principal "da experimentação. sugerida; confirmou plenamente a hipótese do PROF. MARINHO", dizíamos nós, e continuando". O comportamento diferente do bismuto com os dois germes está de "acordo com a recontagem diferente deles em nosso trabalho de "outubro, com Vital Brasil F.°, e constitui mais um esclarecimento "dê sua eficácia na angina pultacea e ineficácia na flegmonosa, "dando foros de realidade à hipótese da etiologia monogermica "às duas anginas". Seguem-se, as conclusões daquele saudoso companheiro de nossas pesquisas:

I- "Com uma suspensão de iodo bismutato de quinina contendo 0,07 cent. de bi-metalico, obtivemos esterilização "In Vitro" de uma suspensão de 4 bilhões de estreptococo hemolítico, proveniente de um caso de angina aguda, após 5 horas de contacto em temperatura de 37° C. (experiência realizada em meio liquido, caldo glicosado-extrato de fígado-soro).

II - O mesmo resultado foi obtido, sem adição de extrato-fígado-soro.

III - O bismuto possue ação bactericida direta "In Vitro" sobre o estreptococo, (Figs. 1 e 2)

IV - A associação de lecitina ao bismuto, aumenta sensivelmente a ação bactericida do metal.

V - Os estreptococos dos tipos viridans é fecalis mostraram-se mais resistentes à ação bactericida do bismuto.

VI - Após três horas de contacto, Bi-estrepto, à temperatura de 37° C. Observa-sê a ação bactericida Máxima do metal,

VII - Não observamos ação bactericida do bismuto sobre o estafilococo em meio líquido; mesmo com 0,21 centig. de bi-metalico.

VIII - Em agar-sangue iodo-bismutato de quinino, houve ação bactericida é impediente sobre o desenvolvimento do estreptococo, com 0,00437 (quatrocentos e trinta e sete, centésimos de millg. de bismuto metálico).



Fig. 1 - Caso de M. M. Angina aguda. Semeadura em placa de "Petri", altar sangue de cavalo. Desenvolvimento abundante em toda a estria: abundantes colonias de estreptococus, fortemente hemolitico. Raras colonias de estafilo e sarcinas. ("O Hospital", Outubro, 1934).



Fig. 2 - Caso M. M. Angina aguda após 48 horas de bismutoterapia. Nota-se na placa desenvolvimento quasi nulo de estreptos. Raras colonias de estafilos e sarcinas. ("O Hospital", Outubro, 1934).



Fig. 3 - Caso C. C. Angina aguda. Corte de amigdala palatina antes do bismuto. Orifício e trajéto duma cripta obturados inteiramente pelo exudato inflamatorio. Foliculos linfóides hipertrofiados e alguns em fusão. ("O Hospital", Abril, 1935).



Fig. 4 - Caso C. C. Angina aguda. Corte de amigdala palatina depois do bismuto (48 horas). Orifício e trajéto duma cripta completamente livres do exudato inflamatorio. Foliculos linfóides na maioria com estrutura aproximada do normal. ("O Hospital", Abril, 1935).



IX - Em agar-sangue,iodo-bismutato de quinina-lecitina observamos ação bactericida e impediente -sobre o desenvolvimento do estreptococo, com 0,00312 (trezentos e doze centésimos de milig: de bismuto meta tico) ; a propriedade ativaste da lecitina sobre o bismuto foi mais uma- vez constatada.

X - Em meio sólido o bismuto apenas impede parcialmente, o desenvolvimento do estafilococo, empregando-se quantidades relativamente fortes de bismuto metálico, 0,14 centig.

Em abril do mesmo ano de 1935, completávamos o ciclo dos nossos estudos sobre o bismuto nas anginas, fazendo a parte anátomo-patológico com o DR. GASTÃO SAMPAIO, afim de verificar "à luz do microscópio a rapidez da cura clínica da angina pultácea pelo bismuto". Num mesmo doente operamos uma amígdala, depois injetávamos o bismuto, 48 horas após tirávamos ,n outra amígdala tendo observado antes o efeito curativo do preparado injetado antes da 2.a operação (Figs. 3 e 4). Com este trabalho demos por encerrados os nossos estudos sobre o bismuto nas anginas terminando-o com as nossas conclusões:

l.° - O bismuto encurta o tempo de moléstia da angina pultácea, reduzindo-o a 24, 48 horas, em mais de 90% dos casos;

2.° - o estreptococo é o agente etiológico da angina pultácea;

3.° - o bismuto, exercendo ação bactericida intensa sobre o estreptococo, adquire valor de medicamento específico na angina pultácea.

A idéia de empregar o bismuto nas anginas agudas tomou forma na observação clínica, esclareceu-se na verificação bacteriológica, completou suas provas na confirmação anatomo-pato-lógica.

Expostas de maneira sucinta toda a marcha dos trabalhos publicados no Rio; desde a minha "Nota Previa" até o remate das discussões estabelecidas a respeito dessa matéria, vamos dar resumidamente tortos os trabalhos que se publicaram a esse respeito dentro e fóra do Brasil. Não mencionaremos a correspondência copiosa que possuímos, por não caber a simples enumeração dê 229 documentos dentro dos moldes do trabalho a que nos propuzemos. Citarénros sómente trabalhos publicados a respeito do emprego do bismuto nas anginas.
ARTHUR MOURA, de Recife, publicou em Março de 1934, o primeiro trabalho nacional, fóra do Rio; são treze observações de sua clínica e do seu chefe o ilustre PROF. ARTHUR SA. Mais tarde, junta dez casos aos primeiros.

ATILIO CAPUANO, de Porto Alegre, descreve em Dezembro de 1934, os seis primeiros casos daquela cidade, tratados com a nova terapêutica. Destes, cinco curaram.

PEDRO L. ERRECART, professor titular de La Plata, apresenta em Maio de 1934 seu primeiro trabalho baseado em quarenta casos, observando o seguinte: " la odinofagia experimentava uma disminuicion ya a las poucas horas de la injeccion, reduciendo-se estas em algunos pacientes a cuatro. Falando da reação local " la tuméfaction de las amigdalas palatinas y sus adjacencia habia desaparecido antes de las veinticuatro horas, la temperatura y el mal estar general no sobrepasaban a la injeccion en mas de cuarenta e ocho horas. Mais tarde, outro trabalho do eminente professor sobre a classificação do Prof. Marinho e o novo tratamento. Conta agora com 100 observações e diz textualmente "nos ha permittido arribar a conclusiones definitivas en el sentido de considerar el bismuto injetable como tratamiento de eleccíon para las anginas superficiales; en las profundas, los resultados son negativos".

ULYSSES PARANHOS, de S. Paulo, publica dez casos em Agosto de 1934, todos com ótimo resultado, dizendo que "o tempo de moléstia que era de seis a oito dias, passa agora, com a nova terapêutica, a 24 e 48 horas".

CLOVIS CATUNDA, do Ceará, na "Revista Clinica e Farmacêutica" descreve casos de angina aguda tratadas pelo bismuto e chega às seguintes conclusões: 1.º ) é digno de nota que a ação sedativa do Bi e como corolário a alegria do cliente ao sentir que as dores desapareceram. 2.°) Nenhum distúrbio para o lado dos rins, levando em conta as complicações renais das anginas".

MEYRELLES DO SOUTO, de Lisboa, foi quem introduziu em Portugal a nova terapêutica, descreve na "Imprensa Medicai 20 casos todos curados com o Bi, "todos portadores de angina aguda (uma já em risco de insipiente complicação flegmonosa) deram resultados iguais aos obtidos pelos outros experimentadores; só quatro precisam de segunda injeção". Continua o otolaringologista da casa Pia de Lisboa, "Na verdade, três vantagens principais caracterizam a nova terapia: 1.°) a rapidez da atuação: em 24, máximo 48 horas, cura-se a angina;. 2.°) a simplicidade de técnica ao alcance de todo o prático; 3.°) a comodidade para o doente, liberto de bochechos, colutorio, pulsos quentes; etc. Após a injeção, a odinofagia (dor à deglutição e a disfagia (dificuldade em engulir) cedem rapidamente, paralelamente à baixa térmica ao normal".

ARISTOTELES NUNES, de Paraisópolis, Minas Geraes, comunicando sua experiencia no "Laboratorio Clínico", diz que na cidade onde -clinica, 90 % das creanças tem hipertrofia das amígdalas; baseado em muitas observações, na infancia, sem olhar a idade, logo que descobre gânglios cervicais intumescido, como responsaveis pelo estado infeccioso (angina aguda) que originou a consulta, injeta meia empôla de Bi hidrossolúvel, "e não se faz preciso repetir o tratamento". Continua o A. referindo-se à nova terapêutica: "plenamente satisfeito me acho com essa grandiosa aquisição. Por isso, a empôla de bismuto passou a fazer parte de meu material de urgência". Termina o artigo dando a observação de seu proprio filho, que ás quatorze horas adoecia, duas horas mais tarde tinha 39° de febre, com gânglios parotidianos dolorosos e intumescido. Injeta-se o Bi, dorme. Seis horas após, acorda sem temperatura. No outro dia tudo normal.

SILVA GUIMARÃES, em Uberaba, Minas Geraes, descreve no Brasil Medico" sua experiência no caso em apreço que vae a 104 doentes. Destes 76 curaram-se e 28 não. Dos 76 curados, 34 o foram nas primeiras 24 horas e 42 nas mesmas seguintes; destes, 34 bastaram-se com uma só injeção, 42 precisaram de duas. Dos 28 negativos, todos de anginas flegmonosas, cinco curaram-se. "Os resultados foram ótimos, prontos e decisivos em todos os casos excluindo, bem se compreende, aqueles que evoluíam para o abcesso, confirmando a experiencia de Aristides Monteiro e seus colaboradores-. Depois de fazer algumas considerações sobre o problema etiológico das anginas agudas, termina o autor com as seguintes conclusões: 1.° - a nossa experiencia sobre a bismutoterapia confirma inteiramente os resultados obtidos por Aristides Monteiro e dezenas de colaboradores, nacionais e estrangeiros; 2.° - em relação à especificidade e não especificidade do bismuto, sob criterio seguro e mais absoluto rigor cientifico, pode-se dividir as anginas agudas em dois grupos bem distintos: anginas de bismuto, de acordo com o Prof. J. Marinho e anginas não bismúticas; 3.° - o bismuto com Aristides Monteiro, marcou o inicio dos atuais conhecimentos sobre a etiologia da angina de Vincent; 4.° - a bismutoterapia esclarece de modo irrefutável o problema da flora bacteriano como causa etiológica das até então chamadas anginas agudas não especificadas, dando ao estreptococo, segundo João Marinho e Aristides Monteiro, foros de agente espe cifico da pultacea; 5.° - após amigdalectomia e consequente decurso anômalo de sua fenomenologia, o bismuto é de indicação formal como Medida terapêutica eficiente".

LIBANIO CARDOSO, de Sta. Catarina, na "Folha Medica" apresenta vários casos de angina: "procuramos realizar experiências rigorosas em nossos doentes, resolvendo, pelos resultados obtidos, confessarmos antecipadamente por aceitar como ótimo, a divisão das anginas em angina de soro e bismuto". Termina com as seguintes conclusões:

l.°) - Que as anginas teem uma evolução natural, na maioria das vezes.

2.°) .- Que o bismuto atua muito favoravelmente, diminuindo pronunciadamente a evolução normal anginosas, determinando- a cura definitiva.

3.°) - Que o bismuto é sem efeito nas anginas que se vão terminar em abcesso.

"Dessas conclusões, resolvemos, deste momento para deante, uma vez eliminado o diagnóstico de difteria, usar o bismuto no tratamento das anginas".

F. A. ROJAS e M. NIJENSOHN, de Buenos Aires, descrevem sua experiencia em mais de 100 casos confirmativos do valor da nova terapêutica bismutica. Dignos de reparo os seguintes trechos dos A.A.

"La accion electiva Del bismuto por la parte enferma de la amígdala, nós dan la razón de la bondad de esta terapêutica que estamos usando desde hace casi un año y de la cual no hemos recogido sino buenos resultados, sin que éste quiera significar para nosotros una panacea, sino un medicamento útil y seguro, nada más.

De esta exposición, tres hechos podemos entresacar:

1) Accion electiva Del bismuto.

2) Accion microbicida.

3) Accion sedante sobre el dolos, consecuencia tal vez de las dos primeras.

"La mejoría en, nuestros enfermos es rápida, se produce antes de las 24 a 36 horas. El proceso rojo palidece, el exudado pultaceo disminuye o desaparcece, la reaccíon ganglionar es menos intensa Y duradora y el dolor cesa de immediato casi las 6 horas de practicada la injeccion en machos casos y la temperatura coe antes de las 24 horas para colocasse muy cerca de la normal".

"La açción sedante del dolor y la disminución de las adenopatias son hechos senalados con entusiasmo por MARINHO y ERRECART y comprobados, como decimos- en otra parte, por nosotros, en más de 100 casos.

"Hemos visto enfermos con gran disfagia minorar en pocas horas y aún en los portadores de processo flegmonósos beneficiarse de esta terapêutica que los permite la ingestión de alimentos".

STIEHR, alemão, de Posidam, publica em Novembro de 1935, o primeiro trabalho que aparece fóra das Américas, sobre a nova terapêutica. Deste trabalho fez o Ptof. Marinho resumo excelente publicado no "Brasil Medico"; não podemos deixar de transcrever para aqui todo o escrito do catedrático do Rio de Janeiro. Ele analise com a minucia de sempre todas' as passagens do artigo alemão:

"A intenção de experimentar o bismuto na angina catarral supurativa ou folicular (a mesma que, em português, com menos propriedade de entendimento medico chamamos de pultácea), com a finalidade de verificar até que ponto impediria complicações sépticas ou apressaria o desaparecimento do- molestar próprio da afecção,. levou o A. a empregar em 152 casos, por via muscular, 1-2 .cc. de um preparado de bismuto, o Etosio, correspondente ao Etoscol, da firma Tosse & Co., feita a injecção logo à primeira visita do doente ao consultório. Adianta estar no conhecimento da ação favoravel do ,bismuto nas anginas ensaiado em outras clínicas.

"Dos 152 casos, escolhe como padrão ao seu relatorio os Mais intensamente atacados, pu sejam 38 %, do total, nos quais, em 8 %, a temperatura elevava-se acima de 40° e, em 30, entre 3,9 e 40°. Tomados em conjunto os 152 anginosas, em 90 % dentro de 12 a 24 horas depois da injeção, a temperatura caía à normal. Nos 10 % restantes, em que se precisou fazer uma segunda aplicação do, bismuto, a fure desapareceu o mais tardar em tres dias. Limpavam-se, em geral, nesse prazo as amígdalas, a disfagia desaparecia de todo e concomitantemente com a queda da temperatura, melhorava o estado geral. Em 6% dos casos o bismuto não impediu a formação de abcessos tonsilares, como tambem em nenhum deu resultado na angina de Vincent. Em alguns, poucos, - in einigen wenigen FãIlep - notou pequena irritação passageira para o lado das vias urinárias. Termina a contribuição alemã com quatro observações que denomina de típicas: Primeira - W. G., 31 anos, 40°, véu e amígdalas entorpecidas com pronunciado enduto pultácea. Estado geral, mau. 2 c.c. do preparado de bismuto. Gargarejos e compressas. 24 horas depois a febre desaparecia de todo (völlige Entfieberung). Amígdalas desinflamadas e livres de exsudato. Estado geral, bom. Segunda - A. M., 21 anos, 40°, amígdalas recobertas de acentuado esmegma pultaceo. Mau estado geral. 2 c.c. do bismuto. Gargarejos. Compressas. Quinina internamente. Sem febre, 24 horas depois, e, em 48, as amígdalas limpas e desinflamadas. Terceira - P. H., 23 anos, 40°,8. Véu e amígdalas muito inflamados. 2 c.c. de bismuto. De fervescencía. No outro dia sóbe a temperatura de novo, 39°,6. Outra injeção, e em 12 horas apresenta-se o doente afebril (vollige fierberfrei). A garganta quasi limpa de resíduos inflamatorios. Quarta - P. G., 19 anos, 400,2. Véu - etonsilas bem tomados, vermelhos. Estado geral, mau. 2 c.c. de bismuto. A temperatura cái, mas volta na manhã seguinte. Segunda injeção de 2 c.c. Quatro dias depois, febre de novo. Abcesso á esquerda. Incisado. Ainda quatro dias, e a inflamação, temperatura e estado geral restabelecem-se".

"Com este caso confirmativo da ineficácia do bismuto na angina flegmonosa, tanto quanto os outros da eficácia na folicular, termina a contribuição, sugerida, diz o A., de "trabalhos americanos e alemães". E não diz mal. Primeiro, porque a descoberta do ilustre assistente da Clinica Oto-rino-laringologica da Universidade do Rio de Janeiro, Dr. Aristides Monteiro, tem sido largamente trabalhada na Argentina, no Uruguai e no Brasil, é, pois, bem americana por direito continental, e já agora alemã pelo que nos conta em outras clínicas alemãs, segundo deixa transparecer; segundo, porque não se referindo ao nome do descobridor, emprega conhecida figura de retórica, segundo a qual permite-se tomar o todo pela parte, o invento pelo inventor, etc. De outra importância vem a ser a contribuição de todo o ponto confirmativa do efeito salutar do bismuto na angina pultacea, a angina clínica por excelência: a mesma quéda da temperatura 12-24 horas em seguida à injeção, logo acompanhada de pronto alívio ao mal-estar, e da disfagia, a triade sintomática característica da afecção. Os 40°, 40°,2 a 40°,8 das observações de Stiehr estão a indicar não se mostraram os doentes logo ao primeiro dia de moléstia, sim, quando a febre, o quebrantamento, a odinofagia se lhes tornam insuportáveis. Por um simples aperto de garganta, por que toda a angina começa e em que muitas vezes pára e já regride, ninguém chama médico. Quando o faz, no acume dos três sintomas, que profissional ou que padecente já os viram desaparecer assim, rápido como sucede depois de introduzido o bismuto na terapêutica das anginas? Do restabelecimento imediato, infere-se que ao bismuto, e não ao, regredir espontâneo da afecção, deve-se o efeito observado. Cabe essa mesma reflexão à hipótese de atribuir-se a rapidez da cura ao emprego simultâneo de gargarejos, envoltórios quentes ou alcoólicos, à quinina administrada internamente. Contraria essa su posição o lembrar que gargarejos, compressas, quinas e salofenos, pincelagem e o resto, toda a vida empregaram-se na angina aguda, sem efeito apreciavel em sua marcha habitual de declínio, quatro, oito e mais dias, como mostra regularmente a observação corrente em todo o mundo. Empresta Stiehr parece, singular apreço ao seu bismuto Etosio. Com o tempo, cairá no igual resultado obtido seja qual fôr o preparado e, tambem, no passadismo de compressas e pincelamento, mais no do emprego de quinina nas -anginas, internismo, que a ninguem mais lembra entre nós, relegado, junto a tópicos molestos de aplicar, ao rol histórico das dóses alterantes de calomelanos, tão de uso ao tempo de disturbios indiagnosticaveis do aparelho digestivo".

JUAN M. TATO e V. E. CARRI, de Buenos Aires, trazem a primeira contribuição, inserta na "Prensa Medica Argentina", com uma experiencia à volta de 54 casos. Descrevem em resumo a nova terapêutica desde o seu inicio, com prós e contras, e terminam com as observações, dizendo que se devem abandonar dois casos, ficando sómente 52; destes, 41 curaram ou seja 78,85 % "de los casos se obtuvo buen resultado, desde el brilhante en que tras una injeccíon de bismuto, todo entra en orden al cabo de 24 horas, hasta aquellos más lentos y des lúcidos en que necessitaron 3 injeccíones para lograr-se la mejoria o curacíon". Não deu resultado em 11 casos ou seja 21,15 (J(- , acentuando que nestes nenhum evolveu para o abcesso periamigdaliano. Termina dizendo que "ante la bismutoterapia las anginas reaccíonan en forma variable. Unas curan cri forma relativamente rápida, en otros se muestra francamente ineficaz y entre ambos os grupos todas Ias formas de transicion".

PAGANO, ALBERTO; italiano, de Nápoles, descreve sua experimentação a respeito do bismuto nas anginas na revista "11 Valsava". Em 24 casos obteve resultado positivo em 62,5%, e negativo em 37,5 %. Tratou oito abcessos peri-amigdalianos e observou um caso positivo; acentua que em todos, repetindo aliás Falcão e Silva Guimarães, observou pús mais fluido e evolução mais rápida do processo inflamatorio após a abertura do abcesso. Diz textualmente "il Bi, facilita la formazione del puse e evacuazione della raccolta, diminuendo in pari tempo de soffrenze dei pazienti". Termina o seu artigo, o docente da Universidade de Napoles, dizendo: "A conclusione, dall'esame dei miei casi, si deve riconoscere che par senza arrivare alla totalita voluta dal Monteiro, i risultati della terapia bismúticas nelle affezioni faringee acate sono da tenere in considerazione, perche in molte di queste forme il Bi si é demonstrato un efficace medicamenti".

BOESE, OTTO, alemão, de Berlin, chefe de clínica do serviço do PROF. MUNK ensaiou a nova terapêutica do bismuto, dando-nos conta num dos numeros da "Deut. Med. Wochs". Este artigo como o de STIEHR foi analisado pelo Prof. Marinho no "Brasil Medico" e data vênia para aqui transcrevemos a analise feita pelo catedrático da nossa Universidade. Não podemos deixar de acentuar que BOESE levando no mais alto grau a moral científica, anota no fim do seu artigo que "infelizmente" (lei der) STIEHR não se tenha referido aos autores brasileiros, pelos nomes, e sim englobando-os como "amerikanischer Arbeiten".

"O Prof. Munk tendo tido conhecimento dos bons resultados com o emprego do bismuto no tratamento das anginas agudas, empregou-o em seu Serviço do Hospital Martim-Lutero. Em recente número da Deutsche Med. Wochenschrift, seu assistente, Dr. Otto Boese, relatando o que observaram em 140 anginosas, confirma em toda a linha os estudos clínicos do ilustre assistente de nossa Universidade, Dr. Aristides Monteiro.

"Para garantia do que iriam observar, separou Boese em duas metades aquele numero de anginosas. Em uma, injetou bismuto e não usou nenhum outro medicamento ativo, no intuito de afastar suposições de cura atribuída a qualquer outra medicina que não a do bismuto, precaução de que também não se haviam esquecido os primeiros experimentadores aqui, conforme um deles fez ver ao Professor Munk, quando lhes deu a honra de visitá-los no Hospital S. Francisco de Assis, visita a que alude o A. logo no começo do artigo que estamos refletindo. A comparação dos doentes tratados pelo bismuto com os não submetidos ao remédio, foi inteiramente demonstrativa de seu efeito curativo: "Diese Vergleischsbeobachtungen ergaben eine volle Bestatigung der Angaben aus der brasilianischen Klínik". Na metade reservada ao bismuto, quando muito, faziam aos doentes, que entranhavam deixá-los sem mais remédio, gargarejar com algum chá de camomila, agua e sal ou outra qualquer medicação assim de efeito paliativo (indiferente Mitteln). A metade sem bismuto, ficou servindo de termo de comparação ao julgamento do que sucederia com a primeira.

"Em primeiro logar, cumpre assinalar, diz Boese, o acusarem quasi todos os doentes, 6 a 8 horas depois de administrado o bismuto, remissão das dôres de garganta, espontânea ou à deglutição, dizendo-se melhores e mostrando-se mais tranquilos. No dia seguinte, a temperatura havia caído, e voltado à normal em grande número deles. Não se pode deixar de admitir, conclue, que o bismuto encurta a marcha clinica da enfermidade. Correspondendo às melhoras do estado geral, o inflamatorio da garganta melhorara tambem, sobretudo na tumefação diminuída, assim como o exsudato purulento, e nas falsas membranas desprendidas. Houve casos, testemunha Boese, em que a ação do bismuto foi devéras surpreendente: "la manchem Fallen war diese Wirkung gerade überraschend". Póde, até dizer-se que, quanto mais espessas as membranas e funda a necrose, tanto mais eficiente se mostrou o bismuto, o que nem sempre acontecia em casos de discre. to exsudato limitado às criptas. Em mais de um, nessas condições, se fez necessaria uma segunda injeção. Não menos eficaz, prossegue Boese, mostrou-se o bismuto, poderoso e pronto (rasch und stark), no combater a toxicinose dos ganglios regionais intumescido, os quaes, 24 horas depois da injeção, encontravam-se reduzidos de volume e acabavam por desaparecer em tempo sensivelmente menor que o preciso aos não tratados, o que pôde bem avaliar comparando as duas series.

"O hemograma (grifo do original), com leucocitose e desvio para a esquerda, antes do bismuto, voltava, depois, e rapidamente, à normalidade. Com o ceder da leucocitose, desapareciam as formas jovens, presentes em alguns casos antes da injeção; os bastonetes diminuíam, aumentavam as segmentarias. Em caso de angina monocitica tratada pelo bismuto, o número de monocitos caiu de 28, antes, para 17, depois. Sempre afiançada no seguro critério objetivo da comparação, uma nova prova do efeito curativo do bismuto foi tirada pelo que observou nas complicações (grifo do original) das anginas. Os abcessos peritonsilares, por exemplo, não chegaram a 10 % dos sobrevindos na metade não tratada. Em casos de angina unilateral, o bismuto impediu propagar-se o mal para o outro lado.

"Diz o A. que, acompanhando os trabalhos do Dr. Aristides Monteiro, ensaiou preparados, solúvel e insoluvel. Dá-nos a conhecer o Cupangin, iodo-bismutato de quinina, da firma lfah, de Hamburgo, que se revelou constante nos resultados, na dose de 2 c.c., intra-muscular. Si a primeira injeção ficou sem efeito, faz segunda, e última, pois verificou uma terceira não vir reforçar a ação obtida com a segunda. Quer dizer, se esta não produziu o resultado esperado, pouco adianta provocá-lo com mais outra. Ainda nesse ponto a experiência alemã está de acordo com a nossa. A regra, contudo, é nem se cogitar dessa terceira injeção, por não ser mais precisa. Quando a primeira não basta, a segunda quasi sempre completa o que lhe faltava à cura da angina, tal qual se observou na clinica do Professor Munk: "Diese (a segunda injeção) erwies sich in allen Fallen auwre"end bzw, konnte sie auch durch eive dritte Einspritzung nicht gesteigert werden".

"Do exposto, verifica-se começar a Europa a trazer seu testemunho favoravel à bismutoterapia nas anginas. No outro dia, Brasil-Medico transcreveu de um outro A. alemão, STIEHR, observações análogas às que acabamos de relatar. A América do Sul continuava a colher benefícios com o tratamento: "He ensaiado multiples vetes su tratamento y los resultados son assombrosos", escreve ha pouco o DR. JUAN BARROILHET, chefe da "Clinica Oto-rino" do Hospital van Buren, Valparaizo, Chile e, ainda ultimamente, ao relator desta noticia, o DR. IRIGOYEN FREYRE, de Santa Fé, Argentina. Ainda que a outro propósito, não se contêm, e remata a missiva referindo-se ao bismuto: "aprovecho la oportunidad para manifestarle que he obtenido muy buenos resultados con el uso Del bismuto en las anginas non especificas". O DR. BOESE acompanha-os sem reservas: "Pelo que tivemos ocasião de observar, não podemos deixar de formar ao lado dos que vêm no bismuto um tratamento ideal da angina pultacea - eine ideale - behandlung dieser Krankheit". E, mais, vem a sentença do sangue circunspeto da Alemanha".

JUAN M. TATO e MONTSERRAT, de Buenos Aires, com o intuito. de observar a regressão do processo inflamatorio, fizeram estudos anátomo-patológicos das amígdalas tratadas pelo bismuto. Repetiram as nossas experimentações, empregaram, alem do bismuto, outro preparado anti-infecioso, a leucotropina. Dizem-nos os conhecidos especialistas portenhos "En efecto, de los cinco casos tratados con bismuto, luego de la extirpación de las amígdalas, la extirpada en segundo termino, después Del tratamiento, nos ha mostrado una flogosis atenuada (Obs. 1 ) ; cri 3, las diferencias entre ambas amígdalas indicam una ligera declinación de la reaccion inflamátoria (Obs. II, III y IV) y en la restante (Obs. V) la inflamación se hace mucho mas intensa en la amígdala después Del tratamento que antes de toda terapéutica". Terminam seu artigo dizendo que não ha correlação entre a cura clínica e a histológica, que o bismuto em certos casos não conseguiu jugular a inflamação o que explica os 21,15 % de insucessos da sua estatística e que tem importancia o momento do ciclo evolutivo em que se inicia o tratamento. Claro que, si os Especialistas portenhos tivessem examinado amigdalas daqueles "casos brilhantes" de que falam no seu primeiro artigo, teriam como nós visto a flogosis desaparecer em 48 horas, A primeira conclusão é definitiva para todas as molestias, a cura clínica sempre antecede a histológica. Nós tambem tivemos casos em que a flogosis não se mostrou tão atenuada como em outros. Si examinarmos os casos brilhantes de cura em horas e 24 no máximo, vamos encontrar a cura histológica, como no nosso caso publicado com Gastão Sampaio, si não, caímos nas diferentes gradações do processo anginoso paralelo tambem ao processo de flogose, de regressão lenta. Nesses experimentos é necessário sempre se fazer a prova bacteriológica, para não termos as exceções das anginas a estafilococo e pneumococus, que sabidamente não atúa o bismuto sobre elas e seriam causas de erro na estatística final.

BERBERCH, J. - alemão, de Frankfurt a. M, descreve sua opinião favorável a respeito do novo metodo terapêutico na "Klinik-Wochens", baseado em 50 casos que estudou; cita como um dos casos concludentes "homem idoso apresentara certa manhã sem causa aparente, temperatura elevada, e dores generalizadas. Pelo meio dia, dôr e edema ao nível da amígdala direita. Injeta o Bi, menos de 24 horas depois, desaparece o edema e o doente completamente curado". Mostra-se nesse artigo um adepto do método, que lhe trouxe sempre excelentes resultados; não obteve complicação renal nenhuma; bastou uma só injeção. Em sete casos de abscesso periamigdaliano não evitou a supuração. Acentua os benefícios sobre o estado local e geral observado por nós. Termina dizendo que o novo tratamento constitui um progresso terapêutico, "eive therapeutischen Fortschrit.

GIPPERICH, italiano, de Parma, publica no "Giorn. da Clin. Med.", trabalho sobre o Bi nas anginas. Tratou uma "ventina di casi di angina; em todos os casos tratados, mas especialmente na forma de tonsilites catarral e lacunar purulenta obteve resultados satisfatórios; "poiché in generale una sola iniezione del preparato é stata suficientes a trocare la forma morbosa in 12-24 ore o per lo meno ad abbreviarne il decorso".

VAZ DE MELLO, M. do Rio de Janeiro, em novo artigo, frizando a importancia da terapêutica do Bi nas "repercussões à distancia das anginas agudas", acentúa que o emprego do Bismuto, "precoce e rapido", evita transtornos nutritivos do lactente "ex-infetione". Diz que a sua experiencia vae "para mais de 200 casos de repercussões gastro intestinais severas, representadas por vomitos, diarréia disenteriforme e emagrecimento rapido, nos quais os exames de féses só revelavam sangue, muco e puz, e nada de agentes disentéricos: eram casos de angina aguda e em sua quasi totalidade foram tratados e curados pelo bismuto".

"Resumimos a seguir 2 observações do nosso consultório, que ilustram estas considerações:

"I - A. K. H. C., branco, 6 anos, masc., residente em Botafogo.

A. P. - Quando pequeno era sujeito a altas temperaturas, seguidas de convulsões. Lactente, era vomitador habitual e inapetente. Ha 4 dias temperatura acima de 39°, diarréa muco-sanguinolenta, tenesmo (ontem 32 evacuações). Está desde o início sob dieta rigorosa e em uso de bacteriófago. Exame para pesquisas de ameba, negativo; a familia esperava pelo resultado da pesquisa que mandára fazer para bacilos disentéricos

"Exame da doente - Creança longilínea, pálida, emagrecida, nariz fino e arrebitado. Grande prostação. Disfagia. O 'exame dos aparelhos nos revela angina pultácea. Injetamos 2 ampolas de Desbi para adulto e fomos mais liberal na dieta. (Atente-se para as doses de Vaz de Melo e as insignificantes de Bartels, de miligrama em 48 horas). No dia seguinte. continua o chefe de serviço da Missão da Cruz, queda da temperatura; desaparece a disfagia; apenas 4 evacuações ainda com muco e sangue, injetamos mais 1 ampola de Desbi e tudo cedeu.

"11 - Aidran de C., branca, 13 meses, residente em Leite Ribeiro 123. Começou ha 8 dias, não mais, com febre de 38, evacuações incontáveis, mais de 20, tenesmo. As fézes, quando a paciente veio ao consultório, eram constituirias apenas de muco, puz e sangue. Pesquisa imediata para amebas negativa, tendo o laboratorio aconselhado cultura para bacilos disentéricos.

"A criança já vinha, ha 7 dias com regime dietético prescrito por um médico do bairro, e nada de melhora. Criança emagrecida, pele pálida, turgor diminuido, prostração. Todo o exame nos revela, apenas de notavel, as amigdalas hipertrofiadas e critematosas cosi alguns pontos amarelados - Angina lacunar:

"Ali mesmo, com o técnico de laboratório à vista, resolvemos aplicar 1 injeção de Desbi (adulto), e esperar mais 24 horas sem mandar fazer a cultura das fézes.

"Pela manhã seguinte a febre havia caído, apenas 2 evacuações durante a noite, sem tenesmo. A criança passa a 4 evacuações, já sem sangue e muco, melhorando o apetite. Á tarde 1 ampola de Desbi (infantil). Mas um dia, tudo normalizado sem nova intervenção.

"Muitas vezes o médico, menos avisado, permanece por longo tempo atento, apenas, ao estado gastro intestinal do lactente ou da criança maior, negligenciando um exame mais apurado, enquanto a destruição aumenta, fazendo perigar a vida do doente; outras vezes o diagnostico de piuria ou mesmo pielite é posto, a doença se prolonga e sofre o doente e a bolsa paterna, pelo fáto do exame de urina haver revelado piocitos".

"Na maior parte das vezes, entretanto, a causa está numa angina aguda, que pode ser rapidamente debelada, menos rendosa para o médico, mas que lhe satisfaz melhor a consciência".

HEINZ-GERHARD RIECKE, alemão, de Kiel, relatando para o "Zentralbl. f. Hals", um artigo sobre as diferentes formas da angina, sua significação clínica e terapêutica, assim se refere à nossa. terapêutica: "Zum Sebluss, sei noch auf eive neue Behandlungensart der angina eingegangen, die sowohl die subjetivem als auch die objelctiven symptome wesenthich mildern und den ganzen verlauf abtürzen soll: die Wismutherapie nach Monteiro". E um artigo de síntese em que cita todos os que colaboraram no estrangeiro e alguns do Brasil, sobre o novo tratamento.

BACCARINI, C., italiano, de Bolonha, fazendo a descrição analítica do ano 1935-36 da clínica universitária do Prof. Caliceti, refere-se textualmente à nossa terapêutica: "In queste tonsilliti abbiamo fatto all'inizio in parecchi pazi enti una iniezione endomusculare di Salbiolo di segondo grado. La bismuto terapia, in queste forme puramente tonsillari, ha dato brillantissimo risultato nella maggioranza dei casi. E cioe: diminuzione rapida della sintomatologia dolorosa e febbrile ed evoluzione quasi immediata e benigna del processo inflamatorios locale.

ISSELHARD, OSKAR, alemão, de Leverkusen, relata na "Münch. Med. Wochen" sua experiência em cerca de 60 casos. Diz que o metodo é pouco conhecido na Alemanha e chama a atenção dos internistas sobre ele, dizendo que o novo tratamento significa realmente um progresso terapêutico", ... da sie wirklich eive therapeutischen Fortschritt bedentet". Descreve algumas observações resumidas, dizendo que raramente precisou de ir à 2.a injeção. Iselhard termina o seu artigo dizendo que a nova terapêutica é não só econômica como muito eficaz, "die Wismuthehandlung nach Aristides Monteiro ebenso wirtschaftlich wie wirkungsvoll".

MAYERSOHN, LASARE, rumeno, de Bucareste, descreve tambem os efeitos curativos do Bi nas anginas, confirmando os resultados favoraveis. Na maioria dos casos bastou uma injeção. Não podemos desenvolver o artigo porque o lemos no Zentralbl. f. Hals. analisado por Riecke (Kiel) que não dá maiores informes. Apesar de pedido não conseguimos o original.

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