Versão Inglês

Ano:  1933  Vol. 1   Ed. 6  - Novembro - Dezembro - ()

Seção: Associações Científicas

Páginas: 481 a 486

 

ASSOCIAÇÕES CIENTIFICAS

Autor(es): -

ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA

Secção de Oto-rino-laringologia.
Sessão de 17 de Outubro de 1933

Presidida pelo Dr. Homero Cordeiro (no impedimento, por doença, do Dr. Schmidt Sarmento) e secretariada pelos Drs. Raphael da Nova e Rubens de Brito (ad hoc), realisou-se a 17 de Outubro ultimo, a nona sessão ordinaria da Secção de Otorino-laringologia, da Associação Paulista de Medicina.

No expediente, o Dr. Mario Ottoni de Rezende comunica a proxima partida para Santos do Dr. Schmidt Sarmento e pede que se nomeie uma comissão para ir visitá-lo em nome da Secção. O Presidente, acedendo a proposta, escolhe tres nomes para, constituir essa comissão, que recáe nos dos Drs. Mario Ottoni de Rezennde, José Julio Cansanção e Antonio Perella. Em seguida pede um esforço dos associados, para que não deixem faltar trabalhos para a atividade da Secção.

ORDEM DO DIA

1.º) - DR. MARIO OTTONI DE REZENDE.(S. Paulo) - "Nevralgia do vidiano por projétil de arma de fogo.

(Este trabalho sae na integra em outra secção desta revista).

DISCUSSÃO:

Dr. Francisco Flartung: Acredita que o caminho trans-septal seria o mais pratico na penetração ao esfenoide, e que pelo emprego da lampada de iluminação do cavum, daria uma melhor visibilidade da bala.

Dr. Carlos Gama: No seu trabalho, conjuntamente com os Drs. Vampré e Mario Ottoni, sobre a inervação do seio maxilar, chegou á conclusão que no antro, os nervos trigemio, facial, glossofaringêo e sistema simpatico, desempenham papel na inervação sensitiva. Pela alcoolisação do ganglio de Gasser, notára zonas de anestesía alternadas com outras de sensibilidade: conservada, facto que tem a sua aplicação pratica em casos de nevromas, onde se procura saber qual o nervo afectado, o qual deveria ser tratado sem lesar os nervos sãos.

Dr. Mario Ottoni de Rezende: (encerrando a discussão) : Diz que a idéa da penetração trans-septal não lhe passou desapercebida. Contudo aproveitou a via lateral, para ter melhor visão para retirar o projétil, cuja situação não era bem conhecida. Procedera a remoção do rostrum, para aumentar o campo operatorio, que era insuficiente pela simples remoção do corpo do etmoide e corneto medio. Só teve boa visibilidade depois da remoção das paredes do seio esfeinodal.

2.º) - DR. FRANCISCO HARTUNG (S. Paulo) - Alergía nasal.

(Este trabalho tambem está publicado na integra neste numero).

Dr. A. Vicente de Azevedo: Faz varias considerações relativaniente á importancia da alergia em O. R. L. Referiu-se ao papel preponderante exercido pela mucosa das vias aereas superiores, servindo de porta de entrada para as substancias sensibilisantes, não sendo pois apenas as vias digestivas as uniras responsaveis pelos choques alergicos.

Os fenomenos alergicos de origem nasal ou do trato respiratorio superior, são tão importantes e tão ligados á O. R. L., que na clinica do Prof. von Eicken, em Berlim, existe um departamento para seu estudo e tratamento, e, nos Estados Unidos já se constroem edifícios estanques - windowless - cujo arejamento é condicionado artificialmente. Como é sabido, naquele país a febre do feno e a asma constituem verdadeiro flagélo.

Dr. Rubens de Brito: Secunda o Dr. Hartung em atribuir a maior importancia ao factor bioquímico do sangue no aparecimento dos fenomenos anafilaticos. Os estados alcalogenos predispõem aos estados alergicos. Assim na prenhez, na insolação, na diabetes, em que se acentúa o estado acidotida do sangue, ha o desaparecimento da alergia.

Dr. Rebello Neto: Lembra a correlação da cheróse infantil, que deforma os ossos da face e os estados de anafilaxía.

Dr. Mario Ottoni: A alergia é uma questão de habitus e ambiente do indivíduo civilisado. E' questão muito complexa, e o doente precisa ser bem estudado, antes de indicado um determinado tratamento. Devem ser ventilados os habitos, a alimentação, estudado o estado bioquímico do sangue (Ph), experimentar regimes, peptonas etc. Sem conhecer a 'causa do estado anafilatico, qualquer tratamento será inutil.

Dr. . Roberto Oliva: A alergia é uma doença que, não dever ser tratada pelo especialista, por quanto, a manifestação nasal em geral, nada mais é do que uma simples consequencia do estado alergico. Quando a causa fôr nasal, impõe-se o tratamento do especialista. Nos regimens do Dr. Asbahr, não se cogita de procurar qual a substancia sensibilisante, e não procura remover a causa. Cita um artigo do "Monatsschrift", em que o autor trata as manifestações alergicas com "Rheuma-Cutin", obtendo quasi cento por cento de sucesso.

Dr. Carlos Gama: Lembra uma sugestão ao trabalho em discussão: uma prova simples para substituir a dosagem alcalina, cuja tecnica está ao alcance de qualquer um. e a prova da apnéa inspiratoria e expiratoria. Normalmente, a inspiração sóbe a um minuto e a expiração a 20 segundos. Na alcalóese em que as combustões são mais lentas, o individuo resiste mais tempo sem respirar.

Dr. Francisco Hartung (encerrando a discussão): Objéta que segundo a sua orientação, a alcalóse é o factor causal unico para os alergenos provocarem a deflagração do acidente alergico. Nos hepaticos ha acidóse e nesses indivíduos não ha estados alergicos. Quanto aos tests cutaneos, até o momento não viu resultados praticos.

Sessão de 17 de Novembro de 1933

Presidida pelo Dr. Schmidt Sarmento e secretariada pelos Drs. Homero Cordeiro e Raphael da Nova, realisou-se a 17 de Novembro p. p., a decima sessão ordinaria de Secção de Oto-rino-laringología, da Associação Paulista de Medicina.

O Presidente agradece á comissão que o fôra visitar durante o seu afastamento por doença. Em seguida exalta o brilho da contribuição que teve a oto-rino-laringología no ultimo Congresso Medico Paulista e congratula-se pelos fructos que daí certamente hão de vir para e nosso meio.

No expediente, o Dr. Mario Ottoni pede a meza que seja lançada na áta um voto de pezar pelo falecimento do Prof. Albert Jansen, voto, esse que foi aprovado pela casa.

ORDEM DO DIA:

1.º) - DR HORACIO DE PAULA. SANTOS (S.. Paulo) - "Processo brasileiro de amigdalectomia.

Resumo: O processo brasileiro de autoria do Dr Paulo Brandão, é uma modificação da tecnica de Sluder, que consiste em fazer-se: a torsão da amigdala depois de fixada pelo Sluder, do pólo inferior para o superior, num angulo de cerca, de 180º. Segue-se uma tracção suave, o que julga ser suficiente para a pratica de uma bôa operação. Relata casos que operou em Viena, Bordeaux e Pariz e a bôa maneira com que foi apreciado o metodo. Finalisa relatando as suas vantagens.

DISCUSSÃO:

Dr. Mangabeira Albernaz: Salienta a repercussão que deve ter tido o facto de um especialista brasileiro ir contribuir para o progresso da oto-rino-laringología no estrangeiro. Felicita o autor pela propaganda benefica que fez da O. R. L. nacional.

Dr. Schmidt Sarmento: Pede uma pequena ratificação, dizendo que foi ha 21 anos atrás que fez a sua primeira amigdalectomia em S. Paulo.

2.º) - DR. RAPHAEL DA NOVA (S. Paulo) - Acidente hemorragico no curso da incisão de flegmão peri-amigdaliana.

Resumo: O A. apresenta um caso de flegmão peri-tonsilar, em que a incisão terapeutica feita de acordo com as regras habituais, ocasionou uma hemorragía cataclismica, que teve o seu epilogo na ligadura da carotida externa do mesmo lado. Atribue a ocurrencia, a uma anomalía vascular ao trajéto atipico de um dos ramos da carotida externa. Lembra algumas medidas de precaução de que o cirurgião deve se munir, ao proceder o esvasiamento de um flegmão da amigdala e termina levantando a questão de ordem medico-legal, sobro a responsabilidade do medico deante de um acidente semelhante.

DISCUSSÃO:

Dr. Roberto Oliva: Lembra a injecção de lipiodol na bolsa do abcesso, seguida da radiografia para localisar com precisão a séde do mesmo. Julga que, antes da incisão, pe deva fazer a puncção previa. Por fim, para evitar a lesão de um vaso pelo instrumento cortante, poder-se-ia recorrer simplesmente á pinça romba que será sobretudo tolerada nos abcessos que já estão aflorando á surperficie da mucosa.

Dr. Mario Ottoni: Para se julgar de um abcesso, pensa que apalpação poderá dar muito bons resultados. As incisões ás cegas no 4.º ou 5º dia de um abcesso, são perigosas. Quanto as consequencias desastrosas de uma incisão, é cousa que não se pode prevêr. As precauções são sempre bôas, mas de valôr pratico relativo.

Dr. Mangabeira Albernaz: Cita um caso de hemorragia por flegmão da amigdala, mas aqui tratava-se de uma origem septica, com erosão da parede dos vasos. Acha que as precauções nas hemorragias imediatas, em geral não surtem efeito. Visando esse fim, cita o metodo de Killian, para abrir os abcessos, bem coma oi pelo instrumento de Castilho Marcondes, em que a pinça armada de fino bisturi penetra e dilata ao mesmo tempo. Lembra a possibilidade de fazer abortar o abcesso, injectando no local uma solução de electrargol.

Dr. Francisco Hartung: Lembra um esquema de Feterhof sobre a anatomia vascular da amigdala, onde o autor estuda as diferentes eventualidades, quer quanto á origem, como ás anastomoses dos vasos. Lembra a profilaxia das hemorragias amigdalianas, que consiste em manter o doente em vigilancia até que se processe a hemostase perfeita.

Dr. Schmidt Sarmento: Crê na impraticabilidade de profilaxía dos desastres. Faz menção a um caso de, sua clinica, em que a hemorragia secundaria, depois de aberto o abcesso, cedeu á compressão prolongada. Quando ainda estudava em Viena, teve a ocasião de observar um caso de hemorragia fulminante e morte do, paciente, depois da incisão de um abcesso da amigdala. Duranter a autopsia, encontrou-se um aneurisma da carotida interna, que se rompera devido a descompressão, sem ter havido lesão traumatica das paredes do mesmo.

Dr. Raphael da Nova (encerrando a discussão): Quando fala de medidas profilaticas ou de precaução na abertura de um abcesso" não pretende com elas acabar com os acidentes, porque seria ima praticavel, mas dar ao cirurgião elementos de os evitar até certa ponto.

3.º) - DR. MANGABEIRA ALBERNAZ (Campinas) - O abcesso da lingua.

Resumo: Depois do estudo sumario sobre a anatomia da lingua, mostra o A. que o principal responsavel pela raridade do abcesso da lingua, é o fascia lingualis. Insurge-se contra o esquema classico de Killian, mostrando que as colecções purulentas desenvolve-se em qualquer parte da lingua. Não admite a preponderancia da causa dentaria na genese desses processos infecciosos. Passa então a expor os casos que teve oportunidade de observar, estudando-os de acordo com os tipos admitidos. Relata assim 4 casos de observação pessoal e um do Dr. Rocha Brito.

Estende-se nas indicações operatorias, mostrando o valôr que, em certos casos, pode apresentar a localisação radio-

grafica. Para isso faz-se a puncção, esvasia-se o abcesso de seu conteúdo, para ser ele, de novo cheio com lipiodol ou iodipina. Critica a abertura dos abcessos da base pela via bucal, conforme aconselha Bergman, mostrando ser muito mais racional e segura, a via cervical, como preconisa Kuttner.

Conclue por dizer que o abcesso da lingua é tido como raridade. Tal raridade parece, porem, relativa, pois em sete anos já viu 4 casos.

Dr. Mario Ottoni: Cita um caso de observação propria, de uma abcesso localisado entre o terço medio e o terço anterior da lingua. Depois de punccionado, o abcesso veio a se romper espontaneamente. A anamnése que fôra negativa em todos os sentidos, mostrou posteriormente que a causa fôra um traumatismo por espinha de peixe.

Dr. Roberto Oliva: Pensa que os abcessos da lingua sejam raros, pois só teve ocasião de observar um caso, que foi aberto com bisturi curvo. De leitura, conhece um caso de abcesso da amigdala lingual, que foi tratado com a ponta de galvano-cauterio.

Dr Schmidt Sarmento: E de parecer egualmente que o abcesso da lingua seja uma occorrencia rara, nunca tendo tido ocasião de observá-lo em sua clinica.

Dr. Mangabeira Albernaz: (encerrando a discussão) O abcesso da base, desde que seja superficial, deverá ser aberto por via interna, como no caso de um abcesso localisado na amigdala lingual.

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