Versão Inglês

Ano:  1933  Vol. 1   Ed. 4  - Julho - Agosto - ()

Seção: Associações Científicas

Páginas: 295 a 311

 

ASSOCIAÇÕES CIENTIFICAS.

Autor(es): -

ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA
Secção de Otorrinolaringologia.
Sessão de 17 de Maio de 1933


Presidida pelo Dr., Schmidt Sarmento e secretariada pelos Drs. Ilomero Cordeiro e Raphael da Nova realizou-se a 17 de Maio ultimo, a quinta sessão ordinária da Secção de Otorrinolaringologia da Associação Paulista de Medicina.


No expediente o 1.o Secretario transmite aos sócios presentes o convite feito, em nome do Instituto Penido Burnier, pelo Dr. Costa Pinto, Secretario da Associação Medica do referido Instituto, para seu comparecimento aos festejos de aniversario daquele hospital campineiro.


Ainda no expediente, o Sr. Presidente, atendendo ao pedido de alguns colégas que irão se ausentar e também á interesses particulares dá' mesa, propõe férias para a Secção no próximo mês de Junho, proposta essa, que consultada a casa, é aprovada.


Em seguida o Dr. Silvestre Passy, em satisfação ao trabalha do Dr. Mario Ottoni de Rezende, Valor da otorrinolaringologia na higiene escolar, apresentado na sessão anterior, lê o seguinte relatório.


Os colegas presentes á ultima reunião tiveram a ventura de ouvir mais um dos sempre interessantes trabalhos do Dr. Maio Ottoni, com o qual, além de afirmar mais uma vez o especial carinho com que cultiva a especialidade, mostra uma face nova da sua aprimorada cultura medica: a medicina social. Ausente dessa sessão foi-me com tudo proporcionada à leitura daquele trabalho, tão apreciável pelo acerto dos conceitos, quanto pelo esclarecido sentimento de patriotismo que revela.


Ninguém, de boa fé, pode negar o mais franco aplauso ás idéas expostas e aos anceios de progresso ali manifestados; muito menos nós que, por dever de oficio conhecemos de perto as necessidades que tambem desejamos ver satisfeitas, dado o interesse cotn que sempre cumprimos os nossos deveres. E, só aplausos podem merecêr todos que, exercendo parcela de poder, ou influencia junto a este, ou na sociedade, contribuam com uma pedra que seja para essa base em que deve assentar o edificio da nacionalidade, isto é, a educação e saúde publicas.


Ficamos devendo a Mario Ottoni mais este favor: pôr em relêvo o valôr da especialidade na higiene infantil, apontando aos poderes publicos as deficiencias do serviço, e isto com a autoridade moral que lhe confere a sua invulgar competencia e a insuspeição do seu absoluto desinteresse pessoal.


Mas, si os serviços em fóco pecam por falta de organização e de eficiencia, é preciso também que se esclareça que não a nós, modestos funcionarios dos mesmo, cabe a responsabilidade.


Na ancia de progredir, a passos gigantes, todo bom paulista; sempre revelou o espirito insatisfeito no que se refere a todos os serviços publicos, que, força é confessar, estão sempre aquem das necessidades, o que deve ter explicação em parte, no fáto do: aumento muito rapido da população, em virtude das intensas correntes imigratorias para este Estado nos ultimos decenios, o que trouxe a desproporção entre a capacidade da administração e as necessidades da população; e assim é que um observador, como Mario Ottoni, lastima a deficiencia, o publico reclama e os servidores do Estado afligem-se por não terem meios para remediar a situação.


A Higiene Escolar, aparelhamento realmente insinificante em relação ao que deveria ser, para poder ao menos figurar condignamente ao lado do da Instrucção Publica, não mereceu ainda a devida atenção dos poderes publicos, que, até parece, lhe não tenham compreendido a importancia, a sinificação, a finalidade e complexidade de sua ação, julgando-a talvez simples orgão de defesa contra molestias infecciosas, negando-lhe assim o desenvolvimento e a organização que ha muitos anos está a exigir a população escolar do Estado, a qual, entre outros problemas e dificuldades a vencer na educação sanitaria, apresenta mais o da heterogeneidade de raças e costumes.


Os medicos que têm servido e servem; nesse departamento muito se têm empenhado é tem clamado para que a ele seja dado o desenvolvimento e organização indispensaveis, por bem lhe conhecerem as falhas, mas o que tem sido conseguido, é um nada quasi.


Serviço existente desde 1912, só no governo Carlos de Campos o então medico-chefe, Dr. Vieira de Mello, obteve a elevação do numero de medicos de 5 para 10. Foi uma lança em Africa. As educadoras sanitarias, orgão fundamental á execução, do serviço, até hoje não as possue apezar de reclamadas por Vieira de Mello ha muitos anos.


De 1930 para cá, semelhante ao que ouço, dizer dos demaisserviços publicas do Estado, o nosso tem sofrido as conseqüências da agravação do mal que é em grande parte causador da ineficiência dos mesmos, isto é, a descontinuidade administrativa, com a sua excessiva variedade de programas e de orientação.


Os técnicos, no caso os médicos, geralmente tem a visão mais afeita ao exame das necessidades publicas, porque a braços com elas, de forma que, quando na alta administração podem fazer mais e melhor, embora com limitados recursos. Mas, os homens de governo, geralmente bacharéis, ou bacharelizados pela política, têm a felicidade para si de ver os problemas por altos a "vól d'oiseau", não, descendo ao exame detalhado, desconhecem as necessidades em suas minúcias ou não acreditam nelas e, em conseqüência, nem sempre compreendem serviços de grande vulto e custo elevado para atendê-las. Parece-me que isso é que tem acontecido á inspeção Medica, Escolar, pois sugestões não tem faltado aos governos para seu melhoramento, não correspondendo estes com os recursos indispensáveis os serviços que tem sido feitos, o tem sido em meio a uma pobreza franciscana.


No que diz respeito á assistência oto-ripo-laringologica, incontestavelmente um dos fatores mais evidentes da eficiência da higiene escolar, é preciso lembrar que sendo ela parte de uma organização muito modesta, não pôde, por sua vez, deixar de ser pobre. A Higiene Escolar, muito pela rama pôde atender aos escolares da Capital apenas, pois os médicos escalares são obrigados a percorrer classes sem conta, dado o numero restrito daqueles. Do serviço assim feito, o consultório de otorrino recebe naturalmente uma parte reduzida dos necessitados de exame e tratamento, pois dos encaminhados, faltam uns por pusilanimidade, outros par negligencia dos pais, outros por dificuldades materiais; mas essa parcela que vem, já constitui uma tarefa bastante apreciável, dada a idade e qualidade dos consulentes e as nossas modestas condições de trabalho. Lá, como no nosso modestíssimo serviço da Santa Casa, temos que pôr muito em valor a boa vontade pessoal para o pouco que produzimos. Melhores condições de trabalho nos fossem proporcionadas e provavelmente maior e melhor seria a produção.


Assim mesmo, até hoje nenhum escolar que tenha a ela recorrido deixou de receber o tratamento indicado, salvo, naturalmente, os filhos de famílias de recursos que são examinados, fichados e aconselhados a procurarem especialista quando necessitados de operação. Com uma organização geral mais completa, um departamento de saúde escolar de feição aceantada, o serviço de otorrino seria de grande vulto, mas exigirá pessoal técnico e subalternos numerosos, capazes e dedicados, além de maiores acomodações, pois que o exercício desta especialidade em crianças em idade escolar, em que predomina p. elementos menos educado da população, exige muito tacto, paciência e por isso mesmo torna-se pesado, devido á deficiência de pessoal auxiliar. De forma que si, no que nos diz respeito, não temos imprimido ao serviço um cunho brilhante como seria de desejar, é bem que se reconheça, contudo que não temos estado inativos, não temos feito dos nossos cargos uma sinecura. Si o, nosso trabalho tem sido simples, é preciso que se saiba que essa simplicidade quasi monotona, é sequencia natural do fáto de serem os pacientes, colhidos nas escolas e, geralmente, nas escolas se encontram os que, mais ou menos, estão em condições de frequenta-la, e, nesses, a incidencia de afecções da especialidade é reduzida em variedade, mas numerosa dentro de poucas entidades morbidas; os que têm defeitos que os incapacitam com o ensino coletivo podem ser sumariamente eliminados pelos diretores com audiencia ou não do medico da zona, e os que adoecem de molestias mais graves, poucas vezes, a meu vêr, recorrem á assistencia escolar, por necessitarem de tratamento domiciliar. O grande contingente de nosso trabalho tem sido, portanto, o tratamentio das amigdalites palatinas e faringeanas, atendendo, entretanto, a tudo que aparece, mesmo que tenhamos ás vezes de hospitalizar os enfermos. Mas, mesmo sendo o grosso do nosso trabalho simplesmente o tratamento das amigdalites palatinas e faringeanas, agimos com a consciencia de que, dentro do nosso circulo de ação, praticamente, prestamos ás creanças o melhor serviço, não só do ponto da terapeutica diretamente endereçada aos orgãos afetados, como do da profilaxia de molestias e afecções consequentes áquelas, como sejam, - focalizado o ponto principal da tese de Mario Ottoni, - as afecções dos ouvidos. Dos resultados colhidos por esse procedimento, ninguem duvidará, por certo: é assunto passado em julgado e por demais corriqueiro no nosso meio, registrados estão nas fichas do serviço e, todos os dias temos os depoimentos de pais e mestres, satisfeitos com o aproveitamento das creanças no que diz á saúde e ao andamento escolar; di-lo tambem, a crescente afluencia de candidatos á operação, muitos expontaneos, especialmente a de irmãos de já operados lá, quando nos primeiros tempos de funcionamento do serviço, o nosso maior trabalho era o de procurar convencer os pais a submeter seus filhos: á intervenção. O nosso modesto trabalho, embora em escala diminuta, tem sido proveitoso: estamos em paz com a nossa consciencia.


A assistencia oto-láringologica foi feita pela primeira vez, de abril 1916 a setembro 1922 pelos Drs. Sarmento e Moreira que prestaram gratuitamente seus serviços a uma instituição de iniciativa particular creada pelo Dr. Vieira de Mello para tratamento das creanças pobres das escolas, havendo atendido a cerca de 900 escolares.


Em julho de 1926, por proposta do Dr. Vieira de Mello, começaram a funcionar as clinicas escolares, a titulo precario porem, embora o Secretario do Interior anuisse, não as oficializou por ato do governo como fôra proposto.


Nos primeiros anos era muito diminuta a afluencia á clinica, variando muito com os mezes de atividade escolar e de férias, e dos que vinham á consulta, bem poucos se submetiam ao tratamento cirúrgico, quando indicado. Mas, a freqüência veio melhorando, sendo atualmente bem apreciável e regular todo o ano. Tem contribuído também para diminuir a produção o fato dos respectivos funcionários serem chamados a prestar serviços diferentes, o que felizmente não acontece agora, os serviços de jury, os movimentos políticos destes últimos anos, com as suas conseqüentes alterações.

Em 1931 a Higiene Escolar foi transferida da Instrução Publica para o Serviço Sanitário, o que me parece pouco acertado, mas que nos trouxe uma grande vantagem: - a aquisição para a assistência escolar da inteligente e operosa colaboração do nosso distinto colega Paulo Sáes, que fazia serviço mais ou menos idêntico nos Centros de Saúde do S. S., o que permitiu atender á intensificação do serviço que se acentua dia a dia.


Em julho de 1931 fui destacado para fazer o serviço. Da especialidade do Centro de Saúde Modelo, onde pouco me demorei por falta de espaço ai, passando a fazê-lo no Centro do Bom Retiro, do qual voltei em janeiro de 1932 para a Higiene Escolar par força de nova mudança de organização. Todas essas alterações acarretam senão paralisação temporária, pelo menos uma baixa grande no movimento de consulentes e principalmente dos precisados de tratamento cirúrgico.


Para não cansar em demasia os prezados colegas com colunas que não os interessariam, reduzi á expressão mais simples os que traduzem o movimento dos serviços otolaringologicos mantidos pelo Estado, condensando em duas colunas apenas os números dos doentes: a que se refere aos de primeira vez, que chamamos "matriculados" e a das operações, de ambos os serviços, e deixando de lado os de curativos, novas consultas etc., que são cifras muito mais elevadas. Fizemos o que nos foi dado fazer e fizemo-lo com muito interesse e consciência; o mais que se poderia idealizar não o permitiam as nossas condições de trabalho e a escassez de recue com que é dotada a Higiene Escolar. Nos números que seguem, as operações são contadas englobadamente, sem discriminação, predominando as adenotomias e amigdalectomias, sendo o registro das mesmas feito separadamente devido a uma parte dos operados sofrerem só a adenotomias.

Tabela pág 299

São numeros Insinificantes, reconhecemos, em relação â população escolar e á frequencia das afecções da especialidade, mesmo, que se vise só os escolares da Capital, mas não despresiveis como trabalho de dois funcionarios apenas, mal aparelhados, cuja atividade tem sido continua, mas, por força das cirqunstancias, por vezes desviadas para outras tarefas.

Com referencia á expansão a dar ao serviço em fóco, parece-me pouco proveitoso, no momento, delinear planos e expender aqui largas considerações a respeilo, a não ser que se cavaqueie por alto, desde que, tratando-se de uma parcela apenas do problema de H. E. fica forçosamente na dependencia da envergadura que o Governo esteja em condições de dar a um possivel Departamento de Higiene Escolar, da sua ligação com a Instrucção Publica ou com o Serviço Sanitario, de ser encarado o problema para o Estado todo, o que parece ser justo e necessario ou só para os grandes centros, havendo ainda quem discuta si deve o Estado fazer ou não assistencia diréta. Neste particular, eu penso que, fazer o Estado assistencia medica e no nosso caso, oto-rino-laringologica, é fazer tambem bôa medicina preventiva, bôa profilaxia das molestias contagiosas.


A praticabilidade de um serviço de H. E. que beneficie todo o, Estado, e, particularmente, a de um serviço de otorino de grande rendimento, depende da colaboração do professorado, de pessoal auxiliar numeroso, principalmente educadoras sanitarias, para que pelas malhas da rêde da vigilancia sanitaria se escape o minimo de creanças. A irradiação dos serviços da especialidade poderia chegar até as principais cidades, onde existiriam postos nas sédes das inspectorias de Ensino ou nas Delegacias de Saúde, para os, quais seriam encaminhadas as creanças, ou, talvez melhor, de onde partiriam os especialistas em incursões operatorias periodicas até aos menores nucleos de população escolar.


Em outros tempos, o Dr. Vieira de Mello, valendo-se da, clarividencia e patriotismo dos clinicas do interior chegou a organizar e funcionar alguns anos sem a menor despesa para o Estado, um serviço de vigilancia higienica escolar bem apreciavel, controlado atravez de relatorios periodicos. Mas, naturalmente, não se pôde contar muito com a regularidade e eficiencia de um serviço feito nessas condições, embora orientado pelos medicos do Estado em visitas regulares ao interior.


Um corpo de educadoras sanilarias para servir ao Estado todo, tambem seria muito oneroso, e talvez as condições atuais não o permitam, a não ser em pequeno numero, distribuidas por zonas. Mas, a meu ver, o processo que resolverá de forma definitiva, eficiente e economica este problema basico da Higiene Escolar, embóra em futuro um tanto remota, é conferir á professora a duplamente dignificante missão de mestra e educadora sanitaria. Não sei de quem é a idéa, mas ha tempos ouvi de pessôa autorizada ue fitava-se de dar ao ensino de Higiene das molestias uma amplitude e orientação de tal que permita á futura professora ser ao mesmo tempo a educadora e vigilante sanitária de sua classe. Processo, Ideal, que redundará em maior eficiência pelo contato diário e prolongado com as crianças, conhecimento e correção de maus hábitos que não se revelam em uma simples visita, observação do modo de vida e alimentação, entendimentos com os pais, mais freqüentes oportunidades de transmitir-lhes ensinamentos higiênicos etc. e tudo isso sem o inconveniente da interrupção e desorganização nos horarios da classe pela intromissão de pessoa estranha nos seus trabalhos e a par de grande simplificação de serviço. Nessas condições, os medicos-inspectores seriam de fato inspetores e orientadores e não, como tem sido, os executores de serviços de segunda ordem, como vacinação, visitas diárias ás classes etc., que diminuem a personalidade do medico perante o professorado, os escolares e seus pais.

O aparelhamento complementar de que carece a H. E. é grande e dispendioso; tem sido assunto ventilado por muitas vezes, de que dão idéia, em parte, os relatórios elaborados pelo Dr. Vieira de Mello, publicados uns, outros não, mas sempre relegados ao esquecimento pelos poderes públicos e, acreditam-nos que isso aconteça por ignorarem as altas autoridades, os grandes beneficies que colhem as novas gerações com os tratamentos medico-cirurgicos indicados, com as noções de higiene adquiridas e aplicadas, com as escolas para débeis, ao ar livre e para anormais, comi as colônias climatéricas, assunto que o atual diretor Figueira de Mello está agitando com esperança de breve realização, com a instituição do "copo de leite" ou a refeição escolar etc., pois, de outra fôrma não se compreende que em tempos de finanças Mas não se conseguissem recursos para crea-los. (A não ser que sejam partidários da seleção natural). Dai a necessidade que do Governa e das assembléias legislativas façam parte médicos higienistas cultos, em atividade profissional e não políticos, trânsfugas ou aposentados da medicina.

No seu trabalho cita M. Ottoni as estatísticas de diversos autores estrangeiros, os quais concluem que 1/4 dos freqüentadores das escolas para normais são moucos definitivos, tendo no melhor ouvido audição inferior a 1 metro em cochicho.
Eu que já conhecia essas afirmações admirava-me de não encontrar tão grande numero de surdos entre nossos escolares e, com' maior razão entre os portadores de afecções da especialidade ou suspeitos de tal, encaminhados á clinica escolar, para o que só vejo explicação em serem provavelmente as moléstias infecciosas mais benignas em nosso meio as infecções menos virulentas, ou em um estado de resistência relativa, senão de imunidade, adquiridas justamente por infecções repetidas e atenuadas, naturais na crianças, principalmente de condição humilde, por falta de cuidados de higiene.

É uma suposição que faço; gostaria de ser esclarecido a respeito. Mas deante da citação de M. Ottoni resolvi por a limpo o que éra, apenas convicção intima, medindo a audição das creanças vindas á consulta nesta ultima quinzena, e tive ocasião de me certificar que o, numero dos nossos hipoacusicos é menor que o de lá, especialmente si atentarmos a que os autores europeus se referem aos alunos em geral das escolas comuns para normais. É verdade que os diretores de estabelecimentos de ensino tem a faculdade de recusar matricula ás creanças portadoras de defeitos muito pronunciados que prejudiquem os trabalhos escolares, mas só seriam considerados como tais, os grandes surdos e isto mesmo estou certo que os nossos professores muito raramente farão; mas é tàmbem verdade que a minha observação é colhida, notem bem, entre as creanças enviadas pelos medicos ou pelas educadoras, ou vindas expontaneamente por serem portadoras de afecções da especialidade ou suspeitas de tal, portanto argumento com elemento desfavoraveis.


Os exames de audição do nosso serviço não podem ser perfeitos, não temos ambiente proprio. Fazemo-los na propria sala em que operamos, na qual o pequeno já entra resabiado, quando não arrastado, frequentemente tremendo de medo de ser submetido á tortura sem previo aviso; quando nada a emoção de meio tão extranho acentúa a desatenção. Aproveitamos ra maior dimensão da nossa sala - 6 metros - o que é pouco, sabemos, e por isso a base do nosso exame é a voz ciciada emitida com o ar residual. Mas, parece-me que quem ouve a voz ciciada a 6 metros pôde perfeitamente acompanhar as aulas mesmo a 10 metros, tanto mais lembrando que a nossa sala não é silenciosa pois tem janelas para a rua, em predio muito movimentado com vozerio continuo na qual enfim, o mínimo de ruído que se pode ter é o de 2 torneiras pingando continuamente e um esterilizador a ferver sem cessar!


Entre os colhidos nesta observação, coincidencia notavel, tivemos um caso ececional, de outro não tenho lembrança na nossa clinica escolar: um caso de cofóse adquirida aos 8 anos de edade como complicação de meningite cerebro-espinhal, tratado no Hospital do Isolamento; surdez completa, evidenciando as provas de audição a absoluta nulidade do ouvido interno. Entretanto o menor em questão foi acolhido no Grupo Escolar do Pary, onde uma professora, modelo de dedicação, generosa e abnegadamente tomou a si o encargo de ensina-lo e o está fazendo com proveito.


Resultado da observação feita sobre 154 escolares vindos á minha consulta, na ultima quinzena..


Escolares nos quais não encontrei afecções da especialidade e ouvindo perfeitamente a voz ciciada a 6 metros .

Adenoideanos francos, sem repercussão alguma nos ouvidos.

Pequenas reações adenoideanos ou palatinas sem nenhuma influencia nos ouvidos e na audição.

Adenoideanos - com otite media sup. chr. bilateral 1 e otite media cicatrizada bilateral outro, sem hipoacusia capaz de prejudicar o aproveitamento em aula: voz murm. ouvida a 6 m. ambos lados

Adenoideanos com desvio - do septo e otite m. sup. chr. de! um lado e cicatrizada do outro: - voz murm. a mais ou menos 0.50 de ambos os lados, mas ouvindo a voz de conv. moderada francamente a 6 metros

Amidalites palatinas e faringianas com ligeira repercussão nos ouvidos (otites m. catarrais), mas não afetando a audição, pelo menos de forma praticamente prejudicial ao ensino em classes: voz murmurada ouvida francamente a 6 m., provas de diapasão normais.

Amidalites palatinas e faringianas acompanhadas de afecções do ouvido médio - otites m. sup. em atividade, em tréguas ou cicatrizadas, otite adesiva, sem grande prejuízo para a audição: v. murm. a 6 ms. - provas de diapasão ás zes imprecisas (é preciso levar em conta o que são muitas vezes as informações das crianças)

Hipertrofia de amídalas pal. e faringiana em menina com os estigmas clássicos de heredo-lues, inclusive keratite parenquimatosa e cicatriz de goma recente da abobada palatina: otite m. catarral (tímpanos muito retraídos), mas ouvindo a voz ciciada bem a 6 metros, provas de diapasão pratimente normais,

Otites medias catarrais ou supuradas, em atividade ou extintas, sem afecção da garganta e. sem diminuição prejudicial da audição - voz ciciada a 6 metros.

Amigdalo-adenoideanos com otites catarrais ou supuradas crônicas e leve comprometimento da audição (do ponto de vista escolar), voz murmurada ouvida de 3 a 6 metros em 1 ou ambos os ouvidos - duros de ouvido - voz de conversação a 6 metros francamente

Otites medias supuradas crônicas unilaterais, sem afecção da garganta, com audibilidade da v. m. a 1 mto. em uma criança. e a 3 mts. na outra, mas voz de conv. ouvida perfeitamente a 6 metros; ouvidos opostos - v. m. a 6 metros.

Afecções cronicas ou deformidades do nariz, principalmente rinite atrofica e desvio do septo, sem comprometimento dos ouvidos e da audição escolar: v. m: a 6 m. provas de diapasão normais . . . . . . . . . . . . . . . , 10

Afecções do nariz - Rinite atrofica com afecção dos ouvidos concomitante:
--otite media cicatr. unilateral com audição da v. m.
a 6 metros de ambos os lados . . . . . . . 1
-- otite m. cat. de um, lado e ot. m. sup. chr. do outro - mouco . . . . . . . . . . . . . 1 - --- otite m. catarral bilateral - duro de ouvido . . . 1 3

Creança operada repetidas vezes não sei onde da mastoide direita, continuando com a sup. do ouvido e audição a v. ciciada a 1 metro apenas; ouvido esquerdo integro com audição franca á v. m!. a 6 ms. .

Cofóse resultante de meningite cerebro-espinhal . . . 1

Temos entre essas 154 creanças, 11 com audicão prejudicada contado nesse numiero o caso de cofóse que poderia perfeitameente deixar de figurar ai, tratando-se de caso ececionalissimo, sendo que desses 11, alguns têm um ouvido com audição normal e todos ou vem a voz de conversação perfeitamente aos 6 metros da nossa sala, podendo assim aproveitar bem, a frequencia ás aulas, especialmente si bem colocados. A nossa estatística não é grande, o que não a impede de dar idéa verdadeira da medida geral, pois isso que aí está, é o que vemos todos os dias. Por ela vemos que a frequencia dos casos de hipoacusia acentuada, a ponto de dificultar o aproveitamento do ensino, entre nós, fica muito aquem da acusada pelas estatísticas européas; essa é a minha convicção e queira Deus que eu tenha razão.

Sou um convicto da utilidade da oto-rino-laringologia nos serviços de saúde escolar, praticando-a com fé, consciencia e entusiasmo, a meu ver o maior fátor de inferioridade dos nossos escolares, não é constituído pelas afecções da nossa especialidade, que contribuem sem duvida com um contingente vultuoso. O que constitue verdadeiramente calamidade, pela miseria organica a que conduzem as creanças, são as verminóses quasi generalizadas nas classes humuldes, a alimentação insuficiente, irregular e de parco valor tivo, a habitação insalubre, das aglomerações humanas.

Agradeço penhorado aos ilustres colégas a indulgencia com que me ouviram e peço perdoarem o tempo precioso que lhes fiz perder.

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