Versão Inglês

Ano:  1933  Vol. 1   Ed. 1  - Janeiro - Fevereiro - (3º)

Seção: Trabalhos Originais

Páginas: 12 a 15

LARINGECTOMIA TOTAL (APRESENTAÇÃO DE UM CASO)

Autor(es): DR. GABRIEL PORTO (1)

Adotando a orientação do Prof. J. Marinho podemos dividir a historia das laringectomias em três fases.

O primeiro período com Billroth, 1873, em que a laringectomia se fazia na urgência de acudir manifestações extremas do mal; o segundo, com Gluck e Soerensen, já na época do apuro laringoscópico, que permitiu aos dois mestres divulgarem a operação com sobrevivência e seguro método de execução; o terceiro, em que as laringectomias passam ao domínio da especialidade menos por lhe ter trazido aperfeiçoamento apreciável de técnica que pela oportunidade de verem "Os laringologistas os casos em primeira mão."

A primeira laringectomia, praticada com êxito, se deve a Billroth, em 31 de Dezembro de 1873. Este cirurgião teve, entretanto numerosos precursores:

Albers (1826), Czerny e Gussenbauer (1870) que praticaram a ablação do órgão vocal em cães;

Langenbeck (1854) e Kobelé (1856) que planejaram a laringectomia " in anima nobili" sem terem tido oportunidade de executá-la;

e Patrick Heron Watson, de Edimburgo, que realizou em 1866 a primeira laringectomia total no homem, em um caso de sifile grave, falecendo o paciente durante a intervenção.

Depois da operação de Billroth multiplicaram-se as extirpações do laringe; seus resultados eram, entretanto, desoladores: grande mortalidade operatória e sobrevivência mínima, pois o mal recidiva quase sempre, em prazo curto. Nessa época a grande habilidade do cirurgião consistia em não perder o doente na mesa.

Os insucessos operatórios eram tais, que um congresso médico reunido em Londres em 1881, pronunciou-se por grande maioria de sufrágios contra o tratamento cirurgião radical das neoplasias laríngeas. Apesar dessa condenação formal, os cirurgiões não esmoreceram, procurando sempre melhoria de técnica. 0 fim trágico de Frederico III, imperador da Prussia, victimado em 1886 por um câncer laríngeo, colocando na ordem do dia o problema da terapêutica dos neoplasmas do órgão vocal, fez com que as laringectomias se tornassem frequentes. Sendziak, Bergmann, Peres, Thiersch e Chiari foram os que riais trabalharam pela laringectomia nesta primeira fase.

A segunda fase inicia-se com Gluck e Soerensen; é o período do grande aperfeiçoamento técnico. A operação passa a dar resultados brilhantes: baixa mortalidade e grande sobrevivência. Périer, Aloure, Sebileau, Cisneros, Botey, Tapia, Mc Kenty, Schmiegelow devem figurar ao lado de Gluck e Soerensen como colaboradores na obra de aperfeiçoamento do método.

A terceira fase na historia das laringectomias é a contemporânea em que a intervenção começou a ser praticada em larga escala pelos laringologistas. Todos os grandes nomes que morejam atualmente na laringologia poderiam aqui ser citados.

Entre nós, passou a historia das laringectomias pelas mesmas fases. 0 período contemporâneo iniciou-se com a primeira laringectomia praticada no Rio de Janeiro, por Souza Mendes em 19 de Novembro de 1924. A esta intervenção seguiram-se algumas outras; David Sanson apresentou á "Semana do Cancer" seis laringectomizados. As primeiras intervenções foram executadas pela técnica Gluck e Soerensen. Coube a escola do Prof. J. Marinho a prioridade era divulgar a técnica de Périer, método preferido hoje pela maioria dos nossos especialistas. Paulo Brandão, Estevam de Rezende e Aristides Monteiro, infatigáveis labutadores da escola de cirurgia ativa, magistralmente orientada pelo Prof. J. Marinho, possuem uma serie de nove intervenções de resultados brilhantes, iniciada em 1925; inda hoje vive o primeiro operado e tão bem, que alguns anos depois de perder o laringe, participava aos seus operadores, seu casamento.

Antes de Souza Mendes, a laringectomia já havia sido praticada em S. Paulo pelo saudoso coléga Walter Seng, em 1925, e na Baía pelo Prof. Eduardo de Morais em 1922; cinco anos mais tarde o mesmo professor teve oportunidade de praticar outra extirpação total do laringe.

Em carta publicada em "A Noite" de 27 de Maio de 1925, declarou o ilustre colega Dr. Augusto Hygino que já em 1896 e 1897, o Prof. Oscar Bulhões realizára com êxito duas laringectomias totais no Rio de Janeiro. Mais tarde o Dr. Hygino tivera ensejo de extirpar tres laringes cancerósas. Tais casos não se acham publicados na literatura médica.

Em Campinas possuímos hoje quatro laringectomizados. Os dois primeiros foram operados pelo Dr. Mario Gatti no Circolo Italiani Uniti, pela técnica de Gluck e Soerensen, com traqueotomia prévia. Os dois outros foram por nós operados no Instituto Penido Burnier, pelo método de Périer. Em três dos casos tratava-se de um processo neoplastico antigo em que as lesões eram algo extensas, permitindo ainda esperanças de sobrevivência. O primeiro operado cm 1930 encontra-se em ótimas condições, possuindo boa voz faríngea. Dois outros faleceram; um por recidiva um ano após a intervenção e outro cola uma miase da traquéa três meses depois de operado.

O caso, que vos apresentamos hoje, foi por nós operado em 21 de Maio de 1932.Tratava-se de homem de 53 anos, de boa saúde que enrouquecera ha três semanas apenas. A' laringoscopia indireta impôs-se o diagnostico de câncer intrínseco, logo confirmado pela biopsia que revelou epitelioma espino-celular. Demos preferência a técnica de Périer em um só tempo, isto é sem traqueotomia prévia. O exame do órgão extirpado mostrou que o mal destruíra toda corda vocal direita e alcançára já a comissura anterior, apesar do pouco tempo de doença. Alguns dias após a intervenção verificou-se grande esfacelo na região operatória; houve por isso necessidade de uma faringo-plastia e assim obtivemos cicatrização da ferida operatória após persistência durante dois meses de pequena fistula faríngea.


BIBLIOGRAPHIA INDIGENA

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Laryngectomia total

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SOUZA MENDES - Laringectomias. Comunicação á Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de janeiro, em 25 de Outubro de 1927, Brasil-Medico, 1927, nº 48.

RESUME'

LIA. fait des considerations historiques des laryngectomies et sur les bons resultats obtenus par le traitement cirurgical du Cancer du larynx. En terminant, l'A. présente un cas d'épithelioma spino-cellulaire, operé il y a huit mois, par la laryngectomie totale.

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(1) OTO-RINO-LARINGOLOGISTA DO "INSTITUTO PENIDO BURNIER" - (CAMPINAS).

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