Versão Inglês

Ano:  1951  Vol. 19   Ed. 3  - Maio - Junho - ()

Seção: Associações Científicas

Páginas: 62 a 65

 

ASSOCIAÇÕES CIENTÍFICAS

Autor(es): -

SECÇÃO DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA PLÁSTICA da ASSOCIAÇÁO PAULISTA DE MEDICINA

Sessão ordinária - 17 novembro 1950

Presidente - Dr. Rubens Vuono de Britto

HEMANGIO-ENDOTELIOMA DO OUVIDO MÉDIO - Drs. Antonio Correa e Jorge Hirschmann.

Resumo - Os autores apresentam um caso de hemangio-endotelioma do ouvido médio, numa doente de 45 anos de idade, que, operada (mastoidectomia radical) e irradiada (rontgenterapia) em seguida, mantém-se curada l,á 2 anos. São apresentadas radiografias e microfotografias do caso. É feito um estudo estatistico mostrando a raridade da afecção e comentários sobre a orientação diagnóstica e terapêutica dêstes tumores do ouvido médio, concluindo o, autores pela dificuldade do diagnóstico precoce e assinalando os bons resultados da terapeutica associada, isto é, cirurgica seguida de irradiação.

TERATOMA DA REGIÃO AMIGDALIANA - Drs. Antonio Corrêa e Lamartine de Paiva.

Resumo - Os autores apresentam um raso de teratoma adulto da região amigdaliana, numa criança de 3 anos de idade constituído por tecido nervoso (filia e células piramidais), tecidos muscular, gorduroso e glândulas seromucosas, e revestimento epitelial pavimentoso estratificado, documentado com microfotografias do caso. Depois de 19 meses da extirpação do tumor, não havia recidiva. Foi feita uma apreciação sôbre o conceito citológico do teratoma, diagnostico diferencial e a si ia frequência nas regiões nasal, faríngea e bucal.

OTITE MÉDIA CRÔNICA SUPURADA POR BACILLUS PRODIGIOSUS - Drs. Moysés Cutin e Renato Sapuppo.

Resumo - Os autores relatam um caso de otite média crônica supurada, unilateral, datando de 6 meses, não cedendo a tratamentos retirados feitos por outros médicos. Chamou a atenção, na primeira consulta, o aspecto da secreção que enchia o conduto auditivo, de consistência viscosa e de cor purpurina, sem cheiro paciente tivesse feito uso de medicamento corado. Tratamento feito com penicilina, sulfadiazina e localmente, tirotricina, não deu resultado. Exame bacteriológico colônias puras de B. prodigiosus. O teste intradérmico foi positivo, tipo tuberculina. Tratado com estreptomicina, curou-se em 4 dias. A comunicação é feita com reservas, em vista de ser o germe considerado não patogênico; no entanto, a observação leva a crer que seja êle, efetivamente, a causa da otite.

Comentários - Dr. Antonio Corrêa: Já que os autores têm procurado demonstrar a patogenicidade dêsse germe, pergunto se obtiveram bom resultado com estreptomicina e se é possivel a verificação da sensibilidade a esse antibiótico, porque essa droga tem unia ação bacteriostática que os outros antibióticos não têm.

Dr. Rubens Vuono de Brito: Só pelo fato de se obter colônias puras somos obrigados a pensar que o causador seja oB, prodigiosus. Em segundo lugar, o fato de se tratar de um germe saprofita não quer dizer que ele não se possa transformar num germe patogênico.

Dr. Gustavo dos Reis: Não poderia ser uma infecção que se implantou sobre uma otite? Essa também é uma hipótese.

OTOMASTOIDITE CRÓNICA TUBERCULOSA - Drs. Moisés Cutin e Antranik Manissadjian.

Resumo - Os autores historiam o caso de uma criança de um ano de idade, que gozou de boa saúde até há 6 meses, aparecendo então perturbações digestivas. Quatro meses após, o estado geral piorou consideravelmente, sendo que, decorridos 3 meses, surgiu supuração em ambos os ouvidos. Hipertrofia ganglionar e dispnéia. Após 2 meses de otite média, apareceu mastoidite à direita, a qual fistulou. A radiografia pulmonar revelou disseminação granúlica por todos os campos pulmonares. A bacterioscopia direta do pus da mastóide mostrou bacilos álcool-ácido resistentes. Nas pessoas que entram em contacto com o paciente não há história de tuberculose. Foram feitas considerações a respeito da frequência e formas da tuberculose do ouvido, meios diagnósticos, bem como da escassez cia literatura nacional a éste respeito.

Comentários - Dr. Fabio Barreto Matheus : Em nosso meio não costumamos pesquisar com cuidado os germes produtores da otite. Lembro-me de um caso em que foi diagnosticada mastoidite tuberculosa por tini acidente grave que ocorreu. Tratava-se de um doente operado e que nos procurou numa fase de reagudização - de uma mastoidite crônica operada. Foi operado novamente, rio mesmo dia em que rios procurou, e o caso foi evoluindo muito bem, mas, quando fui retirar o tampão o doente teve um colapso periférico, tendo perdido o pulso, pressão é temperatura e se instalou imediatamente uma heiniplegia. Atríbuí o fato ao deslocamento de um trombo. Chamei um clínico que conhecia o caso e êle me informou que o paciente era tuberculoso. Pedi os exames e somente a cultura é que revelou uma mastoidite tuberculosa, explicando a facilidade daquela reagudização.

Dr. Antonio Corrêa: Essa observação mostra a necessidade de sermos mais minuciosos em nossos exames. Lembro-me também de 2 casos do Hospital elas Clínicas, um dêles em uma criança tuberculosa com otite média crônica. Tinha pina secreção fluida e a mucosa do tímpano muito pálida. Levantei a hipótese de otite tuberculosa porque já vinha com o diagnóstico de tuberculose. Outro caso não apresentava melhora com o tratamento, continuava a secreção, bilateral. Suspeitamos de unia lesão na amígdala, que verificamos estar supurada. Feita uma radiografia do pulmão, havia um processo tuberculoso com disseminação hematogênica. O caso foi encaminhado para o Instituto Clemente Ferreira.

Dr. Rubens Vuono de Britto: Também estou de acôrdo que esses casos não são mais frequentes porque não temos oportunidade para fazer uni exame cuidadoso nos nossos doentes suspeitos.

Sessão ordinária - 19 dezembro 1950

Presidente - Dr. Rubens Vuono de Britto

O MÉTODO CRUCIAL NO TRATAMENTO DAS FISSURAS CONGÊNITAS DO LÁBIO - Dr. J. Rebelo Neto.

Resumo - Abandonando a face anterior dos lábios o autor preconiza uma nova técnica, abordando a face posterior, onde pratica uma incisão transversa, que denomina de "crucial" por formar urna cruz com a linha longitudinal. É notável o enriquecimento da orla labial, havendo a vantagem capital de deixar apenas, na face anterior, unia cicatriz retilínea, sem tendência à retração tardia. A técnica atual é divulgada após muitos anos de observação e após comprovação rigorosa da excelência e constância dos resultados funcionais e cosméticos. Acentua a simplicidade de execução técnica.

MODIFICAÇÃO DO MÉTODO DE EYRIES NO TRATAMENTO CIRÚRGICO DA OZENA - Dr. Otacílio Lopes.

Resumo - Processo cirúrgico descrito por Eyries (Anu. d'Oto-Laringol., novembro-dezembro de 1946), Visa provocar o estreitamento das fossas nasais por meio da introdução de substância acrílica sob a mucosa nasal. O autor tem obtido resultados muito animadores utilizando-se de bastonetes de paladon de dimensões variáveis de acordo coro cada caso. A introdução dêsses bastonetes é feita através de uma incisão gengivo-bucal, seguida da descoberta de contorno do orifício piriforme e descolamento da mucosa do assoalho das fossas nasais e da região que o autor chama interturbinal. Este descolamento deve ser acompanhado e controlado pelo operador, que maneja com uma das mãos um descolador introduzido através da fenda operatória e com a outra, o especulo nasal. Quem quer que tenha usado o processo deve ter obtido resultados mais ou menos animadores, na dependência da seleção dos casos. De minha parte estou plenamente satisfeito com o mesmo e posso citar uiva dúzia de casos operados e todos bastante felizes. Nos primeiros quatro casos segui rigorosamente a técnica descrita por Eyries. Notei, porém, que qualquer encontro mais brusco na introdução dos bastonetes pode acarretar o rompimento da mucosa, já de algum modo frágil no ozenoso, comprometendo o êxito cirúrgico. Tentei, então, substituir os bastonetes de paladon por lâminas de vinilite, mais largas e flexíveis, ajustando-se facilmente às anfractuosidades do nariz. Os resultados melhoraram sensivelmente. As lâminas de vinilite, cortadas no momento da operação, são bem menos traumatizantes do que ás bastonetes duros de paladon; são muito bem tolerados e simplificam o ato cirúrgico. Devemos lembrar que esta técnica é originariamente brasileira; foi descrita por Renato Machado, que empregou ora lâminas de marfim, ora de cartilagem costal. Há cêrca de 2 anos tive a oportunidade de assistir a uma intervenção deste gêneros realizada na Cruz Vermelha Brasileira do Rio de Janeiro pelo Dr. Renato Machado, que nos afirmou obter grande êxito em sua técnica. Não há mal, em reivindicarmos para nos a primazia de propriedade da técnica descrita por Eyries tantos anos toais tarde.

Comentários - Dr. Rebelo Neto: Para que não seja eliminada, é necessário que a lâmina seja muito delgada, porque lia rinite atrófica a mucosa é tão fina quanto um papel de sêda. A idéia de que eu tenho é que essa lâmina proposta pelo Dr. Otacílio Lopes é fatalmente eliminada. Nos casos que vi, de grande duração, a substância colocada era muito fina.

Dr. Fabio Barretto Matheus: Terilio feito muitas vezo êsse tipo de operação citada pelo Dr. Otacílio Lopes e, usando vinilite, no I. A. P. C., verifiquei que a eliminação é muito mais difícil. Além da espessura, devemos considerar também a natureza do material, pois, usando material diferente da mesma espessura, a eliminação não é igual. Com o paladon a eliminação é muito mais frequente. Entretanto para se indicar a operação-é necessário que a atrofia não seja muito grande.

Dr. Moysés Cutin : Assisti na França à realização dessa operação, acontecendo também ésse acidente, com perturbação da mucosa e eliminação do material. Hamés acha que não se trata de um acidente grave, sendo eliminado justamente o excesso do material utilizado, sem prejuízo para a operação.

Dr. Piza Netto: O material acrílico americano não era bem tolerado, ao contrário do francês. Antigamente, usavam numerosos bastonetes, mas hoje usam menos: 4 ou 5 no meato inferior e no médio. Em biópsias feitas meses depois cia inclusão verificou-se que a mucosa estava completamente normal.

Dr. Rubens V. de Britto: Queria saber da evolução dos casos e se o material é colocado apenas no assoalho ou no assoalho e meato médio. Em quanto tempo se elimina ésse material? A eliminação é parcial ou total? Qual o resultado clínico em relação ao mau cheiro e catarro e, no caso de se fazer nova operação, como se vai encontrar a mucosa? Depois da cicatrização seria possível fazer novamente outras inclusões?

Dr. Otacílio Lopes: Os resultados clínicos são apreciáveis. Após a operação ha um edema passageiro e devemos associar a terapêutica local com penicilina ou sulfa. Há desaparecimento da coriza e volta do olfato. A eliminação dos bastonetes parece que se dá de preferência quando colocamos uma quantidade muito grande, em que há certa compressão da mucosa e mortificação da região. De fasto, acho que entre nós ninguém tem a experiência do Prof. Rebelo, mas Hamés aconselha que se coloquem tantos bastonetes quanto necessários para se aproximar a mucosa das conchas do septo. Tenho doentes com mais de 6 meses de seguimento que não eliminaram bastonetes e com resultados surpreendentes, mas tenho feito seleção dos casos.

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