Ano: 1951 Vol. 19 Ed. 3 - Maio - Junho - (2º)
Seção: Trabalhos Originais
Páginas: 53 a 58
OSTEOMA FRONTAL (Referencia a 5 casos)
Autor(es):
FABIO BARRETO MATHEUS
JORGE F. BARBOSA
Apesar dos poucos casos publicados, os osteomas das cavidades para nasaes não são raros, sobretudo aqueles dos frontaes.
Harris em 1926 refere-se a 117 casos frontaes.
Causse em 1934 coletou 253 casos, sendo 134 frontaes.
Malan em 1938 estudando 418 casos de esteomas encontrou 178 frontaes.
O primeiro caso de osteoma foi descrito por Home em 1799. Ultimamente, tivemos oportunidade de observar 5 casos:
OBSERVAÇÃO n.° 1 - J. C. Br. Brasil, solt. masc. 23 anos. Op. Há 5 meses vem notando a formação de um tumor duro na região superciliar E. Ultiluamente tem aumentado de volume e a vista desse lado está embaraçada. Lembra-se que há um ano mais ou menos teve violenta cefaléa que durou 2 dias. Há 5 anos foi amigdalectomisado e há ano e meio fez ressecção submucosa do septo.
EXAME: - Rinoscop. anterior: Ausencia do esqueleto osteo cartilaginoso do septo. Hipertrofia do corneto inferior esquerdo.
Boca e faringe: Lojas esvaziadas.
Ouvidos - s/s.
Na região frontal E. em correspondencia com a palpebra superior nota-se discreto abaulamento de consistência osséa e aspecto bocelado. Em consequencia a fenda palpebral E. está diminuida.
Radiografia mostra imagem de condensação osséa.
Feita a indicação cirurgica trepanamos a região frontal. A incisão foi aquela classica para sinusite frontal. Ao descolarmos a pele notamos exteriorisação da tumor por deiscencias da tabua externa na região do teto da orbita. A tabua externa estava reduzida a uma lamina papiracea, e removida mostra o tumor enchendo completamente o seio, e implantado em toda a extensão da tabua interna. Removemos o possivel com goiva e martelo e verificamos uma camada externa de osso compito e o restante constituído por osso diploetico, cola alguns vasos arteriais calibrosos.
A seguir fizemos dilatação do canal fronto nasal, drenagem e sutura.
Post operatorio normal:
OBSERVAÇÃO n.° 2: - B. O. pto. Brasil. solt. op. Há 2 anos vem sentindo dores frontaes intensas sem ritmo, acompanhadas de rinorréa purulenta.
EXAME: - Rinoscopia anterior: Hipertrofia dás conchas inferiores. No mais nada encontramos digno de nota.
Radiografia das cavidades para nasaes: opacidade dos seios maxilares, mais pronunciada à esquerda. Hipotransparencia do frontal esquerdo. Na porção mediana do repto intesinusal notamos imagem arredondada de condensação óssea, inserida por uni pediculo e fazendo proerninencia no seio frontal D. (Fig. 1).
Nossa orientação foi praticar uma operação de Ermiro Lina Bilateral para eliminarmos o componente inflamatorio, e num segundo tempo fazer sinusotomia frontal por via externa para retirarmos o osteoma.
Só conseguimos fazer a primeira intervenção, pois o paciente depois de ter se submetido à sinusotomia maxilo etmoidal bilateral ficou completamente livre de sua cefaléa e não quiz se submeter à segunda intervenção.
OBERVAÇÃO N.° 3: - A. B. branco, brasileiro, 17 a. - estudante, residente no Paraná. 5-6-50. Conta que há 6 meses vem tendo dores frontais sem ritmo. Foi a um especialista que pediu uma radiografia e fez diagnostico de mucocele.
EXAME: - Rinoscopia anterior s/s.
Rinoscopia posterior s/s.
Boca e faringe: Lojas esvaziadas.
Ouvidos - s/s.
Radiografia das cavidades para nasaes: Diminuição de transparência da porção media do seio frontal E. No interior do seio frontal D; junto ao rebordo orbitário notamos imagem arredondada de condensação óssea típica de osteoma.
Em 3-7-50 fizemos sinusotomia frontal D por via externa com a classica incisão para sinusite frontal. Ao abrirmos o seio deparamos de pronto com pequeno tumor arredondado recoberto por mucosa integra e aderente ao teto da orbita por curto pediculo. Com escopo e martelo, cuidadosamente secionamos o pediculo libertando o tumor.
O tumor ósseo apresenta a sua superfície constituiria por osso compacto enquanto que a parte central era constituída por osso esponjoso. Sutura da pele com pontos separados. Excelente post operatorio.
OBSERVAÇÃO N.° 4: - R. M. C. Português, 36 a., br. confeiteiro - 25-10-48.
Há 44 anos fez sinusotomia maxilo etmoidal Bilateral. Há 1 mês mais ou menos vem sentindo dores tia região fronto parietal E. Secreção nasal espessa. Supuração O. E. desde os 7 anos.
EXAME: - Rinoscopia anterior - s/s.
Rinoscopia posterior - Secreção no teto do cavum.
Diafanoscopia : opacidade dos seios maxilares.
Boca e faringe: Resto amigdaliano à E. e focos dentarios.
Ouvidos : perfuração larga Antero inferior do timpano E.
Radiografia: opacidade e deformação de ambos os seios maxilares - Hipotransparencia do seio frontal E. No frontal D. aderente ao septo intersinusal notamos imagem arredondada de condensação osséa. (Fig. 3).
Mandamos o paciente extrair os focos dentários para depois fazermos a intervenção. O paciente não mais voltou à consulta.
OBSERVAÇÃO N.° 5 - Ficha 39473 - 24-8-50.
S. B. S. Pd. Br. cas. 65 a. - S. Paulo.
Há mês e meio fortes dores de cabeça que melhoraram com penicilina.
O olho D. inchou e quasi que leão pode fechá-lo.
Foi operado de sinusite maxilar direita.
Há 4 anos sofreu traumatismo na região frontal.
EXAME: - Rinoscopia anterior s/s. Rinoscopia posterior s/s.
Diafanoscopia: opacidade dos frontaes e do seio maxilar direito. Boca e faringe - Amigdalas com inflamação crônica.
Ouvidos - cerúmen em A. O.
Grande edema da palpebra superior - Projeção do globo ocular para fora e para frente. A palpação não se nota deiscência ossea. Dor discreta á palpação.
Radiografia: Aumento do seio frontal D. Cujos limites estão lisos. Ampla comunicação do seio frontal D com a orbita do mesmo lado. Osteoprodução em alguns pontos, (Fig. 4)
Em 29-8-5Q fizemos sinusotomia por via externa. Incisão classica. Trepanação ossea. - Grande mucocele que foi esvaziado, Obturando o ductus frontalis encontramos osteoma diploetico, que foi a causa determinante da formação do mucocele.
COMENTARIOS: Os osteomas das cavidades para nasaes são tumores circunscritos constituídos por tecido osseo. De regra apresentam uma camada superficial de osso compacto e internamente são constituídos por osso esponjoso. Mais raramente são constituídos por um só tipo de osso e então teremos: a - osteoma ebúrneo - sem canaes de Havers.
b - osteoma esponjoso - rico em canaes de Havers.
Nos osteomas eburneos, as laminas ósseas, em processo evolutivo, estão superpostas e unidas entre si por tecido intersticial. O pediculo quando existe é sempre de osso esponjoso.
São sempre recobertos pela mucosa que reveste o seio.
Histologicamente são benignos, porém, malignos quanto ao crescimento, pois por vezes provocam complicações de natureza grave.
Quanto a origem dos esteomas várias teorias tentam explicá-lo
1- Traumatica;
2- Inflamatoria;
3- Transtornos embrionarios.
No que diz respeito aos transtornos embrionarios, ainda aqui as opiniões divergem. Para Rockintansky seriam restos embrionarios aberrantes, enquanto que para Moebius seriam restos periostaes embrionarios; a causa dos osteomas. Fetissof acha que pregas periostaes preexistentes sob ação posterior de um traumatismo ou infecção determinariam o crescimento osseo.
Malan, Lederer e outros defendem o traumatismo como causa etiologica enquanto Causse a nega.
Realmente em quase todos os casos de osteoma encontramos inflamação dos seios, porém, nem sempre encontramos o trauma na historia pregressa do doente. Nas nossas observações tivemos um só caso de traumatismo.
Para uns o ponto inicial do crescimento seria a parede posterior do seio junto ao septo, enquanto que para Citeli se formariam à custa da parede anterior.
O tamanho é variavel, atingindo por vezes grande dimensão. No caso de Jeshek enchia ambos os seios frontais e tinha o tamanho de um punho.
O seu crescimento é muito lento e a sintomatologia varia de acordo com o gráu de desenvolvimento.
Causse distingue três periodos à saber:
1- Periodo dos fenomenos subjetivos - Cefaléa.
2- Periodo dos fenomenos objetivos - Abaulamento.
3- Periodo dos fenomenos extensivos - Complicações.
Naturalmente haverá um periodo de latencia em que o paciente de nada se queixa e o diagnostico então só é feito com o auxilio do Rx.
Com o crescimento aparece então o primeiro sintoma, que é a cefaléa, e continuando o seu desenvolvimento pode se exteriorizar como no caso de nossa primeira observação.
No periodo de extensão a sintomatologia variará segundo a invasão se processe para o globo ocular ou para o endocraneo.
Quando para o globo ocular podemos ter:
Exoftalmo.
Diplopia.
Ambliopia.
Atrofia do nervo ótico, etc.
Quando para o endocraneo teremos:
Renúncia liquórica.
Meningite.
Abcessos cerebrais.
Paralisias.
Crises epiletoides.
O diagnostico na fase invasora pode ser suspeitado e cumpre fazer diagnostico diferencial com as neoplasias, fibromas, osteomielite - O diagnostico de certeza é dado pela radiografia que revela tambem o tumor na fase de latencia.
O tratamento é exclusivamente cirurgico e a técnica dependerá da localisação e inserção tumoral.
Quando eburneo, e assestado na parede posterior, devemos trabalhar cuidadosamente com escopo e martelo ou fresa, e nunca tentar partí-lo ou desinserí-lo para não corrermos o risco de fraturar a parede posterior, ou mesmo uma fratura irradiada para a lamina crivosa.
FIGURA 1
FIGURA 2
FIGURA 3
FIGURA 4
RESUMO
Os autores apresentam 5 observações de osteomas frontais, dos quaes 3 foram operados com resultado favoravel.
Em todos os casos encontraram sinusite associada o que faz pensar na influencia da infecção no desenvolvimentos dos osteomas.
Dos 5 casos 4 eram pediculadas e 1 sessil, sendo todos eles constituídos por uma camada externa compacta e o restante de tecido esponjoso. Dois estavam inseridos no septo inter sinusial, 1 no teto da orbita, 1 na parede posterior do seio, e outro no ductus frontais. Este ultimo provocou retenção e o paciente apresentava grande mucocele.
Tecem ainda comentarios sobre a sintomatologia, etiopatogenia, diagnostico e tratamento.
SUMMARY
The authors presents 5 observations about frontal osteomas, of which 3 were operated with good results.
In all cases they found associated sinusitis what make they think abouth the infeccion had some influence about developement of the osteoma. In 5 osteomas 4 were pediculated and 1 was sessiel. All them were formed by a external layer and the rest by spongious tissue. Two were inserted in the frontal septum, 1 in the ceiling of orbit, 1 in the posterior wall of the sinus and other in the ductus frontalis. The last made retention and the patient showed a big mucocele.
They made comentaries about the diagnosis, sintomatology, etio pathogeny, and treatment.
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