Ano: 1940 Vol. 8 Ed. 5 - Setembro - Outubro - (7º)
Seção: Associações Científicas
Páginas: 345 a 360
ASSOCIAÇÕES CIENTIFICAS
Autor(es): -
SECÇÃO DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA
Reunião de 18 de março de 1940
Presidida pelo dr. Rafael da Nova, secretariada pelos drs. Francisco Prudente de Aquino e Gentil Miranda, realizou-se, no dia 18 de março de 1940, uma reunião da Secção de Oto-rinolaringologia da Associação Paulista de Medicina.
Expediente: - O secretario deixou de ler a. acta da reunião anterior, por falta dos dados relativamente á mesma. Não havendo mais nada a tratar no expediente passou á
Ordem do dia:
ANGINAS E NEFRITES (*) - Dr. Francisco Hartung
O A. inicia a sua comunicação, dizendo que o assunto não tem nada de novidade, mas convem que seja ventilado algumas vezes, pois que a patologia do rim é sempre de interesse geral. Quer apenas, baseado em observações pessoais, contribuir para a escolha do momento exato em que se deve intervir cirurgicamente nas amigdalas, quando as causadoras da afecção renal.
Em seguida o A. faz a classificação classica das nefrites, segundo Volhard e Fahr, fazendo a distinção entre elas; falando da forma difusa, mostra a divergencia de opiniões sobre a conveniencia de se operar as amigdalas no periodo agudo da molestia. Alguns acham que se deve operar, outros negam o valor da intervenção alegando que a amigdalectomia no periodo agudo, iria provocar a formação de fócos esparsos no parenquima renal.
Isso, entretanto, não traria maiores inconvenientes, porque sabemos que a forma focal é perfeitamente curavel.
A seguir o A. apresentou as suas observações, em numero de 7, todas muito bem documentadas; em todas elas mostrou o valor da intervenção precoce sobre as amigdalas que trouxeram a cura da afecção renal; um unico caso, em que a intervenção foi praticada tardiamente por exigencias conservadoras da familia, a doente veio a falecer tempo depois, por insuficiencia renal.
Comentarios:
Dr. Ribeiro dos Santos: Acha que durante a angina, o que se observa para o lado dos rins é um fenomeno de congestão; o rim não iria ser atingido diretamente quer pelo germem causador da angina, quer pelas toxinas por ele emitidas; iria observar-se uma acção da toxina sobre o sistema nervoso, que iria repercutir justamente nos rins, provocando a sua congestão, e consequente eliminação de sangue com a urina, a toxina actuaria sobre o centro que responde pela vascularização renal.
Dr. Prudente de Aquino: Cita o caso de um colega que teve uma angina e foi acometido de uma glomerulo-nefrite hematogenica; o quadro urinario patologico é exclusivamente de hematias. Com a extirpação das amigdalas, depois de 8 dias o quadro voltou ao normal; concorda portanto com o dr. Hartung, na intervenção precoce. Concorda ainda com a explicação dada pelo dr. Ribeiro dos Santos que esclareceria as idéas que se tem sobre a prova da concentração e da diluição nas afecções renais; muitas vezes observa-se como anomalia na urina, apenas pequenos traços de albumina, e já a prova de concentração e diluição estão completamente fora do normal; isso seria perfeitamente explicado, atendendo ao que disse o dr. Ribeiro dos Santos pois as capacidades de concentração e diluição dos rins, são regidas pelo sistema nervoso.
Dr. Rafael da Nova: Achou tambem util a intervenção precoce; o estreptocóco tem mesmo uma grande predileção para a localização renal; entretanto pensa que se deve observar a evolução da molestia durante um certo tempo, antes que se resolva a intervir; em poucos dias já se póde ter uma opinião sobre essa intervenção. Ha um perigo muito grande nessas intervenções e que é hemorragia, devido á alta pressão arterial observada nas nefrites difusas. Naturalmente, deve-se intervir nas amigdalas, porem, esperar um certo tempo não constitue falta grave.
Respondendo, o dr. Hartung agradece aos drs. Ribeiro dos Santos e Aquino; ao dr. Nova disse que faz sempre a intervenção muito precocemente, partindo do principio que se a nefrite se tornar cronica, esta não oferece mais garantias de restabelecimento. Um exemplo frizante foi o da doente operada tardiamente e que veiu a falecer mais tarde por insuficiencia renal; além disso as suas observações vieram demonstrar que a intervenção precoce não traz maiores desvantagens; houve mesmo um caso em que houve uma hemorragia forte após amigdalectomia, porém, o doente restabeleceu-se e curou-se da nefrite. Prefere, portanto, continuar precoce na sua intervenção sobre as amigdalas.
BLASTOMICOSE PRIMITIVA DA LARINGE. LARINGOFISSURA. DIATERMO-CARBONIZAÇÃO. CURA -
DR. Ribeiro dos Santos. Apresentação do doente
O A. iniciou o trabalho, dizendo que se trata de um caso de blastomicose da corda vocal direita; o doente se apresentava com rouquidão ha 4 meses; pelo exame local notava-se na corda vocal direita uma ligeira tuberosidade na união do terço médio com o posterior e uma ulceração que ia até a comissura anterior; o fundo coberto por um deposito esbranquiçado; a movimentação da corda era perfeita; o ganglio pre-laringeo, duro, indolor, mas aumentado de volume. Nada suspeito no sentido de lues e tuberculose, conforme exame de sangue e radiografia do pulmão. Na suspeita de um cancer por se tratar de doente de mais de 40 anos, recorreu o A. á biopsia e verificação anatomo-patologica que deu o diagnostico de tuberculose. Como no pulmão não havia absolutamente sinais clínicos e nem radiologicos de lesão tuberculosa, e sendo a tuberculose primitiva da laringe uma cousa rarissima, o A. enviou as laminas ao prol. Lordy que fez o diagnosticos de blastomicose brasileira, diagnostico esse tambem afirmado pelo prof. Oria.
A seguir o A. faz algumas considerações sobre o conceito da blastomicose e do seu diagnostico para o qual ha necessidade da verificação anatomo-patologica e bacteriologica, mostrando ainda que no seu caso houve lesão sómente da mucosa, cousa rara; pois o parasita tem afinidade, principalmente, pelo tecido linfo-adenoide, falou ainda sobre as hipoteses que explicam a regeneração desse tecido.
Continuando na exposição do caso, o A. explicou que foi feita nova chapa do pulmão, cujo relatorio mostra a existencia de lesões cicatrizadas, mas não em evolução.
Falando da terapeutica como o tratamento clinico pelo iodureto, sabidamente, não dá resultado, optou pelo tratamento cirurgico; fazendo uma laringo-fissura. Penetrou profunda e largamente no tecido atingido, tendo ido até á corda vocal esquerda que não estava atingida pelo processo fazendo a electro-carbonização de todo o tecido doente. O post-operatorio foi ótimo; o doente, depois de 15 dias, já podia falar.
Ao terminar o trabalho convidou os colegas presentes a examinarem o paciente, que se achava no recinto da reunião.
Comentarios:
Dr. Ernesto Moreira: Disse que, sendo a blastomicose uma molestia de evolução muito lenta, acha que seria exagero considerar já o doente como curado. Perguntou ao A. porque não fez a extirpação das amigdalas, para examina-las e assim ficar esclarecido que foi, de fato a corda vocal o ponto de localização primitiva da afecção.
Dr. Mattos Barreto: Perguntou ao A. se não seria mais pratico e prudente fazer a cauterização da lesão, endoscopicamente, pois que fazendo a laringo-fissura, ele passaria diretamente na lesão e estaria arriscando a disseminar o processo. Lembra ainda que o tratamento clinico não é de todo inutil, pois teve um caso de blastomicose brasiliensis, em estado tão grave, que tinha sido abandonado, como cancer inoperavel. Foi tratado com doses tremendas de iodureto de potassio e melhorou consideravelmente. E a orientação que segue Chevalier-Jackson; iodureto de potassio "per os", no minimo 6 meses, tomado todos os dias.
Dr. Hartung: Acha, de acordo com o dr. Ernesto Moreira, que é cedo para se afirmar que a lesão está perfeitamente curada.
. . Dr. Rafael da Nova: Agradeceu a comunicação interessantissima e quer apenas fazer dois comentarios: A opinião do prof. Pupo é que, normalmente, a forma ganglionar da blastomicose evolue em um ano e meio para a morte; porém ele pensa que em relação á laringe, a evolução seja mais tardia e mais benigna. Observou um caso de um colega, em que a molestia está evoluindo ha mais de 2 anos, e a lesão já apanhou toda a laringe; tiradas as amigdalas, nestas foi encontrada o granuloma mas nenhum blastomices que pudesse confirmar ser blastomicose; tambem não havia ganglios. Quanto ao tratamento pensa que se deve procurar a destruição da lesão, pela diatermo-coagulação, quando se trata de blastomicose localizada e limitada. Seria ótimo fazer extirpação profilatica das amigdalas, para a disseminação da molestia. Nunca devemos deixar de auxiliar a intervenção com o tratamento medicamentoso; teve um caso em que o doente se curou com doses elevadas de Dagenan.
Respondendo disse o dr. Ribeiro dos Santos que a questão do tratamento clinico ou cirurgico está toda ela controvertida. Não retirou as amigdalas porque o cliente já é portador da molestia ha 7 meses. Nesse tempo, se houvesse localização primitiva nas amigdalas as lesões seriam muito mais graves; o mal estaria muito mais evoluído, com repercussões ganglionares, etc,; ao contrario, não se observa nenhuma modificação para o lado das amigdalas que parecem normais. Quanto á questão de cura, parece que não ha duvida neste caso, pois os prognosticos graves são justamente aqueles em que ha acometimento do sistema linfóide.
Quanto á questão da técnica, respondendo ao dr. Barreto disse que deante da gravidade do prognostico é preferivel fazer uma destruição completa da lesão; no caso em apreço, se fosse necessario perder metade da laringe, o doente já estava avisado. Quanto á questão de se fazer a operação endoscopicamente, no caso não seria possivel, porque só pela via escolhida se poderia atingir os pontos a cauterizar.
Nada mais havendo a tratar foi encerrada a reunião.
SOCIEDADE DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA DO RIO DE JANEIRO
19ª. Sessão ordinária em 5-4-1940
Presidida pelo Dr. Pinto Fernandes, compareceram os Srs. Drs.: Prof. João Marinho, Alberto Ponte, Duarte Moreira, Caiado de Castro, Seabra Junior, W. Muller dos Reis, Mauro Penna, Homero Carriço, Lily Lages, Aristides Monteiro, Milton de Carvalho, Alvaro Cordovil, Sylvio Mello, David Adler, Capristano Pereira, Werneck Passos e Gladys Browne.
Expediente:
Foram lidas cartas dos Profs. Eliseu Segura, Justo Alonso, Ildeu Duarte, Ivo Correa Meyer, e Dr. Mauro Ottoni de Rezende, agradecendo a comunicação que lhes havia sido feita de terem sido eleitos socios honorários.
Foi lida tambem a correspondencia relativa ao 1 ° Congresso Sul Americano de O. R. L., constante de inscrições, circulares, etc.
O Sr. Presidente explica á Casa sua atuação, durante as férias da Sociedade, junto ao Governo da Republica com relação a esse Congresso (lê carta ao Sr. Presidente da Republica), de que resultou a nomeação da Delegação Brasileira, composta do Prof. João Marinho, Drs. Raphael da Nova e Armando Pinto Fernandes.
O Prof. João Marinho dá conta da correspondencia que recebeu da Comissão Executiva do Congresso e transmitiu ao Presidente da Sociedade, e diz como conseguiu do Governo verba para atender as passagens de varios congressistas, para comparecimento de maior numero de brasileiros, declinando os nomes dos mesmos.
Ordem do dia:
OSTEOMA DO ETMOIDE E SEIOS FRONTAIS - Dr. Caiado de Castro.
Trata-se de um caso que o A. observou e operou. Sintomatologia, radiografia, diagnostico e tecnica cirurgica bem como a peça operatoria são apresentados pelo A.
O Prof. Marinho pede esclarecimentos sobre a patogenia.
LINFO-EPITELIOMA DA AMIGDALA - Dr. Aristides Monteiro.
Apresentação do doente que considera curado com o tratamento Roentgenterapico.
Antes de terminar a sessão a Dra. Lily Lages, l.° Secretario, pede a palavra para solicitar sua demissão do cargo, em vista de imperiosos motivos de carater particular que não lhe permitem dedicar ao cargo o tempo e trabalhos que o mesmo exige.
O Sr. Presidente, e a seguir os Drs. Mauro Penna, Müller dos Reis e Capistrano Pereira lamentam a decisão pedindo que considere o seu áto, no que não são atendidos, mantendo a demissionaria o seu pedido com a palavra de agradecimento.
A sessão é encerrada ás 23 horas e 20.
20ª. Sessão ordinaria, em 3-5-1940
Presidida pelo Dr. Pinto Fernandes, tendo comparecido os Drs. Müller dos Reis, Homero Carriço, Alvaro Cordovil, Getulio Silva, Alberto Ponte e Capistrano Pereira.
Expediente:
Leitura e aprovação da áta da sessão anterior.
O Sr. Presidente dá conta do que se passou no 1 ° Congresso Sul Americano de O. R. L. recentemente encerrado em Buenos Aires, onde compareceu como membro da Delegação Brasileira. Diz da magnifica impressão que trouxe do mesmo, pelos temas e comunicações de grande valor e interesse lá discutidos, declarando-se muito satisfeito com a brilhante atuação dos Congressistas brasileiros e gratissimo aos Argentinos pela fidalga acolhida que dispensaram a todos em geral. Refere que, por indicação do Prof. Segura, ficou resolvido que o seguinte Congresso seja elevado a Latino-Americano e tenha por séde a cidade de São Paulo, em 1943, sob a presidencia do Prof. Paula Santos.
A seguir manda que se proceda a eleição para o cargo de 1° Secretario, vago com a renuncia da Dra. Lily Lages. Foi eleito o Dr. Capistrano Pereira que é logo empossado, fazendo o Sr. Presidente elogio ao novo 1° Secretario. Este responde com palavras de modestia, prometendo toda dedicação á causa da Sociedade.
O Dr. Müller dos Reis, 2° Secretario, pede a palavra para lembrar a conveniencia de serem entregues sempre, á mesa, os resumos das comunicações e comentarios, para a fiel transcrição nas átas. Péde tambem, si possivel, a admissão de um taquigrafo para o bom andamento dos trabalhos da Secretaria.
O Sr. Presidente concordando com argumentos apresentados encerra a sessão ás 22 horas.
21% Sessão ordinaria, em 7-6-1940
Presidida pelo Dr. Pinto Fernandes, tendo comparecido os Snrs. Drs. Prof. João Marinho, General Alvaro Tourinho, Müller dos Reis, Capistrano Pereira, Mauro Penna, Georges da Silva, Milton de Carvalho, Antonio Soares Brandão, Seabra Junior, Sebastião Mesquita de Azevedo, Gladys Browne, Werneck Passos, Caiado de Castro, Sylvio Mello, Alcir Basilio, Duarte Moreira, Fernando Linhares, Aristides Monteiro, Humberto Lauria, Prof. Ermiro de Lima, Roberto Marinho e Getulio Silva.
Expediente:
O 1° Secretario lê a correspondencia trocada com o Dr. Homero Cordeiro, ficando estabelecido que a Revista Brasileira de O. R. L. fará uma publicação declarando ser a mesma orgão oficial da Sociedade de O. R. L. do Rio de Janeiro e que publicará os resumos das sessões da Sociedade.
O Sr. Presidente comunica á casa haver a Sociedade feito um donativo á Cruz Vermelha Brasileira, o que não chega a ser uma retribuição á generosa acolhida que essa benemerita instituição deu á Sociedade desde a sua fundação, significando apenas um gesto de gratidão.
E' lida uma carta do Prof. Segura, agradecendo o diploma de Socio Honorario da Sociedade, o qual lhe fora entregue por ocasião do Congresso Sul Americano.
São propostos novos socios correspondentes: Drs. Carlos Moraes (Bahia) e José Lyra (Alagoas) e para socios efetivos: Drs. Jeremias Martins, Clovis Pereira da Silva e Moacyr Baptista Pereira.
A seguir o 1 °. Secretario faz a distribuição dos diplomas de socios a todos os presentes.
Pede a palavra o Prof. J. Marinho para, entregando os Arquivos do 1° Congresso Brasileiro de O. R. L. á comissão executiva, dar por terminada a sua tarefa e comunicar que por necessidade de repouso não frequentará com assiduidade ás reuniões.
Falam os Snrs. Presidente, Drs. Werneck Passos e Capistrano Pereira louvando o trabalho do Prof. Marinho nesse Congresso e apelando para que continúe a comparecer frequentemente ás sessões da Sociedade.
Ordem do dia:
HEMILARINGECTOMIA - Prof. Dr. Ermiro de Lima.
O A. pede adiamento de sua comunicação por não ter podido apresentar o doente no que é atendido.
UM CASO INTERESSANTE DE CORPO ESTRANHO DE BRONQUIO (**) Dr. Caiado de Castro.
Diz o A. não apresentar trabalho de estatistica nem didatica mas sim apenas um caso clinico dos mais interessantes que passaram pelo seu serviço no H. P. S. Trata-se de uma criança de 3 anos que enguliu um alfinete este foi localisar-se na "base do lobo inferior do pulmão direito". Mostra que localisando-se o corpo estranho muito em baixo e em bronquio de diametro reduzidissimo, obrigou-o a mandar construir um broncoscopio especial para a extração peroral do alfinete. Diz das considerações anatomicas e praticas que o levaram a idealisar o broncoscopio que usou para o citado caso e como resolveu o problema mecanico que se apresentou. Chama a atenção da Sociedade para o auxilio enorme prestado pela radioscopia simultaneamente com o broncoscopio, na extração desse corpo estranho.
Comentarios:
O Dr. Mauro Penna diz que os casos como esses demonstram a pobreza em que nos achamos, nós os demais especialistas, uma vez que até o Dr. Caiado, chefe de um serviço para onde afluem todos esses casos, luta com falta de material moderno.
Dr. Capistrano Pereira: refere haver em Berlim observado Von Eicken tentar retirar, pela terceira vez, um prego do bronquio e não obstante ter feito construir uma pinça especial não logrou exito.
Dr. Caiado agradece as palavras elogiosas do Presidente. Ao Dr. Mauro Penna diz não estar o Brasil em atraso, pois no caso foi empregado o tubo indicado de Chevalier Jackson não se tratando portanto de deficiencia material.
Dr. Mauro Penna pede a palavra para explicação pessoal, dizendo ao Dr. Caiado de Castro que, quando se referiu ao atrazo foi unicamente sob o ponto de vista material. Pelas radiografias vê-se que o broncoscopio para seio costo-frenico, como demonstram as recentes publicações sobre endoscopia, principalmente de Chevalier Jackson, é o indicado para tais casos.
A PROPOSITO DE UM CASO DE LARINGOCELE - Dr. Capistrano Pereira.
O A. relata minuciosamente o caso clinico, apresentando radiografia e fotografias de um doente tuberculoso com laringocéle, trans-tiroidiana infectada. Como tratamento foi feita a abertura esterna do saco herniado, não tendo sido feita a intervenção completa por contra-indicação do clinico Dr. Mululo da Veiga. O doente faleceu 2 meses após, devido a tuberculose pulmonar bi-lateral.
Comentarios:
O Sr. Presidente elogia o trabalho do Dr. Capistrano acentuando a raridade da afecção.
Dr. Werneck Passos: cumprimenta o A. por seu interessante trabalho e diz ter visto ha tempos uma menina portadora tambem de laringocéle externa porem não publicou o caso. Refere-se agora a ele apenas com o objetivo de comentar a brilhante exposição feita pelo Dr. Capistrano.
Dr. Capistrano agradece as palavras do Snr. Presidente, e, ao dr. Werneck felicita-o e sugére a publicação do caso.
A sessão é encerrada ás 22 horas e 50 minutos.
22ª. Sessão ordinaria, em 5-7-1940
Presidida pelo Dr. Armando Pinto Fernandes e com a presença dos Drs. Sebastião Azevedo, Caiado de Castro, Müller dos Reis, Roberto Marinho, Homero Carriço, Capistrano Pereira, Mauro Penna, Milton Carvalho, Aristides Monteiro, Jorge Silva e Getulio Silva.
Expediente:
O Snr. Presidente lê uma carta do Prof. Errecart em que diz ser uma honra contar o Dr. Pinto Fernandes como Socio Correspondente da Sociedade Argentina de O. R. L. e transmitindo aos associados as saudações dos colegas argentinos.
Lê ainda a carta do Dr. Duarte Moreira pedindo, por motivos pessoais, demissão do cargo de 1°. Vice-Presidente da Sociedade. Lamentando tal pedido, marca o Snr. Presidente, para a proxima sessão, a eleição para o cargo vago.
Foram eleitos Socios Correspondentes os Drs. José Lyra e Carlos de Moraes e Socios Efetivos os Drs. Jeremias Martins, Moacyr Baptista Pereira e Clovis Pereira da Silva.
O Dr. Aristides Monteiro indaga do Snr. Presidente sobre a culpabilidade da Diretoria no fornecimento á jornal leigo de uma nota sobre a sessão proxima passada, uma vez que isto é vedado pelo Regimento Interno da Sociedade.
O Snr. Presidente declara que na melhor das intenções permitiu que o 1°. Secretario fornecesse a referida nota para publicação.
Snr. 1°. Secretario explica sua atuação no caso. Ocuparam-se dessa ocurrencia os Drs. Aristides Monteiro, Capistrano Pereira, Mauro Penna, Caiado de Castro, Pinto Fernandes e Müller dos Reis.
Ordem do dia:
O Snr. Presidente comunica que, por não haverem comparecido os doentes dos Drs. Ermiro de Lima e Capistrano Pereira ficam suas comunicações adiadas.
SOBRE UM CASO DE GUNDU' - Dr. Aristides Monteiro
Comentarios:
O Sr. Presidente felicita o A. pela perfeita exposição do assunto e pergunta porque afastar o diagnostico de Sifilis para admitir o de Gundu' quando no caso apresentado o exame Nisto-patologico de uma biopsia revelou lesões identicas ás de Sífilis. A Bouba, de que o Gondú é uma manifestação terciaria; apresenta grande similitude clinica com a Sifilis; as características morfologicas e corantes do Treponema pertenue são tambem de difícil diferenciação com as do Treponema pallidum e é precisamente o exame Nisto-patologico que facilita o diagnostico diferencial. Na Bouba ha espessamento da epiderme, edema do corion, dilatação vascular e os germens se localisam na epiderme; na Sifilis ha a caracteristica infiltração celular em torno dos vasos. Por isso pergunta porque foi firmado o diagnostico de Gundú quando o exame- Nisto-patologico revelou lesões identicas ás da Sifilis, segundo disse o autor da comunicação.
Dr. Capistrano Pereira - Diz ter observado uma doente, branca que lhe pareceu um caso de Gundú porém com o tratamento antiluetico a que foi submetida observou o desaparecimento das manifestações o que o levou a substituir o primeiro diagnostico pelo de Sifilis.
Dr. Müller dos Reis - Após felicitar o A. pela perfeita exposição diz não estar pessoalmente em condições de infirmar ou afirmar a identidade do Gundú com a Sifilis. Não observou ainda qualquer caso de Gundú. Entretanto, como o assunto lhe parece sedutor, percorreu exaustivamente a literatura sobre o assunto e em particular os trabalhos nacionais. O laboratorio nada póde dizer ainda de definitivo a respeito. As modernas reacções sorologicas, tidas como bastante sensiveis pelos sifilografos, ora são positivas, fraca ou fortemente, ora negativas. O proprio exame anatomo-patologico muitas vezes não nos traz resultados definitivos tal o caso de uma doente de sua observação, clinicamente leproso, em que, pela biopsia, eminente anatomo-patologista não poude positivar ou infirmar o diagnostico. Muito menos se poderá invocar nesse caso o diagnostico terapeutico, uma vez que o arsenico, o bismuto e o mercurio não são exclusivamente especificos da Sifilis. A Bouba aí está a proclamar essa verdade e a dizer que muitos parasitos sensiveis ao arsenico, bismuto ou mercurio, estão por serem descobertos na imensidão dos males mal estudados do continente africano. Houve epoca em que o diagnostico da sifilis encobria tudo aquilo que a nossa ignorancia não lobrigava a causa. O Dr. Aristides, ao contrario, mostra-nos a convicção a que o levou um raciocinio honesto e cuidadoso, baseado em seus casos bem documentados. Entretanto, julgamos que no estado atual, nada pode em definitivo afirmar ou infirmar a identidade da Sifilis ao Gundú, o que teria sido possivel, sem duvida alguma, se todo aquele abundante material enviado da Africa para a Europa não se perdesse no bojo do navio que o conduzia durante a passada conflagração européa.
O Dr. Aristides Monteiro diz nada asseverar em definitivo. Dá grande importancia ao diagnostico anatomo-patologico. Não tirou conclusões definitivas com o tratamento a que submeteu seus doentes.
23ª. Sessão ordinaria, em 2-8-1940
Presidida pelo Dr. Armando Pinto Fernandes e com a presença dos Drs. Homero Carriço, Mauro Penna, Müller dos Reis, Alberto Ponte, Caiado de Castro, Werneck Passos, Prof. Ermiro de Lima, Duarte Moreira, Seabra Junior, Jorge Silva, Capistrano Pereira, Aristides Monteiro e Roberto Marinho.
Expediente:
Leitura do oficio da Primeira Conferencia de Defesa Contra a Sifilis solicitando adesão e representação da Sociedade.
O Snr. Presidente manda que o Snr. 2°. Secretario oficie ao Secretario Geral da Conferencia communicando a adesão da Sociedade e comparecimento de uma delegação composta pelos Snrs. Presidente e Dr. Duarte Moreira.
Foi lido um aviso Ministerial que o Snr. Ministro das Relações Exteriores dirigiu ao Snr. Ministro da Marinha encarecendo a atuação do Dr. Fernandes, um dos tres Delegados do Governo Brasileiro no passado Congresso Sul Americano de O.R.L.
Leitura de uma carta do Snr. Ministro das Relações Exteriores ao Snr. Presidente acusando o recebimento do seu relatorio relativo ao Congresso já mencionado bem como a de outra do Prof. Errecart solicitando ao Snr. Presidente a remessa de uma comunicação para ser lida em uma das sessões da Sociedade Argentina de O. R. L.
Procede-se, a seguir, a eleição para o cargo do 1°. VicePresidente. Foi eleito o Dr. Mauro Penna.
O Snr. Presidente lê a carta do Dr. Capistrano Pereira solicitando demissão do cargo de 1º. Secretario. Consultada a Casa fica resolvido que não será preenchido o cargo até terminação do mandato da atual diretoria. Ocuparam-se do assunto os Drs: Pinto Fernandes, Capistrano Pereira e Mauro Penna.
O Snr. 2°. Secretario após relatar as providencias tomadas e o pé em que estão nossas relações com a Revista Brasileira de Oto-Rino-Laringologia, propõe que seja consultada a Casa afim de ser dirigido à diretoria da mesma um pedido para que figurem sempre na Revista a diretoria que no momento seja responsavel pelos destinos da Sociedade e no Conselho Cientifico todos os nomes do snossos ex-Presidente assim como os dos que futuramente vierem a se-lo. Trataram do assunto os Drs. Capistrano Pereira, Ermiro de Lima e Müller dos Reis. São aprovadas as sugestões.
Ordem do dia:
O Sr. Presidente comunica não haver comparecido o doente do Dr. Capistrano Pereira.
UM CASO DE MASTOIDITE RESIDUAL - Dr. Mauro Penna
O A. apresentou o caso de uma jovem de 17 anos que, em fins de Outubro de 1938, apresentára uma gripe seria, com sinusite e otomastoidite esquerda espontaneamente drenada. Pela intensidade dos sinais mastoideos foi obrigado a melhorar a drenagem, com uma paracentese ampla, Radiografias obtidas nesta ocasião mostraram serio comprometimento da mastoide esquerda, com necrose celular limitada. Participando á familia a gravidade do caso e possivel necessidade de um áto cirurgico, instituiu um energico tratamento, tendo empregado o Propidon e Sulfanilamida. A sequencia foi aparentemente favorável, apesar de, por certo periodo, ter apresentado a perfuração umbelicada. Assim, no 25°. dia de evolução não mais apresentava dores espontaneas e a otorréa era discretissima, apesar de presentes os demais elementos da sindrome de Scheibe. Instituiu-se neste periodo a cura de Jarvis (3 U. de Insulina diariamente). No 29°. dia não havia mais secreção, nenhum sinal subjetivo mastoideo, achando-se o timpano ligeiramente congesto no quadrante postero-superior. No entanto, poucos dias após, a paciente notou o reaparecimento de batimentos e sensação dolorosa discreta em certas circunstancias (exposição ao sol, trabalho mental, atenção fixada por longo tempo). Deante de tais observações, do deficit funcional que ainda apresentava, do espessamento que restava no quadrante postero-superior da membrana timpanica, e principalmente da radiografia anterior, pediu o A. uma nova radiografia, frisando que tal elemento permitiria assegurar a alta breve, como tambem poderia impor uma decisão cirurgica. Esta radiografia revelou a destruição da quasi totalidade das celulas da mastoide comprometida. Diante de tal documento não encontrou o A. outro recurso sinão indicar a intervenção operatoria. Por razões domesticas a familia resolveu, sem participar ou consultar o A., levar a paciente ao consultorio de um especialista de grande fama, que achou descabida a indicação operatoria, pois nada apresentava que merecesse, a seu vêr, cuidados maiores. Intercedeu um dos membros da familia, que não era leigo e havia acompanhado minuciosamente o caso, declarando que o A. só havia decidido intervir após o estudo de uma radiografia recente, indagando se não seria util o exame de tal documento, que se achava em poder do A. ou se não haveria necessidade de se obter uma outra chapa. Declarou tal parente da paciente que o ilustre oto-rino-laringologista respondeu-lhe que, a seu vér, não havia necessidade alguma de radiografia, no caso. Surpreendido com a disparidade de opiniões, tão contrarias eram as do A. e do medico ouvido, o pae da paciente não sabia o que decidir. Propoz então ao A. uma conferencia com o referido medico, no que não concordou o A., pela simples razão de ter baseado sua indicação operatoria em um exame considerado desnecessario pelo técnico que examinára tão eficientemente a paciente. Elegeu, no entanto, com o intuito humanitario de contribuir para a segurança da vitima de tão insidioso mal, como arbitro da situação, o Prof. João Marinho, que por sua cultura e experiencia notaveis, poderia dar a ultima palavra. Da conferencia, com que o Prof. J. Marinho honrou o A., resultou a intervenção. O A. encontrou a mastoide transformada em uma grande cavidade necrótica, surgindo pús sob pressão desde que a cortical foi transfixada. A sequencia foi normal. Teceu o A. algumas considerações sobre as mastoidites de evolução tardia, resaltando o valor da radiografia no seu diagnostico, além do estudo dos pequenos sinais subjetivos, como dos elementos objetivos, por mais discretos que se apresentem. Exibiu o A. as radiografias do caso.
Comentarios:
O Snr. Presidente pondo em discussão a comunicação do Dr. Mauro Pena tece considerações em torno da mesma. Diz ter sempre presente o conselho de seu mestre o Prof. PORTMANN de dar a maior importancia ao sindromo de SCHEIBE. Felicita o Dr. Mauro Penna pelo criterio clinico com que agiu, sempre pronto a intervir, como o fez, no momento oportuno.
Dr. Aristides Monteiro - Deseja saber por que motivo não foi indicada a mastoidectomia, ao envez do tratamento medico, quando os sintomas eram de grande intensidade e quando as primeiras radiografias revelaram necrose celular limitada.
Não havendo quem mais desejasse comentar a comunicação feita, dá o Snr. Presidente a palavra ao Autor, para a resposta.
Dr. Mauro Penna - Diz não haver indicado a operação em primeiro lugar porque sempre tenta o tratamento medico antes de apelar para a cirurgia. No caso a expectativa armada nenhum mal traria. Depois já observára caso identico, em que indicara a intervenção, e que submetido a longo tratamento medico, por outro especialista, curara sem intervenção cirurgica.
DOIS CASOS DE FLEGMÃO SEPTICO GANGRENOSO DA REGIÃO SUPRA-IOIDE'A (Angina de Ludwig) Dr. Roberto Marinho em colaboração com o Dr. Humberto Lauria.
Os A. A. relatam duas observações clinicas de flegmão septico gangrenoso da região supra-ioidéa, dizendo ser impropria a denominação de Angina de Ludwig, como é geralmente conhecido. Mostram a sua etio-patogenia e a gravidade do seu prognostico, geralmente fatal. A incisão cirurgica, larga, deve ser praticada com urgencia, não se encontrando, geralmente, coleção purulenta franca, mas uma serosidade muito fétida, devido aos gazes produzidos pelos anaerobios. Observa-se o quadro clinico de uma intoxicação grave, temperatura elevada. Um dos casos terminou por cura, após 30 dias de tratamento, associando-se intenso tratamento anti-infeccioso. Na outra observação, o paciente faleceu 6 dias após a intervenção, feita já com o processo muito adiantado.
Comentarios:
Pondo em discussão a comunicação do Dr. Roberto Marinho, o Sr. Presidente felicita-o pela forma com que encarou o assunto, discordando apenas quanto sua opinião de que é improprio, no caso, o termo "angina". O termo "angina" de "angor" é aplicavel ao caso pois então tambem se observa essa sensação de angustia, caracteristica das anginas agudas.
Dr. Müller dos Reis - Manifesta seu inteiro apoio com o modo de pensar do Dr. Roberto Marinho. Angina, de "agcho" no grego, significa constrição, estrangular - A denominação de "angina" cabe assim a qualquer entidade morbida que acarrete tal sensação. Tanto ás inflamações agudas da faringe, dizemos agudas pois as cronicas não acarretam tal sensação, como a propria "angina pectoris", o que sem duvida sem nada particularizar, só póde trazer confusão, Daí, modernamente, a idéa vem de longe sedimentando-se aos poucos, CAMBRELIN em um Curso de Alta Cultura Medica da Fundação Tomarkin haver proposto que se banisse da terminologia oto-rino-laringologica o termo angina. Se a inflamação aguda tiver por séde as amigdalas, dir-se-á amigdalite (como se denomina apendicite á inflamação do apendice ou, mo mesmo criterio, prostatite, aortite, etc), se invadir toda a faringe dir-se-á faringite. Assim, teremos as amigdalites de Vincent, as pultaceas, as faringites agudas ou cronicas, etc. Tal terminologia permite denominações precisas, sem termos falsos ou ambiguos, devendo por esse motivo ser proscrito da especialidade o termo angina.
Dr. Aristides Monteiro - Manifesta-se de inteiro acordo com o Dr. Roberto Marinho e com o que disse Dr. Müller dos Reis, lembrando que mesmo no criterio do termo angina para os processos agudos da garganta aí está a angina agranulocitica assim impropriamente denominada pois nada mais é que uma enfermidade a mais geral, cuja causa se vae encontrar na perturbação ou parada da formação dos elementos da serie branca do sangue. Ainda, como acaba de lhe recordar o Dr. Ermiro de Lima, o criterio topografico é sempre preferivel e deve prevalecer. Acha o Dr. Werneck Passos que o termo angina deve ser reservado unicamente para os processos inflamatorios da garganta (agudos ou cronicos).
Dr. Capistrano Pereira - Diz haver observado até o momento tres casos da afecção em apreço.
Dr. Pinto Fernandes - Diz estar, ainda que possa parecer um paradoxo, inteiramente de acordo com as opiniões aqui emitidas. Se se quizer aceitar o criterio da designação de angina para os processos agudos da garganta, não deixará de estar certa a denominação de angina de Ludwig. Entretanto se se adotar o criterio de denominar o processo agudo ou cronico segundo sua séde, o que tambem lhe parece preferível, será mais acertado dizer "Flegmão do assoalho da boca".
Dr. Roberto Marinho - agradece os comentarios que seu trabalho mereceu, dizendo sentir-se muito feliz por lhe haver dado o titulo de acordo com a moderna orientação.
É encerrada a sessão.
(*) - Trabalho publicado na Revista Brasileira de O. R. L. - Vol. N.º 3 - Maio-Junho, 1940.
(**) - Trabalho publicado na Revista Brasileira de O. R. L. - Vol. VIII.o - No. 4 - Julho-Agosto. 1940.