Versão Inglês

Ano:  1940  Vol. 8   Ed. 5  - Setembro - Outubro - ()

Seção: Trabalhos Originais

Páginas: 315 a 318

 

SINDROME AURICULAR DE HIPERTENSÃO ARTERIAL DE ARISTIDES MONTEIRO

Autor(es): IVO NETO (*)

Em numero da revista "O Hospital", de Janeiro de 1937, escreveu o dr. Aristides Monteiro concludente e interessante trabalho sobre o sinal da artéria do cabo do martelo na hipertensão arterial. Com um total de quinze observações - dele e de seus companheiros de clinica - traz-nos á luz um sinal semiológico cuja generalisação de conhecimento constitue uma nóva arma para o especialista e uma defêsa providencial para o doente. No entretanto, na literatura indigena, de parte dos especialistas, nada mais se leu sobre o assunto. Os extrangeiros seguiram-lhe mais de perto as pegadas. Casteran e Montero, de Buenos Aires, vêm em sua ajuda. Comprovam-lhe o achado, ratificam-lhe as conclusões. Ultimamente, com o advento do 1 ° Congrésso Brasiliense de Otorino ventila-se novamente o assunto, que, por proposta de ilustre congressista, ficou batizado com o nome de Sindrome auricular de hipertensão arterial de Aristides Monteiro. Nada mais justo. O achado clinico e o estudioso completam-se na denominação proposta. A dilatação arteriolar juntam-se, quasi sempre, zoadas, cefaléas e tonteiras, segundo depreendemos das nossas e das proprias observações do autor. Como dissémos de inicio, nada mais se tem lido na literatura especializada nacional sobre o assunto. Desse modo, em obediencia ao apelo do autor e, tambem, de alguns comentadores do seu trabalho no Congrésso de Outubro, com uma modesta contribuição onde pudemos constatar o sinal do ilustre patricio, damos conhecimento dos casos seguintes, que nos proporcionou a clinica:

Observação I - M. C., branco masculino, casado, 50 anos, brasileiro, militar. Já fez muitos tratamentos para abaixar a pressão arterial, tendo sido sangrado duas vezes. Ultimamente, tem tido tonteiras e zoadas nos ouvidos. Exame: timpanos de coloração normal e com todos os elementos; dilatação da artéria do cabo do martelo de ambos os lados. Oroscopia normal, Rinoscopia normal. Acumetria tambem normal. Pressão arterial: Mx 28; Mn. 13 (V, L.). Enviamo-lo imediatamente ao clinico vindo a falecer uma semana depois por hemorragia cerebral.

Observação II - M. I. S., branca, feminina, casada, 52 anos, brasileira, domestica. Procurou-nos por surdês progressiva, ha doze anos, do ouvido esquerdo. Queixa-se, tambem, de atordoação e zoadas. Não ha muitos dias teve hemorragia pelo nariz. Exame: O. E. Certo gráu de insensibilidade do conduto; timpano de coloração normal, apresentando mancha rosea no quadrante postero-inferior - mancha de Schwartz. O. D. Timpano normal, notando-se a dilatação da artéria do cabo do martelo. Nariz e garganta normaes. Dentes máus. Acumetria:


O. D. - C 64 _sim__ ; C 128 _Sim_ ; C 256 ___sim______ ; Rinne __+__; __O. D.__ Schwabach
O .E. - não não sofrivel - O. E.

__normal__; Gellé _+_ .
aumentado -

Pressão arterial: Mx. 22 ¹/2; Mn. 10 ¹/2 (V. L.).
Diagnostico: Oto-espongióse do O. esquerdo.

Observação III - L. T., branco, masculino, casado, 52 anos, hespanhol, lavrador. Ha tres dias epistaxis com fáses de parada e recrudimento. Queixa-se de atordoação antes de vir a hemorragia nasal. Alcoolatra inveterado. Exame: Coagulos sanguineos na fóssa nasal direita e corrimento sanguinolento discréto da zona de Kiesselbach do mesmo lado; fóssa esquerda normal. Oroscopia: sangue coagulado á parede posterior do faringe. Otoscopia: timpanos opacos, observando-se a dilatação da artéria do cabo do martelo de ambos os lados. Acumetria; normal. Pulso tenso. Pressão arterial: Mx. 20; Mn. 13 (V.L.). Cauterisação da zona hemorragipara e hipotensores. Epistaxis noturna, tornando ao consultorio no dia imediato, pela manhã. Pulso tenso e mantem-se a pressão. Sangria á conselho clinico. Hipotensores e repouso. A' noite a pressão era de 16 ¹/2 e 10 ¹/2 e a dilatação arterial quasi imperceptível. Hipotensores e repouso. Ao cabo do 4° dia a pressão manteve-se em 15 e 9, e já se não notava o sinal arterial. O doente foi entregue aos cuidados do clinico.

Em numero restrito, embora, temos material onde ressaltam fatos que devem ser analisados, para bem aquilatarmos do valor do novo sindrome.

Na primeira observação, á semelhança do que se passou com doente do prof. Monteiro de Carvalho, citado pelo dr. Aristides, hipertenso irredutivel, o paciente veio a falecer. Era um individuo já sangrado duas vezes, em quem não lhe descurava o facultativo o regimen e os hipotensores, Não o poupou o insulto cerebral, no entretanto. Tonteiras, acufenos e dilatação arterial, eis o sindrome em toda a sua plenitude. Tambem de citação do mesmo autor - caso do dr. Paulo Brandão - em doente nas mesmas condições, isto é, com aquela triade sintomatologica e ignorante da sua pressão, não se fez demorar o ictus cerebral. A observação seguinte mostra-nos paciente que nos veio consultar por surdês e que, no entanto, mostramos-lhe cousa mais grave e sugerimos a necessidade de maiores cuidados, enviando-o de volta ao clinico. Acentue-se no caso a inexistencia do sinal arterial do lado do ouvido surdo, mas de exagerada visibilidade no ouvido são. E , terreno aberto para conjeturas. Julgamos, porem, que a hiperemia do promontorio, tão encontradiça na oto-espongióse, desempenhasse aqui um papel derivante, daí o não constatar-se a congestão da arteriola do cabo do martelo. Méro modo de raciocinar, no entretanto, ao qual não temos a pretensão de emprestar um carater definitivo. Aguardamos a palavra dos doutos. Ha um embaraço circulatorio local e, por conseguinte, de acordo com a conclusão numero 1 do trabalho dos autores portenhos, causa para a negatividade do sinal otoscopico em estudo. Outrosim, apesar da recente epistaxis referida pela doente manteve-se em evidencia a arteriola. Já adivinhamos o porque: insuficiencia da sangria expontanea, o que nos leva a atribuir ao achado meringoscopico uma advertencia seria, um indicio de alarme. Na terceira e ultima observação, vemos de maneira nítida a relação de causa e efeito. Doze horas após a sangria éra quasi impercetivel o sinal otoscopico, para desaparecer com a normalisação da pressão arterial. No trabalho de Casteran e Montero - casos 18 e 32 - e nas observações 3 e 5 do dr. Aristides vêm-se fatos semelhantes. O caso presente é, por conseguinte, uma repetição do que lhes foi dado observar. Não nos deteremos em comentarios em torno do sindrome que mereceu do seu descobridor tão carinhoso quão acurado estudo e que, de certo, espera maior contribuição da parte dos estudiosos. Foge-nos outra pretensão senão a de adicionar á casuística nacional os casos relatados e que tão loquásmente nos falam da estreitêsa de relação entre hipertensão e congestão da arteria do cabo do martelo. Dos nossos doentes apenas o primeiro estava inteirado da sua doença. Os dois outros ignoravam completamente o seu estado. O nosso exame mostrou lhes o perigo que se acercava. Todos pertenciam ao grupo vermelho de Volhard. Pelo que acabamos de expor, somos levados a concluir do seguinte modo:

1.° - A dilatação da arteria do cabo do martelo é, na grande maioria dos casos, consequencia da hipertensão arterial.
2.° - Deve ser interpretada como uma séria advertencia nos casos de hipertensão permanente.
3.° - Desaparece quando, pela sangria ou tratamento medico, abaixamos a pressão arterial.

RESUME':

L'auteur met en évidence le rapport entre l'hypertension artérielle et la dilatacion de l'artére du marteau. Il étudie trois cas oú s'oet termine s'observe le signe de son dècourveur et termine son article avec les conclusions suivantes:

1-La dilatation de l'artère du manche du marteau est, dans plus grand poucentage des cas, conséquence de l'hypertension artérielle.
2-On doit 1'interpreter comme un serieux avertissement dans les cas de l'hypertension permanente.
3-Elle disparait quand, pour la saígnée ou traitement clinique, nous abaissons la pression artérielle.

BIBLIOGRAFIA

MONTEIRO (Aristides) - O sinal da arteria do cabo do martelo na hipertensão arterial. O Hospital, pag. 31 - Janeiro de 1937 -
ALMEIDA (Garfield) - Sinal da arteria do cabo do martelo. Reflexões á margem da comunicação do dr. Aristides Monteiro. O Hospital, pag. 155 - Fevereiro de 1937.
CASTERAN (E.) e MONTERO (J.) - Sobre el signo de la arteria del mango del Martillo en la hipertension arterial. Revista Argentina de O. R. L., pag.161 - Maio-Junho de 1937.
MONTEIRO (Aristides) - Arquivos do 1º. Congresso Brasileiro de Oto-Rino-Laringologia, vol. 3°., pag. 301. Outubro de 1938.




Recebido pela Redação em 20-8-1940.
(*)Oto-rino-laringologista do "Instituto Orlando Aprigliano", Jaú - Estado de São Paulo

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