Versão Inglês

Ano:  1940  Vol. 8   Ed. 4  - Julho - Agosto - ()

Seção: Associações Científicas

Páginas: 285 a 289

 

ASSOCIAÇÕES CIENTIFICAS

Autor(es): -

SECÇÃO DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA

Reunião de 18 de dezembro de 1939

Presidida pelo dr. Ernesto Moreira, secretariada pelos drs. Rezende Barbosa e Gentil Miranda, realizou-se, no dia 18 de dezembro de 1939, uma reunião da Secção de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina.

Expediente:

O dr. Mario Ottoni de Rezende propoz um voto de pesar, em ata, pelo passamento desastroso do dr. Álvaro Guião. A proposta foi aceita por unanimidade.

Em seguida procedeu-se a eleição da mesa para 1940, com o seguinte resultado:

Presidente: dr. Raphael da Nova

1.° secretario: dr. José Julio Cansanção
2.° secretario: dr. Francisco Prudente de Aquino

Ordem do dia:

OTITES E ENTERITES INFANTIS (*) - Dr. Francisco Hartung.

Não ha especialista de ouvidos que desconheça as dificuldades que surgem a miudo, na pratica da otologia infantil, principalmente quando se examina crianças de mui tenra idade. E, tendo em vista que a otoscopia perfeita é fundamental para o otologista orientar o pediatra, julgar-se-á da importancia de tal assunto, sobretudo depois que se vulgarizaram as noções sobre os complexos focais e que a idéia de otite lactente ficou bem sedimentada.

O A. após demorar-se num estudo aprofundado da relação de causa e efeito entre a patologia do ouvido e as perturbações gastro-intestinais do lactente apresentou a observação de uma criança de nove meses que adoecera, dias antes, acometida de vomitos, diarréa, desidratando-se com extrema rapidez. Apezar dos cuidados terapeuticos e dietéticos segundo a orientação a mais moderna, as condições decaem de maneira alarmante. Os fenomenos de toxicose e apatia são evidentes e o doente entra em estado comatoso. A otoscopia nada permite afirmar sobre o ouvido medio, mas a paracentese, realizada, aparentemente sem indicação alguma, resolve rapidamente o caso.

Comentarios:

Dr. Gabriel Porto: De pleno acordo com o A. felicita-o por ter trazido á Casa um assunto de palpitante interesse. Como meio propedeutico, lembra ao A. que tem empregado a punção da caixa e com bons resultados.

Dr. Rezende Barbosa: A comunicação do dr. Hartung interessar-nos e particularmente, l.° por se tratar de um assunto complexo, otites e enterites infantis e segundo por que procuramos sempre na literatura o que diz respeito a otite nos lactentes, não por termos muita pratica no assunto, mas pelo receio de que em qualquer época virmos obrigados a decidi em casos tais, a começar em nossa propria Casa.

Na otite do lactente, devemos considerar três tipos distintos, com sintomatologia mais ou menos diversas, mas que podem representar, tambem, três fases evolutivas de um mesmo processo: a oto-salpingite, a oto-mastoidite primaria purulenta e a ato-mastoite osteitica.

O primeiro e ultimo tipos, a oto-salpingite e a oto-mastoidite osteitica, carecem de valor, parece-nos, no assunto em discussão "otites e enterites infantis", pois enquanto a primeira representa mais uma infecção do cavum com reacção de proximidade, a ultima é de diagnostico facil devido á sua exteriorização no abcesso subperiostal retro-auricular.

Entretanto, é no segundo tipo, oto-mastoidite primaria purulenta, tambem denominada por Le Mee e Bloco de "otite latente" que residem esses casos insuspeitos, com complicações gastro-intestinais alarmantes, apresentando o sindrome vomito,diarréa, e de que o dr. Hartung deu exemplos frizantes.

Do que acabamos de ouvir deduzimos da necessidade de estreita colaboração entre o especialista e o pediatra, este ultimo não só prestigiando o primeiro junto á familia do doentinho, quando de uma indicação operatoria, como executando um tratamento pré e post-operatorio adequado, principalmente mantendo o balanço hidrico do pequenino, forçosamente desidratado pelas diarréas e vomitos constantes.

Um ponto sobre o qual desejaríamos esclarecimentos do dr. Hartung é o da anestesia do lactente, quando da intervenção sobre a mastoide, mesmo porque além de ser um problema ainda não resolvido de todo, nós mesmos tivemos o desagradavel ensejo de assistir, ultimamente, em nossas mãos, o exito fatal, não de um lactente mas de uma pequena de três anos e meio que, após antrotomia simples, rapida, sem choque operatorio algum, sucumbiu, minutos após terminada a operação, de sincope cardíaca branca. Anestesiada com mascara aberta, com éter e cloroformio (balsoformio), a quantidade de anestesico administrada, 15 cc. mais ou menos, não pôde ser imputada como a responsavel.

Certos AA. preconisam, no lactente, a infiltração local com sol. de novocaina a ¹/2 ou 1 %, enquanto, durante o ato cirurgico, o pequenino paciente é entretido pela enfermeira com uma mamadeira com água e açúcar.

Le Mée afirma obter ótimos resultados, no lactente, produzindo uma anestesia satisfatoria, pela simples aplicação sobre a região mastoidéa de uma bolsa de gelo por alguns minutos.

Dr. Francisco Hartung: A sugestão do dr. Porto é muito bôa, mas crê que a paracentese, sendo obra de segundos e rara em acidentes, deva ser preferida como meio de diagnostico.

Dr. Mario Ottoni de Rezende: Lamenta não existir uma maior colaboração entre a pediatria e a nossa especialidade, pois seria de maior alcance o proveito para todos nós esse melhor entendimento e aproximação de vistas.

Dr. Ernesto Moreira: Agradeceu a contribuição do A. e sugeriu ao futuro presidente da Secção que procure entrar em entendimento com a Secção de Pediatria, para um estudo em conjunto da questão.

Nada mais havendo a tratar foi encerrada a reunião.

Reunião de 17 de Janeiro de 1940

Presidida pelo dr. Ernesto Moreira, secretariada pelos drs. Rezende Barbosa e Gentil Miranda, realizou-se, no dia 17 de janeiro de 1940. uma reunião da Secção de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina.

Expediente:

Constou da leitura e aprovação da ata anterior e da posse da nova diretoria para 1940, assim constituida:

Para presidente, Dr. Raphael da Nova; para l.° secretario, Dr. José Julio Cansanção; para 2.° secretario, Dr. Francisco Prudente Aquino.

Pediu a palavra o dr. Hartung que propoz que se oficiasse á secretaria de Educação e Saude Publica, afim de se obter a relação dos laringologistas brasileiros e assim, por meio de circulares, tornar mais conhecida nos meios especializados brasileiros a Revista Brasileira de Oto-rino-laringologia.

A seguir, pediu a palavra o dr. Homero Cordeiro, que fez o necrológio do prof. Ino Kubo, e ao finalizar, propoz um voto de pezar pelo falecimento do ilustre laringologista japonês, grande amigo do Brasil e da Revista Brasileira de Oto-rino-laringologia.

Falou a seguir, entregando a diretoria da Secção, o dr. Ernesto Moreira. Após uma breve alocução, fez um resumo dos trabalhos apresentados á Secção durante o ano findo, agradecendo aos colaboradores. Fez a seguir votos de sucesso ao novo presidente, no qual disse depositar absoluta confiança.

Iniciada a sessão sob a nova diretoria, o dr. Raphael da Nova convidou os drs. Silvio Ognibene e José Carmine Méa para secretarios, em vista da ausencia justificada dos drs. José Julio Cansanção e Prudente de Aquino.

Pediu a palavra o dr. Mario Ottoni de Rezende, propondo um voto de louvor á diretoria antecessora pela sua correta atuação no decorrer de 1939.

Ordem do dia:

CARCINOMA DO EPITELIO CHATO POLIESTRATIFICADO DO ASSOALHO DA BOCA. OPERAÇÃO. CURA (* *) - Dr. Friedrich Müller.

O cancer do assoalho da boca é relativamente raro; torna-se muito perigoso, quando atinge a submucosa. Trata-se no presente caso de um sacerdote de 59 anos que sentiu aparecer uma tumoração do tamanho de uma ervilha, na região da glândula sublingual direita. Foi feita uma incisão, queimando-se pelo electro-cautério toda a circunvizinhança. Seguiu um tratamento com agulhas de radium. Cura ha 1 7 meses. O paciente é abstinente do fumo. Não se aplicam ao presente caso por esse motivo os ensinamentos de Roffo sobre as carbohidrilas cancerogenicas do fumo. O A. referiu a orientação moderna de diversos pesquisadores, especialmente a de Bircher-Benner, sobre os efeitos desfavoráveis da alimentação que entrou em uso pela civilização moderna e que, segundo trabalhos recentes, ocasiona um distúrbio do equilíbrio coloidal das celulas. Originam-se daí diversos estados patologicos do organismo, provavelmente tambem o cancer. O A. referiu ainda as dificuldades que se opõem a uma alimentação sã e natural em nossos dias. Salienta o valor da alimentação crua.

A comunicação não foi comentada.

Nada mais havendo a tratar foi encerrada a reunião.




(*) Trabalho publicado na Revista Brasileira de O.R.L. - Vol. VIII - N.° 1 - 1940.
(**) Trabalho publicado na Revista Brasileira de O.R.L. - Vol. VIII - N.° 2 - 1940.

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