Versão Inglês

Ano:  1940  Vol. 8   Ed. 4  - Julho - Agosto - ()

Seção: Progressos da O. R. L.

Páginas: 277 a 284

 

DIATERMIA A ONDAS-CURTAS NO TRATAMENTO DAS SINUSITES NASAIS

Autor(es): Tradução de J. E. DE REZENDE BARBOSA

Com o uso da diatermia, como um novo e mais poderoso agente termoterapeutico em confronto com aqueles tidos como eficazes na transmissão de calor externo ao corpo, novos esforços foram orientados no sentido de aplicação desse agente terapeutico no tratamento das sinusites. Os resultados não têm sido a molde que encoraje a generalizar seu uso na pratica rinologico. Por certas razões, o advento da diatermia a ondas-curtas deu um impulso na revisão de pesquizas clinicas e experimentais com o intuito de obter resultados favoraveis em certos processos inflamatorios. O resultado dessas pesquizas foi a tendencia presente em incluir o mais novo agente terapeutico isoladamente ou como complemento a outras medidas no tratamento dos processos inflamatorios das cavidades nasais acessórias.

Antes de entrar na discussão dos aspetos clínicos da questão torna-se necessario frizar as diferenças isto é, entre o velho ou convencional, e os ultimos tipos de diatermia a ondas-curtas.

Todo esse problema foi polidamente regulado pelo Conselho de Fisioterapia da Associação Medica Americana com essas palavras:

A diatermia médica consiste no uso terapeutico do calor gerado nos tecidos do corpo por corrente de alta frequencia, a qual possue intensidade local insuficiente para produzir altas temperaturas capazes de destruir os tecidos ou alterar sua vitalidade. Tais correntes são aplicadas, localmente, por tres metodos: 1) diatermia a ondas longas convencionais, sendo usados os eletrodos metalicos de contáto; 2) diatermia a ondas-curtas com um campo eletrico, sendo usados os eletrodos com uma camara de ar ou insulados e 3) diatermia a ondascurtas com um metodo de campo eletro-magnético, utilisandose um cabo.

Na diatermia convencional ou a ondas longas, a frequencia das oscilações é comumente de meio a 3 milhões de ciclos por segundo. Na diatermia a ondas-curtas a frequencia das oscilações pode ser de 10 milhões a 100 milhões de ciclos por segundo.

Certos autores alardeam que a diatermia a ondas-curtas constitue, um novo e distinto método terapêutico, porque, alem de sua reconhecida capacidade de produzir calor em profundidade, possue, tambem, propriedades fisiologicas e biológicas afetando a vida celular, afirmativa essa que não é desprovida de um certo elemento de natureza misteriosa. Essa fase do problema encontra-se regulada pelo Conselho de Fisioterapia com as seguintes palavras: "A luz das observações atuais, parece razoável que, a não ser aqueles atribuidos ao calor, nenhum outro efeito fisiologico foi estabelecido", asserção esta com a qual estamos inteiramente de acordo.

Existe, contudo, certa diferença entre os dois tipos de diatermia acima referidos. A diferença, que será explicada posteriormente em detalhe, consiste, essencialmente, no fato que a diatermia a ondas-curtas vence facilmente a resistencia ohmica oferecida, á corrente diatermica comum, pelas estruturas ósseas, e, portanto, é capaz de gerar calor nos ossos, fato esse que, de inicio, sugere novas possibilidades terapeuticas em regiões do corpo humano contendo estruturas osseas, haja visto no tratamento das sinusites nasais.

Analise racional da terapeutica pelo calôr

Foi Bier quem salientou, pela primeira vez, o papel da inflamação como uma reacção natural na reparação dos processos morbidos. Os seios da face doentes não diferem, patologicamente, de outros orgãos com processos infecciosos, de tal modo que um agente terapeutico de acção eficaz em determinada parte do corpo prova-se igualmente benéfico em situação identica em qualquer outra região. O emprego do calor pelo seu efeito localisado, epidêmico, não constitue nada de novo, tendo sido. a viga mestra dos pioneiros da eletroterapia. Visando a maneira mais ativa de produzir calor na superficie ou no corpo, os investigadores modernos foram levados a introduzir melhores fontes de energia calorifica.

O efeito analgesico do calôr local é bem reconhecido. E tambem conhecido que as irradiações calorificas locais aumentam o metabolismo tissular local, permitindo uma resposta defensiva mais rapida ás doenças. Com a vitalidade dos tecidos aumentada, as forças de reabsorção facilitam os processos resolutivos locais a se fazerem mais rapidamente, a não ser que sejam impedidos por forças extranhas.

A evolução das fontes de calôr artificial trouxe, como natural, um grande numero de aparelhos e aplicações, sendo que a diferença em muitos deles é mais de ordem técnica do que mesmo de superioridade terapeutica. A diferença notavel não consiste tanto na maneira de produção de calor como no fato que pela diatermia o calor pôde ser produzido a um nivel consideravelmente inferior ao da sub-cutia. Como já ficou dito, a principal vantagem obtida da diatermia a ondas-curtas é o fato indisputável que a mesma produz calor a muito maior profundidade do que é possivel com a diatermia convencional, e que ás estruturas ósseas, que representam um obstaculo quasi que intransponível á penetração das ondas longas, são facilmente atravessadas pelas ondas-curtas. Considerando-se as estruturas ósseas do craneo e face, é evidente que o tratamento das sinusites tornou-se mais eficiente pelo uso conjunto da diatermia a ondas-curtas.

Alem da acção hiperemica, o calôr profundo estimula a circulação da linfa e, si permanecer continuo por longo espaço de tempo, produz edema. A analgesia pode ser atribuída a esse fenomeno, desde que a infecção é controlada mediante aumento do processo inflamatorio. Portanto, justifica-se o conceito de que a inflamação é uma reacção natural de defesa que pode ser aumentada dentro de certos limites do que ser suprimida, e que o valor terapeutico do calor é atribuível á hiperemia e hiperlinfia.

Indicações e limites.

Enquanto que tudo isso que foi dito aplica-se pelo menos em parte ao calor originario de qualquer fonte, aquele produzido pelas correntes de alta frequencia gera o fenomeno a muito maior intensidade. Deve-se acrescentar ainda que convencional, existe certo receio aplica-la em casos de processos supurativos agudos sem que primeiramente se estabeleça a drenagem. A experiencia tem demonstrado que tal não acontece com com a diatermia a ondas curtas. Enquanto que esse processo pode ser seguramente aplicado nos empiemas de qualquer seio, a afirmativa dos autores europeus de que a intervenção cirurgica é evitada não tem sido substanciada.

A diatermia a ondas-curtas não constitue uma panacéa, e somente em poucas ocasiões produziu resultados favoraveis sem o uso conjunto de outros processos. A tendencia a empregar, isoladamente, a diatermia no tratamento das sinusites nasais, está condenada. Alem disso, o seu emprego sem que o diagnostico exato tenha sido feito, tal como acontece muitas vezes com certos práticos, só concorre para o descredito do metodo, colocando-o na categoria dos processos não cientificos. Quando um processo patologico é de tal categoria que, sem duvida, somente pela cirurgia conseguirá ser erradicado, perder-se-á um tempo precioso tentando obter melhoras com terapeutica não cirurgica.

A seleção adequada dos casos constitue um dos requisitos primários para o uso cientifico da diatermia a ondas-curtas como uma terapeutica coadjuvante. E' essencial distinguir os diferentes para esse fim, todos meios clinicos e de empregados afim de assegurar um diagnosticos de sinusites, e, boratorio devem ser empregados afim de assegurar um diagnostico exato.

Apesar do que se tem dito a respeito da aplicabilidade da diatermia a ondas-curtas nos processos supurativos agudos, a drenagem deve ser executada em cada caso em ocasião adequada. Este fato está perfeitamente acentuado no comunicado do Conselho de Fisioterapia, que estabelece:

A irradiação infra-vermelha e a diatermia médica são coadjuvantes uteis a outro tratamento após estabelecimento de drenagem adequada. A diatermia médica é de valor como um auxiliar no alivio da dôr; os seios frontal e maxilar são dos mais adequados para tratamento.

Critica do progresso.

Inumeros estudiosos investigaram o valor da diatermia a ondas-curtas no tratamento das sinusites nasais. Em muitos casos a temperatura tissular local não se elevou de maneira apreciavel, ou elevou-se discretamente. Tebbut é de opinião que o calor tópico é de valor limitado, apesar da queda na temperatura nos seios, explicando, contudo, que esse fenomeno constitue, aparentemente, uma parte do mecanismo de termo-regulação do corpo. Num esforço em procurar conciliar os resultados clinicos favoraveis com os achados experimentais, Andreen e Osborne presumem que:

O beneficio obtido por tais metodos é devido, em parte, a um aumento de circulação produzindo uma hiperemia ativa, do que a qualquer mudança de temperatura.

Bierman exprime a crença de que o calôr é definitivamente de valor no tratamento das doenças dos seios. O mesmo autor e seus colaboradores observaram acentuado alivio da dôr após aplicação da diatermia a ondas-curtas. Muitos desses pacientes já haviam sido tratados por outros especialistas e por muitos anos. Tália comunica os resultados satisfatorios obtidos no tratamento das sinusites cronicas pelas ondas-curtas. De acordo com o mesmo, os pacientes que não respondem favoravelmente a esse tratamento não melhoram sob nenhuma outra forma de tratamento médico e, portanto, devem submeter-se a terapeutica cirurgica.

Estudos clinicos.

Com o fim de avaliar, corretamente, a acção da diatermia a ondas-curtas no tratamento das sinusites, repeti os estudos de temperatura de Andreen e Osborne e de Rosenwasser e Bierman. Em 20 casos selecionados de exarcebação aguda de sinusite maxilar, nos quais foi possivel a tomada de temperatura atravez uma janela, foram obtidos os seguintes resultados: em 10 observou-se uma elevação de temperatura de 0,6 a 1,5 F. ; em 4 não houve elevação ou queda e, nos ultimos 6, houve queda de 0,4 a 1 F. Não foram aplicadas substancias analgésicas intra-nasais, porque experiencias anteriores haviam demonstrado que a cocaina ou outros anestésicos influenciam os resultados. O tratamento consistiu em aplicações de 15 minutos, com eletrodos contendo espaço de ar, sobre o antro doente e, em todos os casos, foi empregado o mesmo aparelho.

Em uma segunda serie de 18 casos de sinusite maxilar aguda, a diatermia a ondas-curtas (com um aparelho de 6 metros) foi empregada isoladamente sem auxilio de qualquer outra medida terapeutica. Em um grupo do controle foram usados processos outros sem associar a diatermia a ondas-curtas, e, em um 3.° grupo, o tratamento a ondas curtas foi usado afim de favorecer os processos corriqueiros. No 1.° grupo, após 4 dias, em 6 dos pacientes foi necessario aliviar o processo pela irrigação, contração da mucosa e sucção. As respostas mais favoraveis foram obtidas no 3.° grupo, no qual associou-se, aos processos de rotina no tratamento dos seios da face, a diatermia a ondas-curtas. Os resultados mais desfavoráveis foram os obtidos no grupo tratado somente pelas ondas-curtas. No julgamento dos resultados foram considerados os seguintes fatores: a dôr, sensibilidade, caracter da secreção, facilidade de drenagem, sintomas constitucionais e resultados á transiluminação. Ao se considerar o tratamento como terminado, de acordo com os sintomas acima expostos, os seios da face foram radiografados e comparados com as radiografias anteriormente executadas. Os resultados foram considerados como finais após um certo espaço de tempo.

Em uma terceira serie de 14 casos selecionados de sinusite maxilar cronica (inflamatoria e supurada, mas não definitivamente hiperplastica), na qual os pacientes haviam sido submetidos previamente a numerosos processos não cirurgicos de tratamento durante um periodo variado de um a cinco anos, a diatermia foi experimentada afim de avaliar seu valor. Sete pacientes foram tratados somente pela diatermia, e sete conjuntamente com medicações intra-nasais e constitucionais. Dos sete tratados exclusivamente a ondas-curtas, somente um deles melhorou discretamente; no outro grupo de sete, dois deles apresentaram melhoras decididamente favoraveis e somente em um caso as melhoras foram minimas. Esses dois grupos de individuos foram tratados durante um periodo de um ano com intervalo após cada serie de 1 5 aplicações. Durante a ultima parte das provas os periodos de tratamento foram aumentados para 20 minutos, mas, no entanto, tiveram que ser reduzidos devido ao disconforto passageiro que produziam. No inicio das aplicações as mesmas foram diarias para, em seguida, serem administradas em dias alternados. Aqui, como nas experiencias com os estados agudos, anteriormente descritos, considerou-se os mesmos fatores no julgamento dos resultados clinicos.

Comentarios.

Esses estudos demonstram tres fatos importantes em relação ao emprego da diatermia a ondas-curtas no tratamento das sinusites nasais, agudas e cronicas.

1) A diatermia a ondas-curtas não é suficientemente ativa no tratamento das sinusites agudas para ser empregada isoladamente com exclusão das outras medidas terapeuticas reconhecidas.

2) A diatermia a ondas-curtas não é metodo curativo de tratamento das sinusites cronicas, quando empregada isoladamente ou em combinação com outras medidas não cirurgicas.

3) A diatermia a ondas-curtas é um auxiliar eficaz aos processos empregados em casos de sinusites agudas, apressando a diminuição dos sintomas e encurtando a evolução da doença.

Dessas observações torna-se evidente que as afirmativas de outros autores, em casos sem controle, não podem ser tidas como exatas. Alem disso, existe um fator de perigo no tratamento das sinusites nasais agudas quando a diatermia a ondas-curtas, ou qualquer outro simples processo, é empregada sem atenção para a imediata melhora da ventilação e drenagem intra-nasal e sinusal. Parece fútil empregar-se a diatermia a ondas-curtas em casos de sinusites cronicas submetidos anteriormente, persistentemente, a outros processos terapeuticos intensivos.

Sumario

1) A introdução da diatermia a ondas-curtas conduziu a um emprego mais geral da terapeutica pelo calor no tratamento dos processos inflamatorios.

2) O aquecimento local profundo de areas anatomicas, nas quais os seios estão localisados, produz analgesia por meio de hiperemia e hiperlinfia, melhora o metabolismo tissular, aumenta a reabsorção e, consequentemente, conduz a resposta defensiva mais rapida á infecção.

3) A seleção adequada dos casos é um dos primeiros pré requisitos para o uso cientifico da diatermia a ondas-curtas como agente terapeutico das sinusites nasais.

4) As experiencias revelam que a temperatura tissular local não se eleva de maneira apreciavel, ou eleva-se discretamente, fato este que não se encontra inteiramente de acordo com os resultados clinicos, especialmente nos casos de sinusites agudas.

5) A diatermia a ondas-curtas é um auxiliar terapeutico ativo a outros processos em casos de sinusites maxilares agudas, mas é praticamente sem valor na grande maioria de casos de sinusite maxilar cronica.

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial