Versão Inglês

Ano:  1940  Vol. 8   Ed. 2  - Março - Abril - ()

Seção: Notas Clínicas

Páginas: 103 a 106

 

FURUNCULO - FLEBITE - SETICOPIOEMIA - CURA

Autor(es): DR. ADMARDO ROCHA DE SOUZA

CARANGOLA - Minas Gerais.

O caso em apreço, rotulado de seticopioemia, não se faz acompanhar da parte interessante do laboratorio, quer especificando germe, quer determinando formula globular, por não haver onde militamos.

Para justificação de diagnostico, juntamos a curva termica, com seu "ansol" e metastases. A gravidade do prognostico é sobejamente conhecida; a incertesa da cura é a regra. E' importante lembrar, que essa doente, ha um mez antes, foi vitima de furunculose do conduto auditivo, bem como de um surto erisipelatoso concomitante. E isto levou-nos á prescrição de grande dóse de estreptoserina, quando nos voltou com a sua flebite.

O pequeno apanhado anatomico, lembrará ao leitor o mecanismo da generalisação de tal procésso.

Anatomia - A veia jugular interna é o tronco coletor, principal, das V. do craneo, face e parte do pescoço. Tem, como origem, os seios craneanos. Recebe diversas veias correspondentes aos ramos de divisão da carotida externa, uma das quaes a facial. Esta, na sua origem, se confunde com a ophtalmica, a qual vae ao S. cavernoso. A facial se liga ao plexo pterigoideo por intermédio da V. facial profunda (ophtalmica facial de Walther) ; por anastomose com a jugular anterior e jugular interna; e, finalmente, se lança ao tronco tiro-linguo-facial, o qual vae á J. I.

Como se vê, a jugular I., arma poderosa na generalisação de procéssos de seticopioemia, com fóco cefalico, pôde ser infectada pela ophtalmica e S. craneamos, pelo plexo pterigoideo e pela facial.

No nosso caso, a reação da angular oposta, leva-nos a pensar em um acometimento, discreto, do S. cavernoso, sem justificar, entretanto, a flebite da J. I.

Possivelmente, a invasão da J. I. se deu pelo plexo pterigoideo e veia facial. E, a rasão da cura, achamos, nesta preferencia da propagação á jugular, por via extracraneana, pois, ao contrario, teriamos de enfrentar processo ainda mais grave, fatal (tromboflebite de S. cavernoso).

OBSERVAÇÃO

L. de O., residente em Natividade, branca, solteira, 30 anos. Queixa-se de dôr de cabeça, calafrios e inflamação no rosto. Ha um mez teve diversos furunculos no ouvido.

Exame geral - Facies abatido, grande palidez, temperatura 38,5, pulso 124.

Consideravel edema ao nivel do seio frontal, região nasal direita e bochecha correspondente, com grande sensibilidade ao toque. As 21 horas de 25-8-36, após o exame no consultorio, embora com a primeira impressão de flebite das veias da face, com origem num furunculo da narina direita, já em franca regressão, fiz a abertura de urgencia do seio frontal D. Intervenção com balsoformio, sem acidente, encontrando mucosa infiltrada, lardacea, provando a inesistencia de sinusite. Ao atravessarmos os planos cutaneo, demos com pequena coleção de pús amarelo.

Ao deixarmos a sala de operações, não escondi ao meu amigo e auxiliar - Dr. Oswaldo da Silveira - a minha impressão de flebite das veias da face, achando ele que o estada geral não era para isto. Seticemina cardiazol, 4 cc. de propidon, gelo.

26-8-36 (manhã), 84 de pulso, 38 de temperatura. A um exame mais acurado, verificamos tratar-se, de fato, de flebite das V. da face. Com efeito, sente-se um cordão endurecido, vermelho, muito sensivel, com a grossura, de um dedo minimo, indo da parede supero interna da orbita direita á região carotidiana correspondente, obedecendo ao trajeto da V. facial e jugular interna.

Com o indicador na boca e o polegar de fóra da bochecha, sentimos, perfeitamente, o cordão a que nos referimos. Notámos, ainda, que, a este grande cordão, vinham outros, menores, em pontos que correspondem a vasos que se laçam na facial-ophtalmica: veias frontaes, da aza do nariz e voronarias labiaes. Do outro lado, notámos endurecimento, discreto, da angular. 50 cc. de estreptoserina (30 endoveia), 20 cc. de S. glycosado ipertonico, cardiazol.

Prognostico gravissimo.

27-8-36. Diminuiu o cordão, excepto na zona de transição facial ophtalmica, onde a reação ainda é enorme, dando, mesmo, a impressão de flutuação. Á punção, secreção serosa. 40 cc. de estreptoserina, 20 de S. glycosado, 4 cc. de propidon, seticemina, coramina. 28-8-36. 60-cc. de estreptoserina, soro glicosado, seticemina, electrargol, cafeina. Temperatura de 37 a 39,2, pulso de 112 x 136. Não ha mais calafrios, cephaléa diminuiria, tendo desaparecido o endurecimento da angular E., com persistencia da sensibilidade da jugular direita, sem que, agora, se sinta endurecimento. Boa visão, dinamita muscular, ocular, normal. Não mais são notaveis vs pequenos vasos, antes entumecidos. Papila direita pouco iperemiada.

29-8-36. 40 cc. de estrepto, 20 de S. glicosado, eletrargol, seticemina, cardiazol, digaleno, cibalena, cafeina. 30-8-36, 4 cc. de propidon, seticemina, eletrargol, cardiazol, cibalena. Pontada toracica, ora á Dora á E. A ausculta revela atritos pleuraes e macissez do emitorace D. (Dr. Oswaldo da Silveira). 31-8-36. Pulso de 120x 136, T. de 36,8x39. Oleo canforado, cibalena, 60 cc. de estrepto, coramina, eletrargol, seticemina. 1-9-36, aumentou o edema e a flutuação é franca ao nivel da V. angular. Punção purulenta. Anest. local com novocaina-adrenalina. Abertura da angular, dando uma colher das de sopa de pús amarelo, o qual, a cada pressão na facial, refluia na incisão da angular. Dreno de gaze iodoformada. Cardiazol, cibalena, propidon, eletrargol, seticemina. Pulso 150, T. 38,6. Persistem as dores toracicas, bem como os atritos pleuraes e a macissez. Revulsivos de mostarda, ventosas. 3-9-36. Mudei o curativo. Seticemina, 4-9-36. T. de 37 x 39,3, P. 112 x 136. Transpulmin, rev. de mostarda, oleo canforado, seticemina, 40 cc. de estreptoserina, coramina, supositorios de eupaco Merck.

5-9-36, sente-se muito enfraquecida, tendo dores articulares e no pescoço. Grande infartamento dos ganglios da cadeia carotidiana. Portanto, artralgias e adenites. Vacina antepiogenica Bruschettini, canfidral, sinapismo de Rigolot. 6-9-36. Oleo canforado, estriquinina, seticemina, transpulmin, envoltorio sinapisado, toracico.

9-9-36. Bruschettini, meio luminal. Tem sentido dor no braço esquerdo, porém, mais disposta. 10-9-36. Seticemina, luminal, ventosas sarjadas. Grande sensibilidade no braço E., onde ha um franco abcésso, com flutuação profunda. Local, drenage. Pús amarelo. Bruschettini, cardiazol. 12-9-36. Coramina, seticemina. 13-9-36, Transpulmin, seticemina, ventosas. Dor de cabeça, vomitos. Lingua saburrosa. Lavage intestinal.

14-9-36, Bruschettini, coramina. Ainda tem tido vomitos. A temp. não passa de 37,4, e o P. de 110. Seticemina, ventosas secas, cardiazol, eletrargol. 17-9-36, Cardiazol, cibalena, antepiogenica Bhering. 21-9-36, 250 cc. de S. cafeinado. 22-9-36, Idem adrenalinado. 24-9-36, Vacina Bhering, verroseptina. Está sentindo dor na coxa E. Nota-se um ponto congestionado, na face anterior, onde ha certa reação muscular. Aplicações quentes, venoseptina. 27-9-36, V. Bhering, voramina, venoseptina. T. 37,3, P. 102. Drenage de um abcésso da côxa E., com local, dando pús amarelo. 29-9-36, Curativo, V. Bhering. Calcioterapia intensa e valeol. Em 10-10-36 segue para sua cidade, com decimos de fébre, de onde, dois meses depois mandava-nos noticia de franco restabelecimento.




Recebido pela Redação em 15-2-1940.

Imprimir:

BJORL

 

 

 

 

Voltar Voltar      Topo Topo

 

GN1
All rights reserved - 1933 / 2024 © - Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial