Versão Inglês

Ano:  1971  Vol. 37   Ed. 3  - Setembro - Dezembro - ()

Seção: -

Páginas: 271 a 275

 

Osteoma do Temporal*

Autor(es): Ossamu Butugan 1,
Rubens Galis 2,
Rui de Paixão e Souza 2 ,
Zenshi Hechiki 2

Introdução

Em nossa publicação anteriors tivemos a oportunidade de ressaltar a raridade e a benignidade do tumor sob o ponto de vista histopatológico. Salientamos o osteoma de conduto auditivo no nosso material, cuja incidência foi alta ao contrário da maioria dos autores que referiam os seios frontal e células etmoidais como de localização preferencial do tumor.

Tendo em vista éster fatos realizamos uma pesquisa bibliográfica que veio confirmar a raridade do tumor no osso temporal. Giunta è R03816 citam Simpsom. (1940) que relatou 30 casos de osteoma até 1940. Por outro lado, em 1963, Portella de Villasante (cit. Giunta & Rossi) catalogou 85 casos na literatura.

Entre nós há 1 caso relatado por Matheus & Cruz12 e 9 casos referidos no sobre trabalho osteoma craneofacial8.


Material e Método.

O presente estudo foi baseado em 14 casos de osteoma do temporal que foram atendidos de 1955 a 1970 na 0lnica OJRU do Hospital das Clínicas da F.M.U.S.P. Êste "material" está distribuído:


1) Quanto a idade



2) Quanto ao sexo, raça e distribuição topográfica:



Todos foram da raça branca.
3) Quanto à sintomatologia.



4) Quanto à Radiografia.
Observamos nas radiografias da mastóide e/ou do crâneo, evidência do tumor, apresentando-se com aspecto de osso compacto, calcificado, ou de menor densidade com limites bem delimitados.

Os osteomas do conduto auditivo externo foram melhor visualizados na radiografia da mastóide (Schuller) que mostrava o tumor tomando parcial ou totalmente o conduto auditivo. Em 3 casos de osteoma do conduto foram realizadas tomografias da mastóide o que nos trouxe melhor evidência da localização e da extensão do tumor.

5) Quanto ao tratamento.

Foram operados 12 casos e 2 não o foram. Os 3 casos de osteoma de mastóide foram operados pela via retroauricular. Enquanto os de conduto auditivo externo foram pela via retroauricular (6 casos) ou pela via endaural (3 casos). Durante o ato cirúrgico foi observado limite nítido do tumor, o que facilitou a delimitação e a exerese do tumor.

Foi solicitado o anatomo-patológico da peça operatória em todos os casos, que confirmou o diagnóstico.
Um caso de osteoma de mastóide não foi ainda operado devido problemas particulares pessoais do paciente.
Temos ainda 1 paciente que procurou o Serviço para tratamento de problema nasal, (Leishmaniose nasal) sem apresentar queixa otológica, porém, ao exame O.R.L. foi constatado um tumor de consistência sólida, indolor, tomando o hemiconduto auditivo posterior que ao exame radiológico foi encontrado imagem sugestiva de osteoma. Este caso, ainda, não foi operado.

Resultados

Todos os doentes tiveram alta hospitalar . sem nenhuma anormalidade, com o pós-operatório bastante satisfatório. A queixa de hipoacusia desapareceu, referindo melhora da audição após a cirurgia. Até a presente data, não tivemos nenhum caso com sinais de recidiva do tumor. Porém, há 1 caso bastante interessante, trata-se de um paciente que procurou o Hospital das Clínicas referindo que há cêrca de 4 anos foi operado de osteoma de ouvido esquerdo num outro serviço.

Há 9 meses o tumor novamente apareceu no mesmo ouvido associado com hipoacusia. Ao exame ORL foi constatado tumor de consistência sólida, indolor tomando pràticamente todo o conduto. Ao R.X da mastóide (Schuller) constatou-se imagem sugestiva de osteoma que foi confirmada pelo anatomopatológico da peça operatória. Êste doente está sendo acompanhado há 8 anos e até o momento não apresentou sinais de recidiva do tumor.

Discussão

Na revisão bibliográfica, efetuada, os autores consideram os osteomas do temporal como sendo tumores histológicamente benignos e raros.

Parece não haver uma idade preferencial para o aparecimento do tumor. Muito embora Schwartz14 refira que o osteoma seja freqüente após a puberdade.

No entanto, a maioria dos autoresl, 2, 3, 4, 6, 7,'8, 11, 14 referem maior incidência dos osteomas no grupo etário entre 21 a 40 anos de idade. Foi o que observamos no nosso "material" tivemos os doentes entre 2,1 e 40 anos; o doente de menor idade tinha 14 anos e o de maior idade, com 60 anos.

Quanto ao sexo, nos osteomas de conduto auditivo, parece haver predominância no sexo masculinos, 4, 6, 7, 11. Entretanto 2, 5, 9, 13, 14 referem que o osteoma de mastóide ocorre principalmente no sexo feminino. No presente estudo, a nossa casuística está dentro da casuística da maioria dos trabalhos consultados.

No nosso "material tivemos 7 do sexo masculino e 3 do feminino, com osteoma de conduto auditivo; 3 do sexo feminino e 1 do masculino com osteoma de mastóide. A maioria dos autores não faz referência à raça. No nosso "material" observamos nítida predominância da raça branca. Não tivemos nenhum caso de outra raça.

Quanto a ocorrência dos osteomas, verificamos que os de localização mastóidea são menos freqüentes que os conduto auditivo externo.

A presença de tumor de crescimento lento e progressivo é a principal sintomatologia dos osteomas da mastóide2, 5, 8, s, 12, 13, 14, associado às vêzes a dor loca15, 13. Os nossos 4 casos também apresentaram a mesma sintomatologia.

Os osteomas de conduto auditivo externo apresentam história de tumor, hipoacusia1, 3, 4, 6, 7, 8, 10, 15, otorréia, zumbidos1, 4, 8 e tonturas10. O nosso "material" não apresentou diferente sintomatologia descrita pela maioria dos autores.

O exame ORL dos doentes, assinalada pela totalidade dos autores, revela a presença de tumor. 1i; interessante destacar que Guerrier e col.7 em 11 dos 17 casos de osteoma de conduto encontraram tumor de localização em ambos os ouvidos.

Bourdial e col.2 fizeram carotidoanglografia num caso de osteoma de mastóide e chegaram à conclusão de que não há indicação dêste exame para o estudo do osteoma.

Giunta e Rossi6 relataram que os exames de uréia, glicemia e reação de Wasserman foram normais. E Fleming5 encontrou exames de urina, dosagem de cálcio, fósforo e fosfatase alcalina dentro da normalidade. Em 5 dos nossos pacientes foram realizadas as dosagens de fósforo, cálcio, fosfatase alcalina que se revelaram normais.

O audiograma acusou audição norma14, disacusia de conduçãos, 4. 6, 7, 15, disacusia mista7, disacusia neuro sensorial3, 7. Em 6 dos nossos casos, o exame audiométrico revelou disacusia de condução e nenhum caso de lesão neuro sensorial.

O exame radiológico é preconizado por todos os autores, observando-se, geralmente na radiografia imagem sugestiva de osteoma. Fato, também, observado nos nossos casos.

A biopsia do tumor não é referida pelos autores, mas, em 3 dos nossos doentes (2 de conduto e 1 de mastóide) foi realizado e o resultado histopatológico confirmou a suspeita de osteoma.

Quanto a etiopatogenla do osteoma parece haver ainda muita controvérsia. Alguns autores7, 10, 13, 15 referem processos infecciosos (otites) e traumatismos. Schwartz e col.14 acham que o osteoma aparece depois da puberdade, principalmente na mulher e que seria devido a uma hiperatividade dos osteoblastos periosteais, que seriam desencadeados por trauma, inflamação. disfunção glandular e hereditariedade. Ainda Guerrier e col.7 fazem referência a 3 fatores: trauma, infecção e o hereditário.

Êsses autores7 relatam 1 caso com antecedente de otite na infância e trauma sonoro e 2 casos sem quaisquer antecedentes. Interessante é salientar que 13 dos 17 casos apresentados por Guerrier e col.7 eram praticantes de esportes aquáticos (natação e pesca submarina). Aliás, 11 e 15 também faz destaque nos antecedentes dos doentes portadores de osteoma, da prática de natação.

O diagnóstico diferencial,2 9 do osteoma da mastóide deve ser feito com as seguintes afecções: a) cistos congênitos de cisura petro-escamosa, por sua consistência; b) granuloma eosinótilo por sua evolução e pelo aspecto radiológico particular; c) mieloma solitário d) sarcoma mastóideo por sua rápida evolução; e) osteite tuberculosa secundàriamente calcificada; f) osteoperiosteite sifilítica hereditária.

A terapêutica adotada por todos os autores é a cirurgia. A via de acesso depende da localização e da extensão do tumor. Os osteomas da mastóide são operados pela via retroauricular2, 9, 12, 13, 14, realizando-se a mastoidectomia. Os osteomas do conduto auditivo são removidos pela via retroauricularl, 4, s ou pela via endaural6,11 dependendo da localização, tamanho e extensão do tumor.

A nossa conduta não é diferente da maioria dos autores. Indicamos o tratamento cirúrgico conforme a técnica adotada pelos autores. E os resultados foram satisfatórios, com boa evolução, sem sinais de recidiva e com melhoria da audição. É interessante lembrar o caso da recidiva do osteoma de conduto, já referido anteriormente, que, talvez, tenha tido recidiva pelo fato de não haver sido removido inteiramente o tumor.

Conclusão.

1.°) Os osteomas são tumores ósseos benignos histològicamente.
2.°) A maior incidência ocorreu entre 21 a 40 anos de idade, prevalecendo na raça branca.
3.°) Os osteomas de conduto ocorrem predominantemente no sexo masculino e os da mastóide, no sexo feminino.
4.°) A sintomatologia depende da localização e extensão do tumor.
5.°) O exame radiológico é importante no diagnóstico que é confirmado pelo anatomo-patológico.
6.º) A terapêutica é sempre cirúrgica.
7.º) Os resultados de tratamento cirúrgico são considerados bons.

Sumário.

Os autores apresentam o estudo de 14 casos de osteoma de temporal, atendidos na Clínica O.R.L. do Hospital das Clínicas da F.M.U.S.P. Fazem a revisão da literatura e ressaltam a raridade e a benignidade dos osteomas.
Apresentam o "material" e discutem quanto à distribuição etária, sexo, raça, topografia, sintomatologia, radiologia, etiopatogenia, diagnóstico diferencial, exames complementares, terapêutica, resultados do tratamento e evolução.

Concluem que os osteomas são tumores benignos e raros; incidem entre 21 a 40 anos de idade; ocorrem predominantemente no sexo masculino (osteoma de conduto) e no sexo feminino (osteoma de mastóide); a sintomatologia depende da localização e extensão do tumor; o exame radiológico é importante e que a terapêutica é cirúrgica com resultados satisfatórios.

Resumé.

Les auteurs presenteat les études sur 14 malades avec osteamas d'os temporal, qui ont étes surveillés a la Clinique d'ORL de L'Hospital das Clínicas de la Faculté de Medicine de l'Universite de São Paulo. Ils ont fait la revision de la bibliographie et ont constaté la rarité de publication sur cet sujet. Ils ont constate qu'ils sont tumeurs bénignes.

Les auteurs presentent leurs "materiels" sous les diferents aspects de'lage, sex, race, localization, sintomatologie, aspect radiographique, etiopathogenie, diagnostic differential examen de laboratoire therapeutique, résultat du traitment et posteriuer évolution.

Aprés 1'étude de ces 14 maladies ils concluent:
1 - Histologiquement ils sont des tumeurs bénignes.
2 - Lages plus frequent restent entre 21 a 40 ans.
3 - Le sexo masculin plus des tumeurs dans le condult uditife externe et feminin dans la région mastoideane.
4 - Les symptômes dependent de la localization et le dimension dos tumeurs.
5 - L'examen radiologique est três importante.
6 - IA traitment est toujours chirurgicale.
7 - Les résultats chirurgicales sont satisfactoires sans récidive.

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* Trabalho realizado na Clínica O. R. L. do Hospital das Clínicas da P. M. U. S. P.
1 Assistente-Doutor e Preceptor da Clínica O. R. L. do Hospital das Clínicas da F. M. U. S. P.
2 Médico-Assistente da Clínica O. R. L. do Hospital das Clínicas da F. M. U. S. P.

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