Versão Inglês

Ano:  1971  Vol. 37   Ed. 2  - Maio - Agosto - (38º)

Seção: -

Páginas: 234 a 237

 

Alterações Histológicas da Estria Vascular na Diabete Experimental

Autor(es): Ney Penteado de Castro Junior*
Orozimbo Alves Costa Filho**

Introdução

Alterações vasculares são conhecidas decorrentes de processos diabéticos, lévando principalmente a comprometimento visual, disfunção renal e má circulação de membros inferiores.

Sob o aspecto otológico, entretanto, persistem dúvidas com relação ao gráu de comprometimento das funções cocleares e vestibulares. Para maiores informações sôbre a histopatologia labiríntica e o achado clínico otológico (principalmente audiológico) na diabete melito, recomenda-se ao leitor as publicações de Costa3 e Axelsson5, respectivamente.

O intúito deste trabalho é analisar detalhadamente as lesões histopatológicas observadas na estria vascular de animais diabéticos por aloxane. Apesar da lesões obtidas na diabete experimental não serem integralmente idênticas às da diabete humana, não há dúvida que algumas conclusões podem ser tiradas ao fazer-se uma análise fisiopatológica destes mesmos achados. As dificuldade imensas em obter-se temporais humanos frescos (imediatamente após a morte do paciente) fazem com que as alterações post mortem prejudiquem consideràvelmente a avaliação microscópica de cortes histopatológicos do labirinto, principalmente aonde o metabolismo é elevado (estria vascular, por ex.). Por esta razão a experimentação laboratorial foi usada neste estudo, cujas observações microscópicas limitando-se à estria vascular de ratos diabéticos por aloxane e que foram perfundidos intravitalmente com fixador.

Material e Métodos

Vários ratos albinos foram usados neste projeto, entretanto sòmente 10 dos animais sobreviveram. Os animais não possuíam mais que 2 meses de vida, quando receberam subcutaneamente injeção de aloxane (alloxan mono-hydrate) em doses de 150 mg/kg de pêso corporal. O pêso dos animais variou de 120g a 200g e foram permitidos viver entre 45 dias a 16 meses de idade. O mesmo número de animais foi usado como contrôle, vivendo nas mesmas condições laboratoriais se receber aloxane. Todos os ratos foram anestesiados com Dia (0,03cc/100g de pêso corporal) e após o sangue da cabeça ser removido através, do coração (pressão e temperatura dos líquidos perfundidos sob contrôle), o fixador (Heidenhain-Susa) foi injetado até obter-se evidência de boa fixação. O temporais removidos e colocados no mesmo agente fixador durante 12 horas e finalmente processsados da maneira convencional para hematoxilina eosina. O corante triplo de Mallory para tecido conjuntivo e o PAS (Periodic Acid Shiff) também foram usados neste projeto. Tôda a parte experimental, assim como processamento das lâminas foram realizados nos laboratórios do Departamento de Otorrinolaringologia da Washington University School of Medicine-Sannt LouisUSA e as fotografias foram obtidas através de microscópio Wild e sistema automático de microfoto Wild modêlo MKa 4 no laboratório de pesquisa do Departamento de ORL da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Resultados obtidos

As lesões na estria vascular nos animais diabéticos foram marcantes.

A estria vascular apresenta desarranjo estrutural em suas camadas e as célula, estão com contornos borrados e imprecisos. Degeneração celular acentuada foi observada, ocorrendo edema, degeneração hidrópica e vacuolização citoplasmática. Na maioria dos cortes histopatológicos, o citoplasma das células mais próximas do espaço endolinfático formam verdadeiras extrusões que se coram em róseo pelo PAS e em azul corante de Mallory. Os núcleos das células da estria estão evidentes e conservados. (Foto 1)



Lesões vasculares foram encontradas ao nível dos capilares da estria vascular; os vasos das demais partes da cóclea e do ligamento espiral encontram-se menos comprometidos. As lesões mais freqüentes são caracterizadas por espessamento endotelial e basal marcantes. A luz vascular é irregular, com diminuição do diâmetro e em alguns casos, há até oclusão da luz. A diminuição da luz vascular, seu caráter irregular e o espessamento endotelial e basal dão um aspecto esteliforme aos capilares observados na maioria dos cortes. (Foto II).

No espaço intersticial do ligamento espiral, junto da estria vascular, ocorre edema mais ou menos acentuado que separa, de modo nítido, em alguns lugares, as células da estria do tecido conjuntivo adjacente. Esta alteração foi encontrada nos cortes histopatológicos em que as demais lesões foram bem evidentes. (Foto III).

Comentários

Os achados histológicos na diabetes experimental, ao nível da estria vascular, foram concordantes com as publicações anteriores sôbre o assunto e confirmam nossas observações prévias?

Modificações estruturais dos capilares ao nível da estria vascular estão também concordes com os achados já descritos na literatura, pesquisas estas, feitas com temporais humanos. (Torgensenl. z)

A estria vascular é uma estrutura intimamente relacionada com o metabolismo do espaço endolinfático. Lesões celulares e vasculares de tal estrutura acarretariam provàvelmente uma alteração da endolinfa. Distúrbios na endolinfa poderão comprometer o órgão de Corti e conseqüentemente a função do mesmo. Entretanto a presença de líquido de composição química desconhecida no interior do órgão de Corti (Cortilinfa) e a constatação de fluxo sanguíneo rápido na região do limbus e no vaso abaixo da membrana basilar (sugerindo pressão capilar elevada e conseqüentemente predomínio da passagem de substâncias de dentro para fora do vaso) leva-nos a crêr que a dependência metabólica do órgão de Corti não está sòmente relacionada à estria§. Todavia, na eventualidade das lesões da estria levarem à disfunção do órgão de Corti, tal disfunção seria clinicamente manifestada inicialmente por disacusia sensorial, e mais tarde por comprometimento neurosensorial.

Clinicamente distúrbios funcionais do órgão de Corti, produzidos diretamente por lesões orgânicas ao nível da estria vascular talvez devessem ser traduzidos por uma disacusia do tipo sensorial. Reflexões mais recentemente publicadas sôbre o quadro audiológico da diabete são concordes que a disacusia estabelecida em pacientes diabéticos é, na maioria dos casos, do tipo retrolabirínrtico. Tal fato é devido as lesões diabéticas, vasculares e celulares, serem sistêmicas e atingirem também o SNC. Isto foi muito bem analisado e discutido por Axelssons.

As alterações vasculares muito evidentes encontradas na estria vascular, ao contrário do que ocorre no resto do labirinto, em que as lesões vasculares são menos pronunciadas provàvelmente estariam relacionadas com o alto metabolismo registrado nesta estrutura e pela sua riquesa em capilares.

Sumário

Os achados histopatológicos na estria vascular de 10 ratos diabéticos induzidos por aloxane, foram descritos em detalhes. O achado mais freqüente foi o espessamento da membrana basal e edema das células endoteliais dos capilares. As células claras da estria vascular apresentam-se com edema e protusões citoplasmáticas para dentro da escala média. Uma correlação entre os achados clínicos encontrados em pacientes diabéticos e as lesões histopatológicas obtidas foram avaliadas.

Summary

The histopathological findings in the stria vascularis of 10 alloxan induced diabetes rats are discribed in details. The most common finding was thickness of the basal membrane and edema of the endothelial cells of capillaries. The light cells of the stria presents edematous and citoplasmatic protusions in the scala media were frequently observed. A correlation between the clinical findings in diabetic pacients and the histopathological lesions abtained was attempted.

Bibliografia

1. Jorgensen, M. B. - The inner ear in Diabetes Mellitus - Arch. Otolaryng. 74:373381; 1961.
2. Jorgensen, M. B. - Ohanges of aging in the inner ear and the inner ear in Diabetes Mellitus. Histological studies. Acta Otolaryng. Suppl. 188:125-128.
3. Costa, O. A. - Inner ear pathology in experimental diabetes. The Laryng.: 72:68-75; 1967.
4. Costa, O. A.. Branemark, P. I. - vital microscopic evaluation of the microvessels of the coclea. Adv. Microsc.: vol. 3:98-107; 1970.
5. Axelsson, A. - Auditory funetion in diabetics. Acta Otolaryng.: 66:49-64; 1968.




* Residente do Depto. de Oto Rino Laringologia da FCMSCMSP.
** Médico Assistente do Depto. de Oto Rino Laringologia da FCMSCMSP. Chefe da divisão de pesquisas do Depto. de Oto Rino Laringologia da FCMSC.

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