Versão Inglês

Ano:  1971  Vol. 37   Ed. 2  - Maio - Agosto - (36º)

Seção: -

Páginas: 227 a 230

 

Histopatologia Labiríntica na Diabete Experimental

Autor(es): Roberto de Mello*
Tereza Maria Momensohn**

Introdução

Autores citam alterações vasculares conseqüentes do Diabete, tanto em animais de laboratório, como em pacientes, com tal quadro clínico, levando a alterações metabólicas, que por sua vez, causam distúrbios funcionais e orgânicos em diversos órgãos. Assim foram estudados por diversos autores, a relação de diabete com retinopatias, angíopatias de extremidades, nefropatias, pneumopatias, etc, lesões estas características, mas não específicas do diabete.

Diversos autores realizaram estudos relacionando o diabete, com prováveis distúrbios cócleo-vestibulares ; chegando, a maioria, à conclusão de que tais distúrbios eram de origem vascular.

Ahu-Khatwa e col.1 encontraram em 510 pacientes diabéticos, com 81 perdas auditivas. Marulloz estudou 100 pacientes diabéticos, observando perdas auditiva em 92. Anconas encontrou em 27 diabéticos, dos 16 aos 35 anos, 18 com perdas auditivas simétricas e bilaterais, audiométricamente classificadas como neurosensoriais, do tipo central ou perceptiva. Profazio e Barravelli4 estudando diabéticos não encontraram disacusia em pacientes cola idade inferior a 44 anos encontrando-a no grupo etário de 51-60 anos e de 61-70 anos, 2691o e 3701,: respectivamente. Zelenka e Kotiak5 estudando diabéticos de 8 a 40 anos encontraram alterações vestibulares e cocleares em 13 de 17 pacientes estudado. Camisasca6 encontrou bloqueio na função vestibular em seus pacientes diabéticos. Jorgensen7 estudando 69 pacientes diabéticos de tôdas as idades, encontrou em 28 casos surdez progressiva bilateral, as quais relacionou principalmente, cone alterações vasculares ao nível da cóclea, em sua circulação mais periférica. Costa4 realizou estudo experimental em ratos (diabete induzida por aloxane) tendo encontrado alterações histopatológicas nos vasos da estria vascular e do medíolo. Alterações não foram observadas no órgão de Corti. Axelsson e Fagerbérg3 em trabalho mais recente, fazem uma análise clínica de uma população de 99 diabéticos, dividindo-os em 3 grupos etários: de 16-30 anos, de 30-39 anos e de 40-50 anos. Além dos vários testes convencionais audiolóàcos (limiares tonais, testes de discriminação, audiometria automática de Békésy) outros testes foram usados, tais como: reflexo estapediano, audiometria direcional (capacidade de localização da fonte sonora) e testes logoaudiométricos com distorção. Segundo êstes autores, apesar das alterações cocleares diabéticas relatadas na literatura, as alterações audiológicas observadas decorreriam de um comprometimento retrococlear, por angiopatia diabética.

O nosso objetivo, no presente trabalho, é a reavaliação histopatológica dos animais diabéticos experimentalmente induzidos por aloxane, e a análise interpretativa das lesões encontradas.

Materiais e Métodos

O estudo foi executado a partir dos estudos histológicos de lâminas obtidas de cócleas de ratos albinos, com diabéte experimentalmente induzida por aloxane. Ratos albinos com menos de dois meses de idade foram usados neste projeto; receberam dieta normal, e aloxane foi injetado em dose única de 150 mg/k corporal. Estes animais foram sacrificados em diferentes intervalos (45 dias - 1,6 meses - 1,8 meses - 2,9 meses - 2,10 meses - 2), sendo que 8 ratos serviram como animais contrôle, estando colocados nas mesmas condições que os demais, sem receber, porém, aloxane. Todos animais foram anestesiados com Dial e perfundidos com solução normal salina, par via sistêmica após a morte e fixados por Heidenhain-Susa.

Os ossos temporais foram removidos, colocados em fixador adicional por 12 horas e feitos os cortes histológicos impregnados por celoidina e corados com hematoxilina-eosina. corante triplo de Mallory para tecido conjuntivo e P. A. S. (Periodic Acid Schiff).

O material usado é bàsicamente o mesmo usasdo por Costa 8 acrescido de mais dois ratos (sobrevida de 16 e 18 meses respectivamente). Toda elaboração foi realizada nos laboratórios do Departamento de Otorrinolaringologia da Whashington University School of Medicine (St. Louis, Mo). O registro fotográfico foi executado no laboratório de pesquisa da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, para o qual foi utilizado o sistema automático de microfoto Wild modêlo MKa 4.
Achados

Grande número de lesões microscópicas foram observadas nas lâminas de ratos experimentalmente induzidos à diabete, quando comparadas com ratos contrôle. Quase todos os ratos apresentavam otite média bilateral, em contraposição de afecções do ouvido médio, nos ratos contrôle. Foram observadas lesões no espaço perilinfático que variavam desde o precipitado eosinófilo nas rampas vestibular e timpânica, até a labirintite supurada.

Em um temporal de um animal que sobreviveu vários meses foi observada a invasão de tecido fibroso na rampa timpânica, atingindo mesmo até a região apical da cóclea. No medíolo vários animais apresentaram diminuição da população das células ganglionares, que coincidia com a diminuição do número das células ciliadas em toda a cóclea. Nestes animais, profundas alterações foram encontradas nas máculas do utrículo e Báculo (Foto 2), assim como nas cristas. Nestes mesmos animais, alterações do espaço perilinfático secundárias a urna otite média, foram constantes, tais como a labirintite supurada.


Foto n.° 1


Alterações vasculares mais evidentes, na região coclear, foram detectadas no modíolo e estria vascular, de maneira não padronizada para os vários animais. Estas alterações vasculares se caracterizavam por: espessamento da membrana basal e edema endotelial.

Na região da estria vascular, além das regiões vasculares citadas, profundas alterações citológicas foram observadas principalmente na camada média (ligth cells), onde edema foi um achado comum.

Achado freqüente, mas não presente em tôdas as espirais, foram as alterações do tecido conjuntivo do limbus, que se apresentou com as células de núcleo com formato em crescente e muito contraidos. A porção do limbus em contacto cone a rampa vestibular apresentou alterações das células marginais (endothelial like cells) que se apresentavam edemaciadas e mesmo com a perda citoplasmática na luz da rampa vestibular. (Foto 1).


Foto n.° 2


Discussão e conclusão

As alterações ganglionares, a diminuição das células ciliadas do órgão de Corti, as lesões nas cristas e nas máculas do sáculo e do utrículo foram sempre observadas concomitantemente com outras lesões, tais como otite média supurada labirintite supurada. Torna-se, portanto, difícil atribuir-se só a diabete experimental estas lesões mencionadas. Entretanto as alterações da estria vascular, do limbus e dos vasos do modíolo foram constantes, apesar do grau de comprometimento variar de animal para animal. Não houve fatôres extra diabéticos que pudessem intervir no achado histopatológico.

As alterações vestibulares, principalmente, precisam ser reavaliadas, uma ver que outras alterações sempre as acompanharam (labírintite supurada). Providências estão sendo tomadas no sentido de esclarecer êste aspecto e estudo clínica está em elaboração em nosso Departamento.

Sumário

Achados histopatológicos em 10 ratos albinos induzidos à diabete por aloxane são descritos.

A evidência clínica apoiando esta pesquisa é mencionada. As mudanças foram observadas principalmente ao nível dos vasos da estria vascular, do modíolo, no tecido conjuntivo do limbus e em suas células ("endothelial like cells") da margem vestibular.

Outras mudanças histológicas no labirinto não pareciam estar diretamente relacionadas a diabete experimental.

Summary

Histopathological finding in 10 albins rats induced to diabetes by alloxan are described.

Clinical evidence supporting this research is mentioned. Changes were observed mainly at the level of vessels of the stria vasculares, of the modiolus, in the connective tissues of the limbus and in its endothelial like cells of the vestibular marlrin.

Other histological changes in the labyrinth do not seem to be directly related to experimental diabetes.

Bibliografia

1. Abu Khatwa, H., Hassaballa, A., Barbary, A., and Pouad, H, - Observations on hearing in diabetic Patients. Soc. End. so Metab., 7:8, 41-45, 1961-1962.
2. Barullo, T. - Osservazioni clinico-audiometriche in soggetti diabetici. Arciped. S. Anna. Ferrara, 3:2, 233-244, 1960.
3. Ancona, F. - Considerazioni sui disturbi dell'udito net diabete giovenili. Arciped S. Anna. Ferrara, 9:3, 435-443, 1956.
4. Profazio, A., and Barraveili, P, - La funcione uditiva net diabete. Otorinolaring. Italians, 28:2, 103-111, 1959.
5. Zelenka, J., and Kosak, P, - Disorder in Blood Supply of the Inner Eear as Early Symptom of Diabetic Angiopathy. J. Laryng. 79-4, 314-319, 1965.
6. Camisaca. L. - Iesame dell'annaratn cochlen-vestibulare net diabete mellito. F. Sci. Med., 5.45-49, 1950.
7. Jorgensen, M. B. - Changes of Aging in the Inner Fear in Diabetes Mellitus. Histological Studies. Acta Oto-Laryng., Suppl. 188, p. 125-128.
8. Costa, Orozimbo A., M. D. - Inner Eear Pathology in Experimental Diabetes. The Laryngoscope, Vol. LXXVII, n.° 1, p. 68-75, an. 1967.
9. Axelasson. A. and Fagerberg, S. .E. (Göteburg, Sweden) - Auditory Function in Diabetic. Acta Oto-Laryngologica, Vol, 66. July-August 1968. Fasc. 1-2.




* Médico residente da Disciplina de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo.
** Fonoaudióloga da Clínica de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo,

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