Suplemento Vol.76 (5) Set./Out. 2010

TRABALHO CLÍNICO

P-492

TÍTULO: PERTURBAÇÕES PSICOLÓGICAS NA DOENÇA DE MENIÈRE: ESTUDO NUMA POPULAÇÃO PORTUGUESA DURANTE 2 ANOS

AUTOR(ES): FERNANDO MORENO VAZ GARCIA, ANTONIO RAMOS SOFIA DUARTE

INSTITUIÇÃO: EQUI CLINICA DA VERTIGEM E DESEQUILIBRIO (LISBOA) E NEUROCIÊNCIAS MÉDICAS (LISBOA)

INTRODUÇÃO: A Doença de Menière (DM) acompanha-se frequentemente de perturbações psicológicas. Numa crise de vertigem aparecem habitualmente manifestações de pânico e com a sua repetição o doente pode apresentar sinais de ansiedade e/ou depressão e agorafobia, mesmo durante os intervalos-livres.

Na DM verifica-se a interação contínua de muitos factores (psicológicos, físicos e ambientais): os sintomas da doença agravam o estado emocional, que por sua vez dificulta a perceção desses sintomas. 

OBJETIVO: para averiguar a importância das manifestações psicológicas na DM realizámos um Estudo prospetivo e observacional numa amostra da população portuguesa com um follow-up de 2 anos.

METODOLOGIA: avaliados 26 doentes com DM definida, com um período de inclusão entre Setembro 2006 e Julho 2007, média de idades 56,42 anos; SD: 7,52, sendo 55% do sexo masculino. No final registaram-se 7 drop-outs

Todos os 3 meses os doentes foram submetidos a avaliação audiométrica e a exame otoneurológico “de cabeceira”; preencheram um diário, segundo a escala EEV (European Evaluation of Vertigo), para “quantificar” a vertigem; de 6 em 6 meses o psicólogo administrou-lhes as seguintes escalas: SCL-90 (Symptoms CheckList), BDI (Beck depression Inventory), SSI (Estado-traço de ansiedade, de Spielberger) e o EPI (Eysenck Personality Inventory); todos os doentes deram Consentimento informado.

RESULTADOS: Ansiedade, Ansiedade Fóbica, Depressão e traço de Neuroticismo foram as  dimensões psicológicas mais sensíveis, com valores aumentados em alguns doentes. Estes achados sugerem um aumento ou manutenção de queixas psicológicas do tipo ansiedade-depressão. Podem ter coexistido outras perturbações clínicas que piorassem a qualidade de vida (QdV) do doente. Não foram encontradas alterações psicológicas de nível clínico, quer do ponto de vista psicopatológico quer psiquiátrico.

Como limitações do estudo, o facto do follow-up de 2 anos, numa amostra, no final limitada a 19 doentes, ser muito influenciado pela evolução da doença; além disso, os tratamentos instituídos, que visam em primeiro lugar o controlo da vertigem, são capazes de reduzir a intensidade ou frequência das crises ou mesmo erradicá-las, se bem que tal possa ser temporário.

CONCLUSÕES: o estudo demonstra que deve ser prestado especial cuidado à avaliação das componentes ansiosas e depressivas associadas à DM, pois podem ser fatores de promoção ou manutenção (mais direta ou indireta) das crises e ter impacto complexo na adesão do doente ao tratamento.

Assim, além da redução dos sintomas, alguns doentes de DM precisam de apoio psicológico/psiquiátrico. Para melhorar a QdV do doente, é também recomendável diminuir o stress diário e adoptar estratégias para combatê-lo (coping).

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