Suplemento Vol.76 (5) Set./Out. 2010

RELATO DE CASO (APENAS APRESENTAÇÃO COMO PÔSTER)

P-369

TÍTULO: MANIFESTAÇÃO ORAL DA LUES SECUNDARIA

AUTOR(ES): RAFAEL MARTIN BENAVIDES , PEDRO ROBSON BOLDORINI

INSTITUIÇÃO: HOSPITAL DE OTORRINOLARINGOLOGIA DE SOROCABA - BOS

INTRODUÇÃO

Sífilis é uma doença infecciosa causada por uma espiroqueta chamada Treponema pallidum que evolui lentamente em três estágios, caracterizada por lesões da pele e mucosas. Pode ser transmitida por contato sexual, configurando-se assim como uma doença sexualmente transmissivel (DST), e mais raramente por contaminação materno fetal.

A sífilis também é conhecida como lues (palavra latina que significa praga), e é dividida em três estagios: sifilis primária, secundaria e terciaria.

A sífilis primária (cancro sifilítico) manifesta-se após um período de incubação variável de 10 a 90 dias, com uma média de 21 dias após o contato. Até este período inicial o indivíduo permanece assintomático, quando aparece o chamado "cancro duro”, que demarca o local de inoculação do Treponema sp.

A sífilis secundária é a seqüência lógica da sífilis primária não tratada e é caracterizada por uma erupção cutânea que aparece de 1 a 6 meses (geralmente 6 a 8 semanas) após a lesão primária ter desaparecido. Esta erupção é uma mácula eritematosa e aparece simetricamente no tronco e membros, e, ao contrário de outras doenças que cursam com rush cutâneo, as lesões atingem também as regiões palmar e plantar.

A sífilis terciária acontece já um ano depois da infecção inicial mas pode levar dez anos para se manifestar, e já foram relatados casos onde esta fase aconteceu cinqüenta anos depois de infecção inicial.

Esta fase é caracterizada por formação de gomas sifilíticas, tumorações amolecidas vistas na pele e nas membranas mucosas, mas que podem comprometer as visceras, inclusive o esqueleto.

RELATO DE CASO

Paciente R.Z, masculino, 31 anos, chega ao ps do hospital de otorrinolaringologia de sorocaba-BOS referindo quadro de odinofagia ha 30 dias, não associado a febre, e sem outros sintomas otorrinolaringológicos.

Ao exame clinico otorrinolaringológico apresentava placas bem definidas e de cor semelhante a um véu opalino, como pinceladas de nitrato de prata, segundo REZENDE BARBOSA, em região de pálato mole, tonsilas palatina, úvula e faringe posterior. Foi submetido a videonasofaringolaringoscopia flexível não se evidenciando continuidade de lesão em rinofaringe e hipofaringe.

Questionado sobre quadros patológicos prévios o paciente relatou que ha aproximadamente 1 ano apresentou ferida na região peniana e corrimento uretral (sic), que cessou com uso de azitromicina e ciprofloxacina. Relatou também que ha aproximadamente 4 meses apresentou lesões máculo papulares , pruriginosas e de coloração rósea em região de tronco, com resolução espontânea em 30 dias.

Foram solicitados exames laboratoriais: hemograma, VHS, sorologias para hiv, hepatite, herpes, e sífilis.

O resultado obtido foi positivo para sífilis, fechando o diagnostico do paciente como Sífilis secundária.

O paciente foi submetido a tratamento com penicilina benzatina 2.400.000 UI intramuscular uma vez por semana por 3 semanas com resolução completa do quadro clínico.

 

DISCUSSÃO

Manifestações orais da lues são de dificil diagnóstico para o otorrinolaringologista, uma vez que as lesões são inespecíficas. Acrescenta-se a isso, a pouca familiaridade com que o médico assistente tem em relação às lesões mucosas sifilíticas uma vez que o uso corrente de antibióticos para outros quadros infecciosos elimina uma possível infecção treponemica evitando, portanto, a ocorrencia de lesões mucosas da sífilis secundária. Devemos ainda lembrar que essas lesões muitas vezes são de resolução espontânea.

O presente caso mostra como uma anamnese detalhada direciona o médico assistente na hipótese diagnóstica e na solicitação de exames complementares que confirmem essa etiologia.

No referido caso, a anamnese e a presença das lesões levaram a hipótese de sífilis no seu estagio secundário, dai a importância de um questionamento detalhado ao paciente para a suspeição diagnóstica.

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