Suplemento Vol.76 (5) Set./Out. 2010

TRABALHO CLÍNICO

P-327

TÍTULO: LABIRINTITES E SUA REPERCUSSÃO AUDITIVA

AUTOR(ES): ANDRÉ SOUZA DE ALBUQUERQUE MARANHÃO , NORMA DE OLIVEIRA PENIDO, VALERIA ROMERO GODOFREDO

INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO- ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA

INTRODUÇÃO: O advento dos antibióticos e das imunizações no decorrer do século passado propiciou um declínio considerável na incidência das complicações das otites médias agudas (OMA) e crônicas (OMC). Entretanto as complicações ainda ocorrem, com altas taxas de morbidade e mortalidade e representam, ainda hoje, um desafio tanto no diagnóstico quanto na terapêutica destes pacientes, sobretudo em países em desenvolvimento.Dentre as complicações, especial atenção merecem as labirintites. Em um estudo  com 50 pacientes diagnosticados com complicações de otites, Leskinen et al identificaram a labirintite como sendo a complicação mais incapacitante, sendo que todos os pacientes identificados com tal lesão evoluíram com perda profunda da audição ou surdez. Pouco se sabe a respeito da real incidência das labirintites, tal fato se deve tanto a escassez de estudos na literatura a respeito do assunto como da dificuldade em se diagnosticar a lesão labiríntica devido a impossibilidade de se biopsiar o tecido da orelha interna sem causar dano a mesma. Observa-se na prática diária do otorrinolaringologista que muitas vezes casos de otite média crônica que evoluem com perda auditiva neurossensorial ou mista, são na realidade labirintites concomitantes que não são diagnosticadas devido à escassez de sintomas clínicos ou por desconhecimento desta lesão e consequentemente não suspeição da mesma.

OBJETIVO: Estudar dificuldades diagnósticas nos casos de labirintite através da análise dos aspectos epidemiológicos bem como o prognóstico da doença e sua conseqüente repercussão na audição.

METODOLOGIA: Estudo de coorte retrospectivo. Avaliados os prontuários dos pacientes  diagnosticados com labirintite, do Ambulatório de Otologia de nossa instituição no período de 1987 a 2010.

RESULTADOS: Foram identificados onze pacientes diagnosticados com labirintite secundária à otite média, sendo 6 (55%) do sexo feminino e 5 (45%) do sexo masculino. A faixa etária média foi de 35 anos, variando de 9 a 59 anos. Todos os pacientes apresentavam um quadro de infecção otológica sendo que 55% (n= 6) evoluíram para anacusia e 45% (n=5) para perda auditiva mista, variando de moderada a profunda intensidade. O diagnóstico otológico foi de otite média crônica colesteatomatosa em 6 (55%) pacientes, otite média aguda em 3 (27%) e otite média crônica não colesteatomatosa em 2 (18%) pacientes. As complicações associadas à labirintite foram em ordem de frequência: meningite 5 (45%) pacientes, paralisia facial periférica e fístula labiríntica 4 (36%) casos cada uma, mastoidite e ossificação coclear 3 (27%) casos cada, abscesso cerebelar 2 (18%) pacientes e abscesso temporal 1 (9%) paciente. Evoluíram para anacusia 55% dos pacientes e 45% progrediram para perda auditiva mista de moderada a profunda intensidade. Houve um óbito no presente estudo (caso 7).

CONCLUSÃO: A labirintite ainda é uma doença presente na prática diária do otorrinolaringologista e cursa quase sempre com repercussões catastróficas e irreversíveis para audição. Importante atentar para outras possíveis complicações associadas pois elas frequentemente estão presentes, especialmente as meningites. Identificar a doença e instituir tratamento precocemente é crucial para evitar a progressão da deterioração da audição, porém isto nem sempre é factível.

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