Suplemento Vol.76 (5) Set./Out. 2010

RELATO DE CASO (APENAS APRESENTAÇÃO COMO PÔSTER)

P-234

TÍTULO: ENFISEMA CERVICAL ESPONTÂNEO - RELATO DE CASO

AUTOR(ES): MÁRCIO CAVALCANTE SALMITO , LISANDRA MEGUMI ARIMA, LEANDRO CASTRO VELASCO, RUI ORTEGA FILHO, ANTONINI DE OLIVEIRA E SOUSA, FÁTIMA REGINA ABREU ALVES

INSTITUIÇÃO: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL DE SÃO PAULO

INTRODUÇÃO: Enfisema Cervical Subcutâneo é uma entidade incomum com diversas etiologias possíveis e é usualmente auto-limitada. Algumas vezes é resultado de uma injúria não percebida pelo paciente ou resulta de uma lesão alveolar. Nós reportamos um caso não usual.

RELATO DO CASO: Paciente masculino, 47 anos, professor e contador iniciou quadro de dor de garganta isolada que evoluiu após um dia com odinofagia e disfonia. No terceiro dia, apresentou piora da dor à deglutição associado a desconforto respiratório, quando procurou serviço de pronto-atendimento de Otorrino do Hospital do Servidor Público Municipal apresentando taquipnéia e disfonia. Negava traumas, crises de tosse, grandes esforços vocais ou outros possíveis desencadeantes do quadro. Apresentava ao exame físico temperatura normal, taquipnéia e creptação à palpação cervical em toda área anterior do pescoço. Foi realizada nasofibroscopia flexível que mostrou hiperemia e edema em prega vocal direita, não sendo possível realização de telelaringoscopia por reflexo nauseoso. O paciente foi internado para cuidados com via aérea, e iniciados jejum, cabeceira elevada, repouso de voz, hidrocortisona e clindamicina. Radiografia de Tórax revelou-se normal, TC de pescoço evidenciou ar em espaço subcutâneo de região cervical anterior, endoscopia mostrou hérnia de hiato e broncoscopia mostrou-se sem alterações traqueo-brônquicas. Estes últimos exames endoscópicos confirmaram lesão de prega vocal direita, já vista à nasofibroscopia flexível. O paciente evoluiu sem dispnéia, com melhora progressiva dos sintomas, e teve alta assintomático e sem alterações ao exame físico no quinto dia de internação.

DISCUSSÃO: Ar pode chegar ao espaço subcutâneo cervical por cirurgia, endoscopia ou ventilação mecânica1. Também pode advir de trauma cervical contuso ou penetrante ou perfuração por corpo estranho de boca, faringe, laringe ou traquéia, bem como decorrente de entubação traumática ou extração dentária2,3,4. O ar cérvico-facial então se dissemina livremente ao longo dos planos fasciais, atingindo o mediastino, tórax e mesmo o abdome5

O termo espontâneo é usado para diagnosticar pneumomediastino e enfisema cervical sem causa óbvia atribuível, como cirurgia ou trauma6. Doenças pulmonares podem resultar em predisposição a pneumomediastino7. Os casos de enfisema mediastinal ou cervical espontâneos são atribuídos etiopatogenicamente a ruptura alveolar: o ar intra-alveolar segue junto à vasculatura pulmonar para o mediastino e daí para os planos do pescoço8

No caso apresentado, entretanto, não há nenhuma evidência de enfisema mediastinal ou algum sintoma relacionado ao tórax. O enfisema cervical usualmente segue um curso benigno e auto-limitado, mas possui um potencial para sérias complicações, mas pode causar pneumo-pericárdio, falência cardíaca (por interferir na circulação pulmonar), hipotensão e dificuldade respiratória com estreitamento da via aérea e obstrução aguda.9

O diagnóstico é firmado com a história, presença de crepitação e evidências radiográficas de ar nos tecidos10. O tratamento é conservador. Deve ser realizado jejum até exclusão de perfuração. Antibióticos devem ser usados apenas em suspeita de infecção e traqueostomia deve ser aventada em casos de obstrução não responsivos ao tratamento clínico11

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