Suplemento Vol.76 (5) Set./Out. 2010

RELATO DE CASO (APENAS APRESENTAÇÃO COMO PÔSTER)

P-184

TÍTULO: CORPO ESTRANHO NO ESÔFAGO POR TEMPO PROLONGADO CAUSANDO OBSTRUÇÃO DE VIA AÉREA SUPERIOR

AUTOR(ES): MARIANA MIGUEL FRAGA , RENYEL BRUNO RODRIGUES PRUDÊNCIO, OSMAR FERREIRA GOMES JÚNIOR

INSTITUIÇÃO: HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CLEMENTE DE FARIA - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

INTRODUÇÃO:Corpo estranho (CE) no esôfago é uma ocorrência comum sendo freqüente em serviços de urgência e emergência e apresentam grande potencial de complicações severas. A ingestão de CE é mais habitual em pacientes pediátricos, seguido dos edentados, prisioneiros, e psiquiátricos. A maioria atravessa o trato gastrointestinal sem causar danos, entretanto, 10-20% necessitam intervenção. O prognóstico de CE no esôfago sem tratamento é catastrófico com elevada taxa de complicações. De todos os fatores, o uso da prótese é o mais comumente associado à ingestão de CE em adultos.

DESCRIÇÃO DO CASO:Idoso, com hemiparesia à esquerda como seqüela de acidente vascular cerebral (AVC), admitido no pronto atendimento com esforço respiratório, estridor laríngeo, e quadro consumptivo importante. Apresentava-se afebril e hemodinamicamente estável com diminuição do murmúrio vesicular em hemi-tórax direito e sibilos bilaterais. Residente em asilo e acamado encontrava-se desorientado no tempo e espaço impossibilitando adequada anamnese. Após admissão, evoluiu com piora do esforço respiratório sendo solicitada avaliação da otorrinolaringologia. Laringoscopia revelava tumoração vegetante em região de hipofaringe, pregas vocais não visualizadas. Examinador levantou hipótese de neoplasia em região retrocricóide ou em esôfago superior e sugeriu realização de tomografia computadorizada (TC) cervico-torácica, biópsia e traqueostomia. A TC revelou imagem tubular hiperdensa, com pequenas bolhas de ar de permeio, com trajeto e forma de semicírculo, em região cervical, apresentando extremidade proximal situada ao nível do esfíncter superior do esôfago. Realizado laringoscopia direta, sob sedação, visualizado e removido CE: prótese dentária inferior, total, de acrílico com medidas aproximadas de 8,0cm x 4,5cm. A administração de azul de metileno revelou fístula traqueoesofágica, optando-se por tratamento conservador. Esofagobroncograma cinco dias após remoção do CE não evidenciou a presença de fístulas. Paciente evoluiu com piora do quadro respiratório, sepse, síndrome da angustia respiratória do adulto e instabilidade hemodinâmica vindo a óbito.

DISCUSSÃO:Em idosos o CE mais comum no esôfago são as próteses, em função da diminuição da sensibilidade da cavidade oral e da perda da sensibilidade e controle motor da faringe e laringe. No caso descrito têm-se ainda como agravantes o rebaixamento da consciência provenientes do AVC, o alcoolismo e os episódios convulsivos. Esses pacientes são incapazes de relatar uma história clínica confiável atrasando o diagnóstico, aumentando a morbidade e mortalidade. Neste caso, supôs-se prolongada a impactação do objeto pela importante inflamação gerada na mucosa, simulando lesão vegetante que obstruía via aérea superior, causando os sintomas que levaram à internação. O atraso no diagnóstico resulta em erosão e inflamação severa da mucosa que pode levar à sepse, sendo a causa mais provável do óbito. O caso alerta para a necessidade da alta suspeição diagnóstica assim como de uma anamnese detalhada associada ao bom exame físico para detectar a presença de CE. A TC foi imprescindível para suspeição diagnóstica. É interessante verificar que, apesar da presença do CE de grande proporção, o paciente evoluiu com quadro consumptivo de evolução gradual e desconforto respiratório tardio. Nos casos onde o diagnóstico é tardio as complicações ocorrem com mais freqüência. Concluímos que nos casos de ingestão de próteses dentárias a história pode ser vaga com poucos sinais clínicos ou até mesmo com sintomas simulando outras patologias. É importante ter em mente que as próteses podem passar despercebidas por serem radiolúcidas, sendo importante mantermos alto grau de suspeição, especialmente em alguns grupos de pacientes como os idosos, os com doenças psiquiátricas e neurológicas, alcoólatras e presidiários que se apresentarem no serviço de emergência com sialorréia, disfagia, desconforto ou dor no pescoço, garganta e tórax.

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