Suplemento Vol.76 (5) Set./Out. 2010

TRABALHO CLÍNICO

P-089

TÍTULO: AVALIAÇÃO DA IMPORTÂNCIA DO RONCO HABITUAL E SUAS CONSEQÜÊNCIAS EM CRIANÇAS: ANÁLISE DE 11.000 CASOS.

AUTOR(ES): MARCOS MARQUES RODRIGUES , MÁRCIA PRADELLA-HALLINAN, GUSTAVO ANTONIO MOREIRA, BEATRIZ BARBISAN, ISRAEL ROITMAN, GABRIELA ALVES, SÉRGIO TUFIK

INSTITUIÇÃO: DISCIPLINA DE MEDICINA E BIOLOGIA DO SONO. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

INTRODUÇÃO

O Ronco habitual é freqüente na população de crianças, dados da literatura apontam uma freqüência que varia entre 10 e 50% de crianças normais. Embora a história de ronco seja insuficiente para o diagnóstico da distúrbios respiratórios do sono, sabe-se que o ronco é muito incidente em crianças com apnéia obstrutiva do sono (SAOS). Há evidências substanciais e convincentes indicando que o distúrbio respiratório do sono (DRS) durante a primeira infância é prejudicial à cognição. A avaliação do DRS na infância leva a uma maior utilização de recursos da saúde por vezes escasso no Brasil.

OBJETIVOS

Avaliar o ronco habitual e suas conseqüências cognitivo-orgânicas em crianças.

MATERIAIS E MÉTODOS

Estudo retrospectivo feito através da revisão de prontuário de 11097 crianças no período de fevereiro de 2003 a dezembro de 2008. Todas as crianças foram submetidas a polissonografia noturna, precedida questionários aplicado aos pais das crianças sobre a qualidade do sono, sintomas noturnos, comorbidades, hábitos de sono e higiene de sono.

RESULTADOS

A idade média foi de 7,8 ± 4,1 anos sendo que 6822 (61,5%) eram do sexo masculino. Quando perguntados sobre a freqüência do ronco 72,8% apresentavam ronco mais que 2 vezes por semana sendo que em 3682 (33,1%) o ronco foi considerado alto ou extremamente alto pelos pais. A presença de roncos habituais foi correlacionada com variáveis clínicas (sonanbulismo, terror noturno, enurese, dificuldade de aprendizado e índice de massa corpórea) e variáveis polissonográficas (índice de apnéia e hipopnéia, índice de microdispertar, tempo de saturação da oxihemoglobina abaixo de 90%). Houve significância estatística na correlação do ronco habitual com todas as variáveis com p< 0,05. A única variável não significante foi o IMC.

DISCUSSÃO

Ronco Habitual é queixa freqüente entre os pais de crianças do nosso meio e por muitas vezes negligenciada por profissionais de saúde. O tratamento expectante pode propiciar o desenvolvimento de conseqüências anátomo-funcionais importantes. O ronco é muito associado com a síndrome da apnéia do sono, as crianças que roncam têm um IAH médio superior e um maior tempo com saturação da oxihemoglobina menor que 90%, ou seja, promovendo maior estresse oxidativo e maior morbidade cardiovascular. Todavia não houve correlação significante com o IMC nessa população.

Crianças roncadoras tendem a ter um sono mais fragmentado que pode ser associado a distúrbios cognitivos e déficit de aprendizado devido ao sono de má qualidade por vários microdespertares e mudanças de fase do sono. Interessante notar que a presença de roncos se associa a enurese e parassonias como sonambulismo e terror noturno demonstrando os efeitos de perturbação do sono nessa população. 

CONCLUSÃO

O ronco habitual é uma entidade freqüente e não deve ser negligenciado. É considerado de sinal de alerta para avaliação de distúrbios respiratórios do sono, enurese, parassonias, fragmentação do sono e déficits cognitivos.

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