Suplemento Vol.76 (5) Set./Out. 2010

RELATO DE CASO (APENAS APRESENTAÇÃO COMO PÔSTER)

P-068

TÍTULO: APRESENTAÇÃO INCOMUM DE SÍFILIS SECUNDÁRIA EM PAVILHÃO AURICULAR: RELATO DE CASO

AUTOR(ES): CAMILA DEGEN MEOTTI, GABRIELA GOMES MÂNICA, MAURÍCIO NOSCHANG LOPES DA SILVA, JULIANA CATUCI, VANESSA SANTOS, LUIZ LAVINSKY

INSTITUIÇÃO: HOSPITAL DE CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE

INTRODUÇÃO: A sífilis é uma infecção crônica causada pela espiroqueta Treponema pallidum. Pode ser transmitida por contato sexual, transmissão materno-fetal, transfusão de órgãos e contato de mucosa lesada com secreções ricas em espiroquetas. Após 4 a 8 semanas do surgimento do cancro (sífilis primária), se não tratado, o paciente pode desenvolver a sífilis secundária, que representa a disseminação hematogênica das espiroquetas. A superfície epitelial em 80% dos casos esta envolvida, gerando uma ampla manifestação cutaneomucosa. Os otorrinolaringolo-gistas têm especial interesse na sífilis terciária, que ocorre 1 a 10 anos após a infecção, pois pode apresentar perda auditiva neurossensorial, nariz em sela, perfuração septal, paralisia pregas vocais, paralisia facial, entre outras manifestações.

APRESENTAÇÃO DO CASO: Masculino, 77 anos, com placa eritemato-violácea infiltrada, acometendo pavilhão auricular direito e região pré-auricular, com 2 meses de evolução. Otoscopia demonstrava as mesmas lesões no conduto auditivo externo, poupando a membrana timpânica. O paciente referia hipoacusia há muitos anos, progressiva. Realizada biópsia com punch da região pré-auricular, com achados de infiltrado linfoplasmocitário perivascular predominantemente superficial de intensidade acentuada associada a alterações eczematóides subaguda. Pesquisa de fungos negativa. Lesões sugestivas de secundarismo. A pesquisa de VDRL foi reagente na diluição de 1/256. O FTA-ABS foi reagente.

Foi instituído tratamento com penicilina benzatina 1.200.000 UI, 1 vez por semana, por 3 semanas. O paciente apresentou regressão completa das lesões. Após o diagnóstico, foi realizada audiometria, para  descartar alterações centrais da doença (neurosífilis ou otosífilis). O exame foi sugestivo de presbiacusia (perda neurossensorial descendente em agudos), com boa discriminação.

DISCUSSÃO: A sífilis secundária típica apresenta a roséola sifilídica, as placas em palma das mãos e planta dos pés e o condiloma plano. Geralmente são lesões que não causam dor ou prurido. No caso demonstrado, as lesões eram assintomáticas. Entretanto, o paciente apresentou lesão isolada de pavilhão auricular, manifestação atípica. O diagnóstico diferencial das otites externas foi fundamental neste caso, sendo que as principais hipóteses diagnósticas foram otite externa maligna, pericondrite e condrite do pavilhão, policondrite recidivante e otite externa eczematosa.             Como o paciente não apresentava dor (sintoma característico de otite externa maligna e das condrites) e acometia a pele da região pré-auricular e do lobo da orelha, sem outras lesões de pele que levassem ao diagnóstico de eczema, foi optado por biópsia de pele, que elucidou o diagnóstico.  Excluímos a hipótese de otosífilis (terciária) devido à boa discriminação do paciente à audiometria vocal, compatíveis com os limiares tonais, afastando lesão central.

CONCLUSÃO: Demonstramos um caso de sífilis secundária acometendo pavilhão auricular, uma manifestação rara da doença. Por ser um local comumente acometido por diversas affecções, devemos estar atentos aos diagnósticos diferenciais das otites externas. Além disso, sendo a sífilis uma doença de variada apresentação clínica, devemos ter este diagnóstico sempre em mente quando se tratar de lesões cutâneas.

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