Suplemento Vol.76 (5) Set./Out. 2010

TRABALHO CLÍNICO

AO-69

TÍTULO: EFEITO DO CPAP NA OROFARINGE DE PACIENTES RONCADORES PRIMÁRIOS E COM SAOS GRAVE: AVALIAÇÃO POR MEIO DA FARINGOMETRIA ACÚSTICA

AUTOR(ES): CLAÚDIA INÊS GUERRA DE SOUSA SILVA , CAROLINA FERRAZ DE PAULA SOARES, MICHEL BURIHAN CAHALI

INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP)

INTRODUÇÃO: A faringometria acústica (FA) é um método de medição das áreas de secção transversal (AST) da cavidade oral e da faringe, baseado nas mudanças da impedância acústica ao longo da via aérea, produzindo um gráfico de distância x área. A junção orofaríngea é um segmento que tem início no final da primeira curva do gráfico (P1), e termina no primeiro ponto de área mínima (P2), antes do início da segunda curva. A glote foi estabelecida como a área mínima após a segunda curva do gráfico (P3). Estudos têm mostrado diminuição nas medidas das AST da faringe nos pacientes portadores de ronco, e mais ainda quando há Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS) associada. Porém, não se tem relato de estudos utilizando a FA para avaliação das mudanças de dimensões nas vias aéreas superiores provocadas pelo aparelho de “Continuous Positive Air Pressure” (CPAP).

OBJETIVO: Acessar, através da FA, os efeitos do CPAP sobre a orofaringe dos pacientes roncadores primários e com SAOS grave.

METODOLOGIA: Analisamos 27 pacientes, sendo 15 com SAOS grave (grupo SAOS) e 12 com Ronco Primário (grupo ronco). Os critérios de inclusão foram: 18 a 65 anos, ambos os sexos, polissonografia (PSG) realizada e, nos pacientes com SAOS grave, PSG com CPAP também. Os critérios de exclusão foram: obstrução nasal crônica pré-existente, uso de drogas psiquiátricas, neurológicas ou miorrelaxantes, insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e cirurgia palatal prévia para SAOS. Realizamos primeiro um exame com o paciente deitado em decúbito dorsal horizontal e já com máscara adaptada ao rosto. Em seguida, iniciamos os exames com o CPAP em funcionamento e conectado à máscara. Utilizamos pressão inicialmente de 4cmH2O, e progressivamente maiores, aumentadas 1cmH2O por vez., e aumentadas até dois níveis acima da determinada pela PSG (ou até 10cmH2O, para grupo ronco). Obtivemos os gráficos ao final da expiração. Todos os exames foram feitos pelo mesmo examinador.  Calculamos as medidas de P1, P2 e P3. Avaliamos as medidas basal (paciente deitado e com o CPAP desligado – P1 basal, P2 basal e P3 basal), à pressão de 4cmH2O (P1-4, P2-4 e P3-4) e à pressão titulada (grupo SAOS – P1-T, P2-T e P3-T) ou de 10 cmH2O (grupo ronco – P1-10, P2-10 e P3-10). Foi feita a análise estatística.

RESULTADOS: Houve diferença estatisticamente significante entre o grupo SAOS e o grupo ronco, com relação a P3 basal e P3-4 (maior no SAOS); não houve diferença entre os dois grupos quando analisadas P1 e P2. Observamos, no grupo SAOS, diferença estatisticamente significante entre P1 basal e P1-T (P1-T menor), e, no grupo ronco, entre P1 basal e P1-10 (P1-10 menor). Não houve diferença para P2. Houve, no grupo SAOS, diferença estatisticamente significante entre P3 basal e P3-T (P3-T menor), e ausência de diferença entre P3 basal e P3-10 no grupo ronco.

CONCLUSÃO: Os pacientes com SAOS apresentaram uma via aérea mais longa que os pacientes roncadores primários. Isto pode representar uma maior predominância de SAOS em pacientes com laringe mais inferiorizada. Além disto, o CPAP mostrou exercer efeito sobre as dimensões da orofaringe dos pacientes roncadores primários e com SAOS, revelando anteriorização do palato mole determinada pela pressão de ar. Este resultado parece-nos revelar uma possível nova aplicabilidade da faringometria acústica, até então não relatada na literatura. 

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